Echo. escrita por nekokill3r


Capítulo 1
{capítulo 1}


Notas iniciais do capítulo

Comecei essa fanfic ontem, e acho que vai dar até certo eu continuá-la. Logo pegarei uma capa do google, mas até lá, ficará sem nenhuma.
E repetindo: DEIXEM COMENTÁRIOS NESSE CARALHO U_U



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–– Olhe só para ela! –– dizia uma voz atrás de mim, rindo alto.

–– Que idiota! –– dizia outra voz, um pouco mais longe. –– Como ela tem coragem de vir com algo assim para a escola?!

–– É, Saky, como você tem coragem de vir com algo assim para a escola? –– perguntou Ino falando o apelido que ela mesma tinha inventado para mim, sorrindo mais do que nunca vi antes. –– Aliás, como você tem coragem de vir para a escola? Porquê você não morre?

Abri os olhos antes que a pior coisa acontecesse; o enorme tapa que Ino me dava. Eu ando sonhando com isso desde que aconteceu de verdade, á um mês atrás. E eu não quero mais sonhar com isso, de verdade, porquê só me traz cada vez mais lembranças ruins de uma pessoa que se considerava minha melhor amiga, que tinha a minha total confiança, mas que depois de um certo tempo, revelou quem era de verdade por dentro.

–– Sakura, você já está pronta? –– pude ouvir a voz da minha mãe por trás da porta do meu quarto (a que eu quase nunca abria, mais para ir ao banheiro ou comer alguma coisa, mesmo que eu tivesse vontade de morrer de fome).

–– Ainda não, mas logo estarei. –– respondo de volta, a voz ainda mais fraca do que ontem, quando ela me disse sobre o psicólogo. Minha mãe parece descer as escadas embora eu ainda tenha uma sensação de que ela continua ali.

Sinceramente? Eu acho que preciso mesmo de um psicólogo. Não sei o que anda acontecendo comigo, mas sei que meus braços e pulsos agora estão cheios de cortes que ontem sangraram mais conforme eu tome cada vez mais coragem de passar a lâmina mais forte sobre a minha pele. Tenho chorado bastante, também;ás vezes chego a gritar quando isso acontece, mas claro, quando ninguém está em casa. Não gosto de conversar sobre como eu estou me sentindo, por mais que minha mãe tente puxar assunto, porquê eu não sei. Se me perguntassem agora se eu sou feliz, sou capaz de jurar que responderia um enorme “Não”. Porquê eu não sou mesmo, e qualquer pessoa que olhe para mim, saberá disso. Uma vez me disseram que meus olhos são frios, e que eu passo a imagem de ser uma pessoa muito infeliz, mas, bem, quem me disse isso, não era um psicólogo, então não adiantou de nada.

Arrumo meu cabelo em um rabo um pouco alto –– o que faz meus braços doerem um pouco por causa da força ––, visto uma blusa de frio, uma calça qualquer, um tênis, e saio. É estranho estar saindo do meu quarto, para sair, tipo, pro mundo real. Tenho evitado “contato” com ele ultimamente, já que ele não foi tão legal comigo. E minha mãe tinha que ter a ideia do psicólogo. Bem que esse cara –– ou moça, eu não sei ainda quem vai abrir a porta de seu escritório para mim, e ouvir a minha triste história até o momento –– poderia atender em casa. Eu já ouvi falar que tem alguns que vão na sua própria casa caso você esteja com vergonha de ir até lá ou algo assim. Mas acho que isso seria uma má ideia, porquê minha mãe provavelmente ficaria lá dentro ouvindo tudo o que tenho evitado expressar...

–– Você está tão linda! –– elogia meu pai, quando me vê acabar de descer as escadas. –– Mas cadê o sorriso?

–– Cadê o motivo? –– pergunto de volta, e ele me olha triste. Iria me abraçar até se lembrar de que eu não sei mais fazer isso, então apenas me dá um beijo na testa, o que eu ainda gosto de receber. –– Eu estou com um certo medo...

–– De quê? –– ele pergunta de volta, e é como se alguém tivesse passado as unhas em meus cortes, fazendo eu apertar as mangas da blusa. –– Se não quiser ir, eu convenço a sua mãe.

–– Não é isso, é que... –– começo, sem nenhuma desculpa para terminar. –– Vai ter muitas pessoas lá.

–– Ah, isso? –– Meu pai sorri novamente, tanto que seus olhos cerram. –– Não se preocupe. Você ficará bem. –– Essa última coisa que ele diz, me deixa pensando por um tempo. Será mesmo que algum dia eu vou ficar bem de novo? Será mesmo que algum dia eu vou poder dizer que estou bem, de verdade, e feliz? Só espero que esse dia chegue. E logo.

Minha mãe está se arrumando no quarto, então eu tenho um tempo para conversar com o meu pai –– o que raramente sou permitida de fazer, por causa de seu emprego. Ele e eu sempre fomos “amigos”, digamos assim, e ele sempre me ajudou com tudo. Mas agora, eu acho que ele não vai poder me ajudar tanto mais... Acho que isso era eu quem deveria combater, e vencer. Se eu não fosse tão fraca.

–– Pai, eu... –– começou, realmente a fim de dizer o que evitei alguns instantes antes. Mas porquê dizer a verdade agora parece, para mim, algo tão difícil? –– Ah, esquece.

–– Sakura, eu sei que as coisas para você não tem sido tão boas assim. Ouvi você gritar ontem do meu carro antes de entrar em casa. –– ele diz, o que me faz ficar paralisada. –– E sei também que não quer ir, não porquê vai ter muitas pessoas lá, mas sim porquê não consegue se entender e descobrir o que está sentindo.

Eu ainda continuei paralisada, olhando fixadamente para o seu rosto, e só fui acordar quando senti algo escorrendo pelo o meu rosto. Torci mais do que nunca que fosse sangue ou água, mas eram lágrimas.

–– Você ouviu? –– pergunto ainda do mesmo jeito.

–– Ouvi, sim. –– ele responde. Estamos os dois paralisados agora, sem saber o que fazer. –– Realmente quer sair de casa? Realmente tem se sentido bem? Realmente não tem machucado á si mesma?

O que eu vou falar agora? Eu não sei. Eu não sei de mais nada, na verdade. Não quero mentir para o meu pai, mas ao mesmo tempo não quero magoá-lo contando tudo o que tenho feito á mim mesma. Não quero que o “orgulho” que ele tem por mim, desapareça. Quero mesmo é que ele continue achando que eu não mudei, que ainda sou aquela garotinha que corria pela casa, caia, mas se levantava e ainda tinha forças para gritar “Eu não vou desistir!”. E hoje eu me tornei isso.

–– Eu... –– começo, tentando pela terceira vez dizer a verdade, mas então minha mãe aparece. Seco as lágrimas do meu rosto, fingindo que nada aconteceu.

–– Você estava chorando? –– ela pergunta. Será que está tão óbvio assim? –– Bem, pouco importa isso agora, vamos para o psicólogo. –– E então me pega pelo pulso, o que dói, mas tento fingir que está tudo bem. Quando chego perto da porta, viro a cabeça para olhar para o meu pai, que continua lá, do meu jeito, esperando a minha resposta. Balanço a cabeça três vezes, negando. E espero que ele entenda que isso foi uma resposta para as suas perguntas de antes.

Não nenhuma palavra sequer com a minha mãe, porquê sei que ela vai começar a falar sobre como estou me sentindo, como vai ser ótimo para mim fazer novos amigos, e em como eu logo vou estar “belezinha”.

–– Eu soube que essa clínica é a melhor! –– ela diz assim que paramos. E eu estou começando a me desesperar por dentro, com uma vontade imensa de pedir para que ela me leve de volta para casa. –– Uma amiga minha de trabalho tinha uma filha que não sabia fazer amigos, quase como você, e agora a garota é cheia de amizades!

–– Mãe, eu quero ir embora... –– digo, respirando rápido, mais um sinal do desespero. –– É sério, eu não vou conseguir ficar aqui, com tantas pessoas.

–– Sakura, está tudo bem. –– ela diz tentando me acalmar, passando as unhas de leve sobre o meu cabelo. –– Irei estar aqui o tempo todo com você. Caso queira muito muito muito ir embora, então você pode me chamar. –– Olhei para a clínica. Era até grande, mas não para mim. –– Vamos agora? –– Eu e minha mãe descemos. Eu mais do que nunca louca para sair correndo, mas ela quase me empurrou lá dentro.

A clínica é um pouco grande, com bancos enormes para várias pessoas poderem sentar. Mas o que eu estranhei, foi que todos os que iriam consultar –– ou vieram para acompanhar alguém –– estavam sentados no chão. Eu não entendi muito bem o porquê disso, mas deixei muito claro que também não achei estranho. Todos me observaram e vi que além de mim, ninguém ali estava sem blusas de frio. Sou capaz de jurar que todos se multilam ou já fizeram isso antes de seus pais os obrigarem á vir até aqui.

Uma moça de altura média, um pouco branquinha e com o cabelo preto escuro, veio na minha direção.

–– Ah, Sakura, essa é a Shizune! –– minha mãe diz antes que ela possa se apresentar.

–– Prazer, Sakura. –– diz a tal Shizune. Eu gostei dela; tem um sorriso bem bonito, que parece estar transmitindo confiança. –– Deve estar se perguntando porquê todos estão no chão, certo? Bem, para muitos, assim como você, é o primeiro dia aqui. Então para que se sintam mais confiantes, decidimos juntar todos no chão para poderem conversar antes que seja chamado. Que tal você se sentar com eles também?

–– Ah, tudo bem... –– digo, e algumas pessoas abrem espaço para que eu me sente.

–– Conversem entre si, se conheçam e passem confiança uns para os outros enquanto vamos conversar com seus pais. –– Shizune diz, e antes de desaparecer para dentro junto com a minha mãe, ela termina: –– E não, Lee, nós não temos wi-fi aqui.

A maioria riu, mas eu continuei olhando para as minhas mãos, totalmente quieta. Eu não queria puxar assunto com ninguém, porquê depois do que me aconteceu, tenho perdido a confiança nas pessoas, e nem mesmo consigo falar com alguém olhando em seus olhos, porquê eu sei o quanto uma pessoa consegue mentir.

–– Ei, ei, primeiro dia aqui, não é? –– pergunta uma voz masculina, e ergo meus olhos para encarar quem me chamou. Um garoto loiro dá um sorriso assim que vê que estou prestando total atenção nele. –– Prazer, Naruto Uzumaki. E você?

–– Sakura Haruno. –– respondo e mais uma vez minha voz sai roupa sem que eu queira. Ele me olha com preocupação e vem do seu lugar, que era um pouco longe de mim, até se sentar ao meu lado.

–– Você está doente? Sua voz está um pouco rouca... –– ele diz e antes que eu possa responder, começa a rir. Continuo o olhando sem entender. –– Que irônia, não? Se você veio até essa clínica, é bem óbvio que está doente. E qual é o seu “problema”?

–– Não sei. –– respondo, o que até que era um pouco verdade. –– E o seu?

–– Bullying, e tentativa de suicídio. –– ele responde ainda sorrindo. Acabo ficando paralisada com o que ele me diz, mas então “Naruto” começa a rir de mim. –– O que foi? Nunca conheceu outra pessoa que tentou suicídio?

–– Não. –– respondo rapidamente. Não sei ao certo porquê, mas sinto que, por dentro, ele quer chorar. –– Desculpe perguntar, mas, como tentou fazer isso?

–– Da maneira mais simples e conhecida, cortando os pulsos. –– ele responde, e então ergue as mangas de sua blusa, revelando os dois pulsos que ainda estavam com alguns curativos, mas eu conseguia ver uma parte que não conseguiram esconder. –– Fiz isso depois que meu avô saiu de casa. Me lembro de chorar muito, e depois acordei em um quarto de hospital com ele pedindo para que eu voltasse á vida. Posso te falar uma verdade? –– Balanço a cabeça afirmando. –– Eu preferia ter morrido.

Ficamos, então, em silêncio. Naruto ainda continuava sorrindo para mim, e eu nem conseguia fazer o mesmo. As pessoas que estavam no chão, estão quase todas já indo embora, e acho que eu e ele seremos os últimos a serem atendidos. Espero que seja assim. Mas queria saber porquê estão conversando com nossos pais...

–– Sakura? –– Uma mulher loira me chamou enquanto tentava me achar. Não respondi ou levantei a mão na primeira vez. –– Alguém sabe se a Sakura Haruno veio?

–– Ela está aqui! –– Naruto diz, se levantando e me puxando junto. –– É o primeiro dia dela, então, ela está um pouco nervosa...

–– Ah, tudo bem... –– a mulher diz, lançando-lhe um sorriso. –– Obrigada, Naruto. Agora volte para lá, porquê você vai ser o próximo.

–– Ok. –– ele diz, e antes que eu entre na sala, me puxa para terminar: –– Boa sorte lá dentro, Sakura.

Quis segurar a mão de Naruto e o fazer entrar comigo depois que fechei a porta atrás de mim. Estou com uma sensação ruim de que isso não vai dar certo. E estou começando a ficar desesperada, de novo.

–– Sakura, pode se sentar. –– a mulher diz, e eu o faço, começando a tremer. –– Bem, meu nome é Tsunade e serei sua “companheira” nesses meses até que você possa se sentir feliz novamente. Então, pode me contar tudo o que tem guardado aí dentro.

Contar tudo? Por onde será que eu devo começar? Ou será que não devo começar? Oh meu Deus, eu nunca estive tão confusa em toda a minha vida...

–– Me desculpe, mas eu não entendi o que quer que eu faça. –– minto, tentando olhar para todos os lados da sala; até mesmo para o teto.

–– Quero que me responda... Você está bem? –– “Tsunade” me explica.

–– Não. Eu estou confusa, choro o tempo todo, e quero morrer. Minha melhor amiga se voltou contra mim, fez uma brincadeira horrível comigo. Tenho me cortado, também, e parece que ninguém percebe o quanto estou sofrendo. –– Isso era o que eu queria dizer.

–– Eu estou bem. –– E isso é o que eu digo. –– Quer dizer, de verdade. Minha mãe me trouxe para cá dizendo que isso me traria ajuda, mas eu consigo resolver meus próprios problemas.

–– Entendo... –– ela diz. Será que entende mesmo? Ás vezes me pergunto se esses psicólogos já foram em outros quando estavam passando por uma fase difícil, ou se auto-ajudaram. Acho que nunca saberei a resposta disso. –– Vamos falar sobre você, então. Você tem ido para a escola?

–– Não. Já faz um mês que não vou, eu acho. –– respondo, sendo sincera. Acho que nessas coisas eu não preciso mentir, porquê provavelmente tem essas coisinhas na minha ficha.

–– E os seus amigos? –– ela volta a perguntar, e me faz pensar.

–– Eu não tenho amigos. –– respondo depois de alguns minutos.

–– Ninguém mesmo? –– ela pergunta, deve estar achando que estou mentindo.

–– Ninguém. –– respondo, e parece que o assunto acaba.

Agora estou olhando diretamente para Tsunade. Não nos seus olhos, é claro, mas em seu cabelo loiro que é incrivelmente liso e grande.

–– Acabamos por hoje. –– ela anuncia, e se levanta para me levar até a porta. –– Amanhã nos vemos novamente. Aguente firme.

Quando a porta se abre, me deparo com Naruto tentando tirar os curativos dos pulsos. Eu sei o quanto essas coisas doem para tirar, e imagino o quanto deve doer mais ainda em dois pulsos cortados com tanta força. Mas não faço nada além de me sentar ao seu lado, porquê Tsunade disse que iria em alguma sala lá dentro –– provavelmente a que a minha mãe também está.

–– Se eu fosse você, não tentaria tirar essas coisas. –– digo, e ele parece feliz por eu ter puxado assunto pela primeira vez.

–– Eu iria tirar, mas já começou a doer, então vou desistir. –– Naruto diz, passando o dedo sobre o curativo que ele tinha tirado até a metade. Ele deve ter passado com um pouco de força ou rápido demais, porquê fechou os olhos em sinal de, ao que me pareceu, dor. –– Essa coisa ainda dói.

–– Eu sei como dói, acredite. –– digo sem querer, e Naruto olha para os meus braços, que apesar de estarem tampados, ele parece saber o que tem ali embaixo.

–– Me passa o número do seu celular? –– ele pede, o que me surpreende.

–– Pra quê? –– pergunto, porquê isso é uma coisa estranha de acontecer, principalmente comigo.

–– Ora, para eu te ligar ou mandar mensagens quando quiser falar com você! –– Naruto responde, e dá uma risadinha logo em seguida. Como ele consegue sorrir tanto? –– Então, esse é o meu. –– Ele estendeu seu celular para mim, o peguei e anotei no meu, e fiz o mesmo com ele. –– Agora não vamos perder contato.

–– Mas eu nem te conheço direito. –– digo. Eu queria que isso tivesse saído em um som mais educado.

–– Podemos usar o tempo de agora para nos conhecer, certo? –– ele sugere de volta. –– Vamos ver onde eu posso te levar... Sorveteria não é uma má ideia, e também uma pizzaria... Qual das duas você gosta mais?

–– De nenhuma. Eu não saio de casa. –– respondo sendo sincera. E eu realmente não faço isso, só quando sou obrigada pela minha mãe. –– Por favor, não tente ser meu amigo ou algo desse tipo.

–– Assim como você sabe como é a dor de um corte, eu sei como é ser enganado por pessoas que tinham a minha confiança. –– ele diz, o que me surpreende um pouco. Até que éramos um pouquinho parecidos. –– Não se preocupe, Sakura... Eu nunca irei te magoar.

Eu tinha que responder aquilo, mas minha mãe chegou lá no mesmo segundo. Olhou para Naruto e para mim, e então sorriu, achando que eu tinha arrumado um amigo. Mas não era bem assim que a coisa aconteceu; Naruto pode até ser um pouquinho legal, só que eu não confio mais nas pessoas, então mesmo que ele fique atrás de mim implorando a minha amizade e todas essas coisas que eu não acredito mais que possam mesmo existir, eu não vou ter pena. Porquê as pessoas também não tiveram pena comigo.

Saio da clínica sem falar nada para Naruto, e me arrependo segundos depois por ter passado o número do meu celular para ele, exatamente no momento em que ele me mandou uma mensagem. Não respondi e apenas apaguei. Não vai adiantar ele tentar se aproximar de mim. E qual foi daquela “eu nunca irei te magoar”? Até mesmo eu, que nunca quis machucar a ninguém, já fui capaz de magoar uma pessoa.

Mas, agora, tudo que eu penso é em como eu vou encarar o meu pai. Hoje é segunda, e ele tem que trabalhar, então acho que quando eu chegar em casa, não vou vê-lo mais lá. Espero que seja assim, porquê não tenho nenhuma desculpa na cabeça para disfazer o que fiz sem querer hoje mais cedo. Realmente, eu sou muito idiota. Qual o problema de continuar sofrendo sozinha como sempre fiz?

–– Quer passar no mercado comprar alguma coisa? –– minha mãe pergunta assim que o carro começa a se mover.

–– Não. –– respondo. –– Só quero voltar para casa.

Ela não fala mais nada, e então seguimos, quietas. Eu trouxe os meus fones, mas sei que se começar a ouvir as músicas que tenho nele, logo estarei chorando. E não, as músicas não são nada tristes.

Me arrependi, novamente, por não ter passado no mercado, porquê o meu pai não vai para o trabalho hoje e deixou isso bem claro, dizendo mais para mim do que para a minha mãe. Sei que ele quer falar comigo, mas apenas subo para o meu quarto e lá fico até ouvi-lo bater na minha porta. Abri e não sei nem mesmo o porquê de eu ter feito isso.

–– Como foi? –– ele pergunta assim que se senta na minha cama.

–– Normal. –– respondo apenas. Sabemos muito bem que cada um de nós está sem assunto depois do que aconteceu, e não será eu quem vai concertar as coisas, porquê tenho um incrível poder de piorar tudo. –– Pai, me promete uma coisa? –– Ele afirma com a cabeça. –– Esqueça o que eu te disse hoje mais cedo.

–– Tudo bem, então. –– ele diz apenas, me dá um beijo na testa, e então sai.

E é exatamente no mesmo segundo que eu sei que ele está descendo as escadas para ficar com a minha mãe, que começo a chorar. Sei que não posso fazer como sempre faço; um escândalo. Tenho que chorar bem baixinho, só para eu mesma ouvir e olhe lá se não mais baixo...

Olho para a minha caixinha que costumava guardar o óculos que eu usava, e a abro. Ali dentro, está uma pequena lâmina que eu mesma tirei de um gilete do meu pai, que ele não se perguntou como sumiu, apenas comprou um novo. Prometi a mim mesma que pararia com isso, mas acho que já virou vício. Ergo as duas mangas da blusa, revelando as cicatrizes e cortes que eu fiz na madrugada passada. Meus braços estão quase sem espaço para mais. O que sobrou, por enquanto, foi os meus ombros, e é aí que eu vou cortar. Passo a lâmina com a mesma força que sinto de morrer três vezes no mesmo lugar, e vejo o sangue descendo pelo meu braço por um espelho que fica na parede do meu quarto. Acho que não deve tardar para eu começar a chorar, mas antes de dormir de vez, ou só chorar mais ainda, eu preciso lavar isso. Então, vou até o banheiro e passo água um pouco devagar. Volto para o quarto, visto a blusa e me enfio debaixo das cobertas. A minha pele está repuxando, e a dor está começando...

Mas será que existe dor maior do que estar viva?


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Notas finais do capítulo

Desculpe se tiver qualquer erro.



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