Clarity escrita por Mafê


Capítulo 19
All of the Stars - Bônus


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo pequenininho de Danatalie pra vocês!



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“So I took your hand

And through all the streets I knew

Everything led back to you”

–Ed Sheeran, All Of The Stars

#throwback Natalie e Daniel, alguns meses depois da Caça às Pistas.

Ian e eu entramos no salão da grande mansão que papai havia alugado para comemorar o Natal com toda a família. Quando ele disse toda, eu não achei que seria a família completa, uma coisa praticamente impossível.

Mas pareciam estar todos lá.

Segurei minha bolsa um pouco mais forte e fui até o canto onde uma moça pendurava os casacos e guardava os pertences. Deixar minha Chanel é sempre algo difícil, mas superável. Segui em direção a papai, que conversava com uns executivos.

–Papai, você fez um ótimo trabalho!

–Sim, sim querida, obrigado. Agora, como eu ia dizendo, o petróleo que... – e virou para conversar com os outros homens.

Revirei os olhos só de pensar que não havia razão para achar que seria diferente depois de tudo que passamos. Depois dessa, mesmo o salão estando lotado, para mim parecia completamente vazio.

Peguei uma taça de champanhe e sentei em um sofá, vagando pelas memórias da caça às pistas, que não me deixavam dormir à noite, e muito menos viver de dia. Elas não saiam da minha cabeça.

–Perdidinha, hein, Kobra?

Olho para o lado e a pessoa que menos esperava ver, sentada aqui do meu lado, realmente está sentada. Dan parece diferente. Talvez... Limpo. Mas inda tem alguma coisa que está me irritando...

–Quando os homens sentam- disse me aproximando- Desabotoam o blazer.

–Boa noite pra você também. Acordou com o pé esquerdo hoje, foi?

Revirei os olhos e bebi um pouco do champanhe me afastei e virei para ele. “Costas eretas, pés virados contra a pessoa com quem se conversa cruzados no caso de saias ou vestidos, sorriso no rosto, Natalie, você sabe que eu não tenho tempo para isso”. Toda vez isso. Minha mãe e suas aulas de etiqueta. Mas um dia as marcas nas minhas costas vão sumir, sei disso.

–Não que seja para o seu bico, Daniel, mas foi meu pai. Não larga da droga dos executivos.

–Queria poder dizer o mesmo, mas bem... O meu está morto. SE eu fosse você, tentava aproveitar cada momento que tivesse com ele. Eu não tive muitos com o meu.

–Essa é a questão, idiota. Eu não tenho tempo com ele. Papai nunca está em casa, se está traz convidados. Mas eu não ligo. Raison avant l'émotion.

–Mas que diabo foi isso?

–Francês, Daniel. Para razão antes de emoção.

–Tudo bem, sabe-tudo. Só estava querendo ajudar. Mas se quiser continuar com esse seu coração de gelo, pelo menos eu tentei.

Ele se levantou e foi embora, me deixando mais uma vez com as memórias. Mas agora todas elas voltavam, até aquelas que eu me forçava a esquecer. As vezes que papai bateu em mamãe, as vezes que mamãe bateu em mim.

Fui obrigada a me retirar. Não é educado chorar em publico, Natalie. Fui até o toalete e tranquei por dentro. Deixei todas as lágrimas caírem e todas as lembranças voltarem. Todas as vezes que chorei antes de dormir, todas as vezes que ouvi meus pais discutirem.

Ouvi um barulho enquanto uma das portas das cabines abria. E quem sai de lá?

–Desculpe, o banheiro masculino estava cheio... Hey, você está chorando? O que aconteceu?

–Nada, Daniel. Você já pode ir saindo e contar pra todo mundo como você me viu chorar.

–Mas porque eu faria isso mesmo? Não vejo minhas vantagens

–Me humilhar.

Ele riu, olhando para o teto. Não rir normalmente, mas riu com vontade, como se realmente achasse engraçado.

–Vou fingir que nem escutei isso, Kabra. Porque eu iria querer te humilhar? Novamente não vejo vantagem nenhuma nisso.

Deitei minha cabeça em seu ombro e não consegui aguentar mais, chorei tudo que tinha para chorar, solucei todos os soluços possíveis. Quando tudo isso finalmente passou, estávamos no chão do banheiro, abraçados no maior silêncio.

–Obrigado. – sussurrei.

E acho que dormi ali mesmo, nos braços dele.


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