Um Outro Conto de Fadas escrita por Ryuuzaki


Capítulo 7
Olhares, Cacos, Tiros - parte 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/40957/chapter/7

 

Faye havia perdido qualquer esperança que outrora podia ter habitado seu coração. Sentia-se encurralada, sem escapatória. Em suas costas mantinha-se imponente o grande guarda roupa de mogno – o qual sempre lhe trazia a impressão de que monstros habitavam seu interior – à sua direita estava a parede, branca e intrespassável. O pior estava à sua frente, a menos de dois metros de distancia, o monstro em forma de rato que pegara o dente da garota. Ele estalava a língua, saboreando o cheiro exalado pelo medo de sua presa, bem como pela prévia do gosto que a carne da criança teria.

 

À Faye não havia escapatória.

 

Ela poderia tentar correr, ir para sua esquerda, pular o banquinho que estava entre a cama e o armário de bonecas – localizado logo após o armário de mogno -, atravessar seu quarto e então chegar até a porta. Mas como conseguiria tal feito sem ser interceptada por seu nêmesis, já que este possuía asas? Não. Não havia fuga, ela sabia.


O monstro deu um passo à frente, ficando com os pés na armação da cama, lugar onde teria melhor apoio para pular e então dilacerar a sua vitima. Tomada pelo panico, a garota se deslocou lentamente para trás - do mesmo jeito que faria caso estivesse se afastando de uma fera perigosa que rosnava -, até que, não tendo mais para onde recuar, comprimiu-se contra o armário, acuada. Sentiu a cabeça girar, ficara nauseada novamente, agora que a criatura se aproximara exalando aquele odor fétido – Faye imaginou que nem em mil anos se acostumaria com aquilo -. A adrenalina era despejada progressivamente no sangue da garota, em uma intensidade que não havia experimentado, cansando-a e a fazendo tremer. Suava frio devido a tensão.

 

Faye fechou os olhos, não mais sabendo fazer ou se existia algo a ser feito, desde o começo daquela noite de terror. Não estava pronta para aquele tipo de situação, nunca estaria. Não fora preparada para enfrentar criaturas como aquela, nem mesmo acreditava que tal monstro existia. Suspirou, resignada. Já não havia o que fazer, sua morte era certa. Não podia lutar. Estava cansada daquilo, esgotada, queria que tudo acabasse, o mais rápido possível, para bem ou para o mal. Que fosse morta então, aceitaria seu destino sem muito relutar, queria apenas que todo aquele terror tivesse um fim. Sabia que estava diante da calmaria e a tempestade não tardaria a vir.

 

De olhos fechados, vendo apenas a escuridão de suas pestanas, tentou se aclamar, encontrar um ponto de equilíbrio que lhe desse forças durante esse momento insano, respirou duas vezes, tentando se controlar. Tudo ia acabar, rápido, sabia disso, não havia porque se preocupar. Sim, iria morrer, mas então, tudo seria paz.

 

A garota abriu os olhos e era outra pessoa, alguém decidido que, imponente, ruma para o próprio fim. No fundo ela era constituída de uma matéria a qual muitos heróis desconheciam, precisando apenas ser... lapidada. E então, - não mais tremendo, firme como uma rocha, serena e altiva – focou-se o que esperou ser uma ultima vez para aqueles perturbadores olhos possuídos por seus algoz em forma de monstro. Manteve a cabeça erguida.

 

E não havia escapatória.

 

Maliciosamente a criatura devolveu o olhar. A fada não sabia o que era melhor, o gosto do medo o qual cometera na criança ou a chance de arrancar gritos de dor e horror de alguém que mostrava-se tão petulante e cheio de si no momento de sua morte. O monstro estava pronto, iria acabar com aquele joguinho.

 

Faye sentiu um arrepio, que mais parecia uma corrente elétrica, percorrer toda a sua espinha, começando no coccix e indo terminar na base de seu cérebro, o que fez com que sua pálpebras do olho esquerdo tivessem uma pequena convulsão. Suas pupilas se dilataram. O mesmo aconteceu com as do monstro. Naquele instante, ambos souberam que o ataque aconteceria imediatamente.

 

E não havia escapatória.

 

Mesmo estando estranhamente calma, Faye sentiu que todos os seus músculos se retesavam. Percebeu de súbito que as histórias mentiam, ela não viu nenhuma imagem de sua vida, não teve nenhum flashback ou refez o caminho de sua trajetória no mundo. Não, não viu nada disso. Percebia apenas o frio olhar de seu assassino e não iria tirar aquilo do foco de sua visão. Ou pelo menos, foi o que pensou.

 

Uma sombra apareceu na janela do quarto da garota, imediatamente atraindo, por reflexo, o olhar da garota. O monstro teria atacado naquele instante, mas conteve-se, estranhando a reação de sua vitima, que parecia olhar por cima de seu ombro. O vulto pareceu se agigantar-se, como se aproximasse do vidro e então, vitima e monstro, puderam, espantados, ouvir um grito alucinado, sendo seguido pelo som de vidro sendo quebrado e espalhado pelo chão.

 

Alguem entrara no quarto. Gritando como um louco e destruindo a janela numa explosão de vidro e pedaços de madeira. Não parecia se importar com ferimentos. Mantinha um semblante sagaz e zombeteiro


O monstro virou-se, com ódio no olhar, para o intruso, que havia atrapalhado sua caça e banquete.

 

Destravando sua arma pela segunda vez naquele dia, e mandando um sorriso digno dos atores mais galantes e dos personagens ousados, o intruso, com seu chapéu de cowboy e sua desert eagle.44, proferiu uma única frase.

 

- Tá na hora do pau!¹

 

E, à fada, não havia escapatória.

...

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

============================================================
¹ frase do Coisa do quarteto fantastico.

não gostei muito do final, provavelmente eu edite depois.