Capítulo V

“The bitch still alive.”

P.O.V Kimberly

Após o treinamento intenso com Clarisse La Rue e das sensações estranhas – é, acho que essa é a palavra – ao sentir os toques dos lábios macios do deus da guerra em minha pele alva, decidi voltar para o chalé. Despedi-me da filha de Ares rapidamente e dei uma última olhada para seu pai. O deus desviou-se do meu olhar e pôs seus óculos escuros no rosto. Acho que ele também estava tentado assimilar o que deveria ter sido aquilo.

Respirei fundo e andei a caminho do chalé de Quione, sentindo o vento se tornar mais gelado a cada vez que eu voltava a reviver aquela cena em minha mente. Enquanto caminhava, não consegui tirar aqueles olhos da minha cabeça. Fechei os olhos com força, tentando tirar aquele olhar da minha cabeça, mas foi em vão. Massageie minhas têmporas e continuei andando, retirando todas aquelas perguntas sem respostas dos meus pensamentos.

Entrei no chalé e fui tomar um banho. Demorei um pouco mais do que o de costume. Saí do chuveiro e me vesti com uma roupa confortável, ainda no vestiário. Chegando ao quarto, vi Kaya tentando escovar seus cabelos brancos sozinha. Minha meia-irmã me lembrava um pouco. Claro, tirando os olhos e a cor do cabelo. Afinal, eu era a única filha de Quione com a aparência diferente. Sentei-me ao lado de Kaya, peguei sua escova branca e penteei seus cabelos lisos e finos. Quando acabei, ela se virou para mim e sorriu. Seu sorriso era encantador.

–Obrigada, Kim. – Agradeceu, pegou seus patins e caminhou para fora do quarto.

Guardei sua escova em seu armário ciano claro com flocos de neve. Sentei-me no chão do chalé e Naomi veio até meu colo. Brinquei com ela por uns dois minutos até que minha loba adormeceu. Levantei-me da cama e fui até ao lago, onde vi Kaya levando um tombo e caindo, em seguida, no gelo. Ela gritou. Fui até ela, mas minha irmã fez sinal que estava tudo bem. Levantou-se do gelo, deu um salto e caiu novamente enquanto eu estava sentada num banco de gelo em frente. Coloquei meus patins que estavam por ali juntos com os de Kirsty.

–Tem que dobrar mais os joelhos. – Falei e coloquei meus pés na nossa pista de gelo. –Faça assim. – Comecei a patinar até ganhar velocidade e fazer um duplo* perfeito. –Viu? – Ela balançou a cabeça em resposta.

Kaya fez o mesmo movimento com perfeição. Ficamos patinando e rindo. Ela era um amorzinho de pessoa. Infelizmente, a concha soou, lembrando-nos do lanche da tarde. Tiramos nossos patins e guardamo-los na entrada do chalé.

Andamos até ao pavilhão e nos sentamos apressadamente quando percebemos que estávamos atrasadas. Pedi uma salada de frutas e um iogurte natural com umas sementes. Lógico, fiz minha oferenda, mas dessa vez foi para o Dionísio. De longe, vi Percy conversando com uma garota ruiva e Quíron. Eles notaram meu olhar e se separaram; pareciam estar escondendo algo de mim. Não, deve ter sido apenas uma impressão. Antes que pudesse pensar se seria mesmo ou não uma impressão, Travis jogou uma bolinha de papel em mim e eu me levantei da mesa. Ele fez o mesmo. Assim que fizemos esse movimento, Quíron soou a concha chamando a atenção de todos que estavam no pavilhão.

–Como vocês já sabem, entraremos no outono em poucos dias e logo depois virá o inverno. – O meu chalé vibrou. – Como esse é o primeiro ano do chalé de Quione, teremos um festival de inverno. – Ele pronunciou. – E sim, é obrigatório estar presente.

–Festival? – Dimitri questionou e olhou para Kirsty, que piscou sorrindo.

–Ideia da sua irmã. – O centauro falou baixo. – Quando chegar perto, eu direi os detalhes. – Quíron disse para todos e foi para a Casa Grande.

Ares permaneceu parado, mordendo uma maçã. Ele usava uma jaqueta de couro, blusa branca e calça jeans. Seus cabelos loiros estavam bagunçados. Chegava a ser bonito. Retirei meu olhar dele quando ouvi discussões entre os chalés. Não sabia ao certo o motivo; só sabia que aquele barulho estava me dando dor de cabeça. Porém, aquela zona devia ser por causa do festival. Ouvi uma voz enjoada que me chamou atenção.

–Kirsty, que porcaria de ideia foi essa? – A dona da voz enjoada perguntou. –Que tipo de líder é você?

–Ex-líder, queridinha. – Kirsty disse imitando a voz da garota.

–Ex? Como assim? – Ela questionou.

–A garota mais fofoqueira do acampamento meio-sangue não sabe das últimas notícias? – Minha meia-irmã provocou. –Que decepção, filha de Afrodite.

–Kirsty ... – A garota disse com raiva.

–Conheça a mais nova líder do chalé de Quione. – Dimitri falou e me virou para o chalé de ... Afrodite!

–Ops! – Ouvi Travis exclamar. –Isso não vai prestar.- Ele sussurrou.

–Kimberly?- A purpurinada perguntou e eu arregalei os olhos. Não podia ser. –Você cresceu e está menos ridícula, parabéns. – Suas irmãs riram do seu comentário.

–Drew! – “Cuspi” seu nome com raiva.

Ah. Que ótimo! A vadia continuava viva. Ela continuava com a mesma cara. Cabelos longos e loiros, a pele cheia de maquiagem, as roupas de última moda ... Sério, eu não merecia aquele capeta – sim, ela era quase isso. – na minha vida.

–Então quer dizer que você é filha de Quione? Conte-me outra piada. Olhe para você e para eles, Kimberly. Não tem nada em comum. Você é apenas uma órfã. Uma sozinha no mundo como sempre. – Ela disse aquelas palavras imundas e vi Travis fechar o punho assim como Dimitri.

–Drew, - chamei-a – por que você não vai cavar um buraco com as suas cadelas? – Questionei e o chalé de Afrodite me olhou com raiva. Muita raiva. Ares cuspiu sua maçã e se segurou para não rir.

–Kimberly! Eu vou matar você! – Ela gritou e eu gargalhei.

–Você disse a mesma sentença há anos e acabou levando um soco. Quer levar outro? Pois parece que não aprendeu com aquele. – Disse e ela ficou vermelha.

A filha de Afrodite veio para cima de mim e puxou meu cabelo. Todos os chalés fizeram um círculo em nossa volta. Assim que Drew tirou seu cabelo cheio de creme da minha cara, eu a empurrei e me levantei. Senti minha ele arder, passei a mão pelo meu rosto e vi um pouco de sangue. A vadia tinha me arranhado. Senti raiva dentro de mim e estiquei as mãos. Fechei os olhos e só ouvi o grito de Drew. Abri meus olhos rapidamente e vi que tinha congelado suas pernas. Empurrei a filha de Afrodite, fazendo-a cair no chão e quebrar o gelo. Ela se levantou e tentou dar um tapa no meu rosto. Segurei sua mão com força.

–Parem com isso agora! – Ouvimos o grito do deus da guerra. – Kimberly e Drew, venham já comigo. – Ares disse sério e nós caminhamos com ele.

Fomos até a casa grande em total silêncio. O deus da guerra selvagem nos conduziu até Quíron. O centauro me olhava desapontado. Ares encostou seu corpo numa arca e me fitou. Sentei em uma das cadeiras assim como Drew. Quíron encostou o braço na cadeira e suspirou.

–Vocês duas brigando após anos?Achei que tinham amadurecido nesse tempo. – Quíron reclamou e eu fiquei calada. Era melhor não abrir minha boca. Ele já estava desapontado o bastante.

–Mas Quíron ... – Drew começou a tentar argumentar, mas logo foi interrompida.

–Sem mais. –Ela calou a boca. -Kimberly, você vai competir patinando pelo seu chalé. – Ouvi minha sentença calada. – Drew, você vai fazer todo o design do festival junto com o chalé de Apolo e Atena. – O centauro disse por fim e se retirou.

–Você me paga, Kimberly. – Drew disse e saiu andando para seu chalé.

Olhei para Ares e me levantei da mesa. Saí da casa grande e fui até meu chalé. Troquei de roupa, colocando uma calça skinny, um moletom bonitinho e calcei minhas sapatilhas. Vestida, andei até ao banco de gelo onde me sentei. Fiquei olhando para a lua cheia que brilhava no céu estrelado. Meu olhar foi para os pinheiros cobertos de neve. Sorri e fiquei olhando para o lago lindo.

–Boa briga. – Ouvi uma voz rouca e olhei ara o meu lado esquerdo.

–O que você quer aqui, Ares? – Questionei. –Quer me ferrar novamente?

–Não. – Ele respondeu e sorriu fraco. – Você pegou pesado a congelando.

Não, ele não tava defendendo a Drew.

–Sério? Você defendendo aquela lá? – Questionei e levantei do banco. – Ele me puxou e eu caí sentada no banco. – Não tem o direito de me dar lição de moral.

–Não é bem isso. – Ele respondeu e me encarou com aquele olhar.

–Não importa; agora vou ter que participar da patinação no gelo. Tem noção do quanto eu sou ruim nisso? Não patino a sério há anos, Ares. Eu sou uma das piores patinadoras do meu chalé, com certeza. – Falei e bufei, esparramando-me no banco.

–Devia ter mais confiança em você mesma. – Ele disse olhando-me nos olhos.

–Por que diz isso?- Perguntei, tentando entender seu comentário.

–Porque eu sinto que posso confiar em você, Kim. – Ele falou sinceramente.

–Agora para de mentir. – Falei.

–Não estou mentindo e, além disso, estava caminhando pelos chalés hoje de tarde. Vi você ajudando sua irmã. – Ele falou e eu arregalei os olhos.

–Isso está soando estranho vindo de você. – Disse um pouco fria.

–Eu sei. – Ele riu. – Isso acontece quando estou perto de você.

–Ares! – Afastei-me um pouco. – Está com febre? Você não é assim.

–Não to com febre. –Ele falou.

–Então, está me cantando? Tá bêbado? – Perguntei.

–Não estou bêbado e não estou te cantando, Kim. Sei que filhas de Quine não são assim. Principalmente, você. –Ele me fitou. – Você é diferente de todas.

–Diferente como? – Perguntei.

–Eu só sinto que posso ser eu mesmo perto de você. – Ele falou.

–Eu também. – Sussurrei baixinho, mas ele ouviu.

–Sério? – Ele sorriu.

–Só não decidi se isso é bom ou ruim. – Disse.

–Amigos? – Ele perguntou e esticou sua mão.

–Isso só o tempo vai dizer, deus da guerra. – Falei virando-me para o lago.

–Você ainda tem a mania de dar respostas vagas nas perguntas que sente aflição. – Ele falou e sorriu.

–Ares, decida-se. Você quer ser meu amigo ou meu terapeuta? –Ele riu. – Não gosto que fique me analisando. Não sou um extraterrestre.

–Ok. – Ele respondeu e colocou suas mãos nos bolsos da sua jaqueta de couro preta.

–Ok. – Respondi e ele riu. -Ainda não me contou como veio parar aqui. – Falei e me permiti ver seus olhos me fitando.

–Pegadinha que teve como vítimas o casal mais top do Olimpo. Meu castigo foi vir para cá. – O deus falou e eu comecei a rir. - O que foi?

–Você tinha que aprontar com sua ex? – Eu ria alto. – E ainda queria falar de mim.

–Nem vem, filha de Quione. Nós, deuses, observamos vocês lá do Olimpo. – Ele falou e eu pensei “fudeu”. –Sei de alguns podres seus. – Ele disse com um jeito brincalhão.

–Shiu! – Sussurrei e empurrei-o rindo.

Ficamos conversando que nem percebi quando a concha soou avisando o jantar e quando a concha soou anunciando à hora de dormir. Ares sussurrou em meu ouvido que estava devendo um lanche para mim. Sorri. Andei até a porta do chalé e o vi acenando para mim. Retribui com um pequeno sorriso e fechei a porta branca do chalé.

Entrei no meu quarto e Kirsty me chamou com o dedo. Disse para ela esperar um pouco. Fui até ao banheiro, troquei de roupa colocando minha camisola azul que batia nos meus joelhos e fui conversar com a minha irmã. Sentei-me em sua cama, que estava revestida com lençóis azuis claros. Naomi pulou no meu colo, ela segurava com a boca sua bolinha de brinquedo roxa. Peguei a bolinha e coloquei em cima do meu criado-mudo. Kirsty acariciou os pelos brancos de Naomi e eu sorri. Minha meia-irmã estava com um pijama de gatinhos muito fofo. Seus cabelos brancos estavam presos num coque e ela tinha retirado os óculos.

–Eu vi você e o deus da guerra. – Minha irmã disse e Naomi olhou para mim. – O que ele queria? – Kirsty perguntou.

–Nada demais. – Disse e acariciei o pelo da minha loba.

–Kimberly. – Kirsty disse séria.

–Ta parecendo uma Drew da vida. – Comentei.

–Vou ignorar esse comentário infeliz. – Ela disse. – O que vocês estavam fazendo lá fora? – Perguntou.

–Apenas conversamos. – Respondi.

–Nós, filhos de Quione, não somos amigáveis. – Ela falou e eu a encarei.

–Eu amo você, mas não se meta nas minhas amizades, Kirsty. – Disse.

–Kim, ele é o cara mais galinha do Olimpo. Na verdade, só perde para Apolo. Mas só às vezes. – Kirsty comentou.

–Eu sei que é verdade, entretanto, ele está sendo legal comigo. Eu sei me cuidar. – Naomi saiu do meu colo.

–Kimberly! Deuses iludem. - Ela disse sem acreditar no que eu estava falando.

– Ele ta diferente.- Comentei.

–Ops! – Ela pronunciou baixo.

–O que foi? – Questionei.

–Nada. – Ela estava mentindo. –Apenas me lembrei que tenho que falar com a mamãe amanhã. – Ela disse e eu arregalei os olhos. – Vou ao banheiro. – Kirsty saiu do quarto.

Narração em terceira pessoa.

–Mãe! – Kirsty exclamou quando a imagem de Quione apareceu.

A deusa usava um vestido cinza com um casaco de pele branco. Seu cabelo caia como uma cascata nas costas. Ela estava lindamente sentada com sua loba ao seu lado. Ao lado dela estava o deus do sol e da medicina. E, sentada ao lado da estante de livros, estava a deusa da sabedoria.

–Oi, estou no meio de uma reunião. – A deusa respondeu friamente.

–A profecia começou, Quione. – Kirsty falou e a deusa da neve arregalou os olhos. – Boa sorte, Apolo. Pelo que eu vi hoje, vou vai precisar.

O deus do sol quebrou o vaso de cristal que estava na mesa de centro da sala do palácio de Quione. A deusa da neve xingou o deus em grego. Apolo sabia que Ares iria aproveitar e se aproximar da garota. Naquele momento, ele queria quebrar a cara do deus da guerra selvagem. Os deuses ficaram perplexos. Achavam que ela não iria gostar de Ares. A filha de Quione desligou a mensagem de Íris e começou a caminhar para o seu quarto. Uma mão a puxou e a pressionou contra a parede. Seus olhos se arregalaram e ela precisaria de sorte para sair daquela situação.

Duplo: salto de patinação artística.