Ela não sabia o que era maior: a raiva ou a mágoa. Ao ver aquilo seu mundo veio abaixo, um turbilhão de sensações a invadiu. Ela sabia: ele não era mais seu namorado, mesmo assim não era fácil vê-lo com outra garota. Principalmente se a outra garota fosse sua melhor amiga.

Seus amigos olhavam-na preocupados, eles sabiam o que estava sentindo, ou, pelo menos, tentavam imaginar. A Rose começou:

–Lilly...

Mas ela não a deixou terminar, simplesmente deu as costas e seguiu em direção aos corredores entrando em uma sala vazia. Não queria conversar com ninguém agora, só queria ficar sozinha, pra pensar direito em tudo que estava acontecendo.

Sentou-se no parapeito de uma janela e ficou olhando as gotas de chuva que caiam com força lá fora. Tudo estava confuso: ela tinha terminado com ele, não tinha? Então, porque estava se importando tanto com isso? Ficou bem claro na última vez que se falaram que eles seguiriam em frente, que esqueceriam tudo aquilo. E ele bem que tentou mudar isso. Tentou fazer com os dois dessem certo, que voltassem a ficar juntos. Foi ela quem disse que era melhor não, que era melhor parar por ali. Mas era mesmo melhor assim, ele só a fazia sofre. Fazia suas burradas, pedia desculpas e Lilly o aceitava de volta. Mas estava cansada disso, não era isso que ela queria. Ela não queria chorar todas as noites e era isso que acontecia quando estava com ele. Era melhor esquece-lo.

Mas ela não conseguia, ela sentia falta dele. Sentia falta da sensação reconfortante que era estar nos braços dele, sentia falta daqueles olhos azuis a fitando, sentia falta das horas que passavam juntos, conversando, rindo. E sentia falta, principalmente, de quando ele entrelaçava seus braços em torno de sua cintura e, olhando em seus olhos, a dizia que lhe amava.

Lagrimas com as quais ela não queria lidar começaram a cair. E a dor aumentou quando lembrou que era com sua melhor amiga que ele estava agora, era ela quem estava nos braços dele. Ela estava errada, Lucy sabia dos sentimentos dela por ele. Sabia que ela ainda o amava. E ainda assim, na frente de todos, estava aos amassos com ele. Sua raiva era enorme. Como ela pôde fazer isso? Elas cresceram juntas, quase como irmãs. Sempre davam apoio uma à outra. Quando uma precisava a outra estava sempre lá. Era imperdoável, uma amiga de verdade não faria isso.

E os soluços aumentaram quando ela percebeu que tinha acabado de perder sua melhor amiga. Porque Lilly sabia que Lucy poderia dar todas as desculpas do mundo, talvez elas pudessem até voltar a serem amigas novamente. Mas Lilly jamais confiaria nela de novo.

Lilly parou abruptamente ao escutar passos em sua direção. O quarto estava escuro, a única luz vinha da lua que brilhava fracamente, então ela só pode ver quem era quando ele chegou bem perto dela: Lorcan Scamander.

Ela não sabia como ele tinha feito para entrar ali, ou mesmo o porquê dele estar ali. Mas mesmo assim, ele estava. Com um sorriso triste no rosto, seus olhos azuis não desviavam nem um segundo dos seus.

Então ele levantou a mão em direção ao rosto da garota que continuava estátua e o afagou levemente, enxugando as lágrimas que escorriam por sobre as bochechas. Mas Lilly tirou rapidamente sua mão e virou o rosto para a janela, enxugado ela mesma suas lágrimas.

–O que está fazendo aqui, Scamander? – ela perguntou rispidamente.

Ele lançou lhe um olhar triste: - Scamander?

–Sim, Scamander. –ela respondeu com frieza - É esse o seu nome, não é?-então ela completou com ironia- Ou você mudou de nome? Como é que eu devo te chamar agora?

Ele lhe lançou um olhar repreensor e dava pra ver que ele estava profundamente magoado. O que a deixou profundamente irritada, o que ele queria? Que ela esquecesse que ele estava agora mesmo se pegando com sua melhor amiga e simplesmente se jogasse seus braços?

–Não, eu não mudei de nome. É só queria que você voltasse a me chamar como antes. Que a gente parasse com essa bobagem toda de “dar um tempo”.

Ela o olhou, incrédula: -Sério isso? Não era o que estava parecendo quando você estava lá embaixo com a Lucy. Você parecia muito bem com ela.

–Lilly, eu...

–É Potter pra você. - ela disse erguendo o tom de voz- E o que você queria? Sério, eu não te entendo. Uma hora você diz que está com saudades da gente e depois você me ignora. Você diz que quer voltar, mas fica com qualquer uma que aparecer na sua frente. Decida-se, Scamander. O que você quer?

–Eu quero você. - ele falou rapidamente, se aproximando- Eu já me decidir faz muito tempo. É só você que eu quero. Você sabe disso.

–Não, eu não sei - eu o cortei, porque já havia ouvido isso inúmeras vezes. E todas nunca se provaram verdadeiras. – Você diz que me quer, mas não corre atrás. Não demonstra. Não faz isso de novo. Não tenta me iludir. Eu já cai nesse papo várias vezes. Não vou cair de novo. Você só me faz mal. Você me machuca muito mais do que me faz feliz. Vai embora daqui.

E então ele a olhou nos olhos e disse quase que em um sussurro: -Me desculpa.

E saiu de lá deixando a garota aos pratos. Como foi difícil dizer tudo aquilo, mas ela não podia ignorar tudo que ele tinha feito. Estava cansada disso. Ela estava tão concentrada em seus pensamentos que só notou que outra pessoa tinha entrado, quando ele sentou-se ao lado dela. Hugo Weasley, seu melhor amigo. Ele a abraçou e ela se deixou ser confortada por ele enquanto ensopava sua camisa com as lágrimas dela. Ela não precisou falar nada, nenhum precisou. Ele a entendia e só dele estar lá com ela, Lilly já se sentia melhor. Ele sempre esteve lá quando ela precisava. Do mesmo jeito que Lilly sempre estava lá quando ele precisava. Sempre foi assim. E sempre seria assim.