Louise No Mundo Dos Sonhos escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 8
A ascensão das sombras.


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo saindo fresquinho para vocês.
Boa leitura :3



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Foi um rebuliço tremendo, um desastre sem precedentes. Nunca o Mundo dos Sonhos havia visto tal caos em toda a sua criação. O firmamento ficara escuro, saturado por nuvens de aparência negra e pesada, diferentes de tantas outras que já haviam singrado-o.

Os seres de sombras despencaram dos céus, em uma queda vertiginosa, e no ultimo instante abriam suas asas para deter-se, geralmente agarrando um habitante incauto e o levando para cima novamente. Pelos gritos, não era dificil imaginar o que acontecia com quem era carregado.

Eles tinham uma aparência digna do Reino dos Pesadelos, mas de alguma forma pareciam piores que os monstros anteiores que Louise havia enfrentado no torneio. Seu corpo parecia feito de sombras, uma forma absolutamente difusa, que poderia se desfazer a qualquer instante. Mas mantinha-se integra, independente do ar que eles cortavam ou dos seres que raptavam e estraçalhavam.

Tinham fendas no lugar de olhos, dando para ver algo vermelho no seu interior, como se este fosse feito de outro tipo de material. Talvez fosse aquela parte avermelhada que mantinha toda a escuridão unida. De resto, o formato lembrava bastante um dragão, com o corpo longo e sinuoso, uma bocarra imensa e asas enormes, como de morcegos.

Um deles desceu, escolhendo como alvo as duas figuras atracadas no meio da arena. Vega soltou completamente Louise e retirou a espada, visando acertá-la no ser. Contudo, sua lâmina apenas atravessou o corpo negro, sem causar efeito algum, e ela se viu ser agarrada pela criatura e alçada em direção aos céus.

Diferentemente, contudo, de todos os outros que deixaram-se ser levados, a espadachim fez sua espada varar novamente o ser, uma vez após a outra, e outra, e outra... ela conseguia divisar o chão cada vez mais distante, e as garras que prendiam-na pela cintura começavam a apertá-la mais. Vega praguejou várias vezes, aquilo não podia estar acontecendo com ela!

Viu um faixo de luz cortar o ar em sua direção e no instante seguinte a fera urrava de dor, com um buraco enorme em seu tronco. E bem, a própria Vega estava caindo novamente depois daquilo, então decidiu que não era nada importante e girou o corpo no ar, abrindo os braços. Foi aterrisar em cima de outro monstro, forçando-o para baixo. Cavalgar uma coisa daquelas não era tão dificil assim.

Lá em baixo, Louise era amparada por Alistar, enquanto Salazar barrava o caminho até ela, tentando manter os seres de escuridão longe com barreiras feitas com suas cartas, afinal tentar cortá-los era inútil. A garota acabara de apontar para o céu, lançando um raio de luz na direção que Vega fora levada, e já deixava cair a mão, refolegando, com o rosto sujo de poeira, sangue e lágrimas.

– Oh... você salvou ela.

– Ela podia se virar sozinha, só facilitei as coisas. - resmungou de volta, massageando a mão que fora perfurada pela espada. Seu pescoço também estava marcado e ardendo. Era como se ainda sentisse a mão da outra ali, apertando-a, levando-a para a morte. Não, no fim a espadachim não iria adiante, mas a garota ainda estava super zangada com ela. Deveria te-la machucado mais. - O que eles são? Vem do Reino dos Pesadelos e estão zangados por não terem sido chamados para o torneio.

– Eu duvido muito que alguém faria esse estrago todo só por causa disso... - Salazar saltara para trás, mantendo-se ainda mais perto dos outros.

– E não existem Pesadelos assim, também. - Alistar endireitou o chapéu sobre a cabeça, pulando para o lado e puxando Louise junto, ao ver uma das criaturas cair em sua direção. Ela não conseguiu parar a tempo, talvez por não ter imaginado que sua presa desviaria, e saiu arrastando-se no chão, virando uma bola de fumaça que rodou até o lado oposto da arena. Só quando parou, voltou a abrir-se, escancarando a boca num grito agudo e ensurdecedor.

– Você irritou ele.

– Ah, não me diga!

Quando o ser se preparava para pular sobre eles novamente – e possivelmente acertá-los dessa vez – Vega desceu com sua montaria improvisada e fez com que os dois montros colidissem, deixando-se cair no ultimo instante, rolando pelo piso da arena semi-destruída. Houve mais uma enxurrada de gritos e uivos demoniacos atravessando o ar, antes que Louise desse um fim neles com uma bola de luz gigantesca.

Uma comoção vinda do palanque real roubou completamente a atenção dos que se reuniam lá em baixo. A rainha chorava e gritava, coberta de sangue, enquanto tentava trazer para baixo um monstro maior que os demais, com pelo menos três cabeças de serpente, e com um cavaleiro em sua garupa. Ele trazia nos braços uma adolescente desmaiada, sofrendo mutações bizarras, ora parecendo muito bela, ora completamente deformada.

– Aster! Seu traídor miserável, deixe minha criança! Você roubou a vida do meu marido, ao menos deixe-a...

– Majestade, eu não posso controlar meus subordinados... ele pereceu por sua fraqueza. E quanto à sua criança... - o homem, que estava encapuzado, segurou o rosto da Hannyere desacordada quase com doçura. - Não se esqueça que fui eu que a revivi. Então, ela é minha. Estou apenas pegando-a de volta.

Os clamores da rainha continuaram, mas nada fez com que o monstro descesse. O Porteiro chegara a galope nesse momento, conseguindo saltar e agarrar com uma das cabeças a perna da criatura alada. Mais uma vez, porém, os dentes se fecharam em algo insólido, e o cão de três cabeças voltou a cair.

Os monstros da escuridão foram embora tão de repente como haviam chegado, seguindo o rastro do feiticeiro negro. Quando o primeiro raio de sol conseguiu vencer a barreira de nuvens, iluminou uma arena devastada. Muitos habitantes do reino haviam perecido, humanos, elfos, magos, monstros. O rei possivelmente caira tentando defender a filha. Ninguém soube exatamente a causa da morte, porque aqueles que eram feitos de sonho se desfaziam quando morriam. As únicas testemunhas eram a esposa e a própria princesa raptada. E a primeira, naqueles momentos, estava histérica demais para falar algo coerente, ou tomar uma decisão.

Mas a sua decisão viria, e ela iria afetar tanto Louise quanto aqueles que eram-lhe mais próximos naquele mundo.

Louise estava na enfermaria, observando metódicamente sua mão recentemente perfurada – e já tratada, obviamente – quando um cão de três cabeças familiar adentrou o local, respirando pesado. Numa maca mais afastada estava Vega, tratando dos inúmeros machucados que sofrera durante o dia. Ela não era do tipo que ficava quieta, de maneira que vez ou outra saia do repouso e era forçada a voltar para o mesmo por uma enfermeira.

As enfermeiras, por si só, eram suficientemente bizarras para que ninguém quisesse ser tratado por elas. Eram extremamente pálidas, com os membros finos e cumpridos. Pareciam feitas de algum tipo de geléia, e boa parte de seu corpo era coberto por ataduras. Seus olhos eram como um firmamento cheio de estrelas, era como observar uma galáxia dentro dos mesmos, mas eram grandes e sem pálpebras.

Eram nelas que a pequena garota parecia mais focada, quando o Porteiro chegara. Ela não lhe dera a minima atenção, afinal só havia uma pessoa ali que alguém poderia querer questionar, e essa seria Vega. Contudo, cada uma de suas cabeças estava focada em uma pessoa distinta quando ele pôs-se a falar. Não precisou nem dizer nomes para que soubessem quem eram as convocadas.

– Vega, tu fostes convocada à sala do trono do Palácio.

– Garotinha, você também...

Houve uma troca de olhares significativa. E um protesto em únissono: - Por quê?

– A Rainha quer vê-las. E na situação atual, aconselho que não desafiem uma ordem dada por ela.

Minutos mais tarde, já haviam sido levadas aos portões do palácio, uma imponente construção acinzentada, ou era isso que parecia. Pelo que se sabia, as pedras que o formavam mudavam de cor dependendo da hora do dia, chegando até mesmo a deixá-lo cor de rosa. Quando os três entraram no estabelecimento, uma luz forte quase os cegou. As janelas era cobertas de vitrais coloridos com mosaicos escandalosos, de seres mágicos: unicórnios, fadas, elfos e bruxas. Cortinas coloridas e extensas caiam pelo lado destas, nunca seguindo um padrão. O chão parecia um tabuleiro de xadrez, mas em vez de branco e preto era azul e vermelho. A luz forte que chegara a eles vinha de um lustre pendurado bem no centro do salão, com velas rubras e que pareciam mais soltar lazers do que estarem acesas.

E bem no fundo, havia o trono: ele era todo branco, impecavelmente limpo e brilhante. O encosto eram duas asas angelicais fechadas. E sentada sobre ele, estava a Rainha do Reino dos Sonhos. Ela era uma figura extremamente soturna, até mesmo negra, naquela sala cheia de maravilhas. Era como se apenas no canto em que ela se encontrava, tudo estivesse morto ou mergulhado em dor e perda.

Foi em frente a esse ser corrompido que Louise e Vega depararam-se com Salazar. O mago parecia descontente, pra não dizer completamente desgostoso de estar ali. Suas cartas dançavam de maneira caótica ao ser redor, esbarrando-se com frequência, enquanto ele apertava uma mão na outra.

– Relaxe, Salazar, você parece prestes a ter um treco. - A caolha murmurou, emparelhando-se a ele e fazendo uma mesura tão simples com a cabeça em direção a rainha que mal parecia um cumprimento. Louise abaixou o corpo, esquecendo por um instante que não usava um vestido a dias, e na tentativa de agarrar a barra deste, acabou segurando nada mais que ar.

Houve um silêncio extenso, antes que a mulher resolvesse falar pela primeira vez. Ela parecia mais velha do que estava mais cedo naquele dia, e sua voz também soou mais rouca do que deveria. - Campeões. Eu necessito de vossa força.

– Ahn... perdoe-me a ousadia em perguntar, majestade, mas o que pretende realmente com isso? - depois de alguns segundos de mais silêncio, enquanto Louise observava sem nada entender e Vega não fazia mais do que rolar seu único olho, o mago decidiu questionar.

– Minha filha foi levada, meu rei está morto! O Reino dos Sonhos está passando por uma crise, e é obrigação vossa ajudarem-me a contorná-la. Vós estão entre os mais fortes habitantes do Sonhar, não podem se recusar a isso.

De fato, ela parecia meio fora de si em usar tais palavras com seus súditos. Vega crispou os lábios, tirando um pouco do cabelo que insistia em lhe tapar a visão e disse, com uma voz clara: - Pois bem, eu me recuso. Isso é ridículo.

– V-Vega...

– O que você pensa que está fazendo? - sussurrou Salazar, amedrontado.

– Oh, então a famosa Estrela Cadente ousa me desafiar. - a rainha apontou a bengala estilizada que usava na direção da mulher e estreitou os olhos. - Pode dizer-me o por quê?

– A filha é sua. Vá lá pegá-la. E outra coisa, você mencionou uma crise, mas casos de morte e sequestro nunca são considerados partes de uma “crise”. Ou seja, você está escondendo alguma coisa, e eu recuso-me a ir lá procurar a princesa sem saber dos promenores.

– Tsc... Tens um belo ego, não é mesmo, Vega? Crês que eu não sei o suficiente do seu passado para forçá-la a isso? - ao ouvir isso, a espadachim deixou que um toque de apreensão passasse por seu rosto normalmente orgulhoso. Mas isso não durou o bastante, e não tinha como saber se os dois que estavam ao seu lado haviam visto ou não.

A rainha, com toda certeza, vira. De maneira que logo mudou também de assunto, entrelaçando os dedos das mãos em seu colo. - Não tem amor pelo seu próprio reino, criança? Pois bem. Aquelas coisas, os monstros de escuridão, irão voltar, porque aquele que os controla continua vivo. O homem que levou minha Hanny, Aster, pode estar tramando a nossa destruição completa nesse exato instante!

– Er... espere! Aster não era o necromante que...

– Troxe-a de volta dos mortos. - Vega terminou o pensamento de Salazar, prontamente. - Ora... vocês arranjaram um grande problema com essa coisa de não aceitar a morte. Se ela tivesse ficado onde deveria, nada disto estaria acontecendo.

– Não esqueça que foi por ela que foi formado o torneio, e não me lembro de tu ser alguém antes dele. - A rainha cortou, afiada, antes de erguer o queixo. - E então... as coisas acontecerão deste jeito: vós ireis até as Terras de Ninguém, nos limites do Reino dos Sonhos, e irão trazer Hannyere de volta. Aos outros Campeões, dei a ordem de formar uma tropa e marchar atrás de vós. Eles serão o seu reforço, mas rezo que não seja necessário esperar que alcanse-os. Alguma dúvida?

Haviam muitas, de fato, mas nenhum deles estava a fim de citá-las. Louise vira-se mais uma vez em uma situação ruim, afinal não podia dizer “não” a rainha, ainda mais que ela parecia meio louca, depois de ter perdido sua família. Salazar era o tipo obediente, e apenas abaixou a cabeça, sem contestar. Mesmo que visse inúmeros problemas naquele plano, era inútil discutir. Vega não se dignou a fazer qualquer outra mesura para sua majestade e virou as costas, praticamente marchando para fora do local.

Os outros dois sairam minutos depois, para encontrarem a espadachim treinando alguns golpes com sua inseparável espada... possivelmente estava imaginando-se fatiando a rainha, com o sorrisinho de satisfação que havia em seu rosto, mas ninguém ousou perguntar.

– Parece que você entrou em outra furada, criança. - resmungou Salazar para Louise, com as mãos nos bolsos do colete. - E pra variar estamos juntos nessa de novo.

– A culpa não foi minha, ela não me deu chance nem de reclamar. - a garota andava cabisbaixa, visivelmente irritada. - Eu só queria voltar pra casa! Ou me lembrar de quem eu sou. E eu acabo sempre entrando nos problemas desse lugar esquisito.

– O que é que tem de esquisito aqui, você é cega?

– Tudo, absolutamente tudo!

– Calem a boca vocês dois ou vou fatiá-los. - Vega já havia parado seus movimentos e agora apontava a ponta da lâmina para ambos. - Vamos chegar lá, fazer o trabalho e ir embora, rápidos e eficientes.

– Fácil falar, vamos ter que passar pelo reino inteiro, apenas nós três, eu mal sei onde ficam essas Terras de Ninguém e outra, nem temos uma montaria!

– Você está redondamente enganado, meu amigo. - a voz familiar fez com que os três se virassem numa mesma direção, vendo Alistar girar seu habitual chapéu de explorador no dedo indicador. O Porteiro encontrava-se atrás dele, as cabeças discutindo tão ferrenhamente entre si que mal dava para prestar atenção no teor da conversa. - Número um, eu sei muito bem onde ficam as Terras de Ninguém. Número dois, temos um ótimo meio de transporte bem aqui, comigo.

E com a última frase, ele apontou para o cão de três cabeças.


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