Soba Ni Iru Né... escrita por JúhChan


Capítulo 46
Capítulo quarenta e seis – Bem-vinda da amnésia


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, gente.... Voltei depois de um sumiço de um ano!!
Me perdoem!
Nessa pandemia, por ficar em casa com o notebook ligado, me deu uma vontade de escrever enorme e aqui está o resultado. Melhor do que ficar mais um ano sem capítulo né...
Enfim, aproveitem o capítulo e já aviso que teremos mudanças nos nossos personagens, Beijos!



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E como previsto, os quatros casais resolveram passar a noite em um hotel. A quantidade de álcool ingerida no aniversário de Sakura, os deixaram receosos em pegar a estrada já tarde da noite, principalmente os casais Hyuuga e Nara.

O hotel escolhido foi o mesmo que eles se hospedaram ano passado, quando vieram aproveitas as curtas férias de verão em grupo.

O sono tomava conta das oito feições. Shikadai acabou dormindo após o bolo e Akemi no caminho para o hotel, suas pálpebras cederam depois de uma noite inteira brincando com Tsukimi.

Então, em uma rápida despedidas e desejos de “boa noite” e “bom descanso”, os casais foram subindo para seus respectivos quartos, restando apenas o loiro e a morena no hall do hotel.

—Ainda está brava, Hime? – indagou com o cartão do quarto deles em mãos. O cenho da Hyuuga se franziu no segundo seguinte.

—Já disse para não me chamar assim. – disse e começou a andar em direção a um dos elevadores de portas abertas.

—Hinata. – a chamou em meio a um suspiro. -Continua brava comigo? – tornou a indagar, andando três passos atrás da noiva.

Apesar de Naruto saber a resposta, ele queria ouvir da boca de Hinata a confirmação, mas isso não aconteceu, apenas adentraram a caixa metálica em silêncio. O loiro pressionou o botão número cinco, assim que as portas se fecharam e se encostou na parede espelhada com uma expressão fatigada, mas seus olhos permaneceram fixos na noiva, de braços cruzadas e bochechas coradas, claramente irritada.

No pequeno painel retangular colado acima dos botões de números, mostrava que o elevador estava passando pelo segundo andar e, o silêncio em seu interior estava desconfortável para ambos.

—Hinata. – a chamou novamente e acompanhou os ombros femininos se encolherem. -Quando poderei voltar a chama-la de Hime?

Nenhuma resposta verbal, apenas os braços cruzados se contraíram.

—Por favor, fala comigo. – pediu em uma última tentativa de estabelecer um diálogo.

O pequeno painel sinalizava que estavam passando pelo quarto andar. Um suspiro em derrota foi solto pelo Uzumaki ao perceber que estava falando sozinho. Ele apenas desejava se explicar.

Hinata permaneceu com o olhar fixado em um ponto imaginário ao lado esquerdo da porta metálica, somente ouvindo as tentativas do noivo em conversar consigo. De certa forma, se sentia mal em ignora-lo daquela maneira, mas tudo tem um limite e, a Okada mais nova conseguiu gastar toda a paciência que a Hyuuga possuía ao beijar o Uzumaki.

A Hyuuga sabia que o noivo foi pego de surpresa assim como ela, e que na primeira oportunidade afastou a Tomoka, pois ele era um homem que usava uma grossa aliança de noivado e a honrava. Porém, a raiva inflava seu coração cada vez que a imagem de Naruto sendo beijado lhe vinha à mente. Acabou cruzando os braços para conter o sentimento, mas a presença do loiro a estava irritando. Ela não sabia lidar com aquele ciúme.

O som agudo indicando que haviam chegado ao seu andar soou pelo ambiente.    

—Espero que você tenha pegado um quarto com duas camas. – disse ao sair do elevador.

O Uzumaki parou no mesmo segundo, implantando-se no meio do corredor.

—Você está sendo injusta, Hinata. – contrapôs e lançou um olhar irritado à noiva, parada a seis passos a sua frente. -Você viu que foi a Tomoka que me beijou. Ela me pegou de surpresa, se eu soubesse que faria isso, você sabe que eu teria desviado. – suspirou casando. -Então por favor, fala comigo. – e começou a se aproximar da morena.

Os olhos azuis acompanharam os calcanhares de Hinata girarem para que ela ficasse de frente para ele. A irritação foi dando lugar ao alívio e um pequeno sorriso tomou conta dos lábios masculinos ao visualizar as bochechas coradas, os olhos perolados estreitos e um bico nos lábios.

—Eu sei que você tem razão em tudo que falou, Naruto-kun! Eu sei disso. – a última frase soou como se falasse para si mesma. -Mas eu também sei que tenho o direito de ficar brava.

—Mas não comigo, Hinata.

—Com você sim! – exclamou e viu as sobrancelhas loiras se arquearem. -Porque você teve que fazer uma promessa quando era pequeno? E, agora está sendo cobrado por uma garota que mal saiu das fraldas.

Naruto arregalou os olhos.

—Eu não queria sentir esse ciúme idiota, mas toda vez que ela se aproxima de você, tenho que me segurar para não cometer uma estupidez. – desabafou num tom de voz choroso. -Você é uma pessoa de coração grande, que consegue colocar as vontades dos outros acima das suas na maioria das vezes. Então, eu fico imaginando o momento que você resolve cumprir essa maldita promessa e... – as próximas palavras ficaram presas em sua garganta ao sentir braços calorosos envolvendo seu corpo.

—Realmente, você está sendo muito injusta. – murmurou bem próximo a orelha da morena.

—E cancelar o nosso casamento. – completou a fala, afundando o rosto no peito do noivo.

—Eu sei que, às vezes, eu coloco as vontades dos outros acima das minhas, mas isso não se aplica ao nosso relacionamento. Nós temos quase dez anos de história juntos, Hinata. Eu não seria louco de jogar tudo isso fora por causa de uma promessa feita na minha infância. Eu sei muito bem que amo você. Amo muito você!

Os braços femininos envolveram o tronco do Uzumaki, correspondendo ao abraço.

—Desculpe... – murmurou envergonhada. -Eu deveria ter dito o que estava sentindo, me desculpe.

—Está tudo bem, você só estava com medo. – e depositou um beijo no topo da cabeça da noiva. Ação que fez Hinata levantar o olhar, cruzando-o com os brilhantes olhos azuis, que ela tanto adora. -Posso voltar a te chamar de Hime?

A resposta foi um encostar de lábios. A insegurança já não estava mais presente no coração da Hyuuga.

~~*~~*~~*~~

A porta de entrada foi aberta bruscamente por uma Namie zangada.

—Tomoka! – exclamou com a voz elevada a três oitavas enquanto retirava os sapatos. -Espero que ela esteja acorda e com o quarto destrancando. – e seguiu em direção às escadas a passos apressados. 

Itachi subiu logo em seguida, não se encontrava diferente da namorada.

—Tomoka, abra essa parte. – a Okada mais velha exigiu após bater na madeira três vezes. -Sei que está acordada.

—Olha a hora, onee-chan.— foi a resposta vinda do outro lado da porta pintada de branco e com detalhes em vermelho.

—É uma ótima hora para conversar, abra a porta, Tomoka. – disse Itachi.

Depois de vinte segundo, sons de passos pesados e baixas reclamações foram ouvidos pelo casal, para em seguida ouvirem a chave girando na fechadura. A porta se abriu e revelou expressões desgostosas de ambos os lados.

—Pronto. Sobre o que querem conversar? – questionou sarcástica.

—Você sabe muito bem o assunto. O que queremos saber é o motivo de ter beijado Uzumaki Naruto.

—O motivo você sabe muito bem. Mas vou reforça-lo. – respondeu, sorrindo em zombaria. -É para reivindicar o que é meu.

A Okada mais velha fechou os olhos com força e respirou profundamente.

—Eu já cansei de repetir isso, só que você me força a dizer cada vez que me arruma uma confusão com Naruto e Hinata: se desprenda do passado, Tomoka. Ele está noivo, com o casamento marcada para maio. Ele ama a Hinata. – lançou um olhar duro à irmã. -Como você teve a audácia de beija-lo sabendo de tudo isso?

—A mesma audácia que ele teve ao esquecer a nossa promessa.

—Vocês a fizeram numa época que nem se entendiam como gente. Por favor, amadureça.

—Nunca mais diga isso, Itachi! – esbravejou, para em seguida suspirar. -Vocês não estão entendendo o meu lado, só falam que eu estou agindo como uma criança e não veem que eu sou a única que está tentando manter a palavra, porque não importa a idade quando se promete algo é para ser cumprido! – e lançou um olhar duro à irmã mais velha e ao cunhado.

Namie entendia o lado de Tomoka, afinal Naruto foi o primeiro amor dela, e promessas como aquelas marcam as pessoas profundamente, mas também, ela sabia o quanto aquela fixação seria prejudicial para todos os envolvidos. Assistir a irmã forçando uma aproximação com o loiro e desejando que o noivado fosse rompido, causava em si um misto de constrangimento e pena. E, a atitude daquela noite foi a gota d’água para a Okada mais velha.

—Sabe o que é mais engraçado em toda essa situação? – foi desperta de seus devaneios pela voz de Tomoka. -Nós crescemos ouvindo o quanto é importante cumprir com o que falamos e nunca esquecer as promessas, mas quando isto tem de ser posto em prática, somos impedidos. – mudou o peso do corpo para a perna esquerda e o sorriso zombeteiro retornou aos lábios femininos. -É tão engraçado que chega a ser irônico.

O casal trocou um rápido olhar.

—Nesse aspecto você está certa, Tomoka. Nós fomos ensinados a honrar o que prometemos e devemos cumprir. – o moreno disse. -Eu sou só seu cunhado, sei que somente seus pais e a sua irmã têm o direito de dar sermão, mas vou te dizer uma coisa. – suavizou a expressão facial. -Não se pode desejar o cumprimento de promessas, enquanto que se deseja o fim de um relacionamento somente para você se beneficiar.

O sorriso zombeteiro foi diminuindo a cada palavra proferida pelo Uchiha, até que a expressão da Okada mais nova se tornou séria.

—Isso é tão injusto! – murmurou e girou sobre os calcanhares. -À merda aquele noivado. Vocês deveriam se importar com a minha felicidade. – e fechou a porta do quarto com uma força desnecessária ao adentra-lo.  

~~*~~*~~*~~

Os flashes de suas memórias perdidas iam e vinham em sua mente, causando terríveis pontadas por todo o seu crânio. A cicatriz no lado direito de sua cabeça era a região que mais latejava, fazendo com que Sakura soltasse murmúrios dolorosos, apesar de já ter sido medicada.

Em um canto afastado de sua mente, ela suspirava aliviada por ter recuperado a memória, sentindo-se feliz, pois a sensação vazia do branco de três anos não a afetaria mais. Porém, a aflição tomava conta de seu corpo, a medida que os fragmentos de suas lembranças se encaixavam.

Sem dúvidas um paradoxo se formava no interior da rosada.

Ela e Sasuke não haviam adiado o casamento por causa de um convite para ela realizar a sua residência no Hospital Geral de Konoha, mas sim, porque ela havia acreditado em fotos e exames falsificados que mostravam que Sasuke já possuía uma família.

Ela não se mudou para Konoha, mas sim, fugiu sem deixar rastros, desaparecendo de Tóquio e se afastando dos amigos e dos progenitores. Agora ela entendia o olhar aliviado que Mebuki e Kizashi lhe lançava a cada visita.

Ela já provou da sensação da maternidade, mas não a sentiu por completo, pois ela deixou seu filho ir antes mesmo de conhece-la. O sentimento amargo do aborto voltou com força total, a lembrando também que não teve muito tempo para sentir a sua perda.  

Ela causou o distanciamento dos irmãos Uchihas, e apesar de Itachi já ter lhe dito que foi uma decisão dele, ela possuía uma grande parcela de culpa, afinal afastou de Sasuke o único integrante da família dele ainda vivo.

Ela decepcionou seus pais, seus amigos e principalmente Sasuke, mas mesmo assim, todos eles permaneceram ao seu lado quando havia despertado do coma. Não fizeram perguntas ou lançaram olhares reprovadores, simplesmente a acolheram como se ela nunca tivesse desaparecido.

Ela e Sasuke mantiveram uma relação de só sexo por alguns meses, o que trouxe a questão do abandono em pleno altar à tona. Descobrir que passou quase três anos de sua vida acreditando em uma mentira foi doloroso, mas, o que mais lhe doeu foi ter construído uma espécie de “namoro” com Sasuke, após ela ter despertado do coma, pois agora ela via os momentos em que ele engolia os acontecimentos dos últimos três anos e a tratava bem.

De onde havia tirado que odiava o moreno?

Deu-se conta de que ela não merecia Uchiha Sasuke, nem seu perdão e muito menos o perdão de seus progenitores e amigos.

Ela havia sido uma pessoa extremamente insensível e egoísta.

Nem seus amigos de Konoha merecem uma amiga como ela, afinal, quando Sakura precisou deles, eles a protegerem e a apoiaram, mas ela acabou esquecendo-se deles ou esquecendo-se dos feitos deles.  

Talvez, a única coisa boa que fez nesses últimos três anos foi dedicar seu carinho à Tsukimi. Sentiu um aperto no coração. Ou, ela só fez isso para superar a perda de seu bebê.

Um suspiro resignado se misturou a soluços.

Itachi e Suigetsu tinham razão em dizer que a preferem com amnésia. Era uma pessoa melhor e realmente feliz.

 As lágrimas escorriam sem parar dos cantos dos olhos da Haruno. As conclusões que chegou enquanto recordava-se de cada evento dos últimos anos fazia a culpa crescer em seu coração, desesperando-a.

Como os encararia daqui para frente?

~~*~~*~~*~~

Suas pálpebras estavam mais pesadas que o normal e seu corpo se encontrava em um momento de letargia muito forte. Ele não sabia explicar com precisão como conseguiu chegar a uma posição levemente confortável, sobre a cadeira da recepção do hospital, ou como acomodou Tsukimi em seu colo.

—Sasuke! – a voz do Uchiha mais velho alcançou sua audição, fazendo-o abrir os olhos e se deparando com dois pares de olhos aflitos. -Como você está?

—Bem. – respondeu, sentando-se de maneira correta sobre a cadeira e aninhando o pequeno corpo em seus braços.

—Não quer passar ela para mim? – Namie se ofereceu, já esticando os braços.

O Uchiha mais novo respirou profundamente enquanto passava o olhar pelo casal a sua frente, reparando que eram as mesmas roupas usadas na noite anterior e possuíam expressões cansadas. 

—Acho melhor não, acabei de fazê-la dormir. – se referiu a facilidade em que a Yamashita tinha em acordar na primeira hora de sono.

—Mas você está acabado. – insistiu, o que arrancou um pequeno riso de Sasuke.

—Vocês não estão tão diferentes de mim, eu garanto. – e desviou o olhar para o irmão mais velho.

—E a Sakura? Está tudo bem com ela também? Alguma informação? – questionou Itachi, vendo o caçula inquieto.

Em resposta, Sasuke apenas balançou a cabeça de um lado para o outro levemente.

—Desde que a trouxe, a enfermeira me pediu para aguardar na recepção. – disse e recordou-se dos momentos de tensão vividos no trajeto até o hospital: os soluços de Tsukimi se misturavam as indagações sobre o estado de Sakura, enquanto que ele dirigia em direção ao Hospital Geral de Konoha e tentava se manter calmo.  

O pavor nos olhos azuis, a careta de dor nas feições da rosada, as mãos da mesma pressionando as laterais da cabeça eram imagens que ele adoraria apagar de suas memórias.

Se ele soubesse que fazendo sexo com Sakura traria as memórias dela de volta... Seria cômico senão fosse trágico, pois justo no momento em que eles estavam recomeçando de maneira correta, entrando em sintonia, ela recupera as lembranças. Provavelmente, ela estaria confusa naquele momento, estado não muito diferente do seu, afinal como ele lidaria?

—Ela só me disse que as memórias voltaram e permaneceu de cabeça baixa, evitando me olhar. Tive que puxá-la pelo braço para colocar no carro e trazer para cá. – respirou profundamente, para em seguida mudar o corpo adormecido de Tsukimi de posição, acomodando a cabeça dela em seu ombro esquerdo. -Você pode avisar aos pais dela? Não quis acordá-los no meio da madrugada para dizer isso, eles viriam voando para Konoha. – e viu que o relógio fixado à parede a sua frente marcava 06h35min.

—E a galera?

—Faz esse favor para mim também, Itachi. – pediu entre suspiros cansados.

—Me dê ela aqui, Sasuke! Você precisa lavar o rosto e comer alguma coisa.

Dando-se por vencido, o Uchiha mais novo deixou a Okada pegar o pequeno corpo adormecido, já estava duvidando de sua capacidade em mantê-la acomodada em seus braços. Visualizou o cenho infantil se franzir rapidamente, para então relaxar. Tsukimi não acordaria com aquela sacudidas, pois ficar acordada boa parte da madrugada a consumiu totalmente.

Seu olhar foi desviado para o corredor por onde a Haruno foi levada sobre uma maca no começo da madrugada. Os três pares de olhos acompanharam Nishi Gakuto se aproximar e cumprimenta-los com um aceno de cabeça.

—Como ela está? – Sasuke indagou depois de se pôr de pé. 

—Fisicamente ela está bem, a medicamos para diminuir a dor de cabeça, por causa disso ela dormiu e acordou faz menos de uma hora. Fizemos os exames essenciais para verificar se está tudo em ordem e, aparentemente, está. A psicóloga vai dar seu parecer quando chegar. – respondeu sério, mas os olhos escuros do médico estavam apreensivos.  

—Podemos vê-la?  

Gakuto respirou profundamente.

—Ela pediu um tempo.

—O quê? – os três disseram ao mesmo tempo, lançando um olhar duvidoso ao médico, afinal poderiam não ter ouvido direito.

Gakuto fingiu uma tosse.

—A doutora Haruno está bastante confusa, por isso pediu para que ninguém a visitasse até que ela se sinta bem consigo mesma. – tentou explicar ao se recordar da expressão perturbada que ela ostentava. -Ela recuperou as memórias de uma vez só, deem um tempo a ela e voltem no horário de visita da tarde. – lançou um olhar ameno aos três adultos. -Com licença. -fez uma breve mesura e sumiu pelo mesmo corredor que havia surgido.

Houve uma troca de olhares inconformados.   

~~*~~*~~*~~ 

 A psicóloga Meda Takako passou a manhã inteira em uma sessão com a rosada. A longa conversa conseguiu acalma-la um pouco. É claro que a psicóloga não lhe daria a fórmula para encarar a sua nova situação, mas a ajudou a começar a organizar seus pensamentos e lembranças.

Quando o almoço da Haruno foi trazido para o quarto, ela foi informada que seus pais e amigos foram avisados sobre o motivo de sua internação no hospital e que eles viriam no horário de visita vespertino.

Naquele momento, a garganta dela se fechou, dificultando a passagem da primeira porção de arroz que havia deglutido. Seu pedido de tempo para pensar foi tão pouco assim? – questionou-se mentalmente enquanto que assistia Takako sair de seu quarto. O olhar encorajador que ela lhe lançou antes de deslizar a porta, fez seu coração disparar.

Ela sabia que recusar a visita de seus pais, amigos, Tsukimi e de Sasuke não lhe traria nada de bom, pelo contrário, só aumentaria a preocupação deles. Porém, ela sentia uma tremenda vergonha de encara-los naquele momento.

Pedir para que eles viessem no dia seguinte, seria demais?

No segundo seguinte, xingou-se mentalmente de covarde. Ainda estava uma bagunça de sentimentos dentro de si. Desejava ser acolhida pelos progenitores, como aconteceu ao despertar do coma; receber olhares calorosos dos amigos e abraços sufocantes das amigas; ouvir broncas emocionadas de Karin; rir das manhas de Tsukimi; e, principalmente, ouvir de Sasuke que ficará ao seu lado, apesar das circunstâncias.

Os olhos verdes se arregalaram e finas lágrimas escorreram dos cantos dos mesmos. Sakura desejava a presença de sua grande família, mas ela não estava preparada para as indagações e as dúvidas sobre o seu futuro.

A desolação do começo da manhã retornou, a atingindo em cheio. Ao mesmo tempo que sentia a necessidade de estar com os pais, amigos, Tsukimi e Sasuke, desejava isolar-se no quarto hospitalar até receber alta, por sentir que não os mereciam. Precisava ficar bem consigo mesma primeiro.

Respirou profundamente e voltou a comer o seu almoço, mesmo ele não parecesse tão apetitoso como antes.

~~*~~*~~*~~

Olhou para o relógio a cima da entrada de seu quarto, se os protocolos do Hospital Geral de Konoha não mudaram, o horário de visita começaria em quarenta minutos.

Quando a moça da copa veio recolher a sua bandeja do almoço, Sakura havia pedido que ela chamasse alguém da equipe de enfermagem, pois queria fazer o mesmo pedido do começo da manhã.

No entanto, já havia se passado uma hora desde que a moça da copa saiu, então concluiu que, com um suspiro resignado, seu desejo de mais um tempo sozinha não seria realizado.

Descobriu as pernas, as jogando para o lado esquerdo. Se não podia se esconder no quarto, ela encontraria outro cômodo para isso e, já estava com um local em mente. Só esperava que não estivesse trancada.

Sentiu seu coração falhar uma batida e a sensação de estar fazendo algo muito errado tomar conta de si.

Puxou o máximo de ar que pode e pôs-se de pé sobre o surippa verde do hospital. Sentiu os joelhos falharem por ter ficado a manhã toda na cama. A rosada percebeu que aquilo poderia ser um sinal para que encarasse os seus visitantes, mas com outra respirada profunda, ignorou o sinal juntamente com a sensação de estar fazendo algo errado.

Começou a andar em direção à porta. Realmente estava sendo uma covarde.

Mas eu fui insensível e egoísta por um bom tempo. – falou em pensamentos para continuar com sua espécie de fuga.

Olhou para os dois lados do corredor, visualizando apenas pacientes transitando com acompanhantes. Seguiu para direita, pois no final do corredor uma placa suspensa informava que estava no segundo andar do hospital e, seu esconderijo estava no primeiro.

—Doutora Haruno? – uma voz masculina a fez parar.

—Koichi, olá. – forçou um sorriso ao virar sobre os calcanhares e encarar a expressão alegre do antigo pediatra de Tsukimi.

—Soube que está aqui e comprovo que recuperou a memória. Como se sente? – fez a pergunta costumeira de todo médico.

—Bem, na medida do possível. O que está fazendo no andar da clínica médica?

—Uma caminhada após o almoço. Pelo menos no momento de descanso, quero andar em um lugar diferente da pediatria, foi um plantão cansativo. – disse entre curtas risadas. -E você?

Sakura encolheu os ombros e um nervosismo lhe subiu a garganta, era como se estivesse sido pega em flagrante. Afinal, era péssima mentirosa.

—Fazendo o mesmo que você. – respondeu. -Precisava respirar fora do quarto.

—E olha que nem faz vinte e quatro horas que está aqui.

—Pois é né.

—Talvez isso seja pelos três meses que ficou em coma.

—É, talvez. – e respirou fundo. -Agora preciso terminar a minha caminhada.

—Claro, foi bom vê-la bem. Espero que volte logo para o hospital.

—Eu também. Com licença. – sorriu e saiu a passos apressados em direção das escadas. As chances de encontrar os pais, amigos e Sasuke no elevador eram grandes.

~~*~~*~~*~~

A placa prateada com o seu nome reluzia, mostrando que o seu consultório era limpo com certa frequência mesmo com a ausência dela. Levou a mão direita para a maçaneta, sentindo o coração bater em um ritmo acelerado. Depois de descer dois grandes lances de escadas, Sakura poderia dizer que sua taquicardia era pelo esforço físico, mas ela sabia que era por estar prestes a se esconder em sua antiga sala.

Respirou fundo lentamente e pressionou a maçaneta para baixo, a fazendo franzir o cenho e soltar um muxoxo quando a porta não se abriu.

—Doutora Haruno. – novamente foi chamada, mas havia sido por uma voz feminina. -O que está fazendo por aqui?

Sakura virou sobre os calcanhares, visualizando a expressão séria da enfermeira chefe daquele andar, uma senhora quase nas casas dos sessenta anos.

—Enfermeira Kobayashi. – sorriu sem graça. -Eu estava andando pelo segundo andar, quando bateu uma vontade de vir ver como está a minha sala... 

—Então temos a doutora Haruno de volta. – a expressão da enfermeira suavizou.

—Eu acho que sim. – o sorriso cresceu nos lábios da rosada. -Tem como a senhora abrir?

—Claro. – e pôs a mão no bolso direito do jaleco.

—Obrigada! – exclamou, pegando o cartão magnético estendido para si.

—Espero que esteja tudo bem com você. Volte logo, sentimos muito a sua falta, até mais. – Kobayashi lançou um olhar sério à Haruno e saiu.

Somente quando as costas brancas da enfermeira sumiram de seus olhos verdes, que Sakura soltou o ar que estava preso em seus pulmões. A sensação de estar fazendo algo de errado se intensificou ao passar o cartão prateado no leitor.

Quando o “click” foi captado por sua audição, ela rapidamente abriu a porta de seu consultório e o adentrou sem olhar para o corredor. As luzes se ascenderam no momento seguinte, mostrando para ela o local limpo e cheiroso, onde tudo estava conforme havia deixado, antes de ser baleada.

Eu poderia ficar aqui para sempre.— falou em pensamento enquanto passava os olhos verdes pelas paredes com prateleiras de livros e seus diplomas de graduação e residência, os armários onde se encontram os materiais hospitalares, a maca arrumada com o lençol branco e, por fim, a sua mesa.

Aproximou-se desta última, contando mentalmente a quantidade de porta-retratos postos ali.

Eram sete no total: a foto do dia de sua colação de grau com seus pais; outra, onde os rostos sorridentes de Karin, Suigetsu, Itachi e Namie estavam junto a ela no primeiro natal dela em Konoha; seguida da foto de seus amigos de Tóquio, no camping que fizeram uma semana antes de iniciar a sua vida universitária; a próxima foto estava apenas Tsukimi sorrindo abertamente, com o cabelo loiro ralo; na seguinte, estava ela vestida de Lolita, da época que trabalhou temporariamente de modelo junto com Ino, para poder custear sua viagem com Sasuke à Bali; ela recebendo o canudo do curso de medicina; e por último, a foto de sua barriga, ainda sem indícios de gravidez, mas que ela tirou no mesmo dia que recebeu o resultado do exame de beta-HCG, prometendo que tiraria uma foto da barriga a cada mês completado.

Sentiu lágrimas quentes escorrerem por suas bochechas, recordar do contexto de cada fotografia a estava causando fortes apertos em seu coração, deixando-a pior do que antes de entrar no consultório.  

Nem aqui eu consigo ficar.

Deu passos para trás, até encostar as costas na porta. Sakura soltou um longo suspiro, ao mesmo tempo em que limpava as lágrimas com o dorso da mão esquerda e escorregava até sentar-se no chão, com os braços envolvendo as pernas.

Por um momento, ela desejou ter permanecido com amnésia. Afinal, a ignorância é uma benção. Relembrar os acontecimentos dos últimos três anos era equivalente a passar por elas novamente, sentindo a mágoa, a raiva, a saudade e a tristeza na mesma intensidade.

—Sakura! – várias vozes a chamou do outro lado da porta, a despertando.

—Você está aí dentro, tia Sakura?

—Por favor, filha, abre a porta. Nós só queremos te ver.

—Sabemos que está confusa, mas todos nós estamos aqui para te ajudar e apoiar. – a voz de Namie soou após seu progenitor dizer.

Um soluço mais alto escapou dos lábios da Haruno, alcançando a audição das pessoas do outro lado da porta.

—Sakura. – Sasuke a chamou. -Estamos preocupados com você. – o coração dela se apertou em desespero. -Por favor, abre a porta. Não precisa dizer nada, só saia daí. Ou se preferir, nos deixe entrar, só queremos te ver. Estamos do seu lado, lembra?

Então, as grossas lágrimas voltaram a escorrer pelo rosto feminino.

Ela realmente não merece eles.

—Tio Sasuke, por que a tia Sakura não abre a porta? Eu quero ver ela! – a voz infantil soou indignada.

Porém, o Uchiha não conseguiu responder a tempo, pois a Yamashita já desferia tapas na porta branca.

—Eu sei que você está ai, tia Sakura. - mais três tapas que ecoou por todo o corredor. -Se você não abrir, eu vou fazer tanto barulho que a diretora do hospital vai aparecer aqui. Nós só queremos te ver! – Tsukimi elevou a voz a uma oitava.

—Tsukimi, acalme-se. – Namie tentou conter o furacão Yamashita. -Não viemos fazer bagunça, lembre-se que outros médicos podem estar atendendo nas outras salas.

—Então a tia Sakura vai ter que deixar a gente entrar.

Os seis pares de olhos encararam a porta branca ainda fechada em expectativa, pois os soluços de Sakura não eram mais escutados. Mas, no período de um minuto, não foi aberta.

—Filha. – o chamado de Kizashi foi como um pedido.

—Talvez ela ainda precise de um tempo. – disse Namie.

—Ela não precisa de tempo, Namie-san, ela precisa de mim, de você, do tio Sasuke. De todo mundo. – Tsukimi explodiu. -Sabe por quê?

—Por quê, meu bem? – Itachi indagou em um tom suave, após agachar a frente da criança.

—Porque eu amo muito ela, assim como todo mundo ama ela! – respondeu com a voz trêmula pelo choro contido. -E, eu só quero dar um abraço na tia Sakura.

Um click foi ouvido e o som de uma porta sendo aberta veio em seguida.

—Por que vocês não estão bravos ou com raiva de mim? – a voz da Haruno mais nova soou chorosa.

—Sakura. – disseram os cinco adultos em alívio, enquanto que a loirinha envolvia os curtos braços no corpo da rosada em um abraço apertado.

—Estamos preocupadas com você, filha, apenas isso. – disse Mebuki com um sorriso terno, a envolvendo um abraço também.

—Mas, eu vivi acreditando em uma mentira por quase três anos e por causa disso me afastei de vocês.

—Você está perdoada por isso há muito tempo. – Kizashi a respondeu também com um sorriso terno nos lábios enquanto lhe acariciava o topo da cabeça.

—Mas, depois do coma eu fiz vocês se adaptarem a mim, sem levar em consideração todo o sofrimento. – e encarou os olhos escuros do Uchiha mais novo.

—Você estava precisando de todo o nosso apoio. – falou Itachi.

—A culpa não foi sua se você perdeu a memória. – completou Namie.

—Isso significa estar do seu lado.

No momento seguinte, a Haruno abaixou o olhar tentando fugir da sensação calorosa que invadia seu coração, percebendo que era essa a sensação que vinha sentindo a falta desde que despertou do coma. Apertou mais o corpo pequeno da Yamashita contra o seu ao se deparar com um doce sorriso no rosto infantil que estava molhado e vermelho.

—Me desculpem. - disse em tom baixo. -Eu realmente não mereço vocês.

—Vamos voltar para o quarto, tia Sakura. A Akemi-chan e os outros tios e tias estão nos esperando.

O trajeto de volta ao quarto foi feito com os irmãos Uchihas guiando a fila, seguido de a loirinha agarrada à rosada de um lado e Namie do outro, e o casal Haruno por último. Uma expressão amena tomava conta das expressões faciais.

Ao dobrar o ultimo corredor para chegar ao quarto, uma mistura de vozes com sons incompreensíveis de bebês os alcançaram. Sakura franziu o cenho no segundo seguinte.

—Nada como uma conversa cheia de emoção não permita a entrada de todo mundo. – explicou Itachi com um sorrio de canto.

—Você quer dizer, encurralar a enfermeira responsável pelo setor com Tsukimi, Akemi, Shikadai e Yuuta no colo de quatro marmanjos? – a Okada riu.

—Não é minha culpa se eu, Naruto, Gaara e Suigetsu somos convincentes. – deu de ombros e continuou a andar de mãos dadas com a namorada.

—Inacreditável! – falou Sakura. -Vocês estão cientes de que o Shikadai e o Yuuta podem pegar alguma infecção só por estar no hospital, né? – questionou para as costas do casal.

—Até eles querem te ver, filha. – Mebuki respondeu a abraçando de lado quando pararam na frente do quarto. -Além do mais, os pais deles estão cientes disso.

—Vamos deixar você sob os cuidados dos seus amigos, tudo bem? Sua mãe e eu ainda não almoçamos. Ao final da tarde, nós voltaremos para te ver. – e o Haruno completou o abraço, aproveitando para depositar um beijo na cabeça da filha. -Fique bem.

—Nós te amamos muito, não se esqueça disso. – e com uma piscadela vindo da mãe, Sakura se despediu dos pais com um sorriso nos lábios.

O som da porta de seu quarto sendo aberta a fez desviar os olhos. Como se um “click” soasse em sua cabeça, ela avançou um passo e segurou o braço de Sasuke, o impedindo de adentrar o quarto.

—Nós precisamos conversar. – falou quando se encararam.

—Eu sei.

—Não precisa ser agora.

—Eu sei. – e a abraçou fortemente.

~~*~~*~~*~~

E o mês de abril chegou, trazendo consigo o verdadeiro início da primavera. As flores de cerejeira pintavam os ambientes de rosa e branco e liberavam o seu aroma adocicado, trazendo muitas pessoas para admirarem-nas, no tradicional Hanami. Não havia mais nenhum resquícios de inverno no região da grande Tóquio. 

—Tem certeza disso?

—Tenho.

—Mesmo?

—Mesmo.

—Absoluta?

—Ino! – exclamaram cinco vozes femininas.

—Eu quero fazer isso, Ino. – respirou profundamente. -Na verdade, eu preciso fazer isso.

Através do grande e iluminado espelho, Sakura encarou a loira platinada de uniforme do estabelecimento, e que por cima deste usava um avental preto. Ela se aproximou de seu grupo com um sorriso contido.

—Agora podemos começar?

—Podemos. – respondeu e lançou um olhar pidonho às amigas pelo espelho. -Por que vocês não aproveitam o salão também? Ele está reservado para nós a tarde inteira.

Os olhos das seis mulheres brilharam em empolgação, e no segundo seguinte, restou apenas Sakura e a loira platinada.

—Acima do ombro? – perguntou como se fosse para confirmar a decisão da cliente.

—Acima do ombro.

A mulher assentiu enquanto deslizava o pente pelos longos fios rosas, os preparando para uma mudança, que não era apenas física.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo está sendo escrito aos poucos.... Estou escrevendo um artigo para a faculdade e justo quando a data de entrega se aproxima, me deu essa surto de inspiração, ou seja, estou fingindo o sonsa para o meu orientador e para o artigo e escrevendo fanfics!! kkkkkkkkk'
Bom, já que chegamos até aqui, preciso de uma ajuda de vocês.... junto com seus reviews, mandem perguntas para o casal NaruHina do tipo "quem come mais?; quem tem chulé?; quem é o mais bravo?", o tipo de pergunta que dá para responder com "ele" ou "ela", para eu poder colocá-lo no capítulo 48 que será o casamento deles! Ansiosa para as perguntas que vocês vão mandar.
Beijos e até mais! =D



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