Hinata passou dos limites, e ela sabe muito bem disso. O que fez dessa vez? Bem, apenas pegou uma foto de alguma prostituta que não tem nada a ver com tudo o que está acontecendo, e então deve ter pintado o cabelo dela em algum programa de computador para que se parecesse perfeitamente como se fosse eu. E o que eu fiz quando vi aquilo? Saí correndo. Sim, eu fiz a pior coisa que uma pessoa pode fazer, e também porquê eu estava sozinha. Me pergunto para onde Naruto, Gaara e Tenten estão quando essas coisas acontecem, porquê sempre parece que estou sozinha...

Estou nesse momento na minha casa, dentro do meu quarto, olhando para o chão à mais de uma hora, creio eu. De todas as coisas que Hinata já fez, essa foi a que mais me afetou. Nem mesmo o que fez com o meu cabelo foi tão horrível assim. E me pergunto porquê fiquei desse jeito... Meus pais saíram de casa de novo, e mais cedo aproveitei a oportunidade para pegar uma chave. Disse para eles que estaria tudo bem, que não ia sair hoje e que quando chegassem, eu estaria aqui. Bem, eu estava mentindo e nenhum dos dois pareceu ter percebido. Ninguém nunca percebe.

Ontem eu perguntei para a minha mãe para onde ela achava que as pessoas que cometiam suicídio iam, e ela ficou surpresa com isso.

–– Ora, eu acho que todos os que fazem isso vão para um lugar cheio de dor e sofrimento. –– ela respondeu e olhou bem para mim. –– Aqueles que tiram a própria vida na esperança de tentarem acabar com a dor, estão enganando à si mesmos.

–– Como assim? –– perguntei novamente confusa.

–– Tirar a própria vida não tira a dor, Sakura. E outra: eu acho que todos eles ficam sofrendo até que tenham a idade que deveriam morrer mesmo. –– ela explicou, e depois deu um sorriso forçado. –– Porquê está falando sobre isso? Não está pensando em morrer, está?

–– Claro que não. –– E foi a minha vez de dar um sorriso forçado.

Sim, eu estava pensando em morrer. Eu também sempre acreditei no que a minha mãe disso, mas eu tenho Sasori, certo? Ele não deixaria que eu ficasse sofrendo. Não, ele certamente não me deixaria sofrendo. Uma coisa que eu vivia me perguntando era “O que vai acontecer quando eu morrer?”, e agora vejo que não vai ser somente a minha família que vai sentir a minha falta, que os meus amigos amigos e meu namorado vai estar lá para me verem uma última vez, e vai que Temari também vai no meu funeral? Se Ino fosse, por incrível que pareça, eu ficaria feliz com isso. Ficaria feliz em saber que ela não me odeia tanto assim. Não mais.

Olho para o meu celular pela terceira vez, e nada. Estou esperando que alguém me ligue, qualquer pessoa, que possa me dizer que não faça nada e que só espere, pois ela estará vindo na minha casa me ajudar. Deus do céu, porquê as coisas estão assim? Eu tentei tanto me esforçar para ficar bem de novo, descobrir quem eu era, e agora não consigo saber o que é real ou não. Minha cabeça dói mesmo que não tenha motivos; talvez sejam esses pensamentos. E pensar que a dois dias atrás eu estava me sentindo a melhor pessoa no mundo por ter amigos novamente, e nesse momento para que nada mais importa e que ninguém vai vir aqui. Olho para o celular mais uma vez com esperança, mas sei que não vai ter nada, e nada, e nada.

Desço as escadas descalça devagar, olhando para todos os cantos da minha casa, pois quero guardar tudo na memória. Novamente vou para o corredor onde tem as minhas fotos com Sasori, e passo a mão de leve em cada uma delas, já começando a chorar. Se ele não tivesse ido embora, tudo estaria melhor. Se eu não tivesse nascido, provavelmente as coisas estariam ótimas. Volto e me sento no sofá, me lembrando dos momentos tristes e dos poucos felizes que passei nesta sala com os meus pais. Eu me sinto cansada, e tudo o que eu sinto é vontade de descansar... Tudo o que eu quero para sempre, é deitar, fechar os olhos e nunca mais acordar. Só que antes, também quero deixar algumas coisas claras, por isso subo novamente para o meu quarto, ligando o computador e ajeitando a web can para que focalize bem em mim.

Existe um site online da escola, que eu soube que foi criado pela Hinata, onde todas as pessoas da escola entram todos os dias. Também tem uma lista do lado esquerdo da tela, mostrando quem está disponível. Naruto está, e Tenten também. Será que eles não sabem o que houve? Provavelmente não. Me sento na cadeira e começo a falar:

–– Bem, aqui é Sakura Haruno. A “verdadeira”, a estranha, que usa blusa de frio mesmo que esteja fazendo 30° graus. E estou aqui apenas para perguntar uma coisa para aqueles que riram e criticaram de mim hoje mais cedo: porquê me odeiam? Porquê sequer puxaram assunto comigo antes de me julgarem daquele jeito? Eu também sei fazer amigos, vocês sabiam? –– Já estou chorando muito, mas não deixo que as lágrimas me interrompam. –– Isso não deve importar mais, certo? Porquê agora... Agora eu também me odeio. –– Respiro fundo para o final. –– Tchau.

Me levanto e desligo, deixando o vídeo para quem quiser ver. Não tem sinal de Hinata, mas Karin deve falar isso para ela mais tarde ou talvez agora, porquê ela está aqui disponível. Nem Naruto nem Tenten falaram sequer alguma palavra enquanto isso, e então percebo que não estava enganada quanto o fato de que um dia ou outro, ele ia mesmo me abandonar assim como ela –– eu já esperava isso da parte dela.

Meu olhar bate bem na caixinha do meu óculos, onde a minha verdadeira melhor amiga está escondida, e vou até lá. Ainda chorando, a agarro, e com toda a força que tenho dentro de mim, a passo na vertical. Solto um grito, pois nunca senti uma dor como essa. Compreendo perfeitamente como Gaara deve ter se sentido quando fez isso, e percebo que com cortes assim, vou morrer mais rápido. Tremendo, passo a lâmina no meu pulso esquerdo na vertical, e então deslizo na parede até cair no chão. Tento me levantar, mas acabo caindo de novo. Imaginei que morreria assim mesmo, sozinha. Mas nunca que sentiria tanta dor. Eu deveria ter me enforcado, seria mil vezes menos doloroso, porém depois que fiquei mal assim, meus pais tiraram tudo o que poderia ser um perigo para mim. Olho para frente com os olhos cerrados e percebo que não consigo enchergar nada sem que esteja embaçado. É nesse instante que ouço uma voz vindo do lado de fora.

–– Sakura, eu estou indo! Por favor, não faça nada! –– Essa voz é do Naruto, do Gaara ou do meu pai? Não sei responder, porquê ao mesmo tempo parecer ser uma mulher quem está me gritando.

Começo a tremer e olho para os meus pulsos. Mesmo com a visão horrível, consigo ver a burrada que consegui fazer comigo mesma. O meu corpo começa a ficar dormente e cai para o lado, e acabo batendo a cabeça no chão. A pessoa que estava me gritando lá de fora arrebenta a porta e vem para o meu lado. Me desculpe, Naruto. Me desculpe, Gaara. Me desculpe, mamãe e papai. E me desculpe principalmente, Sasori, por não ter conseguido ser forte o bastante contra tudo isso. Eu queria, e acho que todos vocês devem saber muito bem disso, mas não consegui. Espero que tudo isso passe logo, e que nenhum de vocês chorem no meu funeral. Alguém avise para o meu pai não parar de escrever o livro que começou, e nem de tirar fotos das coisas que ele gosta. Também avisem para a minha mãe para ela parar de contar as coisas azuis pela casa, e que arrume um emprego para espantar os pensamentos ruins. Digam para o Naruto para que ele não fique tentando tirar os curativos dos pulsos que eu sei que já estão totalmente curados, mas que vão continuar doendo se ele não parar de fazer isso. Dêem força para o Gaara também continuar escrevendo, e não se deixar levar pelas coisas que o pai diz ou faz.

E então, chega o momento em que eu fecho os olhos. E agora, ao que me parece, é para sempre.