Finalmente chegara o grande dia, o dia da excursão para o sítio. A empolgação, por muito tempo, me dominou. Eu ainda me sentia desse jeito, só que por outro motivo. Andrew retornará hoje para a escola depois de tudo que acontecera com ele, e lógico, nós estávamos ansioso para entender tudo que ele passara.

Como de costume, antes dos alunos entrarem no ônibus, os professores nos obrigam a formar filas para que eles pudessem fazer a contagem de alunos. Eu não conseguia parar de encarar aquelas cicatrizes que cortavam a garganta do Andrew. Ele não parecia se importar com os olhares, pelo contrário, ele estava mais calado e isolado. Ele só queria ficar lendo e relendo seu livro de criaturas sobrenaturais.

– Andrew está diferente – disse Scott. Ele estava logo atrás de mim na fila.

– Isso é um pouco óbvio, Scott! – falou Stiles, sarcástico – Não sei se você reparou, mas tem cinco cortes na garganta do garoto. No mínimo, ele está diferente.

Eu ainda não conversara com Stiles sobre a noite passada. Eu queria pensar que nada acontecera entre ele e a Lydia. Dizendo pelo jeito que eles se comportavam na fila, Stiles conversava com meu irmão enquanto me abraçava e a Lydia mexia no seu celular enquanto explicava por que a saia da Allison não era apropriada, nada acontecera entre eles.

– Como nós vamos conversar com o Andrew? – disse Allison – Nós nunca falamos com ele antes. Ele vai perceber que há algo estranho.

– Eu posso conversar com ele – disse Lydia – Afinal, fui eu que o encontrei quase morto no campo de lacrosse. Não vai parecer estranho eu perguntar como ele está e o que aconteceu naquele dia. Certo?

– Certo – eu respondi, desconfiada. A garota sabia que eu suspeitava dela – Até que faz sentido.

–--------//---------

Quando chegamos ao sítio, fomos divididos em trios e orientados sobre as regras da excursão. Depois, nos dirigimos para os quartos. Cada trio teria o direito a um quarto para se acomodar durante aquele final de semana. Meu trio era formado por mim, pelo Stiles e pelo Scott. Allison fazia parte do trio do Danny e de uma garota que faz Biologia com a gente. Lydia implorou para ser do trio do Andrew, e só depois de muito esforço, conseguiu entrar no trio dele. Nosso plano estava tomando o caminho certo.

Já no quarto, arrumei minhas coisas enquanto Stiles e meu irmão exploravam o sítio para verificar se havia algo anormal por perto. Liguei meu notebook e o deixei de lado. Eu estava cansada da viagem – cinco horas de ônibus. Fiquei deitada na cama, só esperando o sono tomar conta de mim, mas fui interrompida pela chegada de um e-mail. Diferente do que eu esperava, aquele e-mail fora enviado por um anônimo. Mesmo assim, eu o abri. Várias letras surgiram na minha tela. Procurei alguma palavra conhecida, talvez um nome, mas logo as letras voltaram a se movimentarem na tela. Quando, finalmente, elas pararam, reconheci quatro nomes: Scott, Lydia, Andrew e...

– Parrish? – eu disse assustada.

Eu precisava pensar. Andrew fora atacado. Lydia o encontrou. Parrish era seu amigo de infância. Eles estavam conectados, mas o que meu irmão tinha haver com eles? Era por causa da Lydia? Mas eu também a conheço. Por que meu nome não estava na lista? Ou da Allison?

– Você não vai acreditar – disse Stiles entrando no quarto, ele estava sozinho – Tem um lago atrás dos quartos. Eu amo lagos!

– Cadê o Scott? – eu perguntei, preocupada.

– Ele continuou caminhando. Disse que estava com dor de cabeça.

– Vem cá – eu fiz um gesto para que ele se aproximasse de mim.

Stiles encarou os nomes da lista e também tentou os ligar. A única diferença é que ele não sabia da amizade entre o delegado e o Andrew. Eu pensei em contar para ele, mas não achei que fosse o momento certo.

– O que vamos fazer com isso? O que isso significa? – eu perguntei.

– Não faço a mínima ideia – Stiles respondeu desapontado – Talvez nós pudéssemos falar com as pessoas que estão na lista.

Até que fazia sentido procurá-las, mas eu não conseguia acreditar que alguma delas me mandara aquela lista. E mesmo que eu decidisse conversar com elas, como eu começaria? “Olá, eu recebia uma lista com o nome de vocês, mas eu não sei o que isso significa. Será que alguém poderia me explicar?” Isso não parecia que ia ajudar.

Eu estava perdida.

– Talvez a Lydia saiba de algo – Stiles voltou a falar.

– Jura? Por que a Lydia saberia de algo? E por que diabos você saberia o que a Lydia poderia saber? – eu estava irritada. Eu tinha decidido não me importar com aquele encontro dos dois na noite passada, mas Stiles vivia me dando motivos para ficar preocupada – Responde Stiles! Por que a gente deve falar com a Lydia?

– Porque ela viu o que aconteceu com o Andrew – ele gritou – Ela é a única que sabe o que está acontecendo nessa cidade.

– O que está acontecendo?

Stiles se afastou de mim e ficou em silêncio. Depois de tanto esperar, decidi explodir na pior hora. Na hora que eu precisava da ajuda do meu namorado. Mas, aquilo estava me deixando louca.

– Stiles – eu comecei a falar, mesmo ele não olhando para mim – Eu vi você ontem com a Lydia. Eu não costumo dar uma de namorada ciumenta, mas, convenhamos, a história de vocês dois é para deixar qualquer uma fora de si. Eu sinto muito.

– Fui eu que a chamei – ele disse – Como você disse, nós dois temos uma longa história. Eu percebi que algo estava acontecendo com a Lydia. Ela está muito diferente. Não está falando nada com nada, está completamente perdida. Ela me disse que escuta vozes, mas não consegue as interpretar. Foi assim que ela encontrou o Andrew.

– Ela o escutou a chamando? – eu disse, sarcástica.

– É sério, Jenny! Pare de ser uma completa idiota e foque no que é importante.

– Idiota!? Você me acha idiota?

– Não Jenny! Não muda de assunto. Nós precisamos nos focar na lista. O jeito é falando com a Lydia.

– Só me responde uma coisa, você ainda ama a Lydia? – cada parte do meu corpo doeu ao falar essas palavras.

Mais uma vez, Stiles não me respondeu. Aquilo era o suficiente para mim.

– Talvez fosse melhor você ir procurar o Scott – eu disse segurando o choro – Eu vou ficar aqui. Pensando nessa lista.

–--------//---------

Lydia estava no seu quarto esperando que seu companheiro voltasse da caminhada. Ela tinha tanta coisa para perguntar para ele, que nem sabia por onde começar. Depois daquele dia, ela não parava de escutar vozes na sua cabeça. Eram tantas que ficava complicado decifrar o que cada uma queria dizer. Ela estava perdida. Sua última esperança era o rapaz que iniciou tudo isso. Andrew entrou no quarto, mas se manteve em silêncio. O jeito seria a garota ir conversar com ele.

– Andrew, oi – ela falou ainda distante do rapaz – Sei que várias pessoas já perguntaram isso, mas você está bem?

Lydia se aproximou lentamente. Ela começou a se sentir do mesmo jeito que aquele dia. Seu corpo não a obedecia mais.

– Andrew – ela sussurrou – Foi você que me chamou. Foi você que implorou por socorro. Eu só estou aqui para te ajudar.

Ele continuou a ignorando. Mais do que nunca, ele queria se abrir, contar tudo que acontecera. Como cada corte surgira. Como seu corpo mudara desde aquele dia. Contudo, ele não sabia do que a garota estava falando. Ele nunca a vira antes, muito menos conversado com aquela maluca.

– Andrew! Você precisa me ajudar! – gritou a garota chorando. Os dois se olharam pela primeira vez. Lydia se acalmou e voltou a falar – Você não é o único em busca de respostas. Eu simplesmente não sei explicar como te encontrei naquele campo. Ninguém vai acreditar em mim.

– Você é ruiva! – era a primeira coisa que o garoto dizia.

– Ai meu Deus! Isso não ajuda em nada, Andrew.

– Espera. Você disse que eu que te chamei, certo? Só que eu nunca falei com você antes.

– Isso não é possível! Eu juro que você me chamou. E quando eu te encontrei... Bom, você já estava morrendo.

Andrew a olhou. Ele já tinha lido sobre algo daquele tipo. Uma ruiva que sentia a morte se aproximando.

– Claro! – ele disse correndo em direção a sua mochila. Quando voltou, carregava nos seus braços seu livro – Eu sempre soube que vocês existiam. Leia isso, Lydia.

– Só se você me prometer que vai conversar com meus amigos sobre aquele dia.

– Eu prometo. Agora, leia!

Lydia fez uma careta, mas pegou o livro. Ela não entendia no que aquilo ia ajudá-la, mas como o garoto prometera falar, ela tinha que cumprir a parte dela. Assim que abriu na página que Andrew mandara, ficou assustada. A garota da foto a lembrava demais.

– Banshee – ela começou a ler – provem da família das fadas, e é a forma mais obscura delas. Quando alguém avistava uma Banshee sabia logo que seu fim estava próximo. Se apenas um grito fosse ouvido, naquela mesma noite a vítima estaria morta. Sua face é sempre muito pálida como a morte, e seus cabelos por vezes são negros como a noite ou...

–... Ruivos como o Sol – Andrew completou – Qual é a possibilidade de você ser uma Banshee?

Lydia nada respondeu, precisava de um tempo para pensar.

–--------//---------

Stiles ficou sentado, observando seus colegas correrem de um lado para o outro, sempre rindo como se não houvesse o amanhã. Lembrou-se da última vez que se sentira daquele jeito, livre. Todos os momentos que dividira com seu melhor amigo, que hoje é um lobisomem. Todas as aventuras que dividira com sua namorada e sua melhor amiga. Por um momento, ele sentiu-se triste.

– Stiles?

– Scott! – ele respondeu – Eu estava te procurando.

Scott sentou-se ao lado do rapaz e logo percebeu que algo o incomodava. Quando ia perguntar o que estava acontecendo, Stiles se pôs a falar.

– Scott, eu preciso da sua ajuda. Mais do que nunca.

– O que aconteceu? Stiles não ouse mentir para mim. Eu posso muito bem invadir sua mente e acabar com esse suspense.

– Como eu posso dizer isso sutilmente? Você corre perigo Scott! – Stiles finalmente disse – A Jenny recebeu uma lista com alguns nomes. E o seu estava lá. Nós não sabemos do que se trata, mas não tem cara de ser algo legal. Garanto-lhe que não é a lista de quem ganhou na loteria.

– Quem mais está na lista? – Scott perguntou tranquilamente.

– Lydia, Andrew e Parrish.

Um silêncio encheu o ambiente. De tudo que pudesse acontecer naquele ano, Scott não estava esperando uma nova onde de mistérios e mortes. Muito menos que ele fosse um dos alvos.

– Stiles, nós precisamos conversar com esse tal de Parrish. Ele tem recursos para nos ajudar a proteger o restante da lista. Também precisamos proteger você, a Allison e... A minha irmã. Não posso deixar que nada aconteça com ela.

– Você é o um verdadeiro líder, Scott! – Stiles disse pegando seu bastão – Eu vou te proteger até o último segundo. Nada vai acontecer com você. Nada vai acontecer com meu melhor amigo. Meu irmão!

Os dois se abraçaram e ali ficaram por um bom tempo. Eles não sabiam quando seria a última vez que eles iam ter momentos como aquele.

–--------//---------

Eu adormeci logo após Stiles cruzar a porta. Vê-lo partindo era como se uma parte de mim fora arrancada. Eu não sabia o que ia ser de nós, mas eu tinha uma única certeza, eu o magoara do mesmo jeito que eu fora magoada. A vida me ensinara a dizer adeus às pessoas que amo, sem tirá-las do meu coração. E era ali que meu Stiles ia permanecer pra o resto da minha vida.

– JENNY! – gritou uma garota – Você precisa me ajudar.

Olhei ao meu redor até encontrar a Lydia toda molhada, chorando ao meu lado. Ela não parecia nada bem. Seus olhos estavam inchados de tanto chorar, suas roupas todas sujas de lama. Deduzi que estava chovendo naquela madrugada.

– Eu conversei com o Andrew, acho que sei o que está acontecendo comigo – ela disse.

– O que está acontecendo com você? – eu disse, ansiosa.

Achei muito estranho ela vim me procurar. Nós nunca fomos amigas a ponto de contar segredos. Acho que nós não éramos nenhum tipo de amiga, mas só de vê-la do meu lado, abrindo seu coração, eu não a ignorei.

– Ainda não tenho nenhuma prova. Mas, assim como seu irmão, como eu posso dizer, eu tenho alguns poderes...

– Eu estou ouvindo...

– Eu prevejo a morte.

Ok, aquilo era muito estranho, mas fazia sentindo com o Stiles havia me contado. Talvez as vozes que ela escuta seja das pessoas que estão prestes a morrer. Foi por isso que ela escutara e encontrara o Andrew. Agora, como nós iríamos provar isso para a polícia? Isso não vinha ao caso naquele momento. Nós precisamos focar no problema da Lydia.

– Eu ainda não acabei – ela voltou a falar – Nós precisamos partir. O mais rápido possível. Esse lugar não é bom para nós. Principalmente para mim, para o Andrew e para o Scott.

– Os nomes da lista... – eu disse.

– Que lista?!

Corri até meu notebook e a mostrei a lista. Ela ficou alguns segundos observando cuidadosamente aqueles nomes. Ela tentou achar uma ligação, mas diferente de mim e do Stiles, ela achou.

– Quem te mandou isso? – ela disse assustada, seus olhos estavam arregalados.

– Eu... Não sei – eu gaguejei – Quando eu abri meu e-mail, letras surgiram na minha tela até formarem esses nomes. Eu juro Lydia.

– Eu acredito em você – ela se interrompeu. Depois de olhar mais uma vez para lista, ela voltou a falar – Agora, você precisa acreditar em mim. Essa lista tem um único propósito, avisar que alguém vai morrer. Nós precisamos sair daqui. Você acredita em mim?

– Eu acredito em você – eu sussurrei.