Quanto Tudo Começou A Mudar. escrita por Lina Pond


Capítulo 3
Mavericks


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo está gigantesco. Não sei se vocês vão me amar ou me odiar por isso ahaha. Enfim, espero que gostem.



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- Eu odeio você!

Mariana tinha acordado.

- Aspirinas à esquerda – eu disse enquanto tentava decidir como usar meu cachecol.

- Que horas são? – ela perguntou, se sentando.

Na noite passada eu havia a jogada no chuveiro gelado. Ela tinha deitado com o cabelo molhado e ele parecia um ninho de pássaros laranja agora.

- Duas e meia.

- Por que você está toda arrumada assim? – ela disse, meio chocada.

- Eu vou sair.

- COM UM CARA?

- Uau! Você parece chocada.

- Não pelo cara. Eu tenho certeza que um monte de cara já quis sair com você. Mas você aceitou. Eu levantaria, pularia e te daria uns beijos, mas estou com tanta dor de cabeça.

- Eu nem consigo imaginar por que... Me dar uns beijos? Mariana, eu sei beijar ok? E eu não pretendo beijar ele.

- Eu não disse que não sabia. Mas quando a gente fica muito tempo sem... A gente esquece sabe?

- Não, não esquece. É como andar de bicicleta.

- Não, é como matemática.

- Se eu odiar beijar como eu odeio matemática, nós temos um problema.

- Você não odiaria me beijar – ela disse se jogando novamente na cama.

- Porque você é tão sexy que qualquer pessoa trocaria a opção sexual por você.

- Exatamente.

Fui até a cama, beijei sua testa e peguei a jaqueta de Aaron.

- Se comporte – sussurrei antes de fechar a porta.

Minha mãe estava no final da escada.

- Ela está bem? – ela estava sorrindo, o que era estranho porque nós estávamos falando da Mariana.

- Sim, mãe. Eu sinto muito. Ela vai parar de fazer isso...

- Eu não ligo. Quando você pretendia me dizer que tem um encontro? – Ele estava dando pulinhos. MINHA MÃE ESTAVA DANDO PULINHOS PORQUE EU TINHA UM ENCONTRO.

- Não é um encontro! – não era um encontro.

- Claro, claro. Deixa eu arrumar seu cabelo – ela me puxou para perto dela e começou a puxar meus cachos.

- Mãe, eu estou atrasada, você pode parar de me puxar...

Ela soltou meu cabelo que caiu em longos cachos pelas costas.

- Mãe – eu suspirei – eu levei horas fazendo aquela trança.

- Você tem um cabelo lindo. Pare de escondê-lo. Agora... – ela tirou um brilho do avental e passou na minha boca – Agora sim. Você está tão linda.

- Mãe, para de apertar minhas bochechas. Eu sei que você está feliz, achando que eu vou desencalhar e tal, mas...

- Não querida – ela disse, segurando meus braços – Eu estou feliz porque pela primeira vez você está fazendo algo por você, e não pela Mariana.

Ela beijou minha testa e me levou até a escada.

- Lembre-se da regra. – Ela disse sorrindo.

- Trate bem a Mariana, mãe! – eu disse descendo os quatro degraus em frente a nossa porta.

Eu tinha a melhor família do mundo. Minha mãe era minha melhor amiga. Muito melhor que a Mariana. Ela era louca e apoiava qualquer decisão que eu tomasse. Uma época ela cismou que eu estava apaixonada pela Mariana. Fez um discurso sobre como apoiava qualquer coisa que eu decidisse. Só se convenceu quando eu fingi uma queda pelo Mick, nosso vizinho. Meu pai era mais rígido, mas fazia qualquer coisa por mim e pela minha irmã, Lizzie. Por causa da Jane, sim. Ela tinha só doze anos, mas entendia muito o mundo. Ela era provavelmente minha segunda melhor amiga. O que deixa a Mari no final da lista.

Andei muito devagar até o Mavericks. Não queria chegar primeiro. Me escondi em uma esquina em que eu podia ficar olhando para dentro da sorveteria. Faltando três minutos para as três, ele chegou. Com uma camisa social azul, uma calça jeans e os cabelos mais curtos. Ele foi cortar o cabelo. Porque eu me sentia lisonjeada?

Atravessei a rua bem devagarzinho. Estava com sapatilhas com pequenos elefantes desenhados, uma bata azul e a mesma calça da noite passada. Meus cabelos estavam soltos agora e eu estava usando brilho labial. A jaqueta de Aaron estava pesando no meu braço esquerdo. Entrei no Mavericks com a cabeça baixa. Ele estava sentado na última mesa, com um sorriso do tamanho do mundo. O cabelo ajeitado, a roupa engomada, ainda mais bonito do que na noite anterior.

- Você veio – ele disse enquanto eu me sentava no banco a sua frente.

- Você parece surpreso – eu disse enquanto estendia sua jaqueta – Eu estava com algo seu, lembra?

- Eu nem sabia se podia acreditar que seu nome era Emma. Quer dizer... Eu realmente achei que você não ia aparecer.

- Bom, eu apareci.

O silêncio pairou por alguns minutos.

- Sabe... – eu disse e ele olhou pra mim – Eles não vem oferecer as coisas aqui. Nós temos que levantar e colocar nosso sorvete.

- Claro – ele disse se levantando. Peguei sorvete de morango e chocolate. Para mim, era a combinação perfeita. O extremamente doce com o levemente ácido. Era um pouco como a vida. Era um pouco como aquele momento.

Aaron pegou algo verde e leite condensado. Puxei uma nota de cinco do bolso e ele segurou minha mão.

- Nem pensar – ele disse e eu guardei a nota.

Nos sentamos e eu não conseguia tirar os olhos do sorvete dele.

- O que é isso verde? – Perguntei, sem pensar.

- Eu não sei – ele disse, sorrindo – Só parecia bonito.

- Nem tudo que é bonito, é bom.

- Isso é sobre você? – ele disse, me devorando com os olhos. Comecei a rir.

- Definitivamente não. Não sou bonita. Nem boa. – fiquei quieta por um segundo – Nossa, agora parece que eu estou implorando por um elogio. Não estou. Não me diga que eu sou bonita ou qualquer coisa assim, por favor.

- Mas você é...

- Vamos mudar de assunto.

Ele experimentou o sorvete verde e fiquei esperando sua reação.

- E então? – perguntei apreensiva.

- É maravilhoso. Quer um pouco? - Eu sorri e levantei minha colher, mas ele me parou – Não.

Ele colocou sua colher no sorvete e fez um sinal para que eu me aproximasse. Acho que era só na minha cabeça, mas aquilo parecia tão sexy. Me inclinei um pouco, e ele colocou o sorvete na minha boca. Fechei os olhos por alguns segundos, que pareceram durar uma eternidade.

- É muito bom – eu disse.

- Vem cá – ele disse indo para o canto e batendo a mão na parte vazia do banco, ao lado dele – Vamos dividir.

Não sei que força maior me fez levantar e ir até seu lado, mas eu fui. E nós ficamos ali por horas, dividindo o sorvete verde sem nome, rindo de tudo e evitando os olhares das pessoas que me conheciam e que pareciam brilhar por mim. Ou talvez fosse só meu reflexo.

***

Saímos da sorveteria com o sol se pondo.

- Você tem horário para voltar pra casa no sábado?

- Mas é claro – eu disse, rindo – Você esqueceu que está saindo com uma garota de dezessete anos?

- Você não parece ser tão nova.

- Você vai me contar quantos anos você tem?

- Vinte e um.

- Meu pai vai me matar – eu disse rindo.

- Mas eu tenho juízo. Estou na faculdade...

- Você está na faculdade? Meu pai vai me matar duas vezes.

- É ruim eu estar na faculdade?

- Não. É ruim eu não ter saído com um colega de classe que joga bolinha de papel na minha cabeça.

- Isso parece ruim.

- Você já viu o pôr-do-sol lá da praia? Quer dizer, se você é novo aqui e...

- Não – ele disse sorrindo – Mas eu ia adorar ver.

Abri meu cachecol para ele se tornar um tipo de manta e o guiei até a praia. Nossas praias eram diferentes. Ao invés de areia, nós tínhamos pequenas pedrinhas que iluminavam um mar que era forte demais para as crianças brincaram. Ele era azul escuro e ali perto ficava o porto.

- Nós chegamos a tempo – eu disse quando finalmente parei de correr.

O céu era azul, mas parecia que um pincel com laranja e amarelo tinha escorregado e borrado o quadro. Eu amava aquilo. Eu ia quase todo dia observar o pôr-do-sol e não me lembro de ter levado qualquer outra pessoa além da Lizzie pra lá.

Aaron escorregou sua mão e apertou meus dedos.

- Meu Deus – ele disse – Você está gelada.

- Está tudo bem.

- Eu não vou precisar de desculpa da jaqueta pra te ver de novo?

Eu sorri.

- Definitivamente não!


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Notas finais do capítulo

Se você ama o Aaron grite HEY (HEY!). Não, ok! Eu tenho até medo de estragar ele, mas ninguém é perfeito certo? Surpresas ruins vem vindo por ai. Beijinhos