Avisos da Natureza escrita por Laura Mello xD


Capítulo 2
Amando tempestades




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   No entanto, ouve uma época de seca. Podia parecer uma época triste, com pouca água, plantas secando, pessoas sendo prejudicadas, aldeões passando fome e todo o sofrimento na vila da folha.


  Mas não para mim. Eu não era uma pessoa ruim e sem coração, nem fria e sem sentimentos o suficiente para não dar a mínima para toda a dor e devastação que estava acontecendo na realidade.

  Pelo menos, meu medo de chuvas podia ser banido de meus pensamentos por algum tempo, e podia andar despreocupada pelos locais, apesar do risco de ensolação.


  Com isso eu não me preocupava muito, levava uma sombrinha vermelho sangue, quase bordô encarapitada em meu braço direito, mas não a ultilizava muito, mesmo com o fato de pele clara ser sinal de beleza, pois minha pele não bronzeava. Pelo menos, não se não fosse artificialmente.


  Vi Ino indo embora, atravessando com pressa as esquinas por algum motivo, descordenada, despenteando todo seu cabelo loiro; coisa que ela odiava fazer. Ela ainda virou-se e deu um pequeno aceno, murmurando algo como “se eu não for rápido, meu cabelo será detruído”.


  O cabelo dela já estava bem ressecado, graças a baixa umidade no ar, então deixei-a seguir seu caminho. Coitada, com toda essa seca, ela andava tomando banhos de hidratante, e estava tendo algum tipo de loucura momentânea. Sempre achava que ia chover, e o tempo continuava igual.
No entanto, dessa vez, tive a confirmação da previsão da porca.

  Ela confirmou-se quando pingos gelados caíram sobre a minha face, molhando-a e me assustando quase que automaticamente. O trauma que eu tinha era algo terrível, era como se não pudesse controlar meu próprio corpo.

- Não, chuva não...- Murmurei, olhando para o céu, e vendo que uma enorme nuvem negra se projetava nesse e começava a escurecer aquela antes tão bela tarde.


  Comecei a correr, estava perto de uma lanchonete e rumei para lá. Não queria ficar sozinha, não queria ficar na chuva, não queria olhar para o céu. Estava de olhos fechados, desesperada, não conseguindo de modo algum mantê-los abertos. Esbarrei em algo como uma porta de vidro, e entrei lá, lágrimas já caindo em minha face novamente. Era demais para mim.


  Com toda aquela seca eu baixara a minha guarda a respeito dos fenômenos da natureza, e estava mais do que óbvio para mim que eu jamais deveria ter feito isso.

- Me ajudem por favor...- Sibilei baixíssimo, finalmente percebendo que eu estava sozinha no estabelecimento. Me senti sozinha no mundo.


  Eu poderia ter dado um grito agudo, num mundo shinobi ninguém iria estranhar. Mas não consegui fazer isso. Meu coração batia descompassado, os olhos ardiam com as tantas lágrimas para sair, minha visão nublava-se, a sala tremia com o rugido alto dos trovões, rajadas violentas que explodiam no céu. Agachei-me. Não conseguia mais ficar de pé. A sala tremia tanto, era tudo tão escuro, pior do que um tornado, pesadelo real, que parecia que eu estava vivendo o próprio apocalipse.


- Sakura...?- Ouvi uma voz familiar perante as portas de vidro esmigalhadas com a força do vento.

 

 Não respondi, não conseguia. Meu corpo estava febril e gelado, eu estava sentindo um choque térmico que chegava a doer. A mesma pessoa me abraçou por trás, me esquentando.


- Você está trêmula, com febre.- A voz soava séria, como se esperaria de Uchiha Sasuke. No entanto uma leve preocupação era visível, e o abraço foi o suficiente para que eu me aconchegasse em seus braços, com medo.

 

  Eu chorava, tanto de medo, de susto pelo seu ato, de trauma, como de vergonha. Ele não poderia me ver naquele estado. Era deplorável. Sempre escondi coisas assim dos outros, me achariam ridícula.

 

  Imaginem a imagem que eu passaria: “A menina de cabelos rosas, com uma testa do tamanho do mundo, pernas curtas,olhos verdes e medo de chuva.”
Simplesmente eu não conseguia contar nem a quem eu mais confiava. Hinata Hyuuga foi a única que soube, em exceção, por ser uma garota introvertida e pouco expressiva, que nem sequer pensaria em contar para alguém.


  Mas nada daquilo mudava o fato de que Sasuke me viu naquele estado, e mesmo assim, continuou me abraçando. Eu não estava entendendo mais nada, mas o meu medo era tão grande que sentia dores que pareciam que estavam me partindo ao meio toda vez que via um clarão no céu, e, como se não tivesse mais controle do meu próprio corpo, ficava tensa, me agarrava a Sasuke, esfregava minha cabeça em seu peito acolhedor, derramando lágrimas, fechando os olhos, falando que iria morrer baixinho, me desesperando. Eu parecia uma ovelhinha indefesa.


  E o mais estranho nisso tudo foi que ele me envolvia com os braços de uma forma tão acolhedora que passava segurança, me deixando um pouco menos tensa do que estava antes.

Eu sabia porque ele não tinha medo: diferente de mim, a tragédia em seu passado não o fez ficar com medo de algo, mas sim perder o medo mais comum: o medo da morte. Ele viu tantas pessoas morrerem em sua frente, que para ele a linha entre a vida e a morte não existia mais: morrer era normal, todos morriam um dia. Não tendo medo da morte, ele protegia com sua vida aqueles que não queria que morressem, porque eram importantes para ele, de alguma maneira.


Para mim, restava saber a maneira que era importante para ele.

 

  Sasuke viu toda aquela debilidade, os músculos tensos o bastante para impedirem-me de levantar sozinha, então deslizou meu corpo delicadamente sobre os seus braços, ainda no chão, como se não soubesse exatamente o que estava fazendo.

Me agarrei ainda mais ao corpo dele com isso, sentindo que estava molhado pela chuva que pegara antes de me encontrar. Ele se levantou, comigo em seu colo.


- Irei levá-la até em casa.- Sibilou como um gato, logo achando a minha sombrinha, e abrindo-a para mim- Sakura, isso serve para dias de chuva.
- E-eu posso anda-ar...- Gaguejei baixo, me controlando para não chorar novamente.

 

  Achei injusto ele, quieto e distante como sempre, e eu naquela situação. Queria me mostrar forte, mas eu realmente tinha muito medo. Assim que saímos, ainda agarrada a ele, andando passo a passo com grande dificuldade, começando a ver a chuva forte e devastadora, pior do que eu imaginara de dentro, senti uma pressão na boca do estômago, um enorme medo indefinido e uma melancolia profunda. Recomecei a chorar.


  Ele me olhou novamente, penalizado. Acho que entendia a minha situação, mas não sabia o que fazer. Me consolou passando a outra mão pelos meus cabelos, acariciando meu rosto. Eu sabia que era o máximo que eu poderia conseguir dele, mas não conseguia parar de chorar.
Meu rosto ficara corado pelas lágrimas e pela febre, e ele também tentava me consolar com palavras, como “já estamos chegando”, “tudo bem, Sakura, está tudo bem” e “acalme-se”.


- É somente uma chuva, Sakura...- Ele baixou os olhos- Só isso, água em sua forma líquida...
- Sasuke-kun, a chuva é algum tipo de aviso?- Perguntei, trêmula. Ele hesitou um pouco, mas logo respondeu:

- Seu medo é irreal... A chuva nunca teve nenhum significado prejudicial, pelo menos não escrito... Nos sonhos, chuva fina o significado é o sucesso lento, início de algo, tempestades significam o lucro e fim de seus problemas. Meus pais morreram em um dia comum, nenhum tipo de alteração no tempo, era noite. Por isso não acredito sobre os “avisos da natureza”.

-... Me desculpe...- Eu murmurei, realmente envergonhada- ... Não queria fazê-lo perder seu tempo... Sei que sou medrosa...
- Você nunca me fez perder meu tempo, Sakura.- Ele se virou para mim, lentamente- Acabou de me ensinar a enfrentar meus medos.- Aquelas palavras me surpreenderam.


   Nesse momento, meu mundo parou. Ele simplesmente puxou-me para perto e encostou seus lábios levemente nos meus, fazendo uma pequena pressão, esperando para ver se poderia avançar. Assim que dei um sinal de que poderia, timidamente colocando as mãos em suas costas mantendo-o próximo, ele aprofundou o beijo, e parecia conhecer o caminho, as minhas lágrimas e as gotas de chuva escorrendo diretamente para nossos lábios, geladas, a temperatura delas mesclando-se com a temperatura de nosso beijo, que, ouso dizer, era alta.

   O cabelo dele abaixara pelo mau jeito que agora estava pegando a sombrinha, a água escorrendo para meu corpo também, mas ele novamente me envolvendo, como que querendo me proteger das gotas de chuva.

Finalmente entendi o que ele queria dizer. Ele tinha medo da rejeição, como qualquer garoto, mas eu nunca tomaria uma atitude se não fosse por ele tomar a sua primeiro, pois eu possuia o mesmo medo que ele. Sasuke, antes de nosso beijo, me parecia o horizonte; eu podia vê-lo e sentir o quanto me fazia bem, mas nunca chegar até ele.


   Quando paramos, um pouco constrangida, mirei o céu. Meu medo havia sumido no momento anterior, onde tudo o que importava éramos nós dois. A chuva, a seca,o trauma, meu pai, tudo se perdera no tempo. Só importava ele, acariciando minha cintura e me beijando, tão carinhosamente. Seria pena de mim?


- Sasuke-kun...- Chamei, incerta, mirando o chão.

 

Ele fitava o céu, agora completamente azul, com uma chuva fina caindo entre a vila de Konoha. Mudara completamente, sem que eu percebesse.

- O que significam o sol e a chuva em conjunto?- Perguntei novamente, passando a fitar o céu como ele.

 

Aquele tempo, um pouco raro por ali, com certeza melhoraria as condições da população.


- Sol e chuva significam triunfo... Um grande triunfo em nossa vida.

 

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