POV Jace

Assim que cheguei ao instituto fui para a biblioteca procurar nos nomes com registros de caçadores, para minha surpresa não havia nenhuma Clarisse Wayland. Eu sabia que perguntar a Maryse ou ao Robert era perda de tempo, eles me mandariam esquecer. Alec também me faria esquecer e ficaria me seguindo, não falaria com Sebastian nem de graça e Max bem, ele ainda era apenas uma criança. Isabelle me ajudaria, quem sabe. Eu não podia correr o risco de tirar a garota de lá e ela ser perigosa, se ela era uma caçadora eu descobriria isso ou eu não me chamo Jace Herondale.

Já era tarde e passava da meia noite, talvez amanhã eu decidisse falar com Isabelle. Fui para o meu quarto e me joguei na cama, Clary ainda era uma imagem viva dentro da minha cabeça, como se ela estivesse aqui no meu quarto comigo. Aquela garota era especial, e eu descobriria o por que.

[...]

Programei meu corpo para acordar às quatro da manhã. Fui para o chuveiro e tomei um banho gelado para terminar de acordar, logo depois coloquei uma calça jeans e uma camisa preta gola v. Arrumei meus lindos cabelos loiros para trás e sabia exatamente para onde tinha que ir.

Passei na cozinha e peguei duas maçãs, as mais vermelhas e saí em direção onde Clary estava.

Sai do instituto, o caminho já me era familiar e em menos de vinte minutos eu já havia chegado. Escalei perfeitamente a janela do seu quarto. Ao entrar encontrei Clary largada na cama dormindo, seu braço direito estava para fora dela e no chão tinha um bloco de desenhos.

Me aproximei silenciosamente dela e peguei o bloco do chão, olhei o desenho e abri um sorriso. Clary tinha me desenhado até pegar no sono, os traços eram tão reais que mais parecia uma foto. Coloquei o bloco na escrivaninha ao lado da cama.

-Clary – chamei tocando gentilmente seu braço.

Ela continuou imóvel.

-Clary – disse empurrando-a mais uma vez.

Ficou como uma pedra.

-Clary – gritei.

Ela acordou espantada e acabou metendo a mão no meu rosto perfeito.

-Precisava mesmo gritar? – perguntou coçando os olhos.

-Acho que você me cegou – disse colocando a mão no meu rosto.

Clary apenas revirou os olhos.

-Vamos, você não quer ver o nascer do sol?

-Da janela? – perguntou.

-Não, lá do chão – sorri.

Gentilmente peguei em suas mãos, Clary hesitou mas, veio até mim. Peguei ela em meus braços, Clary acomodou suas mãos em volta do meu pescoço.

-Nós vamos morrer – sussurrou.

-Não, sou lindo de mais para morrer – disse bem humorado.

Ela fechou os olhos e nós pulamos. Caí com destreza na grama. Clary saiu dos meus braços e ficou maravilhada com a sensação dos seus pés descalços pisando na grama. Cruzei os braços e fiquei observando-a.

 -Quer uma maçã? – perguntei tirando-as do meu bolso.

Clary concordou, joguei a maça para ela que pegou agilmente no ar. Logo ela mordeu e sorriu, pensando em como a fruta era gostosa. Meus pensamentos insanos me diziam para tirá-la daqui, mesmo que ela fosse perigosa.

-Olhe Jace – disse maravilhada sentando-se no chão – O sol está nascendo.

-Sim, está – disse me sentando ao lado dela.

-Não me lembrava que era tudo tão lindo – sussurrou – E que uma maçã era tão gostosa.

O sol nasceu diante dos nossos olhos, observava as expressões de Clary. Eram tão naturais e lindas, que eu queria tomá-la em meus braços e nunca mais deixar que ela saísse.

Ficamos em silêncio, enquanto Clary observava o céu eu a observava. De um minuto para o outro seus olhos verdes transbordavam em lágrimas mudas, ela as limpava rapidamente.

-O que foi? – perguntei tocando em seu ombro.

-Eu só... Só não queria mais voltar para lá – murmurou.

-Clary, eu prometo que eu vou te tirar de lá apenas me dê tempo – pedi.

[...]

Eu precisava procurar a Tessa Herondale. Ela era uma espécie de feiticeira que já fora casada com um dos meus antepassados, Will. Tessa já havia vivido bastante, talvez soubesse algo sobre a Clary. Eu e Tessa tínhamos ficado amigos, ela havia me ajudado a entender meu pai de verdade, Stephen. E ela sempre achou que eu havia herdado esse meu jeito do falecido Will.

Eu só precisava encontrar o seu número, que estava perdido em algum lugar que eu não sabia qual era. Estava mexendo nas minhas coisas furtivamente, eu precisava encontrar.

-Aonde foi tão cedo hoje? – perguntou Isabelle entrando no meu quarto sem convite.

-Não sai do instituto – menti continuando a mexer nas minhas coisas.

Isabelle entrou fechando a porta, eu sabia que ela não me deixaria sair sem que eu lhe dissesse aonde tinha ido hoje.

-Duas maçãs sumiram da fruteira, as minhas maçãs – disse cruzando os braços – E você sumiu hoje cedo, na verdade tem sumido desde que nós fomos resolver aquele problema com os membros do submundo.

Suspirei. Se alguém poderia me ajudar, esse alguém era Izzy.

-Primeiro você tem que confiar em mim – disse.

-Ah pelo anjo Jace, o que você está aprontando? – perguntou.

Revirei os olhos, Izzy sentou-se na minha cama.

-Está bem, me diga o que está havendo.

-Encontrei uma garota naquele hospital psiquiátrico – iniciei a conversa – Ela se chama Clarissa.

-E eu me chamo Isabelle e daí? – perguntou – Não me diga que está apaixonado por uma maluca?

-Cala a boca Isabelle – repreendi.

Ela apenas riu.

-E daí que ela se chama Clarissa Wayland, ela consegue me ver – agora sim eu tinha conseguido a atenção dela – Ela disse que o pai dela era um caçador de sombras e que já esteve em Idris...

Contei, sem detalhes, a Isabelle o que Clary tinha me contado. Minha irmã ficou me olhando e eu sabia que sua chama de curiosidade também tinha se ascendido como a minha tinha.

-Se ela é uma Wayland, como você foi confundido com ela? Afinal, sejamos francos isso não é fácil lhe confundir ainda mais com uma menina – disse pensativa.

Concordei dando de ombros, realmente eu era uma pessoa inconfundível.

-Aí que está minha cara Isabelle, como nós fomos confundidos e porque ela foi trancada em um hospício – constatei.

-E o que ela ainda faz presa lá Jace? Temos que trazê-la para cá – disse Isabelle, o que eu mais gostava na minha irmã era que ela sempre entendia tudo perfeitamente.

-Eu preciso saber quem é essa garota direito, sabe que não posso mais ter problemas com a Clave – disse bagunçando meus cabelos.

-Acha que há uma história por trás disso? – perguntou.

-Sem dúvida – respondi – Acho que Tessa poderia me responder.

-E o que estamos esperando, vamos procurá-la e eu sei exatamente como encontrá-la – disse sorridente.

[...]

Eu e Izzy concordamos que ainda não deveríamos envolver o Alec. Por isso quando ligamos para o Magnus pedimos que ele não contasse ao nosso irmão e por sorte ele concordou. Ele nos deu o endereço da Tessa, por isso eu e Izzy estávamos no Brooklin.

Tessa morava em um prédio como uma mundana. Subimos até o quinto andar, assim que chegamos Izzy mandou eu ficar quieto porque ela realmente lidava melhor com as situações. Assim que batemos na porta uma garota nos atendeu.

 Ela tinha os cabelos longos e loiros como os meus, em um dourado sob humano. Seus olhos eram azuis, ela era como Isabelle era. Em seus lábios um sorriso de desdém estava estampado, ela tinha as runas tatuadas em sua pele como nós tínhamos.

-Pois não – perguntou ela fingindo educação – Em que posso ser útil?

-Queremos falar com a Tessa – disse Isabelle.

A garota nos olhou e bufou, fechou a porta em nossa cara. Eu e Isabelle nos olhamos incrédulos, até que aporta se abriu novamente revelando Tessa sorrindo. Ela ainda era como eu me lembrava e sempre seria, seus cabelos longos e cor de chocolate, ela com os lábios grossos que eram parte de um corpo esguio e magro.

-Jace, pensei que não fosse mais me visitar – disse Tessa – Vejo que trouxe sua irmã, Isabelle Lightwood certo?

Isabelle sorriu e concordou. Era quase impossível não amar Tessa, por isso Will gostava tanto dela. Eu escutei cada história, cada aventura que os dois passaram juntos. Hoje era vivia com o Jem, o parabatai do Will. Jem estava morrendo devido ao veneno de um demônio, não tinha cura e por isso ele tomava pó e fada e conseguia se manter vivo. Para não morrer ele desistiu de casar com a Tessa e escolheu virar um irmão do silencio, mas hoje ele havia renunciado e os irmãos concordaram em deixar ele voltar a ser um caçador.

-Podem entrar – disse ela gesticulando com as mãos.

Nós dois entramos em sua casa, era pequena e confortável

-Desculpem a minha filha – disse Tessa – Ela não é muito sociável, não é Myranda?

Eu nunca tinha visto Myranda, de certo porque nunca tinha vindo a casa da Tessa nós marcávamos lugares distante para conversarmos. Myranda apareceu com as mãos na cintura e sorriu.

-Claro mãe, eu é quem não gosto de pessoas – sorriu – Podem me chamar de Myra.

Antes que Tessa dissesse alguma coisa, Jem apareceu. Ele sorriu ao me ver, também achava que eu parecia muito com Will.

-Ora Jace, quanto tempo – disse cumprimentado a minha e a Isabelle – A que nós devemos essa ilustre visita?

-Nós precisamos da sua ajuda – disse Isabelle.

Tessa gesticulou para que nós nos sentássemos e assim o fizemos.

-Que tipo de ajuda?

-Você sabe de alguma Clarissa Wayland?

Tessa olhou para Jem de canto de olho, ambos olhavam para nós dois.

-Porque querem saber disso? – perguntou Jem.

-Jace a encontrou em um hospital psiquiátrico, se ela é uma caçadora de sombras não pode estar presa – informou Isabelle – E ele quer tirá-la de lá.

-Até meia hora atrás ela também queria – disse apontando para Isabelle.

-Eu não sei quem ela é Jace – disse Tessa – O único Wayland que eu conheci foi você, mas eu posso descobrir sobre a garota.

-Promete? – perguntei.

-Claro – sorriu.