PDV CARLISLE

Tentei afasta-la para encarar seu rosto, mas ela não deixou, escondeu seu rosto em meu peito, eu podia sentir suas lagrimas molhando minha camisa, e agora mais do que nunca estava confuso e preocupado.

__Bella.__ Chamei, mas ela continuou da mesma forma.__ Olhe para mim.__ Pedi.

__Me perdoe...__ Ela voltou a repetir entre o choro e eu não suportei, a afastei e a fiz me encarar.

Eu queria perguntar muita coisa a ela, mas as palavras sumiram quando vi sua face, minha expressão desmoronou, senti meu coração congelado se apertar diante da visão de seu rosto em completo sofrimento, seus olhos me encaram de um modo tão profundo que não suportei encara-los, precisei desviar.

__Por que... Pedi-me que te perdoe?__ Consegui balbuciar.

PDV BELLA

Não aguentei mais, contei tudo a ele, tudo o que vinha escondendo, sobre minha energia que vinha enfraquecendo, o sonho aviso, a decisão do conselho, o perigo que ele corria, o meu medo de deixa-lo, as escolhas que fiz, tudo, por fim escondi meu rosto entre as mãos e me encolhi, não conseguiria encara-lo agora que ele sabia toda a verdade.

__Você vai...__ Ele não conseguiu terminar a pergunta.

__Eu não queria mentir, juro que não queria.__ Voltei a chorar, dessa vez por medo que ele ficasse bravo comigo, ele tinha motivos para isso.

__Devia ter me contado antes.__ Ouvi seu suspiro e ergui o olhar.__ Se eu soubesse não teria pedido que ficasse...

Eu não queria ouvir aquilo, suspeitava, se não tivesse certeza, do que ele iria dizer, eu não suportaria ouvi-lo até o final, seria demais pra mim, ele não iria me perdoar, não por ter mentido.

Então fugi, abri minhas asas e em segundos sai voando janela a fora, sentia o vento frio da noite de encontro ao meu rosto, e sentia as lagrimas turvando minha visão, eu só queria que essa dor em meu peito parasse, então voei, como nunca havia voado em toda a minha vida, sem rumo, perdida.

PDV CARLISLE

Não tive tempo para impedi-la de ir, tudo aconteceu em menos de dois segundos, e eu não tive como lhe dizer que não a culpava, ela simplesmente fugiu, e o meu peito pesou, ela estava assustada, confusa, duvidava que conseguisse pensar racionalmente, eu também mal conseguia fazer isso, mas sabia que não poderia deixa-la sozinha, não depois de ouvir tudo isso, não depois de saber que ela se culpava por esconder tanta coisa.

Não pensei duas vezes e segui seu rastro, não iria perdê-la, não dessa forma, sem lhe dizer que a amava e que lutaria ao seu lado, sai correndo em minha velocidade de vampiro como nunca havia feito antes, meu peito se apertava só em pensar que não teria a chance de lhe dizer o que sentia, eu precisava encontra-la.

O problema foi apenas piorando quando vi a direção que ela seguia, seu rastro estava desaparecendo rapidamente, mas eu podia perceber o rumo que tomava, e isso não era nada bom, ela estava indo diretamente para a aldeia Quileute, eu só esperava que não fosse tarde para encontra-la antes que algo lhe acontecesse...

PDV BELLA

Com a minha visão turva e já sentindo meu corpo pesar eu fui caindo, cada vez mais, até me aproximar dos topos da arvores da floresta interminável a minha frente, tentei subir, mas estava difícil manter um voou estável com tanta coisa passando por mim, levei uma mão até o meu rosto para tentar secar as lagrimas que insistiam em cair, foi quando eu senti o impacto.

Eu havia batido de raspão contra uma arvore, tentei continuar, mas senti uma dor aguda em minha asa esquerda, um dos galhos havia me machucado e estava doendo, não consegui bater minhas asas, e perdi a estabilidade completamente, então despenquei, chorei sentindo os galhos arranharem meu rosto e braços, até que finalmente em um ultimo esforço consegui forçar minhas asas a bater e diminui a velocidade com que caia, pousei mais lentamente no chão, só que não consegui me manter em pé, então cai desacordada, e a escuridão tomou conta de minha visão...

[...]

Eu não havia recuperado completamente os sentidos, mas senti que estava me mexendo, não eu, mas algo ou alguém, quis abrir os olhos, só que não tinha forças, senti algo quente aquecer meu corpo adormecido, e uma suave oscilação, como se estivesse sendo carregada.

Minha consciência estava levemente desperta, só o que eu sentia era o calor que me envolvia, e a quase imperceptível oscilação, meus olhos pesavam demais para serem abertos, e meu corpo reclamava da dor.

__O que é isso?__ Escutei uma voz distante, mas não era conhecida.

__Veja, ela tem asas...__ Outra voz disse.

__Não é possível... Um anjo... Aqui... Mas como?__ A primeira voz me pareceu confusa.

__Eu não sei, mas está ferida...__ Disse a segunda voz.

__Leve-a para dentro...__ A primeira voz soou.

[...]

Senti pontadas agudas em todo o meu corpo, minha asa esquerda estava doendo muito, minha cabeça latejava, meus olhos pesavam, mas mesmo assim os abri, a claridade me cegou por alguns instantes e a dor em minha cabeça se intensificou, resmunguei em protesto, mas tentei me manter acordada.

Eu estava em um quarto, as paredes eram de madeira avermelhada, me encontrava deitada em algo macio, provavelmente uma cama, isso deixou todos os meus sentidos em alerta, eu não poderia ser vista assim por humanos.

__Anjo?__ Uma voz me chamou e eu virei minha cabeça rápido demais, foi como se mil agulhas perfurassem-na.

__Hm.__ Resmunguei por causa da dor e fiz careta respirando fundo.

Depois de um tempo consegui ver quem havia me chamado, era um adolescente de uns 17 anos, de pele morena avermelhada, cabelos e olhos pretos, tinha traços indígenas.

__Você está bem?__ Perguntou ele se aproximando da cama.

__Como... Que lugar é esse?__ Perguntei confusa e em alerta.

__A encontrei na floresta, estava desacordada e machucada, meu nome é Jacob, e você está na reserva Quileute.__ Jacob explicou.

__A floresta...__ Me lembrei.__ O que você fazia andando lá?

__Eu não sou exatamente humano, se posso dizer assim.__ Ele fez careta e eu me encolhi com certo receio, percebendo isso ele me olhou pedindo desculpas.__ Desculpe, não queria te assustar, você não precisa se preocupar, está entre amigos.

__Como?__ Duvidei seriamente, se eu não estivesse tão machucada já teria fugido.

__Aqui está segura, a noticia de que você está aqui se espalhou bem rápido pela aldeia.__ Ele sorriu e eu olhei para os lados.

__Não... Isso não pode...__ Comecei a gaguejar.

__Ei calma, ninguém vai lhe fazer mal algum, só ficaram surpresos, afinal não é sempre que encontramos um anjo, mas não se preocupe, os segredos da aldeia, permanecem na aldeia, ninguém de fora irá saber da sua existência, temos os nossos motivos para isso.__ Ele se explicou e eu suspirei.

__Afinal, o que vocês são, se não são humanos?__ Questionei.

__Alguns entre nós, como eu, conseguem se transformar em lobos, protegemos os nossos e os humanos dos frios.__ Ele disse com intensidade na voz, pude ver que era verdade.

__Os frios?__ Perguntei a ele.

__Vampiros.__ Disse e eu tive um arrepio.

__Carlisle.__ Balbuciei baixo.

__Conheci o Cullen?__ Perguntou me encarando curioso.

__Não entendo, ele não faz mal a ninguém, porque precisariam proteger alguém dele?__ Indaguei sem entender.

__Ele não é o único vampiro que passa pela cidade, sabemos dele, mas não confiamos nele.__ Disse e eu tentei me sentar.

Quase gritei, mas me segurei, a dor em minha asa era cortante, cerrei os lábios contendo um grito de dor, isso assustou Jacob, que veio rapidamente para o meu lado, ele aproximou sua mão da minha asa, mas eu recuei ao seu toque.

__Alguém precisa dar uma olhada nisso.__ Ele falou me olhando preocupado.

__Jake?__ Uma voz chamou da porta, e ambos lançamos um olhar na direção.

__Sam?__ Perguntou Jacob apressado.

__Ela acordou?__ Indagou um homem parecido com Jacob, só que mais velho.

__Eh...__ Comecei a me preocupar com a presença do outro homem.

__Olá anjo...__ Ele disse um pouco sem jeito.

__Bella.__ Corrigi e eles me olharam interrogativamente.__ É o meu nome.

__Posso falar com você Jacob um instante?__ Sam chamou com um olhar que eu compreendi.

__Sabem que eu estou aqui?__ Questionei e os dois me olharam imediatamente.

__Apenas algumas pessoas da aldeia até agora, alguns do conselho que estão curiosos sobre você esperam respostas suas, mas...__ Sam começou.

__Quem mais?__ Exigi.

__O Cullen...__ Disse não muito amigável e eu arregalei os olhos.

__Vamos mantê-lo longe.__ Jacob se adiantou.

__Não.__ Falei.__ Ele está aqui?

__Conheci o sanguessuga?__ Sam perguntou.

__Sim.__ Disse fazendo careta para o modo como ele falava de Carlisle.__ Onde ele está?

__Na entrada da aldeia, mas não vai entrar.__ Sam cruzou os braços autoritário.

__É melhor deixa-lo entrar, se Bella o conheci e está machucada, ele pode cuidar dela.__ Jacob ponderou e Sam o fuzilou com um olhar.

__Sabe perfeitamente que ele não pode entrar em nossas terras.__ Sam disse.

__E ela está machucada, vai deixa-la piorar por causa de um tratado idiota?__ Jacob ergueu a voz alguns oitavos.

__Por favor, não discutam, eu não quero causar problemas...__ Falei com dor nos olhos, as auras deles estavam carregadas de orgulho, preocupação e revolta.

__Ela está certa, deixe-o vir.__ Jacob suspirou.

__Está bem...__ Sam disse por fim.

Alguns minutos se passaram até que a porta foi aberta, por ela Carlisle entrou, trocou um olhar significativo com Jacob, que se retirou, então ele veio até o meu lado, só então eu lembrei o motivo de ter fugido, e o meu medo voltou, mas se ele não me perdoou o que fazia ali?

__Porque fugiu daquele jeito?__ Questionou se sentando ao meu lado na cama.

__Porque fiquei com medo, pensei que você iria ficar com raiva de mim.__ Disse com o olhar baixo.

__Eu nunca poderia ficar com raiva de você Bella, ainda mais por isso.__ Ele disse e eu vi um sorriso triste em seus lábios.

__Eu pensei tanta coisa...__ Sussurrei.

__Shhh... Está tudo bem, eu estou aqui.__ Ele disse com uma expressão suave.__ Como se machucou?

__Eu perdi a estabilidade, fui perdendo altitude e acabei caindo.__ Suspirei cansada.

__O que está doendo?__ Perguntou preocupado.

__Minha asa esquerda, acho que quebrei.__ Falei e sua expressão mudou para uma pensativa.

__Anjos podem se machucar fisicamente?__ Ele questionou e eu neguei.

__Normalmente não...__ Disse em um sussurro.

__Mas você está enfraquecendo.__ Ele me interrompeu.

__Sim.__ Admiti e ele suspirou pesadamente.

Sem dizer mais nada ele assumiu sua postura de medico, me ajudou a sentar na cama e começou a cuidar da minha asa, o silencio que se instaurou no ambiente era um pouco desconfortável, porque eu sabia que ele estava pensativo, mas tinha um olhar doce que me acalmava e ao mesmo tempo me fazia questionar o motivo dele estar ali, parecia que não importava o que eu lhe dissesse ou fizesse, ele estaria ao meu lado.

__Não fuja mais, por favor.__ Ele quebrou o silencio.__ Eu nunca fiquei tão preocupado com alguém.

__Por que está aqui? Por que veio atrás de mim mesmo depois de saber que eu havia mentido?__ Questionei.

__Porque eu não poderia deixa-la sozinha, porque eu não poderia perder você, e...__ Ele me fitou intensamente sustentando meu olhar.__ E porque eu te amo.

Inconscientemente eu prendi a respiração, então tudo fez sentido, seus olhares, o modo como falava comigo, eu finalmente pude compreender os sentimentos que estavam presentes em mim, ele me amava, e meu coração sentia isso, porque eu também o amava, mais que tudo, acima de qualquer regra, acima de qualquer empecilho, acima de qualquer destino, mais do que eu poderia dizer.

Carlisle se aproximou mais, tocou meu rosto delicadamente e fechou os olhos aspirando profundamente, eu também fechei os olhos sentindo seu toque, senti sua mão afagando minha bochecha e seguindo com as pontas dos dedos até o meu queixo, erguendo-o, o contato com seu pele fria me causou uma sensação de eletricidade desconhecida por mim, mas era uma sensação boa.

Então eu senti o toque frio de seus lábios contra os meus, mesmo tendo visto muitas vezes humanos se beijando era diferente, me sentia tão leve, tão bem, esqueci completamente onde estava, esqueci qualquer medo ou duvida, e até a dor incomoda, éramos apenas nós dois, nossos lábios se moviam de forma lenta, sem pressa.

Uma lembrança veio a minha mente, de um tempo não muito distante...

FLASHE BACK ON

PDV NARRADOR

Era o ano de 1917, Bella estava protegendo uma garota chamada Nicole Miller, Nicole era extremamente alegre e curiosa, além de muito divertida, tinha 16 anos, mas quem a conhecia diria que sua idade não passava de 8 anos, devido a sua personalidade infantil e sonhadora.

Bella estava em sua forma de anjo no quarto da garota, a mesma estava rindo e brincando com um ursinho de pelúcia, ambas estavam sentadas na ponta da cama, mas Nicole apenas ria enquanto Bella lhe repreendia.

__Sua mãe vai ficar furiosa se descobrir Nicole.__ Bella falava.

__Ora Bella, não seja estraga prazeres, quer acabar com minha alegria?__ A garota riu se jogando na cama.

__Quero apenas colocar um pouco de juízo na sua cabeça, onde já se viu você sair beijando o primeiro que apareci?__ O anjo estava visivelmente preocupada, mas a garota parecia risonha e sonhadora.

__Não beijei qualquer um, sabe disso, mas diga-me Bella, nunca ficou curiosa?__ A garota lhe encarou com os olhos brilhantes.

__Não, eu sou um anjo, esqueceu?__ Apontou para si mesma.

__Pois não sabe o que está perdendo.__ A garota riu.__ É tão bom, não sei por que nos repreendem por tão pouco, deveria experimentar antes de ficar me recriminando.

__Ficaste louca de vez?__ Bella corou violentamente.

__Que bobagem, não é nada demais, mas a sensação é maravilhosa, causa choques elétricos deliciosos, faz você se sentir tão bem e leve, e digo mais... É como se borboletas se agitassem em seu estomago.__ Nicole suspirou com um sorriso bobo.

__Perdes-te completamente o juízo garota.__ Bella tentou falar seria, mas acabou rindo também.

FLASHE BACK OFF

PDV BELLA

A lembrança foi apenas um flashe rápido, durou apenas alguns segundos, nos quais continuamos a nos beijar, quando Carlisle afastou seus lábios eu abri os olhos e fitei nos seus um brilho diferente, ele sorriu calidamente e eu corei levemente retribuindo seu sorriso.