Pov Elena

Sexta-feira e Liss ainda dormia. A semana passou lentamente, com Jaime, eu, Manny e Lucan nos revezando para olhar a princesa Aurora, quer dizer, Liss.

Partindo do ponto que as loucuras começaram na segunda, faziam quase 4 dias que Liss dormia. Nesse meio tempo eu conheci o resto do acampamento, alguns dos campistas, algumas das criaturas mágicas que lá viviam e comecei a treinar.

Arco e flecha, esgrima, até grego antigo! Quanto tempo fazia que eu não estudava grego antigo. Algo estranho sobre mim, apesar de eu ser filha de deuses gregos que vivem em Nova York, eu mesma cresci na Grécia, sou grega, minha mãe quando estava grávida viajou pra lá e me deixou crescer lá, acho que agora entendo o motivo.

Naquela manhã fui encontrar Jaime, ele havia dormido com Lisbeth, epa, isso soou meio estranho. Ele havia dormido no mesmo quarto que Lisbeth, não com ela sabe, tipo, dormir de furnica, ah, esquece, você me entendeu. Quando cheguei ao quarto os ânimos já estavam meios exaltados, Jaime e Nick discutiam, parei atrás da porta entre aberta para ouvir.

– ... eu só queria saber o porquê! - disse Nick.

– Não há porquê irmão, que saco! Qual o seu problema com elas? - perguntou Jaime.

– Nenhum. Só que você parece preocupado demais com garotas que mal conhece.

– E você irritado demais com elas.

– Cara, você mal tem aparecido nas aulas de arco. Fica nesse quarto com uma garota que trocou três frases com você. Poxa, quando foi que a gente teve uma conversa duradoura desde que elas chegaram ao acampamento? Quando você não tá aqui dentro tá com a loira chata! – esta loira chata a qual ele se refere, por acaso sou eu - Somos irmãos e parece que elas tão sendo capazes de estragar nossa relação. Cadê as suas garotas? Toda semana você tava com uma nova e agora parece que o acampamento virou um lugar mais triste para o sexo feminino.

Jaime olhou por alguns segundos para Liss.

– Vamos lá mano, cadê o Jaime que eu conheço? - Nicholas se aproximou de Jaime, que se afastou.

– Você é quem tá estranho, Nick. Nunca foi de implicar muito, essa namorada tá te mudando. A Ashy até que é legal, e uma gata, com todo respeito, mas ela tá te deixando um pé no saco.

– Cala a sua boca, você não sabe de nada sobre a gente... - agora Nick tava realmente irritado.

Olhei para os irmão, mas meu olhar foi desviado para Liss, no exato momento em que a vi levantar levemente a mão.

– O que eu sei é que você tá virando um escravoce... - irrompi no quarto com tudo.

Os dois olharam para mim, mas eu passei direto na direção de Liss. Ela tinha os olhos levemente entre abertos e tentou segurar minha mão quando me aproximei. Tentei me concentrar na minha amiga.

– Tava ouvindo atrás da porta, garota enxerida? - disse Nick.

– Nick, cala a boca - Jaime respondeu por mim.

– Calar a boca não, ela é irritante e se acha no direito de ouvir as conversas alheias, metida, vive pondo o nariz onde não é chamada – ele falava com desdém, carregando cada palavra com raiva, Liss parecia um gato, os olhos duas fendas verdes cintilantes a mostra.

– Nick, cala a boca antes que você piore as coisas – disse Jaime.

Eu dava o meu melhor pra ignorar os dois.

– Piorar? Não posso mais desabafar? Eu só queria dizer que ela não passa de uma loira burra.

Gota. Dgua.

Me chame do que quiser, mas loira burra foi demais. Levantei, dando as costas para minha amiga.

Pov Liss

O quarto tava um loucura, eu não sabia onde tava, o porquê, nem o motivo da discussão, mas uma coisa que sei é que é um erro fatal chamar Elena de loira burra.

– Eu sou loira burra? – ela se aproximou dele e eu vi sua confiança vacilar – Você que não passa de um mimado, idiota, cachorrinho da namorada, covarde! – ela cuspiu as palavras, se aproximando ainda mais.

– Quem é você pra me chamar de covarde, não passa de uma loirinha burra e metida a merda.

– Gente, vamos nos acalmar... – tentou dizer Jaime.

– CALA A BOCA JAIME – disseram Nick e Elena em uníssono. Minha garganta ardia como se tivesse passado meses no deserto.

– Gente... – tentei dizer, mas minha voz não era mais do que um sussurro.

– Sim, um covarde. Enquanto seu irmão tava tentando salvar minha amiga, você só pensava em ir pra casa pra poder voltar ser o cachorrinho da sua namorada de novo, na esperança de que se fizer tudo direitinho ela te recompense a noite.

– Iiih – disse Jaime. Nicholas ficou vermelho de raiva.

– Você que é uma mal comida! – replicou ele.

– Gente... – tentei dizer novamente, mas no meio da confusão minha voz não se fez ouvir.

– Eu não, querido. Opção é o que não falta. E pela raiva que você dedica pra mim com tanto fervor, deve ser tesão reprimido.

Nick corou, Jaime segurou a risada e Elena sorriu triunfante.

– Gente... – na moral, minha garganta parecia queimar como uma brasa, será que eles não podiam deixar a briga pra depois de um copo de água?

– Você é uma... Uma... – o que Nicholas ia dizer jamais será conhecido, por que nesse momento Manny e um homem de cadeira de rodas entraram no quarto.

– Que gritaria toda é essa? – perguntou o homem. Todos começaram a gritar de uma só vez, eu achei que ia apagar de tanta sede quando me fiz ouvir a cima da gritaria geral.

– GEEEEEEENTE! – gritei, fez-se silêncio no local. Jaime me alcançou primeiro, seguido de Elena.

– Manny, vá chamar o Lucan, ele ficará feliz em estar aqui – disse Jaime e Manny saiu correndo do quarto. Elena tentava esconder que tinha os olhos levemente marejados – Fala Lisbeth, o que você quer?

Estremeci ao ouvir o meu nome, e apenas o som da voz dele dizendo-o foi o suficiente para me lembrar de tudo o que acontecera no internato novo.

– Água – foi tudo o que disse olhando naqueles olhos azuis, cara aquele garoto era realmente bonito, e havia algo de diferente nele, uma preocupação sincera. Havia uma jarra ao lado da cama que eu não havia reparado antes, droga, tava ali do lado o tempo todo! pensei irritada.

Ele me inclinou um pouco e me deu a tão sonhada água, desceu como uma massagem tailandesa pelo meu esôfago, sério, nem mesmo Coca-Cola poderia ter sido melhor. Bebi três copos antes de ser posta sentada ajudada por Jaime e conseguir falar livremente.

Nicholas saiu de fininho do quarto, o senhor na cadeira de rodas se aproximou, Elena e Jaime se sentaram na cama, cada um de um lado.

– E aí Bela Adormecida? Como você tá se sentindo? Já tavamos pensando em colocar o acampamento todo pra te beijar pra ver se você acordava – perguntou Elena sorrindo.

– É né, se ela não acordasse ao menos teria sapinho – riu Jaime

Quando abri a boca para responder, Lucan entrou esbaforido no quarto.

– LISS! – gritou, seguido de um Manny ofegante.

Sorri.

– Oi mano.

Ele fungou.

– Oi mana, eu achei que, achei... – ele olhou pro chão.

– Relaxa, vaso ruim não quebra, lembra?

Ele riu e assentiu.

– E desde quando você é uma manteiga derretida? Quem é você e o que fez com meu irmão durão? Tá de namorado também? – brinquei, ele fez cara feia por um momento, mas logo riu junto com todos.

– Tá bem, todos podem dar um abraço e me deixar aqui com ela, tem muita coisa a ser explicada – disse o homem de cadeira de rodas.

– Mas ela... eu... – pestanejou Lucan.

– Vamos, você sabe que tem que ir – disse Elena complacente com o meu irmão. Todos me abraçaram, Manny, Elena e Lu. Porém Jaime apenas apertou meus dedos e já ia saindo quando o homem disse:

– Você não Jaime, você fica.

Pov Jaime

Sem questionar, me sentei novamente na cama.

– Liss, tem muitas coisas que precisam ser explicadas a você – começou o Quíron, pacientemente – Primeiro, meu nome é Quíron e eu sou o diretor deste acampamento onde você esta agora, junto com o Sr.D. mas mais a frente eu explico isso.

– Senhor – Liss o interrompeu – antes de o senhor continuar, eu gostaria de dizer que faço uma leve ideia do que quer me explicar.

– É mesmo? – perguntou ele, olhei para ela, curioso.

– Sim. Não sou a melhor do mundo em mitologia grega, mas sei um pouco por conta do meu irmão e prima. Aquilo no internato era uma Dracaena, certo? – ela disse, firme. Quíron parecia levemente surpreso.

– Sim.

– Então esses monstros mitológicos existem?

– Sim.

– Okaaay – ponderou ela – não é a conversa mais normal do mundo, mas eu sei o que vi. Agora o que eu não entendo é o porquê nos atacar.

Quíron explicou tudo, como sempre fazia. Desde os semideuses, até como funciona o acampamento, sobre os monstros, entre outras coisas. Liss ouviu calada, porém apertou a minha mão e emitiu um arquejo ao ser informada que Chris Helmsworth não era seu pai. De resto, aceitou tudo eu diria que até muito bem, até quando soube que Quíron era meio cavalo. Ao terminar, ele falou:

– Quer perguntar algo?

– Eu queria saber como você faz pra ir ao banheiro.

Eu gargalhei, Quíron pareceu desconcertado. Ela pareceu um pouco tímida, o que não era próprio dela, porém a deixava muito fofa. Cara, o que tá havendo comigo?

– Bem – Quíron disse – eu quis dizer se não teria alguma pergunta que não envolvesse minha intimidade.

Ela coçou o cabelo, sem graça.

– Ah, na verdade sim, eu queria saber se sou parente dele – ela disse e apontou pra mim.

– Eu realmente espero que não – respondi. Quíron riu, mas se foi da pergunta ou resposta, eu não saberia dizer.

– Criança, se o seu intuito é com relação a parentesco de não poder, como é que vocês jovens dizem, ah, ficar – eu ri alto e ela ficou muito vermelha – Os deuses não tem parentesco como nós, então a única coisa que impediria isso seria se vocês fossem irmão, de resto...

– Não... Não foi isso... É que... – gaguejou ela, percebendo que ainda segurava a minha e soltando-a no mesmo momento, eu ri mais ainda – É só que eu não queria ser irmã do irmão dele, só isso – ela disse, cruzando os braços e fazendo um bico de leve.

– Tudo bem criança, tudo bem. Olhem, eu pedi que o Jaime ficasse, pois vocês pode ter tido alguma sequela do derrame, ele vai te ajudar a se recuperar, então acho melhor a senhorita não ficar tão acanhada hein – brincou ele e ela corou um pouco mais.

Eu olhei para ela, aqueles olhos verdes de gato, o cabelo escuro e falei com toda a sinceridade.

– O prazer será todo meu.