– Bem, você realmente precisa ir embora dessa cidade, se ficar aqui, eles ainda podem ir atrás de você e te pegar, então, precisa ir para uma cidade distante e que de preferência tenha um aeroporto.
– Aeroporto? Por que eu precisaria de um aeroporto, Nanda?
– Você já vai saber. Já sei! Você não tem uma irmã que mora em São Paulo?
– Tenho, acho que ela se chama Ana Luzia, é Ana Luzia Cravo, Cravo é do meu pai. Mas, eu não posso chegar, assim, na casa dela, sem mais nem menos.
– Ora, Pia, mas é claro que pode. Você não disse que vocês eram muito ligadas quando ela morava aqui por perto? Então, com certeza ela não vai te negar um teto provisório.
– Certo, supondo-se que depois eu vá pra lá, eu não poderia ficar na casa dela por muito tempo, eu teria que dizer pra ela tudo o que está acontecendo, e eu não quero dizer isso para mais ninguém.
– Fica tranquila, eu já pensei nisso. Você não ficar lá por muito tempo, você vai para casa dos seus avós, ninguém precisa dizer um motivo para visitar os avós, é só chegar lá e dizer que estava com saudades, eles não vão ficar perguntando.
– Ok. Mas você está se esquecendo que meus avós moram no Uruguai? Como eu vou para o Uruguai?
– Por isso o aeroporto. Você vai para a casa da sua irmã, passa uma noite lá, depois pega um avião e vai para o Uruguai. Você tem toda documentação para ir para lá. É tudo muito simples.
– Simples? Tudo é ótimo. Gostei do plano. Mas e o dinheiro? Como eu vou pagar todas essas passagens?
Agora, Nanda já estava em frente ao computador pesquisando algo, imprimiu umas folhas e me entregou.
– Pronto, peguei suas passagens. Você vai para São Paulo nesse ônibus aqui, no dia 9 , ás 11 horas da manhã e você chegará lá provavelmente às 20 horas, ou seja depois de amanhã - pegou uma das folhas e me mostrou - e a passagem vai sair por R$150. Adicionando mais uns 60 reais para as paradas e para comprar algo em São Paulo. O avião saíra do aeroporto de Guarulhos, no dia 11, às 7 horas da manhã, você chegará em montevidéu por volta das 10 horas. A passagem de avião para Montevidéu, fica em R$ 300,00, e o preço do táxi até a casa de seus avós fica em aproximadamente 40 reais, ou seja, 550 reais é o preço da sua fuga. Quanto você tem guardado?
– Não muito, eu tenho 200 reais guardados, que é o que eu recebo da pensão do papai.
– Bem, eu posso te emprestar os outros duzentos.
– O que? Não, imagina, é muito dinheiro para pedir emprestado. Sua mãe não deixaria, esse dinheiro é seu.
– Ah, Pia, parece com isso, não é hora para falsas cerimônias. Você vai aceitar esse dinheiro sim. Esse dinheiro é meu, eu ia comprar um box luxo do John Green, mas tudo bem, você é mais importante. A Hazel Grace e a Alasca em lindas capas pretas com lombadas arrendondas, com detalhes em relevo e com um autografo podem esperar outro um ano. Sério, eu queria muito comprar isso, mas lembrar que você está sofrendo na mal daquele idiota não me deixa ficar com esse dinheiro. Eu lhe dou com o maior prazer.
Lágrimas descem por minhas bochechas.
– Obrigado. Eu não... eu nem sei o que dizer.
– Então não diga. Agora, os outros 150, você vai precisar pegar da sua mãe.
– Ela nunca me daria 150 reais.
– E quem falou em pedir?
– Ahn? Não, eu não poderia roubá-la, ela é minha mãe.
– A Mãe que não acreditou em você, acredite, ela não irá dar falta desse dinheiro. Você precisa ir. Prefere deixar o dinheiro dentro da bolsa dela, que ela provavelmente gastaria com o Fred, do que continuar sofrendo nas mãos daquele monstro?
Fico em silêncio. Pego o dinheiro que ela me ofereceu e saio da casa dela, vou caminhando pela rua, repassando todo o plano. Entro pela portaria, pegando a chave reserva com o porteiro, dizendo que eu estava em uma festa e quem não precisa chamar minha mãe.
Vou para o meu quarto, e deito. Dessa vez, o dragão não está aqui, deve ter saído para alguma festa.
Não haverá outro jeito. Amanhã eu terei que pegar o dinheiro da minha mãe. Eu preciso ir embora daqui o mais rápido possível.