Meu sonho foi mais ou menos assim...

Eu estava no meio de uma floresta. Mas, não era uma floresta normal. Ela não tinha árvores, trilhas, animais ou riacho. Ela era escura, fria e, no lugar de árvores, cadáveres estavam espalhados pela grama. Eu fiquei sem ar ao avistar o cadáver da minha mãe jogado sobre outros. Eu pensei em ir até lá, mas meus pés não se mexiam. Na verdade, eu não conseguia mexer nada do meu corpo, nem mesmo meus olhos.

Eu tentei acordar desesperadamente, mas eu não conseguia. Talvez que eu achasse alguma coisa naquele lugar para resolver os meus problemas, mas não conseguir se mexer ia dificultar tudo. Nada ali ia me ajudar. Eu já estava ficando exausta de ficar em pé, quando um vulto passou por mim. Eu fiquei envolvida por uma névoa. Fiquei me debatendo para tentar afastar, até que fui jogada no chão.

– Jenny, você é a única que pode acabar com isso... – uma voz feminina, muito familiar, começou a gritar.

– Eu? – eu disse indignada – Por que eu deveria acreditar em você?

– Porque eu sou sua mãe.

Minha mãe? Puxa, que legal. Agora que estou escutando pessoas mortas. Nada na minha vida estava fazendo sentido, por isso eu acreditei naquela voz. Realmente parecia minha mãe falando. E pelo jeito que ela estava falando, alguma coisa estava muito errada.

– Mãe?

– Jenny, eu sei que isso parece estranho, mas sou eu – a voz continuou – Esse foi o único jeito que eu conseguia entrar em contado com você. Eu precisava a alertar...

– Alertar? O que está acontecendo?

A névoa começou a ganhar formato. Um corpo muito parecido com o da minha mãe começou a se formar na minha frente. Até o jeito que minha mãe mantinha suas mãos coladas no seu corpo quando está nervosa tinha sido representado. Ela colocou o dedo indicador sobre seus lábios me pedindo que ficasse em silêncio. Eu a obedeci, mas não conseguia acreditar. Era ela, minha mãe como espírito parado na minha frente.

Nós ficamos nos encarando até não aguentarmos mais. Eu estava um pouco nervosa. Ok, muito nervosa. Eu estava tremendo por dentro, meu coração parecia que ia pular para fora a qualquer momento. Minha testa suava frio, assim como minhas mãos. Mas a pior parte, ou melhor, foi quando minha mãe tentou me tocar. Eu podia sentir, mas não estava acontecendo, pois ela era um espírito, logo seu corpo atravessava o meu. Ela ficou abalada por nunca mais poder me tocar, mas ela viu que eu entendia.

– Jennifer é o único jeito de toda essa confusão passar – minha mãe disse – Ela não sabe, mas, mesmo depois de acabar com os sacrifícios, ela não vai voltar a viver. Peter a usou para conseguir ficar mais forte do que nunca. Jennifer está morta, só que ela precisa aceitar isso e desistir de viver desse jeito.

– Ela precisa ser o novo sacrifício...

– Sim. Desse jeito, Peter vai perder todo seu poder. A pessoa que deu início aos sacrifícios não pode ser um sacrifício. Mas, você precisa a convencer a desistir. Peter nunca pode descobrir que a próxima pessoa a morrer é a Jennifer. Se ele descobrir...

–... Ele não irá cometer o assassinato – eu terminei a frase – Mas como? Como eu vou conseguir convencer uma maluca como a Jennifer?

– Eu não faço a mínima ideia, mas você precisa conseguir. E rápido. Ela tem que ser a próxima a morrer, senão mais uma vida será perdida e terminará aqui comigo.

– Eu vou conseguir. Eu prometo mãe.

– Mas, não se engane. Esse não será o fim. Peter virá atrás de vingança e é nesse momento que três heróis serão revelados. Um salvará o grupo com sua força, outro salvará com sua inteligência. O terceiro morrerá pelo seu amor.

– O que você quer dizer com isso?

– Não posso falar mais nada querida – disse minha mãe tentando me tocar novamente – Você vai precisar ser corajosa, pois dias terríveis se aproximam. E eu espero que você não falhe.

O corpo da minha mãe voltou a ser névoa. Um vento muito forte a puxou para dentro da floresta me separando, novamente, dela. Peter virá atrás de vingança e é nesse momento que três heróis serão revelados. Um salvará o grupo com sua força, outro salvará com sua inteligência. O terceiro morrerá pelo seu amor. Essas palavras não saiam da minha cabeça.

– Eu prometo não te desapontar mãe – eu sussurrei me jogando no chão.

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Eu acordei sem ar. Meu travesseiro estava molhado por causa do meu suor. Do meu lado, Scott segurava minha mão. Ele parecia apreensivo. Seus olhos não piscavam sequer uma vez. As veias de seu braço estavam pulando para fora, puxando algum tipo de veneno. Aquilo era nojento, mas foi só quando eu olhei para meu braço que eu entendi. Eu que estava machucada. Eu que estava envenenada.

– Ai meu Deus – eu gritei – O que está acontecendo comigo Scott?

– Eu não faço a mínima ideia Jenny – ele falou entre lágrimas. Seu outro braço tremia de nervosismo – Você começou a gritar e eu corri para ver o que estava acontecendo. Quando que cheguei aqui, você estava no chão tremendo segurando esse frasco. Eu só não entendo o porquê.

– Por que eu estou assim? Eu não compreendo – eu murmurei.

Eu demonstrava toda minha fraqueza não conseguindo ficar com os olhos abertos enquanto meu irmão lutava para me manter viva. Meu corpo resistia a qualquer movimento do Scott, parecia que o veneno precisava ficar no meu corpo.

Eu senti por um momento meu coração parando, perdendo suas forças. Viver parecia uma missão impossível. Eu fechei meus olhos e esperei. E no meio daquela escuridão, um único rosto surgiu na minha mente. Sempre foi ele, e sempre será ele. Scott, meu amado irmão, não sai da minha mente nem no momento que eu pensava que já era meu fim.Eu estava desistindo tão fácil, me esquecendo de todos ao meu redor.

– Jenny, se você ainda conseguir me escutar – sussurrou meu irmão – eu preciso de você. Não vou conseguir passar pelos próximos dias sem você. Eu sei que andei me distanciando de você, dando mais atenção para a Alisson, mas você é a garota da minha vida. Minha irmãzinha. Sem você, eu não sou nada.

Meu coração ficou tão apertado com aquelas palavras, que eu lutei até o último segundo para conseguir sobreviver para falar para meu irmão que tudo ia ficar bem. Porque, sem ele, eu também não sou nada.

De repente, eu fiquei sem ar. Era como se algo estivesse entalado na minha garganta e eu não conseguisse respirar. Sem demorar muito, eu coloquei para fora um líquido preto e gosmento. Depois disso, eu me sentia bem novamente. Eu conseguia respirar e nenhum veneno corria mais pelo meu corpo.

– O que é isso? – eu perguntei quase sem ar.

– Posso estar enganado, – disse meu irmão secando o suor que escorria meu rosto – mas isso me parece coisa do Peter. Só uma coisa pode descrever isso, as trevas se aproximam. E nós precisamos nos unir e ficarmos mais fortes do que nunca.

– Scott, eu preciso te contar uma coisa... Antes de isso tudo acontecer, eu sonhei com a mamãe. E não foi um sonho qualquer, foi tão real que eu pensei...

Meu choro ofuscou minha fala. Eu estava nervosa, eu não sabia se deveria contar para ele sobre o sonho, mas eu não queria omitir qualquer coisa para a pessoa mais importante da minha vida.

– Jenny continue – meu irmão disse segurando minha mão – Você pode confiar em mim. Sempre.

– A mamãe sabe como acabar com esses sacrifícios, mas nós vamos pagar caro.

– O que você quer dizer?

– Alguém vai morrer Scott. Um de nós vai perder sua vida para salvar o restando do bando.

E foi nesse momento que eu percebi o porquê do veneno. Era um aviso de como as coisas iam acontecer a partir daquele momento. Ou você é forte o suficiente, ou você morre.