_Carlisle, quer explicar o que implica em ser um vampiro ou prefere que eu explique? – Billy questionou despreocupado servindo-se de uma xícara de café que uma senhora colocou sobre a mesa – Aceita Charlie? Bella?

_Aceito. – Charlie se serviu e eu neguei, não conseguiria beber nada agora.

Estava preocupada com Edward machucado e com a decisão de Charlie. A minha já estava tomada e não havia volta e eu tentaria persuadir Billy a me deixar manter contato com Renee.

_Antes que eu comece, tem alguma pergunta? – Carlisle olhou Charlie.

_Dói?

_Muito. – Charlie fez uma careta e me olhou, apertei a mão de Edward que agora estava ereto na cadeira ouvindo a conversa – São três dias de queimação e uma dor insuportável, mas Bella não estará sozinha, estaremos com ela.

_E depois?

_Nos primeiros anos o vampiro não tem domínio sobre seus instintos mais selvagens. – franzi o cenho olhando Carlisle, não compreendia completamente o que ele estava dizendo.

_Selvagens? – Charlie questionou.

_Sede de sangue. – Carlisle respondeu sem medo. Edward me olhou apreensivo depois voltou a ouvir Carlisle – Nossa natureza deseja sangue humano, é a nossa principal fonte de alimento, porém, a nossa família é diferente. Todos nós abdicamos do sangue humano. Nós não concordamos em matar humanos para nossa sobrevivência. – como Charlie continuou estático olhando para ele, Carlisle continuou – Nos alimentamos de animais.

_Então não tem problema ser um vampiro. – meu pai sussurrou a palavra.

_Nos primeiros anos o recém-nascido, como chamamos, não tem domínio sobre seus instintos e é mais difícil controlar a sede por sangue humano.

_Por este motivo exigimos que Bella se afaste de todos por pelo menos dez anos. – explicou Billy.

_Você quer dizer que eu vou querer matar todo mundo? – questionei amedrontada.

_Sim. – ouvi Jacob falar atrás de mim.

Ele caminhou lentamente até a mesa e sentou na ponta perto de mim.

_Sim. – Edward confirmou – Eu tenho quase um século de abstinência e é quase impossível não ceder ao desejo, quando recém-nascida você não terá outra necessidade maior, nem mesmo o amor que sente por mim. A sede virá primeiro.

_Então...

_Não é bom ela ser como vocês. – Charlie completou.

Fiz uma careta reprovando. Jacob suspirou deitando a cabeça na mesa, ele parecia cansado. Coloquei a mão em seu ombro lentamente.

_Bella saberá dominar o desejo assim como nós dominamos. Charlie, eu estava sozinho e aprendi, consegui controlar a sede e hoje lido com humanos e sangue o tempo todo no hospital. – Carlisle explicou.

Não vi a reação de nenhum deles, estava preocupada com Jacob.

_Você está bem? - ele abriu os olhos, estavam cheios de lágrima, meu coração parou de bater por alguns segundos – Oh Jake... – deitei minha testa em seu braço e senti Edward com seus olhos sobre nós.

_Eu amo você, Bella. – Jacob sussurrou, a voz embargada.

_Eu sei... também te amo Jake. – sussurrei de volta segurando as lágrimas.

_Então não faça essa loucura. – pediu, os lábios encostados na minha cabeça.

Ficamos em silêncio por um bom tempo ouvindo as perguntas de Charlie e as explicações que se seguiam.

_Temos regras a seguir, não estamos alheios só porque somos imortais. – estremeci com a palavra – Em nosso mundo existe uma hierarquia, lideres acima de nós que criam nossas leis e as fazem ser cumpridas.

_Que tipo de leis? – quis saber.

_Nunca nos expor ao sol perto de humanos, nunca revelar o que somos, não criar exércitos... essas são algumas.

_E o que acontece com quem quebra essas leis?

_Em sua maioria são exterminados. – Rosalie disse às minhas costas.

Edward que estava calado pegou minha mão me fazendo sair de perto de Jacob.

_Mas nós somos diferentes... – ele começou – Além de grande parte do nosso clã possuir habilidades especiais, nós nos abstemos do sangue humano, os tratamos como iguais e ainda vivemos como uma família que se ama e se respeita. – como ninguém se pronunciou, Edward continuou – São raros os vampiros que andam em grupo, se andam geralmente são para a própria proteção, não por amor.

_Então Bella escolheu o rapaz certo. – Charlie sussurrou me olhando.

_Se ele fosse humano, talvez. – Jacob trincou os dentes.

Edward apertou os lábios mas nada disse, tive quase certeza que ele concordava com as palavras de Jacob, eu não sabia como ajudar, mas tentaria. Ele tinha que acreditar que era o homem certo pra mim, o amor da minha vida.

_Você acredita em destino Jake? – perguntei sem olhá-lo.

_Não.

_O imprinting não seria destino?

Ele pigarreou e o olhei, seu rosto estava vermelho e o maxilar apertado.

_Não sei se a palavra certa é destino.

_Se tem alguém destinado a você que quando você olhar será sua... alma gêmea, então seria destino, certo?

Ele não respondeu, mas ouvi uma risada perto de mim que quase jurei ser de Rosalie, ela estava se divertindo com a angustia de Jacob? Era engraçado ouvir Rosalie rir ainda mais de algo que eu falava.

_E se eu disser que sim, que acredito? Que ligação tem com a burrice que você quer fazer?

_Edward devia ter morrido em 1917 com a gripe espanhola, mas isso não aconteceu, não como deveria pelo menos. Ele ainda vive e na sua época não encontrou uma mulher, uma pessoa que o fizesse se sentir como se sente quando está comigo. – olhei Edward de relance buscando confirmação das minhas palavras, ele assentiu lentamente talvez tentando compreender a minha linha de pensamento – Mas, agora ele encontrou sua metade, sua alma gêmea, se posso descrever assim – mordi a boca lembrando que Edward não acredita que possui uma alma, respirei – Ele me encontrou. Isso é destino. Ele devia ser vampiro, ele precisava ser encontrado por Carlisle, ser transformado e então me encontrar. – a certeza na minha voz era a mesma do meu coração, profunda e sincera – E agora, depois de esperar por quase 100 anos ele vai ser obrigado a me ver morrer? Não acredito que este seja o meu destino, ver o homem que eu amo sofrer porque temos somente 50 ou 60 anos para ficarmos juntos, tempo menor do que o que ele aguardou.

_Isso não... – Jake começou.

_Bella está certa. – meu pai interrompeu – O que aconteceria com Edward vivendo depois dela morrer? – será que ele entendia mesmo do que estava falando, fiquei curiosa pra saber o quanto meu pai tinha a mente aberta para o sobrenatural – eu não vivi tanto tempo esperando por Renee mas não foi fácil viver esses anos todos longe dela. – sussurrou.

Edward colocou as mãos nos bolsos pensativo, eu não sabia se estava fazendo certo em falar tanto, mas queria sentir que fiz tudo pra que entendessem minha escolha e que não houvesse mais este tipo de briga.

_Sinto muito pai. – sussurrei sobre Renee, ele apenas balançou a cabeça em negativa.

_Isso é tudo? – Charlie perguntou olhando para Carlisle.

_Uma breve explicação, mas acredito que sabem o mais importante.

_Como vai ser com Renee?

_Bella precisará se afastar até ter domínio de sua sede. – Billy afirmou, não parecia estar feliz porém aceitava minha decisão, eu sorri em agradecimento.

_Se eu dominar em um ano, então posso voltar a Forks?

_Vai demorar mais que isso. – Edward sussurrou para mim, fiz uma careta. Eu sentiria muito a falta de Charlie e de Renee.

_Já se decidiram ou querem um tempo pra pensar? – Jacob interveio, parecia irritado com a conversa.

_Já nos decidimos. – Charlie anunciou, eu o encarei, o coração disparado.

_Otimo porque vocês estão dentro da linha do tratado. – resmungou.

_Pare de ser ranzinza Jake! – Alice pediu com um sorriso nos lábios – Não posso ver seu futuro, mas vejo o da garota que será seu imprinting.

Todos nos viramos para encarar Alice.

_Meu o que? – Jacob me olhou atordoado – Bella é o meu...

_Você sabe que não é. – uma voz masculina surgiu no meio de todos, olhei em volta e avistei Sam parado à porta da sala. Os lobos estavam ouvindo a conversa em silencio.

Jacob abaixou o olhar, do jeito que estava parecia que ia chorar.

_Então eu terei um imprinting? E não será com Bella?

_Jacob, todos temos a pessoa certa, a destinada a nós, é só ter paciência. – Edward respondeu amigável o que me surpreendeu.

_É isso ai, podemos lanchar? – Embry disse com um sorriso de orelha a orelha.

Todos rimos da empolgação dele, um dos meninos Quileutes deu um tapa na cabeça dele e começaram a brincar de lutinha.

_Então pai, qual o veredicto? – questionei.

_Quero que você entre para uma faculdade, termine os estudos e depois...

_Você andou conversando com Edward sobre isso? – perguntei e ambos riram. – Pai... não posso esperar cinco anos! – choraminguei.

_Por que não?

_Eu já sou meses mais velha que Edward, daqui cinco anos eu já posso até ter cabelos brancos!! – todos riram, eu não achei engraçado.

_Bella, você é tão absurda! – Edward sussurrou com aquele sorriso torto que me deixa tonta.

_Mas eu vou sentir tanto a sua falta... – Charlie estava com os olhos cheios d’água.

Soltei Edward e corri abraçá-lo.

_Também vou sentir sua falta, prometo ligar todos os dias! – Rosalie tossiu.

_Depois que ela parar de pensar em sangue.

Fiz uma careta enorme.

_Quando der... prometo. – corrigi.

Charlie beijou minha testa e assentiu.

_Quando ela estiver pronta. Eu apoio a decisão de Bella. – ele olhou para Billy, suspirei aliviada.

_Não será logo. – Edward avisou – Iremos preparar Bella para a vida que terá depois da transformação.

Ele não parecia satisfeito com a decisão tomada, não saberia dizer se infeliz ou com medo.

_Eu vou mesmo esquecer Bella? – Jacob sussurrou para Alice, eu sorri fingindo não ouvi-lo, meu amigo estava voltando ao normal.

_E será quando? – perguntei deixando Jacob e Alice conversarem, voltando a atenção para Edward.

_Depois de nos casarmos. Quero que seus pais estejam no casamento e nos abençoem por nos unirmos.

Fiz uma careta.

_Precisamos mesmo casar?

Edward pareceu assombrado com o meu questionamento.

_Claro que sim!

_O..ok então. – disse entre a respiração.

_Eu vou arrumar tudo Bella, vai ficar perfeito! A casa, seu vestido, a festa... – Alice já dava pulinhos. Nem parecia que tínhamos acabado de enfrentar lobos enfurecidos que quase mataram meu namorado.

_Não quero nada exuberante Alice, por mim nos casamos só no Civil.

Charlie me olhou e abaixou os olhos.

_Eu queria te levar ao altar Bella.

         A reação dele fez meu coração acelerar, eu queria fazer todos os desejos de Charlie se realizarem, ele estava fazendo possível o meu, então assenti.

         _Tudo bem, Alice pode preparar tudo o que quiser. Meu pai vai me levar ao altar.

         Todos riram exceto Jacob que estava encostado à parede nos observando.

         _Bella, você não quer pensar um pouco mais? – questionou.

         Edward assentiu com a cabeça pedindo que eu afirmasse que sim, eu confiava demais em Edward e resolvi seguir o que ele pedia.

         _Tudo bem Jake, se isso vai te deixar melhor, eu vou pensar um pouco mais. Até o casamento.

         Ele sorriu e saiu do salão que estávamos.

Pelos olhos de Edward

         Não sabia mais como explicar as condições de ser vampira para Bella, parecia a mim que o assunto estava saturado, repetitivo, mas ela não se cansava de repetir que era o destino, que éramos almas gêmeas.

         Sei que a intenção era consolar Jacob, mas as palavras me incomodaram mais do que eu esperava. Normalmente assuntos sobre destino e almas gêmeas não me incomodavam tanto.

         Não consigo imaginar um deus, seja pagão ou não, que tenha pensado em me fazer nascer em 1900, me deixar sofrer com a gripe espanhola, morrer e então me tornar vampiro apenas pra que eu sobrevivesse até os anos 2000 e encontrasse o amor da minha existência. Pra mim Deus não jogava com o coração e o destino das pessoas. Não seria mais fácil e correto me mandar para este mundo em 1985 para ter quase a idade de Bella e estar vivo?

         Eu jamais entenderia certas coisas e se um dia fosse verdade que morremos e vamos para o lado de Deus, seriam perguntas que faria a Ele, isso ignorando o fato de que talvez eu não tenha mesmo uma alma.

         Suspirei observando Jacob sair do salão, Bella parecia cansada e meus cortes queimavam ainda depois de Carlisle ter colado meus membros de volta com fogo.

         Segurei-a contra meu peito lembrando da dor que senti ao imaginar que Jacob a havia machucado, um rugido involuntário escapou de meus lábios.

         _O que foi? – Bella questionou me encarando.

         _Vamos pra casa? – perguntei, a voz pesada pela dor que acabava de me recordar.

         _Vamos. – ela piscou algumas vezes, o rosto antes pálido ficando rosado e me deu as costas – Billy, obrigada por ter parado esta briga ridícula e por ter nos ajudado. Te devo minha vida e talvez até a de Edward. – me senti enciumado, mas entendia a atitude de Bella, ela queria manter a amizade entre nossas famílias e manter-se perto de Jacob.

         _Jacob não ia vencer. – disse.

         Billy e Carlisle se entreolharam sorrindo.

         _Bella, amo você como se fosse minha filha, eu não sabia mais o que fazer com Jacob, mas aquilo que você me falou no carro me despertou. Podemos ser os protetores naturais dos humanos, mas não estamos em uma situação natural, a decisão teria de ser sua de qualquer maneira. Não podemos intervir assim na vida das pessoas, condenando-as a sofrer por orgulho próprio.

         Respirei fundo olhando para Billy. Ele ainda estava confuso em relação à nossa família e o ódio que sentia por nós parecia apaziguado. Ele se questionava se pessoas que quebraram um tratado para salvar uma humana seriam tão perigosas quanto ele imaginava, se questionava se deviam manter o tratado mas ao mesmo tempo tinha a imagem de Jacob na mente, irritado por ele ter tomado a sua autoridade Alfa.

         _Obrigada. – Bella o abraçou depois voltou-se a mim – Vamos?

         _Sim.

         _Edward. – Jacob me chamou, me virei para a entrada do salão, não havia notado a chegada dele pois ele estava evitando pensar, prendi o maxilar apertando os olhos ao encará-lo – Quero estar com ela quando for acontecer.

         Ele não esperou resposta apenas se afastou.

         “Apenas diga e saia, diga e saia. Não pense em mais nada Jake, diga e saia. Bella será como eles mas não sofrerá tanto... diga e saia... quem será o meu imprinting?”

         Eu não pude segurar o riso, ele tinha algo novo para se preocupar agora, seu imprinting. Quando Alice falou da visão ela não me deixou ver o que tinha visto embaralhando seus pensamentos, por isso ria ao revelar isso a Jake, eu não sabia se era mentira ou não, mas não me importava. O mais importante estava em meus braços agora, Bella a salvo e minha, totalmente minha.