Um Outro Conto de Fadas escrita por Ryuuzaki


Capítulo 5
A Garota e A Fada




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Quando Faye abriu os olhos ela se deparou com algo que não esperava. A criatura que estava logo à sua frente, a menos de um metro de distancia, a fada havia vindo, mas parecia ser um monstro saído de pesadelos. O ser tinha aproximadamente um metro e vinte de altura e se assemelhava à algo parecido com um rato bípede e deformado, seus bigodes engordurados não paravam de se mexer, como se estivesse farejando constantemente com seu nariz inchado. A cabeça deformada e cheia de calombos parecia ferida em vários pontos, em carne viva, necrosando e atraindo moscas, que convergiam para as pústulas.

 

Faye ficou estática, sem sequer respirar, ainda não processando o horror que estava em sua frente, passeava o monstro com seus olhos, constatando cada pequeno detalhe da abominação que viera buscar seu dente: As presas de roedor, quebradas e amareladas, o rabo segmentado, faltando pedaços em alguns pontos, pequenas asas que lembravam as de um morcego, mãos de três dedos, terminadas em pequenas garras, o pêlo hirsuto e cinzento que cobria boa parte do ser. Mas nenhuma dessas periculosidades aterrorizou tanto a menina quanto a visão dos olhos do monstro. Não eram de animal. Eram olhos humanos, com uma maldade, em seu estado mais bestial, estampada.

 

Faye não se mexeu. Ficou a encarar debilmente aqueles globos oculares tão familiares e, por isso, tão assustadores. Queria correr, queria fugir dali e implorar que seus pais lhe perdoassem da fuga que havia planejado.

 

A fada, sim, existia, mas era um monstro que - a garota sabia - estaria pronto para mata-lá caso precisa-se.

 

A jovem percebeu um esgar que parecia um esboço de sorriso, ouviu o monstro produzir risinhos abafados – neste instante a criança só não sentiu o terrível cheiro de morte que exalava do hálito da criatura pois ainda mantinha-se sem respirar, com medo de que fosse percebida. -, ele conseguira encontrar o dente que estava embaixo do travesseiro, sua satisfação era clara. Estava feliz, afinal, não seria castigado por voltar de mãos vazias para a sua terra. Levou seu tesouro até a base de seu grande nariz e farejou por longos segundos que torturaram a garota Faye. Parecendo satisfeito com o que quer que seja que fazia, a fada colocou o pré-molar dentro de uma bolsinha de couro, que trazia amarrada na cintura.

 

Virando-se para atras, o monstro pôs-se a ir embora, com um claro ar de trinfo em seu rosto disforme e bestial.

 

Vendo que a criatura se afastava e não mais conseguir prender a respiração, Faye espirou os gases que havia prendido no pulmão e então suspirou longamente, tentando não fazer nenhum barulho que atraísse a atenção da aberração que estava em seu quarto.

 

Foi um grande erro.

 

A garota não tinha como saber, pois estava fora de si quando o monstro havia chegado em seu quarto e assim que voltou à realidade, prendeu a respiração. Portanto, sofreu um enorme choque quando, ao respirar com afinco - para que seus pulmões fossem preenchidos -, sentiu um odor pútrido, um cheiro que, em sua mente infantil, nem imaginava existir, que parecia tentar sufoca-la conforme ia inflando seus brônquios, e tentando contaminar cada uma de suas celulas, avidas por oxigênio. Era um cheiro de carniça, um cheiro não vida, como se algo sujo e contaminado houvesse exalado o odor de sua própria miséria, morte e fezes, misturados em uma só fragrância corrupta e doentia.

 

Em menos de um segundo uma sensação desagradável subiu desde o estomago de Faye ate atingir o topo de sua garganta. Seus orgãos se contraiam - como que se houvesse um terremoto em sua barriga -, levando-a a sentir uma profunda náusea, que imediatamente fez com que todo seu mundo girasse. Tonta e sem noção alguma do que fazia, a pobre menina, levantou-se de onde estava deitada, mantendo sentada em sua cama, com as pernas ainda estiradas. Lutava com seu próprio corpo para que não vomitasse, o monstro ainda não havia percebido que estava desperta, e ela sabia, do contrario, iria morrer.

 

A criatura continuava indo embora, alheia à criança que tentava, com todas as forças, refrear a vômito que teimava em querer subir pelo esôfago. Mas a luta da jovem durou pouco, em poucos segundos ela já havia sido vencida. Um jato composto de jantar semi-digerido, misturado com bile e outros sucos estomacais jorrou da boca da garota, que ainda estava desnorteada, e esparramou-se no chão, produzindo um estalo quando chocou-se em alta velocidade com o piso e respingando na parede.

 

Foi diferente dos filmes. Não houve aquele instante - que sempre parece ser longo, como se a cena congelasse - onde o monstro ou o assassino demora alguns segundos para perceber o que aconteceu e então ir atras de sua vitima. Não. A fada-monstro se virou instantaneamente, bruscamente, no mesmo momento em que o som foi produzido. Rosnando como um cachorro olhou diretamente para os olhos da menina.

 

Faye não teve tempo suficiente nem para sentir o suco gástrico fazer-lhe arder a garganta. Assim que sentiu o olhar da criatura, pode captar todo o ódio que ela parecia ter dentro de si, juntamente com uma incrível vontade de matar. Soube que iria ser atacada, tinha que fazer algo, rápido. Sem ver seu inimigo ou saber exatamente o que ele fazia, girou para o lado esquerdo de sua cama, caindo no chão com um baque e, por pouco, não se enrolando no cobertor. Levantou-se com toda a rapidez e coragem que conseguira reunir, pronta para correr, e ouviu algo como um “crack”, vindo de suas costas, de sua cama.

 

Não tinha vontade de perder tempo, voltou-se para atras por puro reflexo e viu que a aberração havia acabado de cair pesadamente onde dormia, suas asas ainda se agitavam, como se houvesse acabado de perfazer um um vôo curto e tinha suas garras enfiadas, aproximamento, onde a barriga da garota estava à poucos segundos. A criatura tirou suas armas naturais lentamente, de onde estavam fincadas, como se saboreasse previamente o momento em que estariam chafurdando nas entranhas da garota. Demorou alguns instantes nesse ato, suas unhas haviam crescido, como por mágica, desde que iniciara o ataque e estavam tão afiadas quanto espadas.

 

O rato monstruoso terminou de se deleitar com o futuro e olhou com olhos malignos para Faye, que estava paralisada diante da selvageria que aquele olhar e cena transmitiam. Deu uma pequena risada carregada de catarro e então começou a brincar, chocando suas garras, agora negras com quase vinte centímetros, umas com as outras, como se as afiasse. O monstro sabia que a criança não deveria ser morta. Não agora. Mas não ligava, há muito tempo não tinha a oportunidade de fatiar um humano jovem e sentir o gosto da carne de uma garotinha. Ainda em cima do móvel, fungou com seu nariz de rato, mostrando seus dentes podres e quebrados, num sorriso maniaco que deixava uma baba esverdeada escorrer pelos seus finos lábios negros. Estava se divertindo... E seus olhos – de gente, não de animal – transmitiam um claro olhar assassino.

 

Deu um passo à frente.

 

Neste instante, tomada por um pânico que ainda não havia sentido e a certeza de uma morte da qual não queria passar, tentou gritar. Mas nenhum som saiu de sua boca. Afinal, Faye Luzia era muda.

 

...

 


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Notas finais do capítulo

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Não gostei muito desse capitulo, não fui com a cara. E temo que esteja com muitos errinhos de portugues. Quem localizar algum me dá um aviso ;D creio que me perdi um pouco na descrição do monstro, queria ter descrito melhor