Mantendo O Equilíbrio - Terceira Temporada escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 17
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Acabei não viajando, mas passei dias sem postar. Antes de qualquer coisa, indico essa matéria aqui que achei mto fofa, que combina com o começo que foi escrever Mantendo O Equilíbrio: http://br.mulher.yahoo.com/marido-acorda-de-cirurgia-com-amn%C3%A9sia-e-fica-radiante-ao-descobrir-beleza-da-mulher-212314712.html É sobre um cara que faz uma cirurgia, acorda grogue e sofre um pouco de amnésia, não reconhece a esposa, mas qnd a vê, acha ela a mulher mais linda do mundo e se espanta qnd 'descobre' que são casados HAHAHAHA

Quanto ao capítulo, bom... digamos que tá meio down, pq dpois daquela que o Murilo aprontou, foi no que deu. Vamo ver que plano maluco é esse da vez da Milena. Enjoy.



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Eis a outra coisa que se deve considerar sobre sonhos ou efeitos deles: é que quando eles são ruins, o melhor a se fazer é levantar e espairecer, pois senão fica preso naquele ambiente inóspito onírico duvidoso. Um professor costumava me dizer isso, que ele ia à cozinha, bebia água, passava a mão molhada no rosto, cantarolava uma música qualquer, pensava em qualquer coisa menos no sonho e depois de uns minutos em que aquela letargia do espanto tivesse ido embora, era hora de voltar à cama. Era esse meu intento de fazer. Não pensar sobre, dar um tempo, deixar a poeira baixar... para que seja mais que sensata no que quer que eu venha a decidir mais tarde. Era esse, quer dizer, é esse meu plano. Por isso implica em antecipar a viagem.

– Malas?

Os dois perguntam, atrás de mim. É, essa eu tenho que admitir que uma pausa dramática eu esperei. Já pensei muito a respeito e me parece uma boa. Viajar, digo. Flávia tanto opinou como já deve estar terminando as suas, pois começamos na segunda à noite mesmo. Serviu para me distrair bastante do que eu teria que enfrentar em casa, que era justamente o que ainda estava vivendo.

Já no corredor antes de entrar no meu quarto, eu paro só para esclarecer antes de finalizar a conversa. Alguém tinha que findar, pois não tinha chances de cometer homicídio, tal qual fosse meu ódio sobre toda a situação, afinal, são dois contra uma. Na verdade, nada melhor que se portar de indiferente a eles se nada mais posso fazer para expressar minha raiva... Isso os deixaria mais acuados do que uma simples explosão.

– Isso mesmo, eu vou... eu vou viajar amanhã. Quer dizer, nós vamos, já que é você, Murilo, quem vai dirigir. Esteja pronto às oito da manhã, temos que sair cedo.

– Você diz isso pra mim, assim, do nada, e espera que eu aceite?

Ele caminha da sala para o corredor em passos cautelosos e não traz uma boa expressão à face. Entrecerra os olhos, desacreditado pela minha audácia de impor uma ordem. Ok, até parece que eu que cometi o crime aqui. Fala sério!

Bom, menosprezá-lo era o máximo que eu podia fazer. Isso ou eu de fato avançava nele e eu não estava a fim de me rebaixar, apesar de relutar em manter essa postura passível.

– Se quiser ir só na sexta, vai. Eu posso pegar uma van ou qualquer coisa. Nem que eu vá de carroça, eu vou amanhã e pronto. Está decidido.

Respondo, altiva, controlando a voz. O nervosismo corre por mim desde o momento de colocar a chave de casa no trinco da casa para abrir, então não seria agora que iria embora. Controlo-me mesmo, pois qualquer coisa pode ser um indício de fraqueza e isso é dar passagem para o “inimigo”.

– Quem disse? Eu que dou as ordens aqui. Eu sou seu tutor.

– Eu tenho mais de 20, se você não lembra. Você não manda em mim. E antes que apele, a casa também é minha e não precisa se preocupar, se amanhã não estarei mais aqui.

– V-você não tem coragem.

Murilo vacila meneando a cabeça de leve. Era hora de mostrar que sou mais forte do que ele pensa e que sim, sei muito bem tomar minhas decisões. E principalmente, que não preciso de proteção, muito menos a dele. Posso me virar.

– Experimenta.

Vinícius por todo esse tempo evitou se manifestar. Ou se tentou, não lhe dei a devida atenção, porque tudo isso me deixa cega. A minha maior vontade de chegar ao quarto era de apenas me atirar à cama e deixar as horas passarem sem eu as sentir, mesmo quando eu deveria estar fazendo as malas e me preparando para o que viria no dia seguinte. Nem isso eu consigo porque Vini intervém e pede um tempo para Murilo, algo que eles cochicham mais um pouco e de fim, meu irmão se afasta, volta para sala enquanto meu namor..., enquanto Vini acaba por adentrar meu quarto como se tivesse sido convidado.

Olho para ele sem nem saber por onde começar. Não era nem para ele estar aqui. Tudo nele é tão... Vinícius. Queria poder me reconfortar nele, abraçá-lo e não mais largá-lo. Só que toda essa chateação tem também a ver com ele, que entrou de última no trem e não sabe de onde este vinha, para onde vai ou quem estava a levar.

Logo que ele começa a falar, andando pelo espaço do meu quarto, olhando e tocando em pequenos detalhes, sei que uma hora ele vai parar para concluir seu ponto. Assim mantenho-me de cabeça abaixada para não ver sua expressão, que dolorida como se apresentou na sala, não era essa a última que quero ver dele. Não quero ter raiva dele, qualquer um, menos ele, que deve estar mais perdido que estrangeiro desembarcando no desconhecido.

Se bem que ele era um.

Sento-me na beira de minha cama e espero.

– Sabia que me assustou com o que aconteceu ontem?

– S-sabia.

– Sabia que eu fiquei tão perdido que de fato eu quase fui atropelado depois de tanto sair pelo bairro te procurando?

Foi? Naquela hora não doeu, porque agora dói?

– Err...

– Sabia que eu quase não consegui dormir, preocupado com você? Com o que estava sentindo, onde estava, com o que ia fazer... eu só fui trabalhar porque o Murilo tinha dito que você tinha ficado na casa da Flávia mesmo. E só fui para o escritório depois que passei por lá. Fiquei por uns minutos só observando para ver se aparecia. Você desligou o celular.

Ele estava fazendo a água voltar aos meus olhos, que se enchiam devagar, assim como o nariz voltava a entupir. Eu evito fungar, tinha de me manter indiferente, por mais que doesse. Por um fio de voz corto seu monólogo.

– Conclui, Vini.

Vejo quando ele para de frente a minha estante de livros, estava acompanhando seus sapatos com o olhar ainda baixo. Ouço sua respiração baixa enquanto vou subindo a vista por suas costas e percebo que está tenso. Suas mãos que antes passavam por minhas coisas descem para os bolsos da calça. Devia estar pensando e escolhendo bem as palavras antes de conseguir concretizá-las. Quando as faz, o tom contido é relativamente calmo e confessional.

– Ele me pediu segredo, Mi. Eu, de verdade, tentei impedir. E tentei fazê-lo contar. Porque como uma vez você me disse, e até então eu nunca tinha entendido o porquê, eu não poderia fazê-lo, se não Murilo mesmo. Da mesma forma que você não traiu minha mãe, eu não traí a confiança do seu irmão. Eu não podia.

– Apesar de ter sempre defendido Djane, teve muitas das coisas que ela fez que eu não concordei. Eu fiz o que pude para que as coisas fossem encontrando os bons caminhos e a verdade aparecesse. Você pode ter entendido isso só agora, no entanto, só o ajudou a esconder. Estava me sondando naquele dia, não era? Queria saber da fonte.

Ele vira-se para mim e, assumindo sua culpa com os ombros que se levantam para baixar-se novamente, ele tenta se explicar. Apesar de estar chateada com ele, não é nada como a real razão da minha indignação. Por isso é tão ruim manter-me impassível. Na minha cabeça o jeito mais fácil de lidar com isso é dar a entender que estava bem aborrecida com o que ele fez, que explicaria a razão de me manter afastada de tudo e todos. Logo, com a voz um pouco carregada de ira, eu retomo minha vez antes de dar a ele uma entrada:

– Tá feliz agora? Satisfeito?

– Não, não até que você fale algo.

Se eu começar a falar, é capaz de eu soltar mais do que devia e meu plano de preservação ir por água abaixo. Não precisava de mais um batendo de frente comigo, questionando-me ou tentando resolver. Se ele pudesse só... gritar e sair batendo a porta... Inacreditavelmente isso me ajudaria. A nós dois na verdade. Porque assim ele me facilitaria a ser apenas fria.

Só que sei que ele não faria isso, não neste estado em que nos encontramos. E isso me obriga a partir seu coração para me proteger... Lamento fazendo linhas fantasiosas na colcha de minha cama ao passar os dedos por ela. Porque focalizar no Vini poderia me quebrar no plano por completo só com esse mirar que me estudava.

– Vocês fizeram uma coisa ruim. Está aí esse “algo”.

– Esconder de você? Era para te proteger do que poderia mais te machucar.

Caramba, eles num trocam de argumento não? Poxa, canso de ter as mesmas brigas. Vamos mudar um pouquinho, pelo menos. Tô a ponto de lançar um ultimato, quem falar proteção mais uma vez para argumentar, ignoro de vez. Pois se eu quiser ouvir alguma coisa repetida, que seja pelo menos uma coisa boa, não isso que só nos estraga. E como sempre, revido.

– Não apenas esconder, mas avançar no Eric. Sabendo que era errado, os dois mantiveram o fato. Sim, vocês aparecem e me machucam primeiro, o que é muito bonito, porque o Eric não é culpado de nada. Proteção nada essa de vocês. Recurso furado.

– Ah, não me venha também defender o cara, ele pode ter feito o que fez anos atrás, mas se ele te machucou mesmo, eu teria feito algo também.

– Só paro de defendê-lo quando pararem de acusá-lo de algo que não fez. Mas se é isso que o Murilo te convenceu, vai, acredita nele, pensa que sabe e que resolveu tudo... Não dá pra dizer outra coisa, acredite no que quiser. Quer dizer, em quem quiser.

– O que você queria que eu fizesse? Contado, assim, na lata? Ele também não me disse muito. Eu precisava saber com o que eu estava lidando antes de fazer algo precipitado. E eu não queria que você sofresse, Mi. Além do mais, tem muita coisa de que tenho dúvida e eu não sei no que acreditar, se nada me dizem.

– Acredite, não queira saber.

Ele se aproxima da cama e sinto pela visão periférica que está a me observar. Tinha que ter cuidado com qualquer coisa que ele poderia aceitar como pista. Só que suas palavras... suas palavras tem mais efeito em mim do que eu poderia imaginar e é isso que me faz cair mais um pouco. Como que eu poderia afastá-lo dessa forma? Meu Deus, estava eu sendo criminosa agora. Alguém me dá um tiro antes de eu mesma dar um tiro nele?

– Mas eu quero, Milena. E eu não quero que você vá amanhã, quero que fique. Vamos resolver isso, juntos. Me deixa te ajudar.

– Não há nada para ser feito, Vini.

– Tem sim. Você alegou que tem provas, falou dessa tal de Denise. Existe mais coisa, eu sinto. Você não estaria decepcionada por menos.

– E-eu preciso de um tempo.

Engole essa desculpa, Vini, por favor! Engole e não faz mais perguntas.

Por que você não pode ser tapado como Murilo que cai fácil na mentira? Que acredita no que quer acreditar? Eu não quero ter que apelar mais... e me dói saber que eu o farei se for necessário.

– O que você quer dizer? Você quer se afastar de mim? Só quero teu bem.

– O último que me disse isso fez o que fez e te levou junto. Fica difícil ouvir vocês quando ficam fazendo essas besteiras. Ou mesmo confiar. E eu... e-eu não quero mais continuar essa conversa que a nada está levando...

– Mi, não faz assim... Eu te amo.

Morri, morri por dentro. Ele estava sendo baixo e sincero com esse argumento. E como era forte. Tanto quanto sua expressão que se chega mais próxima de mim, sentando na beirada da cama ao meu lado e passa suas mãos por meu rosto, focalizando olhos nos olhos, boca na... boca. Estava tão próximo que sinto sua respiração quente e em tormento expirar pelo nariz e, envolvida na sua atitude, sinto quando roça a boca na minha para um beijo que pudesse me convencer. Fecho os olhos cedendo e dando-lhe uma chance de um segundo, da qual no instante seguinte desisto.

Todos os arrepios que se alastravam por meu corpo tinham significações diferentes agora, e não representavam boa coisa. Enquanto não alcanço sua boca com a mão em sinal de impedimento, ele estava crente de que eu estava concedendo e ele conseguindo.

Só teria uma coisa que eu poderia usar para afastá-lo. Meu último recurso, minha última bala. Tive que desviar o olhar, claramente, abaixando-o para o colchão que nos amparava, crente que a mágoa pudesse me camuflar um pouco. E gaguejar não está nos meus planejamentos... Merda

– Bom, e-eu nã-ão estou te amando muito ago-ora. Eu preciso de um tempo... uma pausa. E esse feriado... me parece uma boa.

Me afasto minimamente dele e sento-me mais reta na cama. Suas mãos deslizam de mim quando eu as puxo e a visão de sua face torturada dificulta tanto minha decisão. Se eu pudesse lhe explicar, se eu pudesse impedir, se eu pudesse... se.

– Te dou o tempo aqui, não vai embora assim. Como você pode decidir as coisas assim sem nos comunicar?

Levanto-me com a mão na têmpora que poderia mostrar alguma dramatização, quando na verdade eu me condeno pela minha insanidade do que estou a fazer. Ele me observa esperando uma resposta. Ando para longe da cama, onde ele estava minutos antes, de frente a minha estante de livros. Às minhas costas, deixo-o afastado.

Eu sei que estou fazendo merda e reprovando os dois pelo mesmo, ou quase mesmo. O ódio que bate é de mim mesma. Tinha tempo para desfazer tudo. Mas não... estou longe demais para isso! Não, se controla, Milena. Você consegue. Chora e lamenta depois, dá com a cara na parede se preciso. Respira, controla a voz, fala. Fala!

– E-eu avisei ainda pouco... Pior seria quando vocês encontrassem meu guarda-roupa vazio.

Ouço quando se levanta. Passos que querem diminuir nossas distâncias, que querem me fazer desistir. Abraço meu corpo próprio em resguardo para fechar-me dele, encarando qualquer coisa, como a capa dura do Igor Zanoni sobre Economia Empresarial que de nada me interessava agora, mas me forço.

Ainda assim Vini consegue fazer um furo no muro que ergui para ele. Como sua seriedade me estapeia, como sua entonação sentida me golpeia no estômago... Imagina o que seria sua expressão facial magoada frente a frente comigo. Ele queria era terminar de me matar, tô sentindo.

– Isso é sério, Milena. Não somos dois bonecos sem emoção. Você está nos ferindo de propósito para compensar sua raiva? Cadê a Milena que eu conheci, firme e forte, que enfrenta o que vem na frente, aberta à discussão?

E agora matou mesmo, porque nada ele tinha de requerer o que me exige. Não quando eles estavam sutilmente resgatando meu antigo eu por essa vingancinha sem sentido. O corte se segue é meio instintivo. Estando na merda, que diferença faria?

Olha eu querendo me convencer...

– Ela está aqui e precisa de uma pausa, ok? É a versão evoluída da Milena de três, quatro anos atrás. E esta você não conheceu. Eu preciso de equilíbrio, Vini... se eu consegui da vez passada, consigo uma vez mais.

A determinação que tece de mim no modo automático vacila ao sentir sua proximidade às minhas costas. Vejo o seu sapato bem ao lado da minha sapatilha e luto para não olhar para trás por ser arriscado demais.

A expectativa do seu toque chega ao auge no meu estômago, dando-me uma esperança que trato de esquecer antes que me estrague mais os planos. E então ele me toca, pelos ombros. Sinto o encostar de sua cabeça num deles, quase como um abraço vindo por trás, desajeitado. Estava me testando para ver se o rejeitava? E esse meu coração lindo, como que bate tão fortemente quando tudo está em ruínas por dentro? Como consegue essa proeza?

– É só isso que você vai me dizer?

Sinto por fazê-lo crer que estava o rejeitando mesmo. A voz baixa, dolorida e desistente dele queria me acuar. Não me mexo, não o toco. Respondo, apenas, insensível. Pura fachada.

– Feliz Natal.


~;~


Dobrar roupas para colocar na mala estava sendo uma atividade automática, porque minha mente estava longe demais para decidir se levava mais ou menos coisas, elas só estavam sendo postas na bagagem que deixei aberta no centro do chão de meu quarto. Me pergunto várias vezes sobre o que estou fazendo e se estou certa do que me prometi. Tinha começado isso, iria terminar, né? NÉ?

Não dá pra voltar atrás. Mesmo que se o fizesse... nam, o que eu falaria?

Nunca pensei também que chegaria a esse ponto.

Até mesmo de pensar em postar o vídeo do Murilo, aquele que Diogo conseguiu pra mim. Mas se ele não tá muito de boa comigo, iria ficar maluco quando se soubesse que seu vídeo estaria no youtube. Apesar de que isso poderia ser eu pagando minha promessa, por ele ter duvidado e quebrado nosso acordo, eu é que não quis mais um motivo para briga. Tentar pagar na mesma moeda não me satisfaria... O que eu realmente queria era tirar toda essa situação da reta.

Mas mesmo que se eu fizesse isso, de postar o vídeo, claro que nossas identidades estariam a salvo. Era visível tanto meu rosto quanto o dele no vídeo original, e se eu o expusesse, estaria me expondo também. Desse modo, eu até falei com o cara da recepção do meu curso, o Luciano, que descobri por Djane ser um bom manipulador de imagens. Se o cara é atrapalhado, era uma fachada e das boas, pois quando ele fez esse trabalhinho “sujo”, ele o fez bem feito.

Paguei bem e, por me conhecer, me deu até desconto. Ele deu um jeito de editar as imagens silenciosas do vídeo de segurança de forma que os rostos ficassem meio desconfigurados, como são normalmente as imagens de testemunhas ou partes de corpo que não podem ser reproduzidas à luz de qualquer telespectador.

Não haveria esse que pudesse nos reconhecer se não souber a procedência e tampouco poderiam reconhecer o hospital. Havia uma terceira pessoa no vídeo, a Mônica, enfermeira, que só saberia se visse. As chances de ela encontrar isso, reconhecer e denunciar, seriam mínimas. Era um risco que eu poderia correr só para provar meu ponto. Sou determinada quanto a isso, mas nem tanto a ponto de realmente publicar esse vídeo.

Deixei o notebook ligado numa playlist da minha biblioteca musical e dava preferência a músicas agitadas e barulhentas, pois sabia que o mínimo momento que eu parasse, a letargia da tristeza ia estacionar na minha porta e, uma vez lá, seria quase impossível não deixar entrar. Me manter em atividade, isso, alheia. O que toca eu não me atenho, nem às letras. Não estava muito no humor para cantar ou me deixar levar por melodias, apesar de ora e outra cantarolar sem muito perceber.

Suspiro. Eu sabia que uma hora eu ia parar... Penso até em mudar de toque de celular, a voz calma do Ryan pode não ser uma boa nesses dias. Estava na hora de mudar mesmo e tirar o toque personalizado do Murilo também. Pensaria em algo impessoal e trocaria. Até lá, o Ryan continua.

Ainda não tinha noção de quantos dias seria essa viagem, de duas semanas ou mais. Lá eu resolveria, eu penso. Mamãe vai ficar no meu pé para eu ficar mais e mais, quem sabe dessa vez eu não fique mais um pouco mesmo? Ela ficou tão feliz quando eu disse que consegui adiantar a viagem para a amanhã, tanto que queria sair falando para todo mundo. Ficou com ciúmes quando eu disse que foi por causa da minha avó, de que eu quero estar presente na homenagem dela que receberá no jornal, por isso deveria manter segredo, afinal, seria uma surpresa nossa chegada.

Eu sei, eu sei, tenho que parar de ficar usando minha avó como desculpa para tudo e todos. Se ela soubesse, até de mim esconderia os biscoitos que o vovô tenta surrupiar, puxaria minha orelha e, se duvidasse, ia me deixar no canto para “pensar sobre o que ando fazendo ultimamente”. Moderna ela, não?

Fecho a primeira mala só com roupas e acessórios. Viajar quer dizer sempre levar muitas opções para os “casos” que podem vir a exigir roupas de tudo um pouco. Se bolsa de mulher significa preparação, ainda não viram o que é mala de mulher. Podemos não usar metade do que oferece, mas certamente 75% das peças foram cogitadas a serem usadas ou combinadas. Planejar é uma coisa, adivinhar é outra, então já que não somos videntes, o máximo que conseguimos é ser idealizadoras.

Puxo a segunda mala que ficava em cima do meu guarda-roupa. Duas malas são o bastante. Separo meus calçados, os que valem a pena levar e que têm mais chances de serem usados. Produtos de higiene pessoal, maquiagens, remédios e mais umas tranqueiras como fiações e carregadores, de notebook e celular.

Perguntando-me se não estou esquecendo algo, dou uma olhada na estante, na minha mesinha de estudos, no banheiro, nas gavetas e, de fim, me deparo com aquele objeto mínimo que prende minha atenção e faz o resto do quarto sumir. Balançada com os últimos acontecimentos, começo a titubear sobre a posse desse... “material”. Pra alguma coisa esse “bônus” tem de me servir. Levar seria uma opção ou mesmo garantia para qualquer eventual acontecimento que fosse desencadeado ainda por esse conflito que anda me rondando. Atuaria como prova imediata para qualquer acesso de loucura que podia ter.

Só que também estaria vulnerável.

Por muito tempo o diário ficou por aqui, sem nem se mexer. Deslocá-lo assim... pode ser arriscado. Poderia estar facilitando acesso a quem não deve. Mas quem desconfiaria de um caderninho da Hello Kitty? Parece ele muito qualquer para as informações que carrega. Quem diria que psicopatas são afeiçoados a coisas simples e às vezes bobas? É isso que muito deles devem querer que pensemos.

Alcanço e o observo em minhas mãos. Estive tão perto da verdade hoje que os arrepios ainda não me deixaram. Deixei escapar informações cruciais. Só que a mentira envolve todos os que estão próximos a mim que eles nem percebem. Talvez nunca tenha um fim... e o fim seria algo que, masoquista eu sei, eu não desejo, justamente por ser informação demais sobre minha vida.

Envolvo o caderninho num envelope e coloco-o ao lado de minha agenda e coisas mais que estava levando. Fecho a segunda mala e saio puxando as duas, de rodinha, para a sala. O que eu iria utilizar no outro dia estava separado na minha mesinha e só faltava concluir a bolsa de mão, que vai ficar ao meu lado no carro. Já havia falado com dona Bia sobre seus serviços, ela iria aparecer no dia seguinte pela tarde só para terminar umas coisas que ela disse que tinha para fazer.

Deixo um bilhete a ela no imã da geladeira com umas anotações a mais e, achando que com essas tribulações não teria fome, percebo que estou na verdade. Não tinha jantar, teria que sair para buscar. Ou mesmo por lá ficar. Pareceu uma boa ideia quando Murilo aparece na sala para pegar a fiação de seus materiais. Tinha tirado sua roupa de trabalho, ficando de camiseta e calça moletom. Aparentava estar disperso, o que penso ser estranho, pois da vez passada o que ele mais fazia era tentar me fazer falar as coisas quando tinha oportunidade. Bom, deve ter crescido quanto a isso, de que não dá pra simplesmente arrancar a informação da pessoa à força.

Finjo estar procurando algo numa gaveta perto do fogão e o observo de visão periférica, bem atenta a qualquer movimento seu. Tinha que ver como estava se comportando a tudo isso para saber lidar. Percebo que depois de pegar e ajeitar os fios do seu notebook, desenrolando-os devagar, ele parou em frente às minhas malas por uns três segundos e, silencioso, voltou-se para a mesa da sala, onde estava seu celular carregando.

Esse “sem um pio” dele estava me incomodando. Só posso estar doida de pedra mesmo por achar isso, se eu devia era comemorar que não está no meu pé. Mas por que eu tô sentindo essa diferença? Ou diria indiferença?

Quê que eu tô fazendo? Estou mesmo considerando o fato de ele gritar comigo? Pelo jeito... sim. Porque se ele insistisse em gritar, eu também poderia e chutaria tudo para fora de mim. Tanto dói o fato de ele não acreditar em mim quanto o de ficar separada dele. Por que isso tinha que recomeçar? Quero meu irmãozão de volta.

Eu estava quebrando minha promessa, de que não o faria passar por isso de novo, isso de nós separados, com raiva um do outro, dessa frieza. A diferença de lá para cá são muitas. Crescemos, apesar de não ter perdido nossas essências. E o amo, como amo esse meu irmão. Quero poder falar de igual pra igual, ser aceita e ter a dose certa de amor e proteção. Peço demais?

Vontade louca me dá de correr até ele e desistir disso tudo. E essa barreira de raiva, decepção e ressentimento por nossas tribulações e implicações não deixa! Ele não tinha outra hora para fazer besteira não? Não dava para agendar para ano que vem? Feriado de Natal é época sugestiva de perdão, o que me coloca numa má posição, pior que a que ele mencionou sobre a relação de amizade com Vini e fraternidade comigo.

Acho que não tem jeito, senão lamentar, frustrada.


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Notas finais do capítulo

E aí, alguém sentindo umas pontadas no coração pelo Vini ou Murilo?



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