Echo. escrita por nekokill3r


Capítulo 27
Capítulo 27.


Notas iniciais do capítulo

Amores (q.), me desculpem pela demora. A culpa não foi minha, e sim da minha mãe que demorou esse tempão para pagar a internet, então vão resolver com ela u_u
NAOMIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII, MUITO OBRIGADA PELA SUA LINDA RECOMENDAÇÃO QUE ME FEZ CHORAR OCEANOS! MUITO OBRIGADA MESMO, EU FIQUEI MUITO FELIZ



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Gaara apertou ainda mais a minha mão e respiro fundo, finalmente entrando na escola. Faz tanto tempo que eu não piso aqui, que é como se fosse um lugar novo e muito diferente. É como se fosse a primeira vez, mas eu estou mil vezes mais nervosa agora. Acreditei na ideia de que todos iriam rir de mim ou ficar falando coisas pelo o que fiz quando eu não estivesse ouvindo, porém foi totalmente diferente do que tudo o que imaginei. Quando as pessoas viram que era eu, todos vieram me perguntando como eu estava e se tinha melhorado mesmo ou essa história de clínica era só bobeira. Fiquei um pouco surpresa e apenas sorri, afirmando com a cabeça qualquer outra pergunta que me faziam quando uma acabava.

E então, chegou o pior momento; o de entrar na minha sala. Eu estava tremendo quando me aproximei de lá, e decidi que não vou mais usar blusas de frio, pois quero que as outras pessoas vejam o que algumas pessoas são capazes de mudar nossa cabeça e nos fazer machucarmos uns aos outros –– foi tão estranho, e eu estava e já puxei nada para baixo uma ou duas vezes no caminho para cá. No segundo em que Hinata olha para mim na porta, parece não acreditar que estou ali mesmo. Karin e Shion fazem a mesma coisa, e para a minha surpresa, esta segunda se levanta e me abraça. Fico um pouco sem reação no momento, mas depois retribuo o abraço; não para irritar Hinata, mas sim porquê percebi que ela está mesmo arrependida de tudo o que me fez, ou não estaria chorando como agora.

–– Oh, Sakura, fico muito feliz de ver você bem! –– ela diz depois que se solta de mim.

–– Eu também –– digo apenas, porquê eu não estou tão feliz assim de vê-la; quer dizer, o que acabou de fazer é como se fossemos amigas e isso me irritou.

–– É, parece que você está mesmo melhor –– Hinata diz dessa vez e se aproxima de nós duas enquanto cruza os braços. Ainda tenho inveja dessa pele tão branquinha sem nenhuma marca. –– Voltou para ficar?

–– Com certeza –– respondo em um tom desafiador, mais que o dela. –– Aliás, eu estarei indo na festa do aniversário do seu pai hoje. Não sei se se lembra, mas me convidou um tempo atrás.

–– Ah, foi –– ela diz e parece arrependida por ter o feito. O olhar de Hinata bate nos meus braços e ela fica olhando para lá por um bom tempo, e acho que ninguém além de mim deve ter notado o sorrisinho que ela deu quando achou as cicatrizes da vertical. Gostaria muito de dizer que elas estão aí por culpa dela, mas deixei passar.

Assim que me virei, Hinata fez questão de pegar o mesmo caminho e bater seu ombro no meu, quase me fazendo cair. Deixei passar isso também, porquê provavelmente o que ela vai receber com as imagens das câmeras será mil vezes pior que um empurrãozinho. Gaara se sentou atrás de mim e eu me virei na cadeira para ficar deitada na mesa dele enquanto ele escrevia alguma coisa. Estou sentindo falta de Naruto e de outra pessoa... Kiba. Não que eu ligue muito que ele está ou não aqui, mas ainda assim sinto uma falta imensa de suas brincadeiras, gritos e abraços. Apesar de tudo, eu acho que o perdoei de alguma forma que ainda não sei qual é. Acredito na possibilidade de eu e ele voltarmos a sermos amigos algum dia, se é que até lá eu consiga o ouvir antes de começar a ficar jogando ironias ou o cortando.

Ouço as vozes de Ino e Tenten e me viro para ver as duas entrando e rindo feito loucas. Queria muito saber quando elas ficaram tão amigas assim, e creio que tenha sido depois que eu fiquei internada. Fico feliz que tenham tanta confiança uma na outra agora, mas eu continuo tendo aquele ciúme absurdo de Ino, imaginando que agora é Tenten quem vai a levar de mim. Ok, não é para tanto, eu sei, mas a garota é minha melhor amiga e acabamos de ficar de bem de novo, queria o quê? Tenten me dá um abraço rápido e cumprimenta Gaara, depois sai correndo para a sala dela por já estar atrasada. Eu e Ino começamos a conversar –– e para a minha sorte, ela escolheu um lugar perto do meu –– quando percebo que Gaara está murmurando alguma coisa. Isso geralmente acontece em momentos em que ele não consegue se concentrar na escrita e falo mais baixo, ou logo estaremos presenciando mais uma das crises bipolares dele.

–– Tenten e eu escolhemos o penteado mais lindo do mundo para fazer em você. Sério, vai amar –– Ino diz toda animada. Ela sempre gostou e entendeu essas coisas mais perfeitamente do que eu, e confesso que nunca tive mesmo interesse quanto a isso.

–– Não querendo ser grosso ou algo assim, mas você pode calar a boca só por um segundo? –– Gaara pergunta e olho para ele desesperada.

–– Tá –– ela diz somente e olha para mim, sussurrando como se fingisse que ele não estava ali: –– Você deveria ter arrumado um namorado mais legal.

Ora, que insolência esta a de Ino agora! Ela mal o conhece e já diz algo assim dele? Apoiei um dos braços do meu joelho e respondi para ela também sussurrando:

–– Ele é legal e, acima de tudo, me agüenta. Vai perceber as qualidades dele com o tempo.

Tive vontade de falar mais coisas para ela, mas deixei passar pois não quero brigar. Olho para o lugar de Hinata e ela também estava me olhando, provavelmente praguejando por não ter conseguido me fazer morrer de vez. Tomo coragem e aceno para lá, dando um sorrisinho de lado logo em seguida. Eu não faria isso se tivesse sozinha, porém agora a história é outra; não acredito que Gaara, Tenten ou Naruto tivesse a mesma coragem e eu e batesse na Hinata, mas Ino sim. Falando em Naruto, ele acabou de chegar e virou para trás para cumprimentar todos –– menos Gaara, por ter sacado que o meu problemático namorado estava tentando escrever em paz. Tentei esconder a felicidade quando ele passou a mão no meu cabelo, mas acho que foi inútil mais uma vez.

–– Naruto! Você foi convidado para a festa do aniversário e não vai levar ninguém, né? –– pergunto do nada e uma ideia acabou de surgir. Ele negou com a cabeça. –– Por quê não leva a Tenten com você?

–– Eu até que queria, mas se esqueceu que não é todo mundo que gosta dela por lá? –– ele diz e fico um pouco confusa. –– O pai da Hinata também não é muito “chegado” nela.

–– Ele é tão rigoroso assim? –– pergunto um pouco indignada. Pelo jeito e por todas as coisas que ouvi sobre esse pai dela, parece que ele não gosta de metade das pessoas do mundo.

–– É sim –– Ino responde dessa vez e olho para ela. –– Parece até que ele treina ela, para que seja sempre perfeita. Ele mal fica em casa, o primo dela nunca tem tempo para ouvir suas reclamações, então eu acho que é por isso que Hinata é desse jeito e faz essas coisas.

Preciso de alguns tempos para pensar; eu também acho que seja por isso que Hinata é desse jeito. Talvez, se ela tivesse apenas uma pessoa que a ouvisse, tudo ficaria melhor. Mas o que não entendo mesmo, é esse ódio que ela tem por pessoas que traem sua confiança. Ainda creio na possibilidade de que ela sente muito medo de ficar sozinha.

–– Eu soube que Kiba vai embora da cidade... –– Naruto informa e olho para ele com os olhos um pouco arregalados, pois isso é impossível; Kiba sempre me dizia que nunca deixaria Konoha, porque amava aqui e agora vai embora?

–– Como assim? –– pergunto descruzando os braços e segurando a mão de Gaara por debaixo da mesa. Ele realmente não conseguiu se concentrar na escrita, então parece que hoje eu ficarei sem mais um texto lindo.

–– Eu ouvi ele dizendo para Shino que iria embora, porquê não tem mais nada para ele aqui –– ele explica e ergo as sobrancelhas ainda mais indignada. Esta resposta não explica coisa nenhuma. –– Não sei o que está acontecendo com ele, mas também não parece bem.

–– Vou falar com ele –– digo e Gaara aperta a minha mão para não ter que falar. –– Vou mesmo. Depois da escola.

–– Ele vai depois que acabar, se é que não decidiu ir antes –– Naruto diz, e é impressão minha ou nem ele está querendo que eu vá pedir desculpas para Kiba?

–– Não importa –– digo e encerro o assunto de vez.

A professora Kurenai entrou alguns segundos depois e me fez ir até a frente da sala para dar um “olá pessoal, eu estou de volta”, e eu quase morri de vergonha. Eu saí da clínica e tudo o mais, mas isso não significa que eu tenha ficado tão social a esse ponto. A mesma garota que há meses atrás me jogou aquelas indiretas sobre o meu material ter sido jogado pela janela, sorriu para mim lá do fundo e retribui seu sorriso. Confesso que achava que ela tinha mudado de escola, porém fiquei feliz da mesma forma por não ter feito isso.

Depois desse episódio, sentei novamente no meu lugar, apoiei minha cabeça na mão esquerda e fiquei pensando; porque diabos o Kiba está indo embora? Será que é por minha causa ou Hinata? Mais provável que seja essa segunda. Mas mesmo assim, vivemos um tempinho juntos e eu nunca mais nem olhei para a cara dele. Foi injustiça e eu infelizmente só fui perceber isso agora. Eu não entendo e não há como existir motivos que sejam suficientemente bons o bastante para justificar essa mudança de uma hora para outra. Vou tentar convencê-lo de ficar quando for falar com ele, só que se a família dele estiver pensando em se mudar, não vai ter nada que eu possa fazer além de pedir desculpas e ir para a minha nova casa –– que aliás, se mostrou mil vezes mais alegre que a outra e eu não tive pesadelos.

Quando a aula acaba, Ino e Tenten querem me levar para a casa da primeira para que possam me arrumar, mas eu não posso. O combinado então ficou que eu devo chegar lá pelo menos até às 15:00 da tarde ou elas vão me buscar –– e tiveram o prazer de ameaçar que seria pelo cabelo. Eu não sei como que Ino é tão forte o suficiente para ficar brincando com essas coisas de “cabelo” enquanto ela não tem nenhum, porém eu fico feliz por ela estar assim; é melhor do que estar chorando a todo segundo. Abraço Gaara por alguns segundos antes que ele vá embora, pois não nos veremos mais por hoje. Ele sabe que vou estar indo na festa na casa da Hinata e quando eu o convidei por brincadeira, ele disse aquela mesma frase de sempre que não tem paciência com “essas coisas” e ficou emburrado. Dói vê-lo ir embora, porque assim como ele sente minha falta a quase todo o tempo mesmo que eu esteja ao seu lado, eu também sinto agora. Me apeguei demais a ele para ficar sem ver aquele sorriso lindo por hoje, mas quando eu chegar da festa irei mandar milhões de mensagens para ele e se estiver dormindo, vai ter que tratar de acordar de uma forma ou outra. Fico conversando com Naruto até que ele precisa ir para casa para checar se Leo foi mesmo para o trabalho e nos despedimos com um abraço –– e ele conseguiu beijar o meu rosto sem que eu conseguisse evitar!

Ok, hora de procurar Kiba agora. Passo por todos os corredores e nada dele; encontro o tal Shino e pergunto para ele se Kiba tinha falado alguma coisa de ir embora mais cedo, mas ele me respondeu que não, contudo, não disse nada de onde eu posso o encontrar; dou a volta na escola e vou até perto do ginásio onde ele mesmo abriu uma pequena ONG para cachorrinhos que aparecessem na porta da escola, e também nada! Estou perdendo a esperança de o achar por hoje. Olhei em todos os lugares que ele possa estar e nenhum sinal, então decido ir embora. Fiquei mexendo no meu celular –– uma coisa rara de se acontecer já que eu apenas me lembro que ele existe quando Gaara ou Naruto ligam para mim –– quando acabei esbarrando em alguém, na verdade, em um cachorro enorme e branco com algumas marcas prestas e tem um pouco de sangue. Me abaixo e começo a passar a mão nele enquanto o cachorro parece querer me levar para algum lugar enquanto fica choramingando e apontando para o outro lado. Apesar de confusa, olho para lá e tem algumas pessoas por ali. Sigo o cachorro que me lembrou muito do Akamaru e quando percebo o que é, meu coração quase para de vez; deitado no chão com uma das pernas ensangüentada e com os braços abertos sem mexer nenhum músculo sequer, está Kiba. Corro para o seu lado desesperada e sei que não posso tentar erguê-lo ou algo assim ou o machucado da perna vai piorar.

–– O que você está fazendo aí?! –– pergunto e tenho que apertar as mãos uma nas outras depois de jogar a mochila de qualquer jeito no chão, porque a vontade de ajudá-lo está se tornando impossível de resistir.

–– “Eu não estou aqui porquê quero” –– ele responde e me lembro do dia em que me salvou de dentro do lixo. Kiba vira o rosto no chão para me olhar. –– O seu cabelo cresceu mesmo.

–– Olha, cala a boca! –– mando e me viro para as pessoas que ainda estavam ali olhando tudo e, para a minha impaciência, paradas. –– Alguém já fez o favor de chamar a ambulância?

–– Eu já, mas até agora nada –– um garoto moreno responde e olho para ele com os olhos cerrados por causa do sol.

–– Francamente... –– resmungo quando me viro e fico balançando a cabeça negativamente. Esse atendimento de Konoha não presta mesmo. –– Como que foi deixar isso acontecer, Kiba?

–– Eu estava dando uma última volta com o Akamaru quando vi que um carro iria passar por cima dele, então me enfiei no meio e agora estou desse jeito –– ele responde com a voz fraca. Pelo o que vejo, Kiba está assim provavelmente porque a batida foi muito forte, mas eu estou mais preocupada com esse machucado horrível da perna dele que não para de sangrar, manchando o asfalto. Preciso tirá-lo daqui por causa do calor. Ele ficou em silêncio e com os olhos fechados, o que quase me fez o balançar.

–– Meu Deus, não fica calado! –– exclamo me abaixando ainda mais perto de seu rosto. Kiba olhou para mim novamente e sorri, tentando fazer com que ele não fechasse os olhos de novo. Eu não vi o acidente e nem nada, mas vai saber se a coisa foi mais séria que estou imaginando.

Akamaru se aproxima choramingando e me ajuda, lambendo o rosto dele e Kiba começa a rir fraco. Deixo os dois assim e me levanto para pegar a minha mochila de volta quando as pessoas começam a exclamar alguma coisa e algumas até gritaram. A larguei de novo e olhei para lá; Kiba tinha fechado os olhos de novo e eu não estou vendo o peito dele se mexer. Sinto o garoto moreno que disse ter chamado a ambulância segurar o meu braço e acho que comecei a cair para o lado e ele me segurou.

–– Calma, moça. Ele apenas desmaiou –– ele me tranqüiliza e olho novamente para Kiba; agora ele está respirando. Sorrio e o garoto me solta para que eu possa ficar no chão de novo.

A ajuda parece demorar um século para mim e quando chegam, Kiba começa e me pedir desculpas, o que me deixa ainda mais desesperada. Vendo que não daria para eu voltar para a minha casa com ele desse jeito, peguei a minha mochila de vez e entrei na ambulância com ele. Akamaru ficou para trás, mas Kiba disse entre soluços que ele sabe o caminho de casa, então seguimos. Eu nunca tinha entrado aqui, pelo menos não de olhos abertos e parece que tudo está me lembrando de Sasori e a noite do acidente. Tento concentrar toda a minha força em Kiba e fico olhando para ele todo o tempo enquanto ele segura a minha mão forte e não para de pedir desculpas.

–– Kiba, está tudo bem. Estamos quase chegando –– digo e sorrio, porque é mesmo verdade. A única vantagem para nós até agora é que os hospitais não são tão longe.

–– Sakura, a minha perna. Por quê eu não estou sentindo ela? –– ele pergunta agora isso sem parar e eu não sei o que responder, porque nunca parei de sentir a minha.

–– Calma, Kiba. Por favor. Juro que estamos chegando –– retruco e olho para a janela; não acredito que... –– Kiba, chegamos!

Viro para olhar para ele e estou quase chorando de tanta emoção ou sabe-se lá o porque disso tudo. Ele aperta ainda mais a minha mão e não me importo se ela está um pouco suja de gracha e sangue como o pelo de Akamaru. Depois de o descerem e eu sou obrigada a ficar esperando, começo a enlouquecer. Pergunto a todo segundo para a mocinha nada gentil e que me parece ter pouca profissionalidade se ele já foi atendido, mas a resposta sempre é “não”. Começo a andar dentro do hospital para tentar me acalmar, porém sei que não vai adiantar e volto para o mesmo lugar. Penso em ligar para Naruto ou Gaara, mas é melhor não. Nem vontade para ouvir música agora eu sinto. Fecho os olhos por alguns segundos e ouço a voz de Kiba; me levanto no mesmo instante.

–– O que aconteceu com a sua perna? Você está bem? Tem certeza de que não está sentindo nenhuma dor? –– pergunto tudo de uma vez enquanto saimos com ele apoiado com o braço no meu pescoço.

–– Não aconteceu nada, eu estou bem sim e tenho certeza –– Kiba responde com a maior naturalidade do mundo e quase o empurro no chão. Nos sentamos em um banco enquanto ele tenta não mexer tanto a perna.

–– Mas e aquele machucado que tinha aí? –– pergunto novamente enquanto o vejo escrever uma mensagem (ou eu acho que sim).

–– Alarme falso –– ele responde e olha para mim.

–– Tem certeza?

–– Tenho.

–– Absoluta?

–– Sim, Sakura. –– Kiba sorri, mas isso não faz com que eu acredite tanto assim nele. –– Obrigado por ter me acompanhado até aqui. Na minha cabeça, você nunca mais olharia para a minha cara.

Suspiro me encostando no banco e fico em silêncio. Sei que não deveria ficar assim, eu deveria dizer que o perdoei e que o melhor a se fazer agora é esquecer tudo o que aconteceu naqueles meses que eu tento esquecer. Decido mudar de assunto.

–– Por que está indo embora? –– pergunto e continuo olhando para o chão.

–– As coisas não estão nada boas para mim por aqui –– ele responde e parece que logo vai começar a chorar. Ah, não! Se ele fazer isso, eu também vou fazer. –– Depois que fui obrigado a me inturmar com a Hinata, tudo mudou. A maioria dos meus “amigos” me viraram as costas, principalmente Naruto, que mal queria falar comigo e eu percebi que tinha feito uma coisa tão idiota e que não dava para voltar atrás. Por isso, consegui convencer a minha mãe e minha irmã que Konoha não é um lugar que vai crescer mais futuramente, no caso, não é um lugar para nós.

É sério tudo isso que ele acabou de me dizer? Cara, eu sei que fiquei sem falar com ele e sei o quanto foi injusto, mas Kiba me conhecia tempo suficiente para saber que se continuasse tentando falar comigo, iria ter a minha confiança de volta; não como antes, é claro, mas teria mesmo assim. Prefiro mudar de assunto de novo por não saber o que responder.

–– Deixa eu ver essa sua perna –– digo o olhando e Kiba começa a rir. –– É sério.

–– Eu já disse que não é nada, Sakura –– ele me garante pela miléssima vez e ainda assim não consigo acreditar.

–– É ótimo que você me mostre ou eu arranco essa sua calça –– ameaço e isso saiu tão pervertido que até eu ri junto com ele. –– Vai, me mostre. Quero ter certeza de que você não está mentindo só para não me preocupar.

–– Tá bom. –– Kiba, com muita dificuldade aliás, ergue a calça e vejo metade de sua perna cheia de curativos e ainda está sangrando. Espere aí... estão deixando um paciente ir embora desse jeito? Não acredito. Deus do céu, que falta de profissionalismo é esse? Nem eu, que mal entendo de medicina e essas coisas, sei que não se pode deixar uma pessoa ir embora, não enquanto ela estiver ferida ou sentindo dor. Então, para traduzir tudo, ele nem deveria estar sentado aqui de fora.

–– Como que você vai embora? –– pergunto ainda impressionada com os machucados da perna. Me lembra do soro no braço... E me acostumei tanto, que agora não consigo ficar com o meu braço esticado de qualquer jeito. Maldita clínica, hein.

–– Avisei para a minha irmã e... Ah, olha ela ali! –– Ele aponta para um carro preto do outro lado da rua. Que irmã mais sem cabeça de parar lá. Kiba olha para mim de novo. –– Eu queria que você fosse comigo no aeroporto amanhã... Para uma última despedida, sabe...

–– Ainda não consigo entender o porquê de você estar se mudando desse jeito –– digo balançando a cabeça e me ajeito no banco. ––, mas eu darei um jeito de ir. Que horas é?

–– Às 14:00... Você pode? –– ele pergunta todo esperançoso e me recusei a olhar em seus olhos nesse momento.

–– Sim, posso. –– Nos levantamos e ele passou o braço em meu pescoço, se apoiando em mim. Ele com certeza é mais pesado que Gaara e isso vai me custar uma dor a mais hoje mais tarde pelo jeito. Levo ele até o carro e a irmã abre a porta sem muita paciência, e tento colocá-lo no banco da forma mais delicada do mundo. Dá tempo apenas que eu fale um “até amanhã” antes que o carro vá embora.

Olho para o celular e já são 14:30, o que me faz quase correr para a minha casa. Confesso, estou achando que estava perdida quando achei o caminho do meu novo bairro. Apesar da casa ser perfeita, as pessoas por aqui não fazem barulho nenhum; nada de brigas, cachorros uivando de madrugada ou som alto demais. É bom, claro que sim, mas sinto falta disso às vezes. Abro a porta quase tremendo por causa desse calor maldito –– segunda vez desde que saí da clínica que estou perto de passar mal por isso –– e corro para o meu quarto. Lá, pego qualquer blusa e visto, mas antes sou obrigada a olhar para o espelho que reflete o meu corpo inteiro. Eu não sou mais aquela Sakura de antes; a criança, digamos assim. De alguma maneira, eu cresci com tudo o que aconteceu e é algo tão incrível e bom que me faz ter mais e mais vontade de continuar a errar para frente e aprender com esses erros.

Pulo de degrau em degrau na hora de descer e quase acabo caindo no último; meu pai chegou no mesmo segundo e isso não aconteceu. Minha mãe conseguiu voltar para o antigo emprego e agora ficamos eu e ele ficamos em casa sozinhos pela tarde até 18:00 da noite, quando ela volta.

–– Tenha mais cuidado da próxima vez, amor da minha vida –– ele adverte e mesmo assim não consegue ficar sério o suficiente para que isso se torne uma bronca. Começo a rir dele e meu pai tenta segurar a risada.

–– Tá bom –– respondo e faço um bico, então ele não agüenta. Ele beija a minha testa e faço a mesma coisa, depois saio de vez.

Não existe coisa pior até o momento do que ter que ir para a casa de alguém com a outra pessoa te explicando o caminho; Ino me disse para ir reto, depois virar, mas aí se lembrou que tinha errado e mandou que eu voltasse. Foi um desafio enorme e eu confesso ter achado que tinha me perdido umas dez vezes só na mesma rua. Quando cheguei, tive que controlar a minha vontade de beijar o chão e apenas entrei, não encontrando “tio” Inoichi. Em todas as vezes que eu ia na antiga casa de Ino, ele sempre estava no orquidário e fazia questão de me dar uma ou duas flores, mas parece que agora não receberei nenhuma. Vou andando com Ino e chegamos na cozinha e encontro Tenten fazendo o que mais ama: comer. Eu não sei como ela come tanto e mesmo assim não engorda nada. Todo mundo me diz que eu estou magra, mas mesmo assim vou querer pegar essa mágica que ela deve ter criado, só para previnir mesmo.

Ino lava o meu cabelo –– o que achei desnecessário, ele já estava molhado o suficiente para escovar –– e depois fica sacudindo a minha cabeça com a toalha e sei bem o porquê disso; vingança. Uma vez eu tive a ideia de lavar o cabelo dela mas depois de ter feito isso, fiquei a balançando de um lado para o outro. Me lembro bem de quase ter tido as pernas arranhadas naquele dia. Depois, Tenten assume o serviço que deveria estar fazendo no lugar de Ino e me senta em uma cadeira de frente com a TV enorme. Não sei o porque de terem feito isso, pois quando o secador foi ligado, eu não ouvi mais nada além daquela coisa. Tenten e Ino precisam gritar para conversarem e confesso que a minha cabeça está começando a doer. Não que eu vá desistir agora, mas Tenten puxa muito e meu pescoço vai lá atrás e volta. Uma das piores partes é quando o vento extra-quente entra nos meus ouvidos e eu acabo puxando a cabeça, o que Tenten resolve a puxando de volta. Ela é muito forte, meu Deus! Se eu não ficar sem pescoço hoje vai ser um milagre.

Ao terminar a parte do secador –– e por todo lado na minha cabeça está cheio de piranhas ––, Ino me chama para colocar o vestido antes que eu já esteja pronta. Esse penteado deve ser incrível, porque elas querem que eu fique perfeita em menos de uma hora pelo jeito. Estou apaixonada pelo vestido; ele é tomara que caia –– e tomara que não caia... ok, parei –– e rosa em um tom bem clarinho, quase branco. Vai até a altura dos joelhos e é de um tecido muito macio. Tenho certeza de que vai combinar com o meu tênis embora as duas ainda insistam que eu vá de salto, o que nem me pagando eu farei. Sei que Hinata estará sim do jeito que elas estão me imaginando e acredite, eu não estou nem um pouquinho preocupada em como ela vai aparecer com aquela perfeição toda dela.

Colocado o vestido, voltamos para a sala. Tenten passa a chapinha bem devagarzinho, o que quase me dá sono. Também ao terminar essa parte, fico livre, mas é livre mesmo e o meu cabelo está tão liso que mal o reconheço. Ele já é liso, porém não tanto assim como Tenten conseguiu fazer ele ficar; tão arrumadinho, para ser mais especifica. Ino está no banheiro e quero muito mostrar o resultado, então saio correndo atrás dela enquanto chamo seu nome. Eu não sei onde é o banheiro aqui, no caso, tenho abrir porta em porta para tentar achar Ino em meio a tudo isso aqui.

A encontro na última porta, bem no fim do corredor. Consigo ouvir ela murmurando alguma canção qualquer e quando chego na porta tem um espacinho bem pequeno por onde consigo vê-la tirar a peruca, dar uma escovada nela e a colocando de novo, ajeitando como se fosse um cabelo mesmo. É claro que isso me deixou assustada, meio que acabou comigo. Sempre fui acostumada com uma Ino de cabelo enorme e perfeito, não com uma que tem uma peruca. Ela me percebeu e olhou para onde eu estava e pensei que iria apanhar dela novamente, mas ela sorriu e abriu a porta para que eu entrasse. Fiz isso, um pouco hesitante e fiquei a olhando no espelho.

–– Como que você consegue ser tão forte? –– pergunto do nada e percebo que minhas sobrancelhas estão abaixadas de um jeito triste. Eu estou sim triste por ela.

–– Tive uma ótima professora –– ela responde e fico com cara de quem está perguntando “quem?” Ino aponta o dedo indicador bem devagar perto do meu rosto. –– Você.

–– Eu? –– pergunto confusa e ao mesmo tempo emocionada.

–– Sim –– ela responde sorrindo e passa as unhas no cabelo. –– E ter uma peruca nem é tão ruim assim, pois veja só: você pode trocar o penteado quando quiser e sempre tem a certeza de que vai ficar lindo. Aliás, o seu cabelo ficou lindo também. Agora só falta enrolar ele e pronto!

–– Espera, enrolar? –– pergunto novamente, mas Ino já está me levando para a sala. Tenten está de pernas para cima no sofá e com a cabeça quase encostada no chão, com os olhos fechados. Ela se levanta quando ouve a nossa voz e arruma o que eu confesso não saber o nome, só que essa coisa vai fazer cachos perfeitos no meu cabelo.

E faz mesmo. Quando tudo está acabado, não me reconheço mesmo no espelho. Acabei não resistindo e deixei que Ino passasse maquiagem em mim, então agora eu estou com lápis preto nos olhos, máscara preta nos cílios e com um batom vermelho –– o que eu não achei que seria uma boa ideia até ver o resultado. O meu cabelo foi todo colocado para o lado e o fato de eu não ter uma franja ajudou muito para que o penteado ficasse totalmente perfeito. Mandei uma mensagem para Gaara dizendo que eu já estava toda pronta e ele pediu para que eu mandasse uma foto, mas no final mandei mesmo um vídeo mandando beijos para ele enquanto Ino e Tenten arrumavam as coisas perto de mim. Ele riu tanto que até consegui imaginar sua risada ecoando na minha cabeça. Não vou dizer nada para Naruto, pois quero ver a reação dele quando ele estiver cara a cara comigo desse jeito, tão... diferente.

Quando Ino acaba de se arrumar, já são 18:00 da noite, quase na hora da festa que começa às 19:30. Estou imaginando quantos convidados de classe altíssima vai estar presente lá e principalmente, nas garotas fúteis que Hinata conhece ou que seu pai fez questão de convidar apenas porque são filhas de alguns empresários ou algo assim. Vou estar com Ino, certo? Então não há nada para o que se preocupar. Ela tranca a casa e começamos a ir para a casa de Hinata, quando de repente o meu vestido começa a cair na parte de frente. Meio que me desespero e Ino trata de o arrumar para mim.

–– Ei, moça bonita! –– ouço alguém gritar mas não me viro. Ino olha para lá e percebo que ela cerra os olhos para saber quem é. –– Papai e mamãe arrasaram, hein?

Ela começa a rir e balança a cabeça, mas continua arrumando o vestido.

–– Não vai nem responder alguma coisa? –– pergunto de cabeça baixa.

–– E por que eu deveria? –– ela pergunta de volta e olha para mim. –– Aquilo foi para você, moça bonita. Não para mim.

Espera, para mim? Será que ela tem mesmo certeza? Me recuso a olhar para trás e descobrir quem foi o míope que me chamou disso, porque chega a ser constangedor. Não quero dar uma de difícil, então levanto a mão esquerda e a balanço no ar, tentando parecer impaciente e insignificante quanto esse elogio que acabou com o branco das minhas bochechas. Olhei para Ino novamente e ela continuava sorrindo; pude perceber que naquele sorriso não tinha mais nada do que alegria mesmo, e não inveja. Ela estava feliz por eu ter recebido um elogio de um estranho no meio da rua.

–– Está arrasando corações, Saky –– ela diz quando recomeçamos a andar. –– Até o Uchiha se interessou por você.

–– Quem? –– pergunto confusa pois nunca tinha ouvido esse nome na minha vida.

–– Depois te explico –– ela “promete” e afirmo com a cabeça, não tão ansiosa para saber quem disse aquilo e depois ainda assoviou bem alto. –– Olha só, acabamos de chegar!

Meu estômago revira um pouco enquanto viro a cabeça para encarar uma mansão, em todos os sentidos. A “casa” de Hinata é tão grande que eu mal posso contar todas as janelas daqui onde estou e parece que tem mais coisa lá para os lados. Ino e eu entramos depois de ela dizer ao cara nada gentil que está aqui apenas para abrir o portão para os convidados, então eu me deparo olhando para a maior área do mundo. Não sei exatamente se deveria ser área ou um espaço para piscina, mas aqui tem aquela piscina enorme bem no meio e do lado milhões de meses, com convidados sentados e alguns andando de um lado para o outro –– até mesmo dentro de casa, o que eu confesso ter achado um pouco estranho, pois onde já se viu deixar pessoas entrarem lá dentro sem permissão?

Não desgrudo nem por um segundo o braço de Ino conforme vamos entrando cada vez mais. Mas onde é que o Naruto se meteu agora? Começo a procurá-lo com os olhos quando meu olhar e o de Hinata se encontram. Seus lábios cruéis primeiro se formam em um sorriso de lado, se alargando até mostrar os dentes perfeitos. Ela está segurando o braço do pai, que conversa com alguém a sua frente. Hinata está vestindo um vestidinho roxo claro com alguns detalhes cinzas e é como eu previ, ela está mesmo de salto alto. Meu Deus, como que uma pessoa consegue andar com aquelas coisas tão finas? Eu ainda não consigo entender.

–– Ah, finalmente você apareceu, idiota! –– Ino exclama e paro de olhar para Hinata. Me viro e encaro Naruto, que também está fazendo a mesma coisa um pouco surpreso; eu acho.

–– Mais respeito, por favor! Estão falando com o mais novo modelo da melhor revista de Konoha –– ele informa e faz uma pose mais idiota que ele. Eu e Ino começamos a rir. –– É sério, garotas. Vou virar modelo!

–– Você, modelo? Tá, invente outra que essa não deu certo, Naruto! –– Ino zomba e tenho uma estranha vontade de fazer ela parar, pois nem é para tanto assim. –– Então, agora prestem atenção: vou entrar na casa de Hinata e fazer com que todos os vídeos reflitam naquela parede ali. –– Ela aponta e olho para lá. É um ótimo lugar para se passar um vídeo, já que lá é branco. Reflete perfeitamente. –– Se eu não mandar uma mensagem para os dois em dois minutos, saibam que ela me pegou.

–– Vai dar certo –– garanto e eles olham para mim, sorrindo. Retribuo o sorriso confiante.

–– Vai sim –– Ino diz, balançando a cabeça positivamente. –– Deixem eu ir agora. E Sakura, não se esqueça de achar o Neji.

Ah, é mesmo. Eu preciso o achar em meio a esse tanto de pessoas. Seria mais fácil se eu fosse até o pequeno palco que tem ali no fundo, pegar o microfone e pedir para que ele aparecesse ali pois eu tinha um recado para ele. Mas claro, não vai dar para ser tão fácil assim. Olho para a multidão, apertando as mãos uma na outra quando Naruto pega no meu cabelo para chamar a minha atenção. Me viro para ele.

–– Você está linda –– ele elogia e acabo sorrindo.

–– Você também está lindo, senhor modelo –– elogio de volta e nós dois rimos juntos. Começa a tocar uma música que na verdade é apenas algumas notas de piano, mas mesmo assim é incrível. Ele se recusa a olhar para mim nesse momento e sei o que queria perguntar, por isso dou iniciativa: –– Quer dançar comigo?

–– Bem, eu não queria para não ter que estragar o meu precioso cabelo, mas como a senhorita insiste... –– ele diz e solto uma risadinha pelo nariz. Ele não fica nada mal nesse terno que arrumou, e estamos combinando de tênis.

Eu e Naruto vamos para o mínimo espaço que tem no meio da pista e então nos esquecemos do que temos que fazer. Ele parece estar com vergonha de dançar comigo dessa vez e não consigo encontrar razão suficiente para explicar isso. Tomo iniciativa de novo e coloco suas mãos por trás da minha cintura e passo meus braços em seu pescoço. Sim, isso me deixou um pouco vermelha, mas era necessário. Começo a me movimentar de um lado para o outro bem devagar para que ele me acompanhe e assim faz. Em menos de segundos estamos dançando como naquele baile da fazenda. Não é exatamente como lá, porque a música que está tocando aqui não tem ritmo suficiente para que ele me gire como daquela vez. Não encostei a minha cabeça em seu ombro; ficamos de frente olhando um para o outro, bem nos olhos.

–– Me elogiaram quando eu estava vindo para cá, me chamaram de “moça bonita” –– digo, tentando começar alguma conversa e balanço a cabeça revirando os olhos.

–– Deveria ser “moça linda” –– ele corrige e rio de novo. Tenho que parar de fazer isso ou logo o lápis e o rímel vai escorrer e vou parecer um monstro, mais que o normal. –– Sei onde Neji está.

–– Onde, onde? –– pergunto e acabo me aproximando mais dele.

–– Lá dentro, sentado no sofá e de olhos fechados –– ele informa e quase saio correndo. –– E eu acho melhor você ir lá antes que ele decida ir embora de vez.

–– Ah, Naruto, você é a melhor coisa que me aconteceu! –– digo e só depois percebo o que falei. Dou um beijo no rosto dele e saio apressada empurrando qualquer um que apareça na minha frente antes que ele decida vir me pedir explicações sobre o porquê disso.

Chego até a porta e olho para trás; Naruto está dançando agora com Hinata e antes que o meu ciúme apareça eu percebo que ele está ganhando tempo para que eu possa fazer o meu “serviço” sem que ela perceba. Ele coloca o queixo no ombro dela e levanta uma das sobrancelhas. Entendo que é para que eu entre logo e faço isso, fechando a porta apenas por nervosismo logo em seguida. Começo a procurar o tal Neji em toda parte, mas acontece que aqui tem quase cinco salas e milhares de sofás! Vou o encontrar na verdade em um quarto que estava com a porta um pouco aberta, e dessa vez ele está esticado no chão –– creio eu que não bêbado, pois não tem nenhuma garrafa de alguma coisa aqui. Tento fechar a porta devagar mas não dá, porque ela acaba batendo sozinha e com a maior força, o que faz Neji se levantar e olhar desconfiado para mim lá de baixo.

–– O que você quer? –– ele pergunta visivelmente sem paciência para me ter como companhia.

–– Só vim te dar um recado –– respondo enquanto caminho até o sofá a sua frente, me sentando um pouco devagar. Ele está com aquela cara de quem diz “então fala logo”. –– Tenten disse que queria falar com você.

–– Era só isso? –– Concordo com a cabeça embora continue sentada. –– Então já pode embora.

Mas eu não vou. Neji se deita no chão novamente e fico o olhando, em silêncio. Ele não me quer por perto, eu sei, porém eu vou continuar aqui. Tem uma coisa que eu quero esclarecer e vou tentar fazer isso agora...

–– Por quê Hinata fez o pai internar a própria irmã? –– pergunto e ele prende a respiração.

Neji fica assim por uns dois segundos, depois volta ao normal e olha para o tempo enquanto começa a me responder, como se estivesse se lembrando:

–– Hanabi era mil vezes melhor do que a Hinata, o que ela não aceita. Ela não aceita que uma pessoa possa ser mais perfeita que ela, entende? Então ela começou a aparecer com machucados apenas nas horas em que Hanabi não estava aqui, dizendo que era culpa da pequena que mal consegue matar um animal ou se defender direito. Os machucados com o tempo foram ficando mais sérios e um dia Hinata teve a coragem de enfiar um pedaço de vidro no próprio braço para o paizinho dela achasse que a irmã tinha enlouquecido. –– Ele balançou a cabeça e respirou fundo. –– E Hanabi não podia se defender, não contra a perfeita Hinata que sempre teve tudo o que queria e conseguia mandar em todos. Quando cheguei da faculdade um dia, estavam a levando para uma clínica que até hoje não consegui saber qual é o endereço...

Depois de ter ouvido tudo aquilo, fiquei surpresa e ao mesmo tempo desesperada. Como que Hinata tivera coragem de fazer isso com a irmã, que é mil vezes mais pequena que ela? Meu Deus... Isso é horrível e pode se considerar um crime, na minha opinião.

–– Mas vocês são uma família! –– exclamo indignada, com uma sobrancelha levantada.

–– Éramos uma família, antes de Hinata começar a achar que ninguém podia ser maior que ela –– ele retruca e se senta no chão, me encarando ainda impaciente.

Eu ia falar mais uma coisa, mas o meu celular vibrou nessa hora. Olhei para a tela e era uma mensagem de Ino com apenas duas palavras “deu certo”. Sorri para o nada e Neji deve ter estranhado, porque pigarreou para que prestasse atenção nele de novo.

–– É ótimo que seja lá o que vocês estejam aprontando, seja o suficiente para deitar a Hinata lá embaixo –– ele diz e fico sem entender. Um sorrisinho de lado surge em seu rosto que até agora estava sério.

–– Espera aí, você já sabia? –– pergunto me levantando junto com ele. Neji é tão alto que quase tenho que olhar para o teto para conseguir vê-lo perfeitamente.

–– A minha morena não me deixa de fora das coisas –– ele diz e depois me empurra para fora do quarto. “Minha morena”?! Agora agradeço os apelidos que Gaara coloca em mim!

Corro de volta para a área e quando piso lá, todas as luzes se apagam. Muitas pessoas tiram os celulares dos bolsos para iluminar um pouco, mas eu continuo com o olhar vidrado na parede, que logo fica um pouco preta e sorrio. Está começando.

–– O que você acha de Hinata Hyuuga? –– ouço a voz de Tenten na tela e a imagem fica mais clara, revelando uma de nossas colegas. Agora entendo que a câmera estava meio que escondida, o que é óbvio que a pessoa não sabia que estava sendo filmada.

–– Hinata Hyuuga? Aquela garota ridícula? –– A garota ri um pouco e Tenten faz a mesma coisa. –– Bem, eu acho que ela deveria dar um jeito naquele narizinho empinado dela, pelo menos uma vez na vida. Ela é muito ridícula, sério...

–– Você sabe que ela ameaça e bate em pessoas que a traem, não sabe? –– Tenten pergunta e a garota afirma com a cabeça. –– E você já recebeu alguma ameaça dela?

–– Quem me dera se fosse apenas uma. Teve uma época em que ela me chamou para sentar ao lado dela e eu fui, toda animada, achando que iria me tornar “popular”. E foi o que aconteceu no dia seguinte. Mas depois de um tempo em que eu queria andar mais com as minhas antigas amigas do que com ela, Hinata se virou para mim e disse que se eu não ficasse apenas com ela, iria acabar com as minhas pernas e então eu nunca mais iria correr –– a garota responde e só então me lembro que ela corre nas aulas de educação física da escola. –– Na hora, eu comecei a rir, achando que era apenas brincadeira dela. Mas descobri que talvez não fosse tanto assim... Para provar que estava falando sério, ela chamou aquelas parceiras dela, Karin e Shion, e mandou que as duas me batessem. Foi tão feio que eu fiquei uma semana inteira sem ir para a escola, porque não conseguia sequer me levantar da cama.

–– Então você continuou a andar com ela? –– Pude encontrar Hinata na multidão e ela parecia desesperada, pois a cada pergunta e resposta o pai a olhava cada vez mais nervoso.

–– Sim. Porque eu sabia que se não fizesse isso, ela iria acabar comigo. Hinata sempre me ameaçava, o tempo todo. Consegui fazer ela parar de se interessar tanto em mim depois de falar com Tsunade, que me mudou de período. Voltei esse ano e ela ainda não mexeu comigo, mas vive sorrindo para mim –– a garota terminou e ficou olhando para Tenten.

–– E o que você acha de Sakura Haruno? –– Tenten pergunta e meu coração bateu ainda mais forte, porque eu não faço a mínima ideia do que eu poderia esperar como resposta.

–– Aquela outra garota que tentou se suicidar? –– Tenten confirma e a garota sorri enquanto se ajeita na cadeira. –– Eu acho ela muito linda e tudo o que a Hinata fez com ela, injusto. Ela nunca mexeu comigo, pelo contrário, até me ajudou a levar mais uns livros para a biblioteca uma vez e parecia ocupada. Eu me lembro bem de quando Hinata mandava as pessoas puxarem o cabelo dela por trás, ou jogar seu material pela janela. Acho que ninguém fez nada porque quanto mais você vê alguém sofrer, mais acha graça. Não foi o meu caso, é claro. Também fui ameaçada por Hinata se eu contasse algo.

A imagem desaparece, mas a luz ainda não voltou. Outra cena aparece, dessa vez é Shion e a câmera está bem focalizada nela. Seu rosto está diferente e ela parece ter chorado segundos antes de gravar.

–– Pode falar, Shion –– Dessa vez é a voz de Ino e Shion respira fundo, limpando algumas lágrimas que acabaram caindo no último segundo.

–– Bem... oi, Hina. Eu queria primeiramente me desculpar com você por estar confessando tudo o que irá ouvir, mas saiba que mesmo assim você vai, de alguma forma, continuar sendo a minha melhor amiga e eu ainda amo você, de verdade –– Ela estreita os olhos para a câmera, meio indecisa por onde começar. –– Quando começamos a bater em garotas inocentes que não tinham nada a ver conosco, Hina? Quando fomos que nos perdemos em meio a tantos choros e sangue? Eu me lembro muito bem do dia em que cortamos o cabelo daquela garota que você dizia ser mais perfeita que você, a Ino, que agora está na minha frente gravando tudo o que estou falando. Era quase final de ano e... você estava muito preocupada, porque os garotos faziam aquelas listas de nomes de quem era a garota mais linda da sala e você sempre ganhava. Ino tinha chegado alguns meses atrás e você me disse que não gostava tanto assim dela. Quando peguei a última ficha com o resultado como em todos os anos, eu juro que quase o rasguei, pois quem tinha ganhado fora Ino e não você. Te entreguei o papel, mesmo que com muita dor no coração, pois você é a garota mais linda que eu já vi na minha vida, Hina. –– Mais uma pausa por causa de um soluço que começara sem que ela desse permissão. –– Desculpe... Então, você ligou para a Karin e disse que era para eu e ela esperarmos por Ino na saída da escola, pois você sabia que ela fazia aula de teatro lá e era uma das últimas pessoas a ir embora. Você disse que era para nós duas fazermos o serviço, pois éramos suas melhores amigas e acreditamos de verdade nisso. Então Karin jogou ela no chão e eu peguei a tesoura, cortando tudo o que eu conseguia e não conseguia de sua cabeça. Quando fomos embora, me arrependi muito pelo o que fiz e sempre parecia que o cabelo dela estava em alguma parte de mim. Não podia simplesmente pedir desculpas a ela, primeiro porque isso seria traição e depois porque Ino tinha se mudado de escola. –– Shion olhou bem para a câmera, como se pudesse ver Hinata dali. –– Me desculpe, Hina, mas você acabou de perder a minha confiança. Para sempre.

Novamente a imagem muda e Karin aparece no mesmo lugar que Shion estava sentada. Esta segunda parece estar muito nervosa e com vontade de ir embora.

–– Isso é para quê, exatamente? Para confessar que Hinata mandava eu bater nas garotas e eu fazia? Bem, então é isso. Sim, eu batia em todas as garotas que Hinata não gostava ou achava que eram melhores que ela. –– Karin ficou de braços cruzados e sua imagem foi sumindo aos poucos, com apenas essa pequena revelação.

–– A cada segundo, mais um adolescente tira a própria vida. E na maioria das vezes, a razão é o bullying. –– Ouço a voz de Naruto e sinto algo escorrer pelo meu rosto. Sim, eu já estou chorando. –– Sakura Haruno provou que isso é verdade e mesmo assim não desistiu de viver. Machucada por Hinata Hyuuga, ela foi forte o suficiente para agüentar o bastante até que visse que não estava sozinha. Mas não é assim com todas os adolescentes do mundo. Vocês, pais, que mal dão atenção aos seus filhos, faça isso ao chegar em casa. Observe se ele não anda mais triste que o normal ou se apenas quer ficar no quarto, a razão para estas coisas podem ser depressão ou falta de carinho, e não birra ou drama. –– A imagem muda e Leo junto com Lavínia aparecem, pela primeira vez sérios. Ela fala primeiro. –– Não existe sensação pior do que se sentir sozinho, olhar ao redor e descobrir que está mesmo. Mas ninguém nunca está sozinho. Não sentimos que não estamos, pois as pessoas parecem tão distantes que mal conseguimos enxergá-las. –– Leo continua e faz uma força enorme para não sorrir. –– Mas se essas pessoas pararem para pensar, poderiam nos ajudar; com um abraço ou até mesmo aquele sorriso que nos dá um conforto enorme. –– A imagem muda de novo e Gaara aparece dessa vez, sério como sempre. –– Sakura Haruno, apesar de seus problemas, me ensinou que a vida é algo que você precisa viver, e não sobreviver. Ela ainda leva tristeza em seu coração embora agora, com pessoas de sua confiança, ela saiba e entenda que estamos aqui para quando ela cair. –– Ino aparece, sem peruca e sorrindo. Acabo retribuindo o sorriso para ninguém. –– Conseguem ver isso? Bem, foi o que Hinata Hyuuga fez comigo. Eu achei que a minha vida estava acabada, pois não tinha mais nada em mim que eu não amasse que não fosse o meu precioso cabelo, que foi tirado da pior maneira possível. Eu também pratiquei bullying com a Sakura e ela foi capaz de me perdoar, coisa que eu tenho certeza que não faria se fosse ela. Mas ela conseguiu fazer isso, confiar em mim novamente e o melhor, é que agora não vai haver mais Hinata para nos separar. –– Uma Tenten um pouco confusa e perguntando se está gravando aparece e sorri envergonhada quando percebe que está gravando sim. –– Hinata Hyuuga me fez tentar cometer suicídio, me jogando do telhado da escola. Ela não muda com o tempo, não tem jeito mesmo. Só quero dizer para os pais que estão me olhando agora, para tentarem dar um pouquinho mais de atenção a seus filhos, mesmo que alguém antes de mim já tenha dito isso. Mas confie em mim, vale a pena! –– Para a minha surpresa, quem aparece logo em seguida é o pequeno Konohamaru que já está sorrindo. –– Acho bullying uma coisa muito feia e ainda mais quem faz os outros sofrerem, fazendo aqueles cortes nos braços. Sakura me disse que dói e que eu nunca devo fazer, então eu vou ouvir ela e mesmo que no futuro os garotos idiotas zombem de mim, eu não vou ligar e continuarei em frente. –– Sorrio emocionada depois de ter ouvido algo tão lindo assim. Então a imagem se reparte em quadrados que começam com Naruto falando: –– Pais, não queremos que nos dê dinheiro para gastar com qualquer coisa –– depois Leo e Lavínia ––, nem broncas ou gritos de “saia daqui, estamos ocupados!” –– Gaara aparece e tenho que me controlar para parar de chorar –– Queremos apenas sentir vocês perto de nós –– Ino aparece “divando” ––, para saber que vão estar aqui quando algo der errado –– Tenten dessa vez está sorrindo –– e para ter a certeza de que vocês não vão embora. –– Konohamaru aparece sorrindo mais uma vez. –– Queremos saber que somos amados –– A imagem de todos aparece e eles falam ao mesmo tempo: ––, e principalmente, queremos saber que não estamos sozinhos.

Essa foi a mensagem mais linda que eles poderiam ter feito para mim e para todos os pais que estão aqui, principalmente para o de Hinata, que agora não está olhando mais tão severo para ela. Uma mulher no meio da multidão começa a aplaudir enquanto a luz volta aos poucos e é imitada por todos os convidados. Uma foto minha foi colocada antes que terminassem o vídeo, então fica fácil de me achar. Mulheres e homens que eu nunca vi antes na minha vida sorriem para mim e alguns pegam na minha mão, enquanto outros beijam a minha testa e me abraçam forte. Paro de andar e fico congelada quando vejo o pai de Hinata na minha frente, me olhando sem piscar. Por incrível que pareça, ele aparenta estar triste.

–– Pai... –– Hinata começa lá atrás, vindo até perto dele correndo. Ela está chorando (ou fingindo).

–– Não. Nenhuma palavra sequer –– ele diz sem se virar e ela entendeu perfeitamente o recado, pois deu meia volta e entrou em casa.

–– Me desculpe, senhor. Eu não queria ter acabado com a sua festa de aniversário... –– peço com as sobrancelhas abaixadas de um jeito triste e ele sorri para mim. Fico sem entender e ainda mais quando ele me abraça.

–– Me desculpe você, Sakura Haruno. Por tudo o que a minha filha fez, tanto fisicamente quanto psicologicamente –– ele pede e começo a chorar, molhando seu terno. Ele não parece se importar tanto e coloco as mãos no rosto, soluçando e balançando os ombros sem parar enquanto ele passa a mão no meu cabelo. Sinto agora como se ele fosse o meu pai.

Devo ter ficado alguns minutos desse jeito, e então depois que decido me soltar dele e respirar um pouco, ele beija a minha testa. Sinto que é a hora de ir embora e chamo Naruto e Ino, e saímos um pouco apressados. Lá fora, tenho uma crise de choro inesperada e me sento na calçada novamente com as mãos no rosto. Eu não achei que iria me sentir tão mal por ter entregado Hinata desse jeito, pelo contrário, eu achei que iria ficar muito feliz, mas essa felicidade agora desapareceu. Naruto e Ino se sentam de cada lado meu e me abraçam, enquanto ela encosta a cabeça no meu ombro.

–– Acabou... –– ela sussurra, soltando uma pequena risada pelo nariz.

–– Acabou –– Naruto sussurra logo em seguida e agora estamos os três chorando.

Mesmo desabando em lágrimas, tinha chegado a minha vez de dizer:

–– Acabou.


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Notas finais do capítulo

P.S.: Para os desesperados pelo momento NaruSaku, ele já está quase chegando u.u



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