Perto Demais Para Te Amar escrita por Jenny


Capítulo 22
Capítulo 22 - Minha avó vem nos visitar




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Uma semana passara, e ninguém ainda sabia explicar o que acontecera com Andrew. As únicas notícias que tínhamos eram que ele sobrevivera e que ainda estava no hospital. Ninguém podia o visitar, nem mesmo a polícia, pois ele estava em observação. Os médicos diziam que aqueles cortes causariam a morte de qualquer ser humano, menos a dele. Chamem isso de milagre ou evento sobrenatural, mas a medicina não conseguia achar uma resposta.

– Jenny! – gritou meu irmão do quarto dele – Acorde! Hoje é o grande dia.

Grande dia. Não sei se era a solidão que alimentou a espera do meu irmão por esse dia, mas para mim, não passava de um dia normal. Seria diferente, mas normal. O evento que causava euforia no Scott era a chegada da nossa avó Dora. Ela não mora em Beacon Hills, por isso toda visita dela era motivo para celebração. Minha mãe fazia todo tipo de comida para receber sua mãe, infelizmente, dessa vez eu teria que preparar o almoço. Quando soube que sua filha morrera, a vovó quis vim imediatamente cuidar de nós, mas não conseguia ajuntar dinheiro suficiente para a passagem de trem. Agora que já possui o dinheiro, ela decidiu vim cuidar de nós.

No começo, eu fiquei ansiosa. Eu e meu irmão precisávamos de alguém para nos ajudar com as coisas de adultos – esses últimos meses foram os mais difíceis, várias contas atrasadas. Mas depois, não passava de uma visita da minha avó. Posso estar sendo egoísta, mas era como me sentia. Além do mais, aquele dia tinha tudo para ser um dos piores da minha vida. Após receber minha avó, eu teria que ir até a delegacia depor sobre o Caso Andrew, como diz Allison.

– Acorda Jenny! – meu irmão precisou vim até meu quarto e, com força, me puxar para fora da cama. Esse foi o único jeito de eu acordar – A vovó ligou e disse que já está na cidade. Você não está ansiosa?

– Você não faz ideia – respondi, desanimada.

Quando eu era mais nova, sempre escutei minha mãe falando que a vovó era louca, tentava sempre adivinhar o que aconteceria com as pessoas. Teve uma época que a internaram num hospício, mas logo ela fora liberada por não apresentar nenhum sinal de loucura. Eu nunca levei a sério essa hipótese, mas quando eu cresci, ficou óbvio o porquê da suspeita. Podemos dizer que a dona Dora não é uma avó normal, que cozinha as melhores comidas e sempre oferece o colo para seus netinhos. Pelo contrário, ela prefere ficar nos encarando e citando frases filosóficas, sempre tentando nos motivar. Teve uma vez, acho que eu tinha uns quatro anos, que ela vez meu irmão chorar um dia inteirinho porque ela colocou um grilo no leite dele. Ela disse que aquilo ajudaria meu irmão nos momentos difíceis da vida. Louca!

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Não demorou muito para a campainha tocar e meu irmão correr para receber nossa avó. Parada e carregando três malas, ela nos lançou um largo sorriso. Nada mudara, ainda conseguia ver aquela senhora de 74 anos, com cabelos brancos e rugas espalhadas pelo seu rosto pálido que vira alguns anos atrás. Talvez ela estivesse um pouco mais magra e só. Eu até pensei em correr para abraçá-la, mas meu irmão já estava fazendo isso, além de carregar as malas dela. Só me restava ficar olhando e esperando minha vez.

– Olha que eu estou vendo aqui? – minha avó disse, um pouco cansada da viagem – Jennifer McCall. Minha netinha.

– Jenny – eu disse, ainda distante – Eu não gosto que me chamem de Jennifer. Prefiro Jenny.

Seus olhos azulados não saiam de mim. Talvez rejeitando meu jeito, talvez matando a saudade. Eu simplesmente não conseguia interpretar aquele olhar.

– Por que renegar seu nome? – ela voltou a falar.

– Não sei, acho que não gosto das lembranças que esse nome me traz.

Scott decidiu interferir – para minha sorte. Ele mostrou o caminho até a cozinha enquanto contava o que acontecera naqueles últimos anos. Nós nos sentamos frente a frente na mesa, enquanto meu irmão nos servia uma xícara de café acompanhada de biscoitos. Logo, ele nos acompanhou e se sentou. Talvez o assunto estivesse desinteressante, talvez eu não quisesse prestar atenção nas histórias emocionantes da vovó. Eles conversavam empolgados, ignorando o fato de eu não participar da conversa. Podia ser um sinal que minha presença era insignificante.

– Aconteceu alguma coisa, querida? – disse minha avó.

– Não! – eu respondi, entediada – Só queria que esse dia acabasse.

– Jenny! – gritou meu irmão, nervoso – Isso é jeito de tratar a vovó? Ela vem nos visitar e você a trata assim. Cadê seus modos?

Essa pergunta não era justa. O jeito que eu me sentia não queria dizer que eu era sem educação, eu só não estava com cabeça para aguentar as aventuras da Dora. Sempre a mais habilidosa, sempre a mais sábia. Eu podia ainda ser muito nova e inexperiente, mas eu era tão sábia quanto uma senhora que passa o dia inteiro cuidando dos cachorros do bairro.

– Scott, não seja tão maldoso com sua irmã – Dora disse toda carinhosa – Ela vai ter um dia complicado pela frente. Ou você pensa que é fácil conversar com a polícia? Ainda mais sobre um crime que você não faz ideia como aconteceu. Certo, querida?

Eu assenti, mas não olhei para ela. Continuei encarando o prato na minha frente, agora vazio. Meu irmão se desculpou e voltou a conversar com a vovó. O jeito que ela falara sobre o crime era assustador, como se soube de algo que não soubéssemos, algo importante. Poderia ser mais um daqueles ataques dela, era difícil descobrir o que ela queria nos dizer. Nunca era exato, sempre havia enigmas no meio para confundir nossas cabeças.

– Scott – ela voltou a dizer – Por que você não me prepara um banho? Eu adoraria relaxar numa banheira preparada pelo neto favorito.

Sem discutir, meu irmão se direcionou ao banheiro para preparar o famoso banho da vovó. O que me levou ao pesadelo, ficar sozinha com ela. Continuei na mesma posição, mas percebi que minha vó se aproximava, lentamente. Quando me dei conta, ela estava sentada do meu lado, acariciando meu cabelo.

– Jennifer McCall – ela insistia em me chamar daquele jeito, desde meus cinco anos que ninguém me chamava desse jeito – Sabe qual foi a primeira coisa que um policial me disse quando eu pus meu pé para fora daquele trem? Que eu era louca de vim visitar uma cidade com tantos problemas como essa.

– Ele não mentiu para a senhora – eu respondi.

– Talvez sim. Talvez não. Mas você sabe o que eu respondi para ele? Não acredite em tudo que te dizem, tente descobrir por si mesmo a verdade... – ela se interrompeu e me olhou, só depois voltou a falar - E sabe o que ele me respondeu? Boa sorte!

– Talvez a senhora devesse parar de falar esse tipo de coisa para as pessoas – eu sugeri, sem olhar nos olhos dela.

– De onde veio essa ideia? De algum dos seus sonhos? – mais uma vez ela se interrompeu e me olhou.Dessa vez eu retribuí o olhar, tentando entender como ela sabia dos meus sonhos. Algo estranho começou a percorrer meu corpo, talvez medo, talvez ansiedade. Ela percebeu e mudou de assunto – Você não disse que tinha outro compromisso? Cuidado para não se atrasar.

– Você tem razão – eu disse, procurando um jeito de sair daquele lugar – Acho melhor eu indo, o caminho é longo.

Sem olhar para trás, sai daquela cozinha. Peguei o mais rápido possível a chave do antigo carro da mamãe e fui até a porta. Antes de sair, escutei minha avó falando sozinha algo que ela queria dizer para mim.

Conserve os olhos fixos num ideal sublime, e lute sempre pelo que deseja, pois só os fracos desistem e só quem luta é digno de vida – ela gritava no meio da cozinha.

Larguei a chave do carro, eu queria ir andando. Era o melhor jeito para refletir.

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Cheguei meia hora antes do horário marcado. O que me restava era esperar, me entreter com as histórias alheias das pessoas ao meu redor – pois eu queria esquecer a minha. Dos casos mais simples aos mais complicados. Ficar olhando os policiais que corriam de um lado para outro a procura de resposta. Além do mais, eu precisava ficar atenta, pois a qualquer momento, eu poderia ser chamada.

– Jenny McCall – alguém chamou pelo meu nome.

Quando me virei, vi a pessoa que eu menos queria ver naquele momento. O delegado Parrish. Lá estava ele, encostado na porta do sua sala, todo arrogante e metido, me esperando. Nossa primeira conversa não tinha sido nem um pouco agradável, uma vez que ele insiste que eu estou relacionada ao ataque na escola. E agora eu tinha que passar meia hora trancada na sala dele, respondendo tudo que ele quisesse. Ele sorriu quando eu passei por ele e me direcionei para a cadeira oposta a dele. Sem dizer nada, ele trancou a porta e se sentou a minha frente – tão próximo quanto à última vez.

– Nos encontramos de novo – Parrish disse todo sorridente. Continuei séria, sem dizer uma palavra – Você sabe que, uma hora ou outra, vai ter que falar comigo, certo?

– Certo – eu respondi.

Ele se levantou e foi até uma prateleira próxima a janela. Depois, começou a vasculhar os papéis lá jogados e voltou com algumas fotos – as mesmas que o Sheriff nos mostrara semana passada. Curiosa, eu as peguei e fiquei imaginando se alguém sentia falta do Andrew. Um moço que nunca fizera mal para ninguém. Entreguei as fotos para o delegado, que reparou como eu estava emocionada.

– Pelo seu estado, - ele disse sutilmente – você conhecia muito bem o rapaz.

– Não, eu não o conhecia muito bem – infelizmente, aquela era minha resposta.

Mais uma pausa, até que o delegado voltou a perguntar.

– Você imagina o que sua amiga fazia lá no campo de lacrosse?

– Você não acha que deveria perguntar isso para a Lydia?

– Acho que você tem razão – ele admitiu.

Tive a impressão que ele ia falar mais alguma coisa, mas o telefone o interrompeu. Enquanto ele atendia a ligação, eu voltei a olhar as fotos. Aquele sorriso torto, aqueles olhos castanhos. Por que a Lydia decidiu não falar sobre aquele dia? O que ela sabia e não queria dizer?

– Era do hospital – disse Parrish voltando a se sentar. Ele parecia aliviado – Andrew vai receber alta esta noite.

– Você deve estar feliz, né? – era hora de eu mostrar minha arma, as palavras – Antes de vim para esse interrogatório, eu quis saber mais sobre o Andrew. Um rapaz que perdeu os pais muito cedo e precisou morar num orfanato. Ninguém gostava dele, pois o coitado vivia dizendo que seus pais foram assassinados por seres sobrenaturais. Mas havia uma criança que não o abandonou e se tornou seu único amigo. Você sabe de quem eu estou falando, certo?

Parrish não esperava que eu soubesse da história do Andrew. Para falar a verdade, eu só descobri a história dele depois do ataque, pois fui até a escola e eles me informaram sobre o orfanato.

– Ele não tinha culpa se acreditava naquelas coisas – disse Parrish, pensativo – Eu também não tinha nenhum amigo naquele orfanato. Andrew foi o único que aceitou minhas loucuras. E agora, ele está num hospital com cinco cortes no pescoço. Como você acha que eu me sinto ao saber que ele já não corre mais riscos de vida? No mínimo, feliz, eu suponho.

– Você acredita em seres sobrenaturais?

– Eu gosto de dizer que eu não acredito em nada, mas tenho uma mente aberta – ele se interrompeu, talvez pensando se eu soubesse de outras coisas – Como você descobriu sobre o orfanato?

– Eu fiz a minha lição de casa – eu respondi confiante – Você pode até pensar que eu sei o que aconteceu com seu amigo, mas eu não sei. Eu queria poder lhe ajudar, mas eu não consigo.

– Talvez eu acredite em você agora – ele respondeu. Ele poderia estar blefando, entretanto, uma parte de mim queria acreditar que aquelas palavras eram verdadeiras.

Aquele tinha sido o final do interrogatório, nenhuma pergunta mais fora feita. Eu já podia voltar para minha casa e tentar relaxar, o que não aconteceria com a minha avó lá. Antes de sair da delegacia, liguei para meu irmão, mas ele não atendeu. Tentei falar com Stiles, mas ele também não me atendeu. Talvez os dois estivessem juntos e não podiam atender o celular. Não me parecia algo possível de acontecer, mas eu sempre prefiro acreditar nas melhores desculpas. Não tinha ninguém que eu pudesse pedir ajuda, me restava voltar andando pelas ruas escuras da cidade. Se não fosse o escuro, não tinha nenhum problema. Nossas ruas voltaram a ficarem tranquilas depois que o Peter partira, nenhum sinal de violência. Podíamos ver alguns adolescentes se divertindo nas praças, enquanto os adultos voltavam dos seus trabalhos. Até parecia uma cidade normal.

Eu caminhava lentamente pela calçada reparando nos mínimos detalhes, quando fui surpreendida por um carro da polícia vindo a minha direção. Pensei que ele fosse passar reto, mas eu estava errada mais uma vez. Ele parou uns três metros a minha frente e esperou até que eu encostasse. Para minha sorte, ou não, era o Parrish. De novo.

– Vi que você saiu sozinha da delegacia – ele disse depois que abaixou o vidro do motorista – As ruas podem ser traiçoeiras.

– As pessoas também – eu respondi, decidida em continuar meu caminho.

– Jenny, deixa eu te levar até sua casa. Suponho que não seja tão longe.

– Prefiro ir andando.

– Então, preciso lhe avisar que vou te acompanhar – ele disse saindo do carro – Eu estou precisando caminhar um pouco. Você não acha?

Ele não precisava andar se fosse por causa de estar fora de forma. Pelo contrário, o corpo dele estava em ótimas condições, mas como eu respeito meu namorado, preferi não responder aquela pergunta. Simplesmente, voltei a andar. Algo em mim disse que eu não escaparia da companhia do delegado, eu teria que o aguentar falando até chegar à minha casa. Graças a Deus, ela não era muito longe dali – como já deduzido pelo o rapaz.

–--------//---------

O caminho foi tranquilo. Diferente do que eu pensava, Parrish se manteve calado o percurso inteiro, sem fazer uma pergunta sequer. Talvez eu tivesse tirado conclusões erradas dele.

Já na rua da minha casa, vi exatamente o que eu não queria ter visto. Todo mundo já teve algum amor platônico por alguém – famoso ou não. Eu, por exemplo, me apaixonei pelo garoto da rua da minha tia quando tinha oito anos. Chega um momento da vida, que você decide parar e esquecer o rapaz, entretanto, isso não acontece. Você para com a loucura, mas você não esquece aquela pessoa que já fez seu coração disparar cada vez que você a vi. Mas, saber que a pessoa que você chama de namorado ainda se alimenta de um amor platônico, é pior ainda. Stiles estava conversando com a Lydia na praça próxima a minha casa. O jeito que ele a olhava, me deixava incomodada. Ele nem piscava, estava muito ocupado olhando cada movimento as garota.

Se eu fiquei furiosa com aquela cena? Pode ter certeza que sim.

– Você conhece aquele cara? – disse Parrish. Ele não parava de me olhar.

– Sim, eu o conheço. Ele é meu namorado.

– Desculpa a indelicadeza, mas por que seu namorado se encontraria com uma garota numa hora dessas?

Eu adoraria saber respondê-lo, mas eu não conseguia achar um motivo para o Stiles mentir para mim. E pior, mentir para mim para se encontrar com a Lydia. Foi por isso que ele não atendeu meu telefonema. De repente, eu me senti diferente. Acho que eu estava decepcionada. Parrish continuou andando, me deixando para trás com meus pensamentos. Eu precisei correr para alcançá-lo, sempre olhando na direção da praça. Para meu azar, assim que eu cheguei à minha casa, uma árvore bloqueava minha visão. Eu não sabia mais dizer o que estava acontecendo entre eles dois. Eu estava cega, tendo que confiar numa pessoa que mentiu para mim.

Parrish se sentou nas escadas da entrada da minha casa e fez um gesto para que eu o acompanhasse.

– Eu estou cansado – ele disse – Você não está?

– Acho que sim – eu respondi cabisbaixa.

– Ei Jenny – ele olhou nos meus olhos. Era a primeira vez que eu o via como um amigo – Você é melhor do que isso. Onde já se viu uma garota como você ficar triste por causa de um garoto? Eu sei que eu não lhe conheço, e eu compreendo se você quiser me ignorar, mas se algo que o Stiles fez está lhe incomodando, converse com ele.

Ele tinha razão. Eu não precisava ficar triste por causa do Stiles. Eu sou muito melhor que qualquer garoto que venha partir meu coração. Eu só precisava conversar com ele e tudo se resolveria. Contudo, eu estava muita cansada para me preocupar com isso naquele momento.

– Acho que eu vou entrar – eu finalmente disse – Obrigada por me acompanhar. Até que foi legal.

– Acho que sim – ele respondeu.

A escuridão não me deixava vê-lo direito, mas eu tinha quase certeza que ele estava sorrindo.

– É, acho que sim. Boa noite Parrish!

– Boa noite Jenny!

– Até algum dia – eu tinha certeza que nos veríamos em breve.

– Até algum dia.


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