Lilin sorriu lembrando-se dos detalhes da noite anterior, apesar de humano ele tinha suas qualidades na cama, deslizou as mãos pelos cabelos em meio a pensamentos quando sentiu a presença de outro ser ali.

– Bast – disse a ruiva sentindo as mãos na perna dela.

– Minha doce succubus o que te faz sorrir tanto assim? – perguntou beijando o pescoço.

– O desempenho do meu porquinho noite passada. – comentou fazendo-o parar com o movimento – Ótimo desempenho por assim dizer, consegui me alimentar incrivelmente bem, talvez um pequeno ser esteja já dentro de mim.

– Lilin. – disse afastando-se, de pé caminhou de um lado para o outro – É difícil escutar isso.

– Sentimentos nós não devemos ter. – repreendeu levantando-se também – Se por acaso sua alma está voltando?

– Não!

– Bast. – chamou caminhando em sua direção – Sabe que isso é impossível, tudo se esgotou quando ofereceram nossas almas para Lúcifer, sabe bem disso a ganância fez com que aceitasse a proposta, assim como Lilith aceitou e ofereceu a minha, demônios não sentem, não amam.

– Você não entende. – afirmou bravo.

– Entendo, desejo que minha alma volte, mas é impossível. – rugiu a ruiva – Não deixe que ninguém descubra isso, vão te jogar novamente para o inferno!

– Não se preocupe, só não quero…

– Lilin. – chamou Thot interrompendo os dois – O que achou da reunião?

– Desnecessária. – afirmou ainda fria – Meu adorado pai acha que não sei governar meus demônios, posso muito bem pegar o lugar de Lilith ao lado de Lúcifer.

– Você é pior do que eles. – disse Bast virando o rosto.

– Eu não sou humana. – alfinetou brava – Preciso ir, vocês já me foram suficientemente cansativos hoje, tenho agora um exercito para construir e governar.

Dando-lhes as costas a ruiva jogou o cabelo fingindo que nada tinha acontecido, tratar os outros como deveriam era o que precisava mostrar, depois conversaria com Bast em lugar reservado, se demônios podiam voltar a serem deuses ela precisava saber como.

####

Bast se surpreendeu ao ver a ruiva em sua cama completamente nua, pela manha encontrara com uma fria Lilin e agora estava ela ali pronta para ele, receptiva e sorridente.

– Tire suas roupas, quero ter certeza que isso não será descoberto pelos outros, alias se perguntarem terão respostas plausíveis nos encontrando em certos estados. – comentou enrolando os cabelos.

– O que quer?

– Além de sexo? – sorriu sentando-se – Saber como sentiu, porque sentiu e como.

– Amar você, é isso? Não sei como aconteceu Lilin, só aconteceu, parece insano um demônio amar, mas estou sentindo tudo voltar. – disse colocando as mãos na cabeça – Vieram lembranças embaralhadas nesses últimos dias, lembranças que não são minhas.

– O que você quer dizer com isso? Que as lembranças eram da casca?

– Procurei as fotos da casca, reconheci as imagens de algumas das lembranças. Há algo errado.

– Você esta querendo dizer que as cascas estão de alguma forma ainda vivas? Que nós possuímos os corpos e estas almas ainda estão aqui? – apontou para si tentando entender – Mas se as lembranças são deles, os sentimentos também são, você não está recuperando sua alma, eles estão recuperando a deles.

– É meio impossível isso. – sussurrou sentando-se ao seu lado – Eu sinto amor por você, a casca não amaria um demônio, nem mesmo ele sendo um succubu.

– Você esta delirando, bebendo muito sangue humano. – exclamou estapeando-o para acordar – Não há possibilidade de termos nossas almas de volta, o que esta aparecendo é que a casca esta tentando confundir e expulsar você.

– Não pode pensar na possibilidade de voltarmos a ser o que éramos antes?

– Isso me parece muito confuso e impossível. – acrescentou.

– Andei pensando muito antes de entrar em contato contigo, tenho hipóteses.

– Digam quais são.

– Você disse uma delas, a alma desta casca esteja tentando me expulsar dela, assim eu voltaria ao inferno e o humano volta a ser humano. – disse andando de um lado para o outro – Outra seria e se nós tivéssemos possuídos almas puras, corpos bons não ruins e isso afete de alguma forma o pacto.

– Você quer dizer que se possuímos cascas boas voltamos a ser bons? – questionou caindo na risada logo depois – Impossível!

– Mas pense, nunca acreditamos no bom literalmente, mas se por acaso entramos em algo bom…

– Algo angelical? Você não esta supondo que nós possuímos nephilins? Está?

– Terceira hipótese. – afirmou – Filhos de anjos podem combater demônios, se eles não são meros humanos.

– Se não são humanos deveriam der barrado nossa entrada nas suas cascas.

– Eles são meio humanos, filhos de anjos, não são totalmente angelicais, se eles estão tentando fazer isso agora?

– Mas a segunda hipótese esta ai também, se eles são angelicais podem nos tornar humanos ou deuses novamente?

– Ou anjos?

– Fala sério, não há essa possibilidade para nós, nunca teríamos. – debochou Lilin – E Deus não existe!

– Se nós existimos por que ele também não pode?

– Você esta parecendo meu porquinho. – comentou ajoelhando-se na frente dele – Se você possuiu algo angelical deve ter alguma marca, algo que mostre que é isso.

– Se eu for, você também pode ser.

– Acho difícil, não sinto nada Bast, nada há dentro de mim, aqui foi uma casca comum, normal. – sorriu afetada.

– Ache alguma marca, algo que comprove o que estou dizendo. – pediu de frente pra ela.

– Bast...

– Faça.

Ela navegou em sua alma, absorveu a energia que tinha dentro de si, aquela energia não era sexual, não ao todo, mas havia algo ali, o beijo se tornou uma ligação, uma junção dos dois que nunca antes tinha acontecido, algo bom, ela sugou um resquício de bondade, algo que nunca esteve ali, que ela nunca absorveu antes. Afastando-se suspirou sentindo aquele sabor diferente, mas meramente familiar, abrindo os olhos reparou que o branco de Bast se tornou dourado, os olhos humanos em dourado.

– Você… você possuiu um nephilin! – gritou afastando-se.

– Você também. – exclamou ele apontando para o espelho.

Ali estava os mesmos olhos que a assustaram, o dourado tomando o branco, o nephilin possuindo o demônio, mudando o demônio, Lilin tinha possuído uma casca angelical, ela poderia ser humana.