Violentada escrita por C W Elliot


Capítulo 14
Nada aconteceu, nada nunca tinha acontecido


Notas iniciais do capítulo

A volta, para casa, o reencontro.



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Então, era isso, lá estava eu, em frente ao número 251 da rua Antônio Vega, bairro New Ways, Town.

A casa onde eu tinha passado alguns dos melhores momentos de sua vida. A casa onde eu tinha passado os piores momentos de minha vida.

A torre onde a princesa estava confinada pelo dragão. Eu queria dar meia volta e correr para a casa de Nanda. E se o dragão ainda não tiver sido expulso? E se ele ainda estiver lá, somente esperando que eu volte, para poder dar seu bote? E, se, minha mãe continuasse vendo eu me afogar, sem me salvar. Ela poderia ter continuado a não acreditar em mim. Tudo podia ser possível, as alternativas podiam não ser boas. Mas, eu confiei.

Respirei fundo.

Girei a maçaneta.

Estava aberto.

Respirei fundo.

Entrei.

Tudo estava estranhamente silencioso, somente se ouvia um som vindo da cozinha, eu não iria na cozinha agora. Subi para o meu quarto. Tudo estava do mesmo jeito, a cama desarrumada, a roupa suja no cesto, uma fina camada de poeira cobria os móveis, e um cheiro acre tomava conta do lugar. Mas algo chamou minha atenção, havia um bilhete azul colado no mural de fotos do meu quarto, e quase tive um surto quando li o bilhete, era de Fred. O imundo ousou me deixar um recadinho:

" Querida Sophiazinha,
Fiquei muito bravo por você ter queimado minhas coisinhas, eu gostava muito daquelas fotos, principalmente as suas, e ainda me roubou, sua ladrazinha. Sinto muito em lhe avisar que fui embora, sem você essa casa perdeu a graça. Passamos ótimos momentos aqui, não foi?
Do seu, Fred."

Eu senti um mal estar, tive vontade de vomitar. Como aquele cara pode ser tão baixo e cruel. Já não bastasse o que tivesse feito, ainda deixava um bilhete de despedida. Como ele era nojento, e senti ainda mais repúdio. Bons momentos? Foram os piores que alguém poderia ter, foram horríveis. Eu não acreditava no tamanho na cara deslavada daquele porco. Eu rasguei aquele bilhete em diversos pedacinhos. Pelo menos, ele tinha ido embora, e só me restava esquecer de tudo, o que era impossível. Mas me senti aliviada daquele idiota ter partido, espero que ele vá para um lugar bem longe, quem sabe para o inferno.

Desci novamente para a sala, e o barulho ainda continuava na cozinha, algo como uma faca batendo, provavelmente mamãe fatiando alguns legumes. Agora, o som estava acompanhado de um cheiro de algo cozinhando, ela estava preparando o jantar.

Respirei fundo.

Fui para a cozinha.

Ela estava lá, com o velho vestido florido, preparando uma salada. Havia um som que eu não tinha escutado, ela estava ouvindo seu velho radinho de pilha, estava tocando alguma MPB, e ela estava cantando. Eu a fiquei observando até que ela se deu conta da minha presença. Se virou para mim. Ela estava com os olhos vermelhos e o rosto inchado, deve ter chorado muito,mas não creio que tenha sido por minha causa.
– Ah, aí está você, mocinha. Pensei que não voltaria mais, e como foi lá na casa dos seus avós? Suzana deve ter lhe enchido de comida de novo, não é mesmo? Sinto saudades deles...

Eu estava pasma. Chocada. Ela, estava me tratando normalmente, ela estava me tratando como antes.

Parecia que nada aconteceu, nada tinha acontecido.

– Ora, não fique aí me encarando, sente-se, logo vou terminar o jantar, estou fazendo seu prato favorito. Senti sua falta, sabe. Agora, será como sempre foi, nós duas, só nós duas. - Ela parecia triste ao dizer essa última frase, mas logo voltou sua atenção de volta para a salada.

Era inacreditável, ela parecia ignorar os fatos anteriores. Ela teve uma amnésia e se esqueceu de tudo? Não, ela ainda parecia se lembrar, só não queria mais tocar no assunto. Ela ia fingir que nada nunca aconteceu. Talvez eu também devesse fazer o mesmo.

Aí, talvez eu tinha que fazer como ela, fingir que nada aconteceu. Que tudo não passou de um pesadelo, apesar de eu julgar que seria difícil superar tudo isso. Mas se esse era o jogo dela, eu também ia jogar.

Não quero ficar remoendo essa história, para que ela se sinta culpada pelo que aconteceu. Por não ter acreditado.

Parecia injusto, deixar que tudo passasse assim, sem que ele seja punido por suas ações. Mas eu acredito que a vida dá voltas, e que uma hora ele ia pagar. Uma hora ele teria que acertar suas contas. Mas agora ele está longe. Como disse mamãe, seríamos só nós duas, outra vez.

Então, seria assim. Então, tudo estaria bem. Talvez eu pudesse superar essa história.

Mamãe fez um prato para mim, caprichado. Colocou na mesa e beijou minha testa. Alisou meus cabelos, e sentou-se lá, me vendo comer. Deu-me um sorriso.

Dessa vez, eu consegui sorrir.

Mas, eu ainda estava potencialmente afogada em meus pensamentos, e eu já sabia o que fazer para me livrar deles. Eu ainda tinha algo para fazer.

Então, seria assim.

Sophia Dandelion, 13 anos.

Aprisionada, confinada, desesperada, fugida, abandonada, sozinha, entristecida, na busca por um novo caminho, um novo rumo.

Abusada e invadida... Violentada.


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Notas finais do capítulo

Agora, só falta mais uma coisa a concluir.



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