A Garota Que Sugava Almas. escrita por Jubs


Capítulo 4
4. Um brilho Intenso atrás da árvore.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo editado em: 05-03-14



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Um brilho intenso atrás da árvore.

“Agora você está sozinha.”

Havia cerca de três semanas que os fatos estranhos pararam de ocorrer, mas mesmo com tudo se acalmando e as minhas visitas ao bosque estarem cada vez mais tranquilas aquela frase não saía de meus pensamentos, o modo como o sangue escorria formando aquelas misteriosas palavras, o jeito como aquilo fez meu coração disparar...

E isso tudo era porque eu sabia que era verdade: eu estava sozinha.

Eu não possuía amigos, minha mãe estava morta, meu irmão era uma criança com transtornos psicológicos, meu pai começara a passarmais tempo na rua do que em casa... Dizer que minha vida era um inferno seria um baita de um eufemismo, porque pelo menos no inferno eu teria companhia.

Olhava para a parede de meu quarto enquanto me afundava em meus pensamentos e provavelmente em depressão

Já era hora de ir para o colégio e, como sempre nos últimos dias, meu pai não estava em casa. Ignorando a situação, saí pela porta de entrada, deixando Jaxon sentado no sofá e assistindo algum desenho animado na velha televisão da sala de estar.

Acendi um cigarro no meio do meu percurso até a escola. Enquanto dava uma longa tragada, me deliciava em sentir o cheiro de grama molhada que tomava conta do lugar.

— Olhe, você novamente — um rosto conhecido me parou no meio do caminho com um grande e simpático sorriso no rosto. — É raro demorar mais de uma semana para reencontrar alguém nessa cidade, hein. Onde você andou se escondendo?

— Desculpe, mas estou ocupada — não demorou muito para me lembrar de quem era aquela face: o menino idiota da praça. — E não andei me escondendo, simplesmente não fico pela rua perdendo meu tempo com pessoas toscas, entende?

— Qual a necessidade de você ser tão ignorante? — o modo rude e confuso como ele falou comigo me surpreendeu e, por incrível que seja, me tocou. — Eu estou apenas sendo legal com você e quer saber? Não vou sair da sua cola até você aceitar ir ao Jack’s comigo.

— O que? — deixei meu cigarro cair de meus lábios ao chão. — Isso é chantagem! E sair comigo? Não sou uma pessoa agradável, esqueça...

— É pegar ou largar, princesa. — Ele segurou meu queixo e falou de modo que soava como uma ameaça: — a escolha é toda sua.

Respirei fundo.

— Ok — falei revirando os olhos —, eu aceito.

— Te vejo sexta às sete — o menino sorriu subindo em seu skate. — E antes que me esqueça novamente, meu nome é Asher. Pretendo saber o seu em breve!

Poderia apenas ter dado algum fora no Asher, mas eu simplesmente fiquei paralisada com aquela situação toda, com o jeito como eu agi, com o fato de eu ter aceitado sair com ele...

Eu realmente só esperava não me arrepender disso.

Fiz meu percurso até a escola e assisti a todas as aulas sem prestar atenção realmente, os olhares da menina com a qual eu discuti no primeiro dia de aula tiravam meu foco.

Algo me dizia que ela não era apenas uma loirinha burra.

Quando passei pela lateral de minha casa pude perceber sons um tanto estanhos que vinham da janela da cozinha. A luz estava acesa, a silhueta de duas pessoas era negra vista do lado de fora. Parei subitamente, franzindo o cenho, respirando com dificuldade pela caminhada que acabara de ter ao voltar da escola.

Caminhei lentamente até a porta da sala de minha casa, sorrindo com ironia ao ver o tapete de boas-vindas. Ninguém era feliz na casa. Não de verdade.

Entrei em passos curtos, indagando a mim mesma que barulhos eram aqueles e se eu não me arrependeria de seguir meu instinto curioso.

Gradativamente, quanto mais perto eu chegava mais altos os suspiros e gemidos soavam, me causando enjôo.

Não podia ser o que eu pensara. Podia?

Adentrei pela cozinha como uma raposa, passando os olhos pelo local com meu estômago embrulhado ao ver aquela cena. Não sabia se gritava, se ficava parada olhando até que eles finalmente percebessem a minha presença ou se chorava ali mesmo.

Uma mulher bem jovem — em torno de seus vinte e poucos anos — estava totalmente nua por cima do balcão de minha cozinha, com os cabelos loiros e desarrumados, cavalgando em meu pai que parecia adorar aquilo tudo.

Agora eu sabia os motivos de seus desaparecimentos pela madrugada e o tempo fora do normal que ele passava nas ruas.

Ele era um cretino.

Quando virou seu rosto para sua esquerda, a jovem pôde me ver, perplexa e a encarando com cara de desgosto.

— Ah, meu Deus! — ela saiu de cima do homem que nunca mais eu iria chamar de pai na minha vida, vestindo rapidamente seu vestido curto.

— Seu cretino! — cuspi as palavras, diante daquela cena. — Não consigo acreditar que quando você largou Jaxon e eu aqui foi para comer uma vadia qualquer pela rua.

— Filha, não é nada disso que você está pensando — Gregory tentava amenizar a situação soltando lágrimas de crocodilo dos seus malditos olhos. — Eu posso explicar, essa é a Natallie.

— Ah, Natallie... — falei em meio uma risadinha irônica. — Que lindo nome, lindo demais para uma vadia como você!

Ela ficou vermelha no momento em que eu falei e antes que eu pudesse continuar o meu discurso, senti um estalo e logo em seguida uma ardência em meu rosto.

Aquela mulher havia me dado um tapa.

— Você me bateu? — lágrimas escorriam de meu rosto sem minha permissão enquanto eu cuspia minhas palavras com ironia e raiva. — Então quer dizer que por que está fodendo com meu pai você acha que é minha mãe agora? Vai ficar calado, hein, querido papai? Vai deixar a nossa nova mulher da casa comandar tudo agora? Está certo, palmas para você, palmas!

— Cala a sua boca, Doroth! — Gregory aumentou o tom de voz, me fazendo arregalar os olhos. — Sai daqui agora, vai para o seu quarto.

Não podia acreditar que aquilo estava acontecendo, meu pai estava me trocando por aquela mulher.

Aproximei-me dele, que abraçava Natallie, a qual chorava em seus braços.

— É isso que vocês merecem — falei cuspindo no rosto de meu pai e daquela mulherzinha. — Seus merdas.

Não esperei resposta, nem mesmo ação de meu pai, e corri para porta de saída, enxugando as poucas lágrimas que ainda insistiam em escorrer pela minha face pálida e gélida. Mesmo querendo, eu não ia chorar. Eles não mereciam minhas lágrimas. Eles não mereciam nada.

Enquanto corria para dentro do bosque que já estava escuro por conta do horário, eu só pensava em uma coisa: eu iria me vingar.

Meus passos iam se tornando mais lentos juntamente com meus pensamentos, que se organizavam em minha mente conforme eu me acalmava.

Não hesitei um segundo sequer e me joguei no gramado comprido e coberto de folhas e galhos do bosque.

Eu estava exausta, isso era fato, tudo aquilo estava me enlouquecendo, precisava mais do que tudo desaparecer, sumir, morrer... Pensar em suicídio podia ser um ato um tanto imaturo de minha parte, mas eu estava tomada pelo sofrimento e o único pensamento que me fazia continuar era que eu ia proporcionar o dobro do pavor que estava vivendo àqueles que me fizeram sofrer.

E queria fazer da vida deles o verdadeiro inferno.

Avistei uma sombra negra que passara correndo sobre uma árvore e outra, logo interrompendo meus pensamentos. Levantei meu olhar, atenta. E...

Por longos minutos fiquei parada esperando algo mais, algum som, algum sinal de vida... mas simplesmente não aconteceu nada. Voltei a relaxar e a mergulhar em meus pensamentos obscuros de vingança.

Um som de miado ecoou em meus ouvidos, miados altos como o do meu falecido bichano.

Fechei meus olhos tentando espantar as alucinações, podiam acontecer fatos estranhos no bosque, mas eu sabia que o Pec estava morto. Eu tinha certeza de que ele estava morto.

Eu o vira morto.

Abri meus olhos rapidamente ao sentir algo escorrer pelos meus braços. O líquido vermelho descia de meu ombro e caia pelos meus membros superiores, me fazendo ficar cada vez mais apavorada já que eu não continha ferimento algum, e em meio ao meu pavor eu o vi em minha frente.

Era ele, só podia ser ele.

Ignorei o sangue que escorria descontroladamente pelos meus braços e saí correndo atrás do bichano negro que corria cada vez mais rápido, me fazendo agora apenas enxergar um pontinho negro correndo pelas árvores e arbustos verde-escuros.

O estranho sangramento havia parado e o animal, que eu acreditava ser o meu Pec, sumido.

Olhei em volta, apavorada, eu não sabia o caminho de volta.

— Tem alguém aí? — minha voz soava tremula enquanto eu indagava para o nada, com medo. — eu preciso de ajuda! Por favor!

Deixei as lágrimas quentes caírem de meus olhos de maneira descontrolada e de repente notei, logo atrás da árvore que estava em minha frente, um brilho ofuscante.

Era tão lindo que mesmo com medo meus pés seguiram para lá, parte de mim gritava para eu parar, mas era como se eu não tivesse controle do meu próprio corpo, como se eu estivesse hipnotizada.

Querida Doroth, finalmente estamos a sós... — uma voz doce ecoou em minha cabeça assim que eu me deparei com uma aberração — estava mesmo querendo te ver.

Um ser estranho e macabro estava à minha frente. Uma silhueta feminina totalmente branca e com olhos que brilhavam em azul, como se fossem feitos de vidro. E o pior não era isso, aquela mulher — se é que posso chamar assim — só continha os olhos em seu rosto, mas nada.

Ao percorrer meus olhos pelo local e ver que as grandes árvores e arbustos me impossibilitavam de encontrar a saída, a minha única reação foi gritar. Mas minha voz era abafada, nenhum som era liberado.

Com minha visão cada vez mais embaçada pela forte neblina, os únicos sons do bosque que eu ouvia eram dos galhos estalando nas copas das árvores.

O pavor e o medo subiam a minha cabeça deixando-me tonta e tirando a minha sanidade mental.

Venha para mais perto — A voz soava como uma música em meus ouvidos, me fazendo cada vez querer ficar mais e mais perto. — Não tenha medo de mim, minha pequena.

O ser da voz incrivelmente doce esticava suas mãos para mim e, por um impulso, eu as toquei e nesse momento senti meu corpo se derreter, e caí.

A minha última visão era uma total escuridão.


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Notas finais do capítulo

Beijos da Juh *3*