Mais um dia na escola, é hora do intervalo e eu a vejo, ela está sentada sozinha, quieta no canto dela, sem falar com ninguém, sem amigas ao redor como as outras meninas, aquele cara ainda não chegou, até hoje não sei o que eles têm um com o outro, se são amigos, parentes ou namorados, todo dia é assim, por um tempo ela ta sozinha, mas em outros ele chega e fica ao lado dela, e não vejo mais ninguém se aproximar.

Já faz um tempo que eu a observo, alguns anos para ser sincero, sempre penso em chegar perto e falar algo, puxar um papo, me aproximar, mas não consigo pensar em nada para dizer a ela, tenho medo de que ao chegar perto, eu irei ficar mudo e pagarei mico.

Em virtude disso eu acabo discutindo comigo mesmo, como sempre, uma parte de mim quer ir falar com ela, dizer tudo o que sinto e o que penso, mas a outra parte me lembra o quanto eu sou covarde, que eu já tive oportunidades, mas nunca cheguei perto dela.

Pensando assim só me resta observar, ela está tão linda com aquela trança no cabelo, aqueles olhos, sinto falta de ver aquele sorriso que ela sempre mostrava, hoje é raridade eu vê-la sorrindo.

Não tem jeito eu vejo qualidades nela, sinto vontade de chegar perto após cada detalhe que vejo, mas sou tão medroso, que nem consigo dar um oi para ela, fico apenas que nem uma estátua olhando de longe.

Eu acabo me perdendo nessa minha auto discussão olhando para ela, e então percebo que ela começa a olhar para o meu lado, então eu viro a cara e meus amigos estão me chamando à atenção, eles começam a me encher de perguntas, sobre o que eu estou pensando, em que mundo eu estou, mas como sempre eu desvio o assunto dizendo que estou preocupado com aquele dia que ta chegando, ao dizer isso eu consigo que eles comecem a falar de outras coisas, mas continuo a observar ela, pelo canto do olho.

Durante a aula eu começo a refletir e a pensar em possíveis conversas que eu poderia ter com ela. Depois de muito pensar, e elaborar discursos eu decido o que falar, junto coragem e decido que irei falar com ela após a aula.

Não me aguento e começo a contar o tempo para a aula acabar e assim que termina a aula eu vou atrás dela, sei o caminho que ela percorre para ir para casa, pois já observei muitas vezes ela fazer ele. No meio do caminho ao ver que ela está sozinha eu atravesso a rua e a chamo, peço para conversar.

Ela para e me olha desconfiada, meio que querendo recusar, mas acaba aceitando, eu respiro e solto tudo, falo do primeiro dia que eu vi ela, das outras vezes que a observei, conto tudo o que eu sinto, falo em como eu sempre reparo nela na escola, andando pelas ruas, tudo o que eu penso sobre ela, explico porque nunca tive coragem de chegar perto dela e conversar, ela me escuta com atenção, mas não diz nada.

Assim que termino olho para o rosto dela, a principio eu percebo que ela está quieta, não fez nem careta, nem falou nada, ela parece estar pensando em como me dispensar educadamente, o tempo começa a passar e eu vou ficando agoniado, até que eu desisto, abaixo a cabeça, murmuro um esquece acompanhado de um tchau e começo a me virar para ir embora, mas ela toca meu ombro e fala meu nome, na hora que eu viro para encará-la....

Minha mãe está berrando meu nome, e eu acordo assustado, e percebo que era só um sonho. Enquanto isso minha mãe continua berrando para mim:

– Peeta levanta!!!! Sai já dessa cama menino e vem me ajudar, e não finja que não está me ouvindo.

– Já estou indo mãe – eu respondo, esfrego os olhos e olho para a janela, solto um suspiro, o dia está bonito, e mais uma vez eu sonhei com ela. Levanto-me e vou me arrumar para mais um dia de rotina, até que me lembro, e um aperto no meu estômago me diz que eu não estou enganado.

Amanhã é aquele dia, não é um dia qualquer do ano, amanhã é aquele dia em que muitas famílias nem pisam na rua pela manha, é o dia que toda minha vida se extingue por um breve momento, amanhã é o dia da colheita, o distrito todo está sendo preparado, e só de pensar que esse dia já chegou, eu estremeço.