Quando retornei ao hospital Lissa já estava na sala de parto.

– Ela ta quanto tempo? - perguntei a Eric.

– Quase meia hora já. Devemos ter noticias em breve. – sentei numa cadeira de plástico e fechei os olhos pra tirar um cochilo... Mal fechei os olhos e Rhea me acordou.

– Eles já estão no quarto. Lissa está chamando por você. – Levantei num pulo e segui Rhea até o quarto. Lissa estava deitada na cama, com uma aparência de cansada, mas os olhos brilhavam de felicidade. Nos seus braços um pequeno embrulho fazia barulhos de bebê.

– Hey bebê. – disse ao me sentar ao lado dela na cama. – É a chata da tia Rose.

– Você quer pegar ele? – perguntou Lissa me estendo os braços. Morrendo de medo eu o peguei no colo. Ele era tão pequeninho e tão frágil que parecia que o menor movimento já iria quebra-lo. Os olhos eram azuis elétricos iguais aos de Christian, mas os cabelos eram loiros como os de Lissa.

– Você é tão lindo que nem parece filho do seu pai.

– Tá de brincadeira? Ele é a minha cara. – disse estufando o peito orgulhoso.

– Ele tem cara de joelho na verdade. – disse Rhea. – Só vamos saber com quem ele se parece daqui um mês.

– Eu sei que com o Christian é que ele não vai se parecer. – respondi. – Né coisa fofa? Pode ficar tranqüilo que Tia Rose vai te ensinar tudo sobre a vida. Vou te ensinar a andar de skate, jogar vídeo game... Por que esse seu pai aí? Não sei nem como teve animo pra te fazer.

– Rose! – exclamou Lissa, vermelha como um pimentão.

– E não é verdade? – perguntei me fingindo de inocente.

– Daqui meu filho. – Christian roubou o bebê de mim. – Sua chata. – disse me dando a língua.

– Chega crianças. – A filha deles podia acabar de ter saído da sala de parto, mas Rhea ainda nos chamava de crianças. Ficamos horas só babando naquele pequeno anjinho, até uma enfermeira vir e nos expulsar dizendo que mamãe e bebê precisavam descansar.

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Os e-mails estavam espalhados pela minha cama. Já tinha lido quase todos e conversado com Luke que me garantiu que era tudo verdade. Eu agora estava tentando tomar uma decisão, mas fracassava miseravelmente. Então Dimitri não era culpado, não tinha me traído e tudo o que tinha feito era por amor. Eu conseguia entender isso. Deus sabe o que eu era capaz de fazer pelas pessoas que amava. Mas mesmo assim... Meu coração magoado tinha medo de se entregar e ser machucado de novo.

Rolei em cima dos papeis enquanto puxava os cabelos em frustração. Foi então que eu notei um papel diferente dos outros. Ele era mais grosso e mais elegante e estava escrito na letra de Dimitri.

“Querida Rose,

Nunca me senti tão assustado como no dia em que soube que Tasha estava com você. De repente, todos os meus medos, me perder em minha própria mente, perder minha família e tudo o que conquistei na vida. Subitamente tudo o que sempre me pareceu belo – a forma como o sol de outono bate nas árvores, o gosto do sorvete de chocolate – ficou cinza. Por que meu mundo não pode existir sem você nele.

Sem ouvir sua risada, ver o brilho dos seus olhos e a seu biquinho quando fica com ciúme. Suportaria ficar sem tudo isso se soubesse que você está bem e feliz. O que é minha própria felicidade em comparação com a da pessoa que amo?Mas essa possibilidade de viver num mundo sem você me deixou aterrorizado.

Nunca deixarei que você leia isso, é vergonhoso demais. Também não acho que você queira ouvir essas palavras. Não com o ódio que deve estar sentindo de mim no momento. Eu entendo sua reação. Também não ficaria nem um pouco feliz de saber que outro te tocou, te beijou... Mas isso não apaga o amor que sinto por você, amor que sempre sentirei.

Mesmo que você não me queira mais em sua vida, sempre cuidarei para que você esteja bem e feliz. Ainda que isso signifique te ver entrando em uma igreja para entregar seu coração a outro, ainda que isso signifique te socorrer quando estiver dando à luz ao filho de outro.Darei o meu sangue, se preciso for, pra ver o sorriso estampar o seu rosto, darei a minha vida pela sua de bom grado. Por que minha vida não significa nada sem você por perto. Você é meu mundo e minhas estrelas. A razão da minha Terra girar.

Pra sempre seu, com amor.

D.”

Quando terminei de ler a carta, as letras já estavam todas borradas pelas lágrimas que derramei. Como ele podia sentir tudo isso por mim e eu ainda ter duvida de meus sentimentos por ele? Dimitri era o cara mais correto que eu poderia achar e nenhum outro jamais me amaria como ele. Quando tive certeza disso foi fácil ter certeza de meus sentimentos para com ele.

A chuva estava desabando como nunca em Los Angeles. Calcei minha bota, vesti um casaco e sai porta afora dirigindo feito uma louca. Nunca tinha pisado no escritório dele, mas conhecia bem o endereço e cheguei lá em quinze minutos. Entrei no lobby pingando água e recebi um olhar zangado da recepcionista, olhar esse que ignorei enquanto entrava no elevador e apertava o botão do 22º andar. Cheguei no hall tropeçando nos meus próprios pés enquanto a secretária me olhava com desdém.

– Dimitri Belikov, por favor. – pedi.

– O senhor Belikov se encontra em uma reunião no momento. – disse com voz de criança. Em seguida passou a lixar as unhas como se eu não estivesse ali.

– Ele vai querer interromper qualquer reunião para falar comigo, te garanto.

– Olha, eu sinto muito, mas...

– Você quer que eu ligue pro celular dele e diga que estou aqui, esperando? E que você se recusa a chamá-lo? – ameacei pegando o celular e começando a digitar o numero dele.

– Tudo bem. – disse brava, pegando o telefone e discando. – Senhor Belikov, desculpe interromper... Sim, eu sei que o senhor disse para não interromper, mas tem uma menina aqui que insiste em falar com o senhor.

– Diga que é Rose Hathaway.

– Ela diz se chamar Rose Hathaway. – em seguida ela colocou o telefone no gancho e mais um pouco Dimitri surgiu pela porta.

– Rose. – disse olhando para o meu estado perplexo.

– É verdade? – perguntei estendo a carta. – Isso tudo o que você escreveu aqui, tudo o que você disse que faria, é verdade?

– Onde você encontrou isso?

– Não importa. Me diga se é verdade. – exigi.

– Sim. Todas as palavras escritas aí são verdade. – então antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa eu o puxei pelo colarinho do terno, me perdendo em seus lábios.

Senti-me como se após um longo dia de trabalho, pudesse finalmente estar em casa. Onde e com quem eu pertencia. Poderia passar a vida tentando negar, mas o meu lugar era naqueles braços fortes que me envolviam e faziam com que me sentisse a mulher mais sortuda do mundo. Dimitri era meu Clyde (Bonnie and Clyde), era meu Mr. Darcy. Era meu amor bandido e minha sanidade.

– Eu te amo. – disse quando ficamos sem fôlego.

– Eu te amo. – ele disse encostando a testa na minha. – Pra sempre.