Quando Caspian regressou ao interior do Palácio logo encontrou a rainha Lucia que vinha de um dos corredores e já estava a sua procura. Assim que depositou seus olhos sobre o rapaz ela se manifestou enquanto andava em sua direção:

– Caspian! Aí está você. –disse ela com um sorriso singelo.

– Desculpa, estava me procurado? –ele dizia ao se aproximar.

– Posso perguntar onde estava? –disse ela se aproximando.

– Apenas caminhando pelo palácio. Espero que não se incomode com isso. –disse já diante dela.

– Claro que não, você tem liberdade para ir e vir aqui.

– Lucia, eu... Queria te fazer um pedido.

– Faça!

– Eu sei que o rei não aprova minha permanência aqui e por isso eu gostaria de ocupar o meu tempo.

– Qual é o seu desejo Caspian? –ela o interrogou com olhar curioso.

– Estive conversando com Susana e ela me encorajou a fazer uso do treino com arco e flechas e isso me deixou bastante interessado!

– Oh! Você esteve com Susana, isso é ótimo! –ela deu um sorriso amarelo de certo modo sentindo um leve aperto no peito.

– Se você concordar eu gostaria de começar amanhã mesmo.

– Deseja que a própria Susana lhe ajude com isso? –disse ela desviando do moreno e andando em direção à sala do trono.

– Se não for atrapalhar as tarefas dela.

– Eu conversarei com Susana sobre isso. –ela voltou a encarar Caspian e disse com o mesmo sorriso meio apagado. – Deseja mais alguma coisa?

– Bem Susana falou alguma coisa sobre espadas!

– Acho uma ótima ideia! Posso pedir a Edmundo que o ajude com isso pessoalmente, tenho certeza que ele não se negará a atender um pedido meu!

– Só se isso não for incomodar nenhuma das partes, eu odiaria ser um peso.

– Não seria de maneira alguma Caspian! Não ligue para as atitudes de Pedro, às vezes ele exagera na proteção!

– Lucia eu não tenho a mesma certeza que você tem sobre os motivos por eu estar em Nárnia, mas... –disse se aproximando dos degraus do altar onde ficava o trono. –Enquanto eu estiver aqui quero ser útil.

– Eu entendo suas razões Caspian! E aceito de bom grado. Será ótimo para você fazer uso dos treinos! Isso pode fazer com que seus talentos se manifestem mais rápido! –disse animada enquanto voltava a se prostrar de pé diante do moreno.

– Eu agradeço Lucia! Principalmente pela confiança que você deposita em mim. –disse tomando as mãos da moça.

– Imagine Caspian! –ela baixou o rosto ficando corada. – Não precisa me agradecer, eu estou apenas tentando ser uma boa rainha!

– Está se saindo muito bem nisso! –ele sorriu fitando os olhos da moça.

Os olhos de ambos voltaram a se cruzar enquanto suas mãos se tocavam carinhosamente na altura de seus umbigos. O rosto da rainha estava quente e tomado de uma coloração rosada que demonstrava toda sua timidez diante daquele olhar tão hipnotizante daqueles olhos negros como a noite. Por alguma razão o rapaz simplesmente não conseguia tirar os olhos de cima daquela mulher, como se existisse um enigma a ser descoberto por trás daqueles olhos tão doces, e aquelas feições gentis. Ele jamais havia conhecido uma moça tão cativante capaz de chamar sua atenção, de tal maneira de forma, a deixá-lo tão encantado. Caspian se lembrava da primeira vez que depositara seus olhos sobre a linda Liliandil e do desejo incontrolável que sentiu de possuir tal mulher de beleza tão rara, mas aquilo sequer se comparava ao que ele sentia quando estava diante de Lucia. Do contrário do desejo intenso de posse que foi despertado pela loira, Lucia despertava algo mais tranquilo no moreno, um sentimento de querer estar perto, de fazer algo bom, de mostrar que era diferente em qualquer que fosse a situação. Caspian não queria ser o homem que costumava ser em seu mundo, mas sim deseja ser Caspian X de Nárnia e ver os olhos da linda Lucia brilhando sobre ele com aquele mesmo orgulho que ele via quando ela falava sobre tal. Aqueles minutos de silencio foram preenchidos pelas portas da sala do trono quando as mesmas foram abertas por Edmundo:

– Majestade! –disse ele notando o clima entre o casal.

– Sim Edmundo? –disse ela soltando devagar as mãos de Caspian e dando alguns passos a frente.

– Recebemos novas notícias sobre o exercito de Rabadash. –seguiu Ed.

– Podemos conversar sobre isso na presença do rei? Eu quero que Pedro esteja ciente de cada fato ocorrente em nosso território atualmente.

– Claro. –ele acenou com a cabeça depois olhou para Caspian.

– Caspian! –disse ela voltando a encarar o moreno. – Eu devo deixá-lo por mais este momento, você ficará bem?

– Não se incomode comigo Lucia, eu me viro! –ele sorriu.

– Se precisar de algo, por favor, não deixe de chamar Tumnus ele pode lhe fazer companhia enquanto eu estiver ocupada.

– Não se preocupe comigo majestade! –ele riu diante de toda a atenção. – Faça o que tiver que fazer, eu vou sobreviver por alguns minutos longe da rainha!

– Desculpe! –disse ela ficando sem graça. – Sendo assim eu já vou.

– Á vontade!

Lucia se virou e andou até Edmundo sentindo-se um tanto quanto envergonhada por ser tão ansiosa e transparente com sua preocupação em ser cordial com o moreno. Ela se sentiu boba por constatar que o rei Pedro estava certo sobre suas emoções diante do novo rei presente. Suas reações não estavam sendo nada discretas, e isso acabou por deixá-la totalmente desconcertada. Chegou até mesmo a acreditar que sua preocupação em agradar o novo rei estivesse sendo demasiadas. Por outro lado, Caspian apreciava toda aquela atenção sentindo-se muito confortável tendo aquela mulher tão gentil redobrando seus esforços para fazer com que ele se sentisse bem e em casa.

Lucia se reuniu com o rei Pedro, assim como com o chefe de seu exercito e discutiu com ambos sobre as novas noticias. Ao final da reunião Lucia tomou uma decisão que comunicou a Edmundo e a Pedro.

– Eu sugiro que comunique aos nossos aliados às novas noticias Edmundo. –disse Lucia sentada em sua poltrona. – Quero que vá pessoalmente até o bosque de Trinity e faça um acordo com as Amazonas.

– As amazonas? –disse ele.

– Seriam essas moças parte de um grupo bastante hostil Lucia. Tem certeza que deseja fazer acordo com tais? –questionou Pedro.

– As amazonas apenas defendem seu território. Território dado a elas pelo rei que nos antecede Pedro. Serão bastante uteis caso os soldados de Rabadash ousem invadir seus limites.

– E o que devo propor a elas? –disse Edmundo.

– Diga que ampliarei seus territórios em troca de sua ajuda.

– Ampliar os territórios? –disse Pedro.

– Sim. É exatamente o que farei. –afirmou a moça.

– Acha mesmo que é uma boa ideia, estas moças já atacaram soldados nossos.

– Por isso pretendo ampliar o seu território, para que elas não voltem a ter necessidade de atacá-los novamente.

– Concordo! –disse Edmundo. – Meus soldados acabaram por avançar a seus territórios da última vez, o que motivou o ataque.

– Ótimo, se está de acordo está combinado. – concluiu a rainha.

Pedro acabou por concordar com o desejo da rainha, e assim a reunião foi encerrada. O encontro com as amazonas deveria ocorrer em uma semana, e Edmundo deveria ir com o menor numero de soldados para ajudá-lo, a fim de evitar desconforto com as moças que poderiam tomar sua aproximação como afronta.

...