O encarei incrédula. Cam havia mesmo dito isso? Nós havíamos ficado sem trocar uma palavra por várias semanas após o que eu o fizera quando obrigou Lucinda Price a o beijar. Mas algo tentava me obrigar a sorrir, embora eu não o fizesse. Vamos, Gabbe.

-O que disse? -Perguntei, simplesmente, tentando controlar o tom da voz.

Cam suspirou. Eu sabia que o estava irritando, o deixando impaciente ou qualquer coisa do tipo quando ele suspirava daquele modo. 

-Você me ouviu, Givens. 

-Eu simplesmente esperava... Não ter ouvido. -As palavras fluíam de minha garganta como se ensaiadas com uma pontada de falsa animação. -Não gosto da sua companhia, Cam. Você... -Eu suspirei longamente me sentando na esteira para o encarar e franzindo os olhos devido à luminosidade. - Você me dá arrepios.

Desejei retirar minhas palavras assim que um sorriso malicioso se formou nos lábios rosados de Cam.

-Não desse jeito. -Falei entredentes.

Cam riu alto, sua risada tilintando como uma sinfonia ao meu redor.

-Cam... Você sabe muito bem que eu não sou como as mortais com as quais você vive se divertindo. -Eu disse passando as mãos sobre a face, cansada da situação. 

-Não, não sei. -Ele aproximou o rosto do meu.

Seus traços eram bem marcados no rosto angelical. Os olhos verde-esmeralda pareciam sorrir e eram adornados por cílios longos e negros. Ele havia tirado o boné e o cabelo parecia amassado e molhado, como se houvesse acabado de sair do mar.

Balancei a cabeça, relutante. Eu não seria o próximo caso de verão na enorme lista de Cameron Briel.

-Alguém já te falou o quanto você é estraga-prazeres, Givens? -Cam sussurrou se afastando.

-Vai pro inferno, Cam. -Murmurei em resposta.

-Acho que não falta muito tempo para seu desejo se realizar. Mas saiba que pode se arrepender caso aconteça. -Ele sorriu se aproximando de minha orelha.

Senti os pelos de meus braços se eriçando quando Cam beijou minha bochecha. Seus lábios macios estavam pressionados em minha pele morna, seus dedos passeando em meu braço, deslizando para minha cintura.

-Que diabos tá acontecendo?! -Perguntei alto o suficiente para que alguns mortais se virassem para nós.

Cam franziu o cenho. Ele havia pulado de choque quando eu cortei o ar com as palavras furiosas e ao mesmo tempo confusas e agora estava ao meu lado, sentado na areia.

-O que acha que tá acontecendo? É você que é a inteligente. -Ele resmungou olhando para o oceano.

Após algum tempo em silêncio, conclui:

-Você está entediado, certo? Bem, uma novidade, eu não vou ser a sua "distração".

-Ah, é claro. -Cam soltou, ironicamente. -Gabbe Givens é boa demais para um demônio.

O encarei de relance. Sua face parecia arder de ultraje enquanto falava.

-Não, querido. Eu não sou boa demais para um demônio. Sou boa demais para você.

Cam irrompeu em risos e eu senti a face arder enquanto praguejava e me levantava tirando a esteira da areia.

-A propósito... -Murmurei enquanto andava. -Obrigada por ter estragado o meu dia.

Finalmente, Cam parou de rir. Ouvi sua voz em segundo plano enquanto me distanciava.

-Não, Givens, espera. -Ele falou, frustrado.

Parei onde estava com a esteira nos braços e esperei até que ele me alcançasse. 

-Fala. -Murmurei quando seus olhos esmeralda estavam na frente dos meus.

Cam me encarou, pensativo. Parecia escolher suas próximas palavras.

-Gabbe, nos conhecemos há séculos. -Ele disse, por fim.

-Sei disso. -Suspirei olhando para o chão.

Ele segurou meus ombros fazendo com que eu erguesse o queixo para o encarar. Os olhos verdes faiscavam com pontadas de animação.

-E se...?

Esperei, mas ele apenas me encarava com um sorriso franco estampado nos lábios.

-"E se" o que? -Falei.

Ele pressionou os lábios em minha orelha antes de falar as próximas palavras.

-A gente tentasse?