Amiga Morte escrita por Quézia Martins


Capítulo 1
Descobrindo o Fim


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, mais uma história minha pra vocês!
Eu espero que gostem e que se envolvam de verdade nesse mistério emocionante.

Boa leitura!



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Bárbara se recostou na cadeira ainda desorientada. Uma notícia como a que acabara de receber parecia ter lhe deixado sem chão. E raramente, algo a surpreendia.

– Um ano? - Bárbara perguntou ainda em choque.

– Bom, eu daria isso ou até menos. Não se pode ter um tempo com exatidão. - a médica disse baixo, mas em tom firme para que Bárbara compreendesse a seriedade do assunto.

– Como assim só um ano? - ela não parecia acreditar - Não há tratamentos? Quimioterapia? Radioterapia? Eu sei que há. Li sobre isso.

– Bárbara, infelizmente o câncer já se encontra em um estágio avançado e não há nada que se possa fazer em relação a isso.

– Operação? Cirurgia? - ela queria ajudar a médica a encontrar alguma solução.

– Desculpe - a médica pediu balançando negativamente a cabeça.

Bárbara engoliu em seco. Não entendia como aquilo era possível. Logo ela, uma pessoa que tanto se cuidara, que procurou viver de forma saudável, propícia. Saiu do consultório cambaleante. Como daria essa notícia aos seus amigos? - Se bem que nunca teve muitos - Sua mãe enlouqueceria. O que mais a afligia era não ter realizado seus sonhos. Ainda tinha vinte anos. Tudo aquilo era inconcebível. Quem aos vinte anos para pra pensar em quanto tempo falta até que ela morra? E agora ter que considerar que tem seu tempo de vida determinado... Era demais para ela. Ainda perdida nesses pensamentos, esbarrou em uma senhora na portaria.

– Perdão - Bárbara disse sem olhar sequer.

– Não foi nada jovem, ou, devo lhe chamar de Babi?

– Babi? Como... Como a senhora sabe meu apelido?

A senhora tinha olhos pequenos, usava um vestido branco que lhe cobria os pés, os fios de seu cabelo eram finos e bastante compridos de cor alva, as mãos enrugadas e sua face entregava que já era ela, avançada em idade. E de repente ela sorriu. Babi a observava. Atentamente.

– O que lhe aflige? Parece que algo a sufoca. - Babi recuou uns passos totalmente atônita. Quem era ela? E como sabia dessas coisas? - Não precisa ter medo - prosseguiu ela quando viu que Babi não iria responder.

– Desculpe. Estou com pressa.

A velha assentiu com a cabeça dando um breve sorriso.

– Esse talvez seja o mal de muitos. Viver com pressa - ela parecia dizer isso mais para si e então continuou - Me chamo Lua e aparecerei sempre que pensar em mim.

– Mas, anteriormente, haveria eu pensado em você? - suas mãos penderam no ar e ela fechou os olhos por alguns instantes, por causa de uma dor aguda que lhe apertou na barriga e quando abriu os olhos novamente, para encarar Lua, ela não estava mais lá.

Era claro o ponto de interrogação que parecia pairar por ali. Aquela senhora era como um grande enigma. Surgiu do nada, e recheou a cabeça de Bárbaras com perguntas.

Babi se recompôs e tomou um táxi. Ao chegar, pagou ao taxista e desceu. Entrou no prédio onde residia sorrindo para o simpático porteiro. Acionou o botão do elevador para que o mesmo descesse. Não encontrava em si, firmeza suficiente para subir as imensas escadarias do edifício. Enquanto esperava, chegou junto a ela, um moço de aparência jovial, beleza estampada, provavelmente um novo morador. Aquele prédio era bastante frequentado por turistas, mas poucos dos que ali adentravam permanecia e se fixava.

O elevador pareceu levar um tempo enorme para descer. A presença daquele homem a incomodava e ela nem sabia dizer o porquê. Não. Ele não aparentava ser um assassino em série, ou um psicopata. Nem nada do tipo. Mas, a proximidade despertava nela um certo formigamento desconhecido.

Quando o elevador chegou, ambos entraram e foram em direção ao mesmo número de andar, ela sorriu inevitavelmente quando suas mãos se tocaram. O elevador estava lento e de súbito parou. Suas luzes se apagaram. Ela foi em direção a ele comprimindo-o contra a parede de metal daquele cubículo.

– Medo de escuro - ele sussurrou com a voz um tanto rouca que despertou em Babi outra série de formigamentos.

– Não. Foi apenas um susto.

– O que será que aconteceu? - ele perguntou com a voz ainda baixa, apertando a cintura de Babi que ele mantinha presa ao seu corpo.

– Não faço ideia. Talvez alguma falha no sistema. - Babi disse se afastando um pouco.

– Você mora aqui?

– Sim. Há pouco mais de dois anos.

– Isso já aconteceu antes?- ele se referia ao elevador.

– Não. Em nenhum período de tempo desde que me encontro aqui. - ele nada disse.

Ela o olhou. Mesmo na penumbra, ela conseguia enxergar alguns relances. O queixo fino, o nariz afiladinho... "Meu Deus como ele é sexy!". Babi pensou e riu.

– Estais rindo?

– Não. - ela tratou de mudar de assunto - Então, você mora aqui desde quando?

– Aluguei um apartamento esses dias.

– Turismo?

– Estágio e pesquisas.

– Legal, bem legal. - ela murmurou.

– Você cursa universidade?

– Eu consegui uma vaga, mas... - ela se interrompeu pensando, pela primeira vez, que todo o tempo que ela dedicou estudando foi em vão.

– Mas? - ele insistiu.

E de repente ela grunhiu de dor.

– Você está bem? - então ele notou que nem o nome dela sabia ainda. A dor de Babi se agravou e chegou a um ponto que ela não conseguia respirar.

– Não... Não... Consigo... Não consigo.

– O que? - ele parecia assustado, mas passava uma calma tranquilizadora.

– Respirar.

Ela caiu no chão e ele se ajoelhou teatricamente ao lado dela.

– Calma. Está tudo bem. Está tudo bem - ele repetia massageando o peito de Babi. - Não feche os olhos. Tá? Não feche os olhos. Consegue me dizer seu nome? - ele perguntou baixo, erguendo a blusa de frio de Babi e massageando intensamente, devagar. Com bastante técnica aliás.

– Babi - era o máximo que ela conseguia dizer.

– Babi, vai ficar tudo bem. Você só precisa ficar acordada. - mas então ela fechou os olhos.

– Babi! - ele massageava agora mais desesperadamente para que ela retornasse. Não sentia mais os batimentos dela. Depois que viu que aquela massagem não estava resolvendo, partiu pra respiração boca-a-boca. Foi-se quase cinco minutos de desespero. Até que ela voltou com um suspiro longo e agitado.

– Babi - ele deu um suspiro de alívio.

– Desculpe - ela pediu sem jeito.

– Não se desculpe.

– Péssima hora pra isso acontecer. - ela disse se recompondo.

– Isso sempre acontece? Tipo, você vive morrendo e retornando? - essa pergunta soou num tom terrivelmente irônico, não que fosse a intenção.

– Não. Eu não vivo morrendo.

E o movimento do elevador retornou.

– Consegue ficar em pé? - seu 'salvador' perguntou lhe estendendo a mão.

– Obrigada.

O elevador parou e eles saíram. Babi estava apoiada nos ombros dele.

– Qual apartamento é o seu? - Ele perguntou pegando a chave que ela lhe estendia.

– 766

– Legal. O meu é 776, de frente ao seu.

– Que coincidência.

Ele abriu a porta do apartamento dela, a ajudou a se sentar no sofá e lhe entregou a chave.

– Tenho que ir. Preciso estudar. Se precisar pode me chamar.

– Como é seu nome? - ela perguntou baixo. Por um instante achou que ele não tivesse ouvido.

– Octávio. Octávio Magalhães.

– Obrigada mais uma vez

– Disponha. Tchau.

Ele saiu fechando a porta atrás de si. "Que boa impressão hein Bárbara?". Babi se repreendia em pensamento recordando sua experiência de quase morte. Ela estava torcendo para não o encontrar mais. Olhou no relógio e ainda eram 18:30, a campainha tocou. Ela levantou com dificuldade e ao abrir a porta viu sua melhor amiga.

– Clara?

– Oi Babi - e a olhando assustada, acrescentou. - Nossa como você está pálida!

– Acabei de voltar da morte. - A fala de Babi foi carregada de sarcasmo, mesmo com a seriedade do assunto.

– Tá. Se você está dizendo.

– Estou falando sério.

– Ok. Foi ao médico? - ela perguntou ainda parada na porta.

– Fui sim.

– Como você nunca tinha ido ao médico antes?

– Eu tenho uma excelente saúde. - Babi disse com pesar.

– Ainda tem? - Clara indagou erguendo a sobrancelha.

– Sim. Ainda tenho. - era isso. Ela não conseguiu dizer a verdade.


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Notas finais do capítulo

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