Depois de assistir dez episódios, Isabella adormeceu nos meus braços com sua cabeça apoiada em meu pescoço. Ainda estava ‘elétrico’ demais, refletindo sobre meus pensamentos durante a viagem; eu poderia ser considerado ‘jovem’ demais ou ‘imaturo’, mas isso não pode ser definido por idade, posso ser imaturo com dezessete ou aos cinquenta anos! Acredito que a vida não seja determinada pela nossa idade e sim pelas atitudes que tomamos ao longo dela. Eu poderia ter agido de maneira diferente com Isabella, ignorando-a naquele primeiro dia de aula ou parado apenas para rir e tirar sarro dela; se eu tivesse feito isso, algo que muitos fariam ou não para agredi-la e sim apenas por efeito do tombo, eu poderia ter feito isso. E não o fiz, porque não achei engraçado e aquela atitude foi contra aquilo que eu acredito: a ação gera uma reação e também porque o mundo hoje é cercado pela vergonha em amar o próximo. Pode ser ‘vergonhoso’ parar para ajudar a Nerd da escola porque todos vão falar de você e te igualar a ela. Eu sinceramente prefiro ser igualado ao Nerd a ter que agir como alguém que não sou apenas para não ser ‘enquadrado’ em um estereótipo. Minha ação causou uma reação em Isabella, que casou outra reação em mim. E enquanto dirigia para cá eu só conseguia pensar em como tudo começou e eu não consegui determinar em que momento tudo começou a mudar de lugar dentro de mim, apenas sei que tem algo muito maior do que eu crescendo aqui dentro e cada vez que olho para ela eu sinto que estou no lugar certo e com a pessoa certa. Olhei no relógio e vi que já passava das três da manhã e por mais romântico que fosse dormir em frente a uma lareira, no chão forrado com um tapete felpudo; no dia seguinte a coluna não agradecia. Com muito cuidado para não acordá-la, me levantei e fui até o quarto ligar o aquecedor e arrumar a cama para nos deitarmos, voltei para a sala buscá-la e com todo o cuidado carreguei-a para o quarto e mal deitei, adormeci profundamente.

Era um belo fim de tarde e estávamos juntos em uma varanda, eu tinha um bebê sorridente em meu colo e não sabia dizer com qual dos dois era parecido, pois tinha os traços meus e dela totalmente misturados, formando uma cópia fiel a nós dois. Ele ria das cócegas que eu fazia nele enquanto Isabella lia em voz alta um livro, que parecia ser ‘O Pequeno Príncipe’. Ainda estava sonhando quando senti beijos por todo o meu rosto e pescoço.

– Hum... Isso é bom. Bella poderia me acordar assim mais vezes... – pensei e ouvi risos; abri os olhos e vi que ela me encarava com um riso contido.

– Seu desejo é uma ordem! Vou te acordar assim mais vezes então... – piscou matreira e eu me senti corar, virei o rosto contra o travesseiro e senti-a afagar minhas costas.

– Bom dia Amor! Não precisar ficar assim... Eu acho tão fofo! E é algo tão seu...

– É algo constrangedor!

– Eu não acho... – ela riu baixo e eu virei-me pra ela. – Eu já te observei dormindo algumas vezes, mas você não fala... – falou meio decepcionada e eu encarei-a surpreso.

– Graças a Deus que não falo né? Já pensou se eu sonho algo mais é... Mais... Hum... Íntimo?

– Seria engraçado!

– Ou constrangedor, se eu te agarrasse!

– Você sempre me agarra... – ela mostrou a língua e eu tive que rir.

– Ok, essa você ganhou... Mas não se acostume hein?

– Bobo! Não corte o clima! Hoje estamos completando mais um mês juntos e eu preparei um café da manhã pra nós dois... – sorri surpreso e puxei-a para um abraço agradecido.

– Mais um mês juntos... E eu sinto que isso é apenas o começo... – disse apertando-a mais e ela rapidamente começou a afagar meus cabelos.

– Eu também! E estou muito feliz de estar com você e por me aceitar como sou... – disse corada.

– Não há nada de errado com você!

– Certeza? – sua voz tinha certo tom de dúvida. Sentei-me e aninhei-a em meu colo, olhando diretamente em seus olhos.

– Claro! Seus óculos te deixam charmosa e com ar de ‘intelectual’, suas roupas são discretas e você é o sonho de consumo de qualquer namorado! Não sai por aí exibindo partes que só eu tenho o direito de ver... – e ainda não vi, detalhe básico que não preciso falar em voz alta; não estou reclamando, apenas pontuando algo e pra variar, divagando comigo mesmo.

– Eu sei disso, mas as vezes bate aquela insegurança chata sabe?

– Oh se sei... Quando os caras repararam em você naquela aula de Educação Física eu fiquei irritado. Só por causa do tamanho daquele uniforme indecente... – ela afagou meu rosto e me olhou séria.

– Mas você me enxergou antes disso. E eu digo enxergou porque você realmente me viu ali estatelada no chão e não importou com ninguém e nem se intimidou pelos risos, apenas quis ajudar a mim...

– E eu achei você linda, mesmo machucada e naquela situação desconfortável... Você nunca foi invisível pra mim.

– O mundo hoje anda tão confuso, as pessoas têm invertido os valores e você é uma daquelas maravilhosa exceções que me fazem acreditar que a humanidade ainda tem salvação, que ainda existem pessoas humanas. – fechei os olhos absorvendo suas palavras sinceras e ao abri-los eu vi seus olhos brilhando.

– Você, Isabella Swan, fez minha vida ter um sentido; um propósito. Algo que fez ser melhor, me sentir melhor e útil para o mundo. Como se eu dissesse a mim mesmo: você está sendo humano de verdade, está cumprindo seu propósito no mundo: amar ao próximo como a você mesmo. – ela sorriu e meu corpo foi envolvido em mais um abraço caloroso e cheio de algo forte, profundo e intenso.

– Recuperei parte da força que tinha perdido quando você apareceu.

– Sinto que meus pais escolheram mudar-se pra Forks na hora certa.

– Pensei que você acabaria se afastando se eles te intimidassem...

– Eu não me afastaria de você, nem que tivesse que convencer Renée que o melhor era você estudar em Port Angeles. Eu iria com você.

– Nossa ligação foi forte desde o primeiro dia. – ela sorriu ao dizer.

– Sim, e ela foi se intensificando. – afirmei e senti novamente a mesma sensação intensa e duradoura de ontem, ao olhar nos olhos dela eu vi todos os sonhos que tive com ela se tornando realidade.

– E está nos transformando, acho que não somos mais os mesmos...

– Não mesmo. – e eu senti que ela também estava na mesma sintonia que eu.

– Bella...

– Edward... – nossos olhares se perderam um no outro e ali eu vi tudo o que me faltava, todo o medo de ficar sozinho sumiu, todas as dificuldades serem superadas e ela ao meu lado sempre.

– Eu amo você. – falamos exatamente ao mesmo tempo e nossos lábios se encontraram num beijo calmo e tranquilo, onde senti todo o amor dela por mim fluindo.