Assim que Caspian entrou no gabinete onde Pedro já o aguardava, este lhe fez apenas um sinal para que o moreno se aproximasse e se sentasse. Pedro estava mais calmo, por conta do que Aslam havia lhe dito e demonstrava toda sua postura como rei. Caspian andou até a mesa e sentou-se esperando ouvir as palavras do rei magnífico.

- Eu não farei rodeios quanto ao que Aslam veio a me dizer sobre você Caspian.

- Sobre mim? –o moreno franziu a testa.

- Gostaria que não me interrompesse e me ouvisse até que eu termine meu comunicado. Depois se sinta a vontade para discutir se quiser.

- Tudo bem. –concordou Caspian.

- Pois bem. Eu estava certo sobre você... –Caspian ouviu atento. – Você não é de fato o rei que Lucia esperava. Você sequer poderia ser Caspian X pelo simples fato de que o grande rei viveu muitos anos antes de você nascer. Aslam me explicou que o rei fora enviado para o seu mundo, e viveu lá até seus últimos dias deixando uma bela família.

Pedro se afastou da mesa e andou até a janela olhando para as externas do castelo imaginando onde e como estaria sua irmã naquele momento depois deu continuidade a sua explicação ao moreno que o observava atento, com certa impaciência e inquietude.

- Aslam também me disse que Caspian recebera um novo nome ao chegar ao seu mundo. Benjamin. –disse se virando e encarando Caspian. – Conhece alguém com este nome.

- Meu tataravô se chamava Benjamin. –respondeu automaticamente sem se dar conta.

- E ele herdou esse nome do próprio avô. –continuou Pedro.

- E?

- E que a única razão por você ter ouvido o chamado de Lucia, é que Caspian X, nomeado em seu mundo como Benjamin é seu antepassado.

- Sou descendente de Caspian X. –concluiu então.

- Como apenas o grande rei poderia ouvir o chamado através do anel usado pelo mesmo durante seu reinado, só restou você em toda a linhagem para atender ao chamado de Lucia. Você tem o sangue do rei em suas veias, e isso torna você um membro da família real Narniana. O único herdeiro vivo do trono de Caspian X.

- E o que isso significa? –Caspian o interrogou com os olhos.

- Significa que seu poder de atuação e decisão está à cima do meu e até do de Lucia. Logo, você é o verdadeiro governante de Nárnia. –disse Pedro bastante incomodado com a sua nova posição.

- Espera... –Caspian disse ainda confuso com a informação. – Eu... Isso tá certo?

- Sim Caspian... São as palavras de Aslam. Ele garantiu que você como único herdeiro vivo e presente do grande rei em Nárnia, é aquele que dará a última palavra sobre o que fazer nessa batalha que se aproxima. Isso me coloca em uma posição abaixo da sua. –aquelas palavras não agradavam ao orgulho do rei magnífico, mas ele sabia que deveria aceitar, pois era a vontade de Aslam.

- Entendi. –confirmou o moreno.

- E o que decide fazer?

Caspian se levantou pensativo, andou um pouco pela sala vagando de um lado a outro em silencio apenas deixando Pedro ainda mais nervoso e inquieto, e então finalmente tomou uma decisão:

- Eu quero ver o mapa. –disse.

- Voltaremos à sala principal então... –Pedro se afastou e passou pelo moreno logo seguindo até a porta.

Ambos se retiraram do gabinete e seguiram pelo longo corredor até entrarem novamente no grande salão dos tronos, onde os soldados e outros os esperavam afoitos. Todos olharam imediatamente para o rei Pedro, e em seguida para Caspian que seguia logo atrás deste. Pedro andou pela sala e se manifestou diante do trono sobre os degraus:

- Em nome do grande leão, eu vos digo. Que de agora em diante, não será mais as minhas decisões que deverão ser acatadas nessa sala, e sim as do novo rei de Nárnia, nomeado pelo próprio leão, o sábio Aslam.

Todos franziram suas testas sem entender as palavras do loiro, até que este estendesse sua mão e chamasse Caspian que se aproximou dos degraus, e ficou ao lado do rei.

- Contemplem o seu novo rei, Caspian o bravo. –concluiu Pedro.

Todos ficaram boquiabertos diante da nova informação, enquanto Pedro fazia sinal para Tumnus que trouxesse a espada que um dia pertencera a Caspian X. Assim que o conselheiro regressou a sala, Pedro se aproximou de Caspian e lhe entregou a espada em mãos se colocando em um nível abaixo dos degraus e dizendo:

- Seja bem vindo rei Caspian.

- Obrigado. –respondeu o moreno em tom firme apanhando sua espada.

Pedro se afastou e andou pelo salão um pouco desapontado consigo mesmo, e então se uniu aos outros. Susana o olhava com certa preocupação de onde estava, mas não pode se aproximar, sabendo que aquilo era algo com o que o rei magnífico deveria lidar sozinho. Enquanto isso, Caspian levou sua espada até a bainha e se aproximou do mapa fitando-o com atenção:

- Me informem da situação.

- Er... Bem... –disse Edmundo ainda se acostumando com a nova liderança. – O melhor plano de ataque contra o castelo de Tisroc seria por cima, como sugeriu a arqueira Susana... Majestade. –disse ele estranhando ter de chamar o amigo daquela forma.

- Devemos tirar Lucia do poder do príncipe em primeiro lugar. –rebateu o novo rei.

- Por hora ainda não sabemos onde a rainha possa estar sendo mantida, majestade. –disse Susana.

- Se nos permite? –disse uma voz vinda da porta principal da sala.

Três belas moças invadiram a sala do trono, vestidas com roupa de caça. Era Tricya e suas amazonas. Os soldados as acompanharam e um deles se dirigiu a Pedro:

- Perdão majestade, mas elas não quiseram ser anunciadas.

- Se dirija ao rei Caspian agora soldado. –disse Pedro apontando para o moreno.

- Deixe que elas se aproximem. –ordenou Caspian vendo a expressão confusa no rosto do soldado com quem ele já teria tido alguns duelos de espada em seus treinos.

Tricya, assim como as outras ficaram admiradas com a novidade e então se dirigiram pelas costas dos soldados que se prostravam diante do grande mapa no piso. Ao passar por Edmundo, Tricya esboçou um sorriso intimo, e discreto que foi retribuído pelo chefe dos soldados. Já diante do novo rei, ela se curvou assim como as outras duas, que não puderam deixar de sorrir diante daquele homem, agora com tal titulo.

- Vida longa ao novo rei. –disse ela.

- Por favor, Tricya, vá direto ao ponto. –pediu o rei.

- Claro, majestade. –ela lançou um olhar seco sobre suas duas acompanhantes ao ver que elas lançavam olhares indiscretos sobre o moreno e então prosseguiu quando estas se afastaram. – Nós cercamos o castelo de Tisroc assim que soubemos do rapto da rainha, e pelo que pudemos observar existe uma atividade suspeita em uma das torres principais. Acreditamos que Rabadash esteja mantendo a rainha presa na torre mais alta do castelo sob a guarda de três soldados. Fora eles, outros homens fazem a ronda nos andares mais baixos, mantendo olhares atentos ao céu.

- Isso elimina nossa entrada surpresa pelo céu majestade. –afirmou Castiel.

- Não exatamente. –rebateu Susana.

- Prossiga Susana. –pediu o rei.

- Se os soldados de Edmundo invadirem primeiro pelo lago, teremos tempo de distrair os soldados e então atacar por cima. Meus arqueiros poderiam muito bem ser levados pelos hipogrifos e cercar os alvos.

- E quem poderia seguir até a torre? Vamos precisar de alguém para combater os soldados e salvar a rainha tirando-a de lá. –seguiu Edmundo.

- Eu mesmo farei isso. –disse Caspian.

- Não pode se arriscar assim. –disse Pedro. – Majestade. Não agora que é rei.

- Eu sinto muito Pedro, mas eu discordo. Como em um jogo de xadrez imagino que saiba que o rei não é mais importante do que a rainha. –disse sabiamente.

- Devo concordar, majestade. –disse Tricya.

- Um bom rei sempre protege sua rainha. –Susana sorriu para Caspian mostrando sua confiança e total admiração.

- Eis o que faremos. –prosseguiu Caspian. – Edmundo, conduzirá um bom numero de soldados pelo lago. Devem cercar o lugar e invadir o mesmo pelas entradas disponíveis. Uma vez dentro, abriremos a ponte assim abrindo passagem para os demais soldados com a montaria. Os narnianos que se alistaram para nos ajudar também deverão entrar nessa hora. Enquanto isso, Susana dará o comando para que seus arqueiros invadam pelo alto. Você cuidará para que os soldados sejam afastados e então eu irei até a torre, e resgatarei Lucia. –disse em tom firme.

- Perfeito. –disse Castiel. – É o melhor plano. Ao menos na teoria.

- Vai dar certo. –disse Susana.

- Faremos com que funcione. Não sairemos de lá sem uma vitoria, e tão pouco sem a rainha. –afirmou Caspian.

Pedro observava tudo de onde estava se sentindo dispensável naquele momento. Mas teve de admitir que os planos de Caspian, eram de fato muito bem elaborados, como se ele tivesse mesmo se esforçado todo aquele tempo em aprender todas as táticas com Edmundo, e observado a maneira de agir do próprio Pedro com sua postura firme de governante. A reunião se seguiu até que tudo fosse devidamente arquitetado e planejado, então todos foram dispensados para seus postos. Eles deveriam partir assim que o sol se pusesse.