Durante o chá ficou evidente a desconfiança de Pedro sobre o convidado da rainha Lucia, que por sua vez não conseguia evitar ficar constrangido e ao mesmo tempo um tanto quanto estressado diante de todas as questões de Pedro sobre si. Lucia teria cedido seu lugar à cabeceira da mesa a Pedro, assim sentando-se diante de Caspian ficando a esquerda do rei magnífico. Ela por sua vez não deixou de reparar nas feições pesadas do moreno diante de cada pergunta de Pedro.

– Pedro por que não deixamos estas perguntas para depois? –disse ela sentindo o incomodo na face de Caspian.

– E por que não falar sobre elas agora Lucia? –insistiu. – Acho que Caspian não vai se importar em tirar minhas duvidas, afinal como rei eu devo zelar pela segurança de Nárnia, não concorda Caspian? –disse em tom imponente.

– Por mim tudo bem, mas acho que já respondi tudo que poderia. –disse o moreno já impaciente. – Eu não sou uma ameaça, e sem querer ser pouco educado eu acredito que se minha presença aqui for algum incomodo eu poderia me retirar. Basta que me mostrem como...

– Não. –disse Lucia aumentando um pouco o tom. – De maneira alguma, eu o chamei você está aqui por uma razão. Pedro está sendo indelicado. –ela encarou o loiro.

– Me desculpe se estou sendo rude com seu convidado Lucia, mas é meu dever. Apenas estou agindo de acordo com meu cargo.

– Eu concordo com seus motivos majestade. –seguiu Caspian franzindo a testa. – Mas como disse, eu não sou uma ameaça. Nem sei por que estou aqui...

– Está aqui por que eu o chamei. –disse Lucia com a paciência já esgotada. – E ainda sou a rainha suprema de Cair Paravel, e dou por encerrada essa sessão de interrogatório. –ela fitou seriamente a face de Pedro. – Vamos terminar nosso chá, por favor. –disse baixando os olhos em direção à mesa.

A partir deste momento o silencio se fez sobre a mesa enquanto Caspian e Pedro trocavam olhares de desconfianças e descontentamento, mutuo. Após o chá dar-se por encerrado Pedro pediu para falar a sós com a rainha no gabinete real. Lá ambos discutiram sobre a segurança da própria:

– Pedro Caspian não é uma ameaça, tão pouco a mim... –ela dizia em tom firme tentando manter a postura de rainha.

– Como sabe? O que sabe sobre ele? –dizia Pedro com as mãos escoradas sobre a mesa. – Estas estórias que ele conta não fazem o menor sentido. Quantas pessoas nós conhecemos que vieram do outro mundo? Raciocine Lucia...

– Não acha no mínimo curioso? –ela disse arregalando os olhos azuis.

– Sim, é muito curioso. Mais curiosa ainda é essa sua crença cega em um homem que nunca viu na vida. –disse impaciente.

– Eu tenho certeza que ele é o homem que procuro Pedro.

– A sua admiração por Caspian X está atrapalhando no seu modo de pensar diante de nossa situação atual Lucia. Eu vim de muito longe, e as noticias que tenho são de uma guerra de proporções muito maiores do que esperamos. Não é hora para nós arriscarmos colocando um estranho para dentro do Palácio.

– O que sugere enviar nossa maior esperança embora? –dessa vez Lucia disse em tom alterado.

– Sua maior esperança é um estranho que sequer se lembra de ter estado, ou de conhecer Nárnia? –Pedro se pronunciou em um tom irônico.

– Tenho certeza que e o homem lá fora é o rei, Pedro. –afirmou Lucia apertando os punhos contra a mesa.

– Tem certeza que não está se deixando encantar por ele por outros motivos?

– Como é? –ela se inclinou para trás franzindo a testa e unindo as sobrancelhas. – O que está dizendo?

– Como pode confiar em alguém que conhece há menos de um dia?

– O que está insinuando Pedro?

– A troca de olhares entre vocês e a sua indignação ao defendê-lo...

– Não ouse concluir este pensamento. O que acha que eu sou Pedro? Que tipo de rainha acredita que eu seja? Uma mulher leviana que se deixa encantar por um homem a ponto de colocar todo seu reino em risco? –essas palavras foram cuspidas em tom alto e audível.

– Pare para pensar Lucia.

– Já chega Pedro, você está sendo inconveniente. –disse se retirando de trás da mesa e andado pela sala.

– Me dê uma boa razão para acreditar que o homem que se sentou a mesa conosco é o verdadeiro Caspian X... –disse Pedro cruzando os braços e recostando-se a mesa.

– Ele sonhou comigo. –disse ela regressando alguns passos e parando diante do rei.

– Um sonho? –riu o loiro.

– Sim, ele me viu na beira da praia chamando por ele. Dias após eu ter chamado pelo rei.

– Como pode chamar por um rei que já não existe mais Lucia?

– Ele existiu e Aslam deixou aquele anel para mim por alguma razão, vai questionar o desejo de Aslam também?

– Pois bem... –concluiu. – Vejo que não vai adiantar em nada discutir com você, ainda é quem dá a última palavra aqui, mas... Isso não significa que eu engolirei esta estória assim tão fácil majestade. –avisou. – Eu quero ver com meus próprios olhos as atitudes e o comportamento daquele homem, e não pretendo dar o assunto por encerrado.

– Contanto que não volte a ser rude com meu convidado, faça o que bem entender. –disse Lucia profundamente irritada.

– Estou fazendo isso pelo seu bem, Lucia. –disse se aproximando da moça. – É um momento difícil, não quero que deposite suas esperanças sobre um homem que não pode arcar com ela. –disse tocando o ombro da rainha.

– Tenho plena certeza de que Caspian é o grande rei. –ela afirmou encarando o loiro.

– Deixemos que ele prove isso então...

Lucia respirou profundamente enquanto baixava os olhos em direção ao piso, e sentia os dedos do rei se afastando de seu ombro. Em seguida este se retirou da sala do gabinete, deixando Lucia a sós com seus pensamentos. Ainda na sala do trono, Caspian estava debruçado sobre sacada observando o mar que estava agitado naquela tarde exatamente como seu coração. Pela primeira vez, o moreno teve razões para não querer estar naquele lugar, apesar de toda a beleza e tranquilidade aparente. Caspian se sentiu forçado a provar ser algo que nem sequer ele mesmo acreditava ser, e isso estava lhe tirando a paz, assim como a paciência. Embora soubesse que devesse respeito ao tal rei magnífico, o moreno não estava disposto a aturar as afrontas do mesmo sobre si, e estava seguro de que se Pedro continuasse com tal postura ele não manteria a educação por muito tempo e lhe diria umas verdades. Ele apenas teria mantido sua postura durante o chá por respeito a rainha que estava sendo extremamente gentil com ele desde que chegara a Nárnia.

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