Scorpius ainda estava de pé com o dedo apontado para o nada.

A mente dele estava demorando a processar que Rose, Sua Rose, gritou com ele e saiu da cabana pisando duro. Que ele a magoou. Que ambos trocaram farpas e desabafaram tudo o que sentiam entalados em suas gargantas. Porém não era para menos, os dois brigaram feio. Scorpius estava cansado. Cansado de não ser aceito por sua família com seu namoro por Rose, cansado de apesar do tempo, alguns Weasley's o verem como um completo estranho, cansado de ser apontado pelos corredores como o "Garoto que traiu o próprio sangue", cansado dos comentários, cansado até de... Rose.

O encontro com a sua família na plataforma nove e meia deu muito que pensar a Scorpius. Durante toda a viagem para Hogwarts, enquanto os demais comentavam sobre o encontro alegremente, Scorpius estava pensando se realmente valia a pena perder sua família para uma garota. Será que seu relacionamento com Rose valeria o risco? Perder o amor de todos aqueles que mais amava no mundo, tudo isso pelo amor de uma simples garota? Bem, Scorpius concluiu que não. Não bastou para ele pensar apenas no trem, ele teve que pensar mais. Estava confuso. Estava desolado. Precisava de um tempo só para ele.

Quando todos desembarcaram e seguiram para a carruagem, ele foi para a Floresta Proibida. Segundo o pai de Scorpius, a floresta não está mais tão assustadora assim, as aranhas gigantes que Hagrid cuidava foram expulsas dessa floresta e algumas até mortas, os centauros conversavam e davam conselhos aos estudantes e os ruídos e barulhos estranhos feitos do nada, eram apenas insetos. Scorpius se dirigiu a uma árvore e sentou em sua raiz. Daquela árvore, dava para ver a Cabana de Hagrid, e atrás dela, Hogwarts.

E então, sem aviso, Scorpius começou a chorar. Vieram em sua cabeça várias cenas dele e de Rose juntos, molhando os pés no lago, fazendo o dever de casa, dando as mãos por baixo da mesa na aula de Poções, todos os momentos bons que eles tiveram até agora vieram em sua mente, rápidos e disparados como tiros. Porém ele não podia perder sua família. Para ele, família vinha em primeiro lugar, já namoradas, vem e vão. As palavras de Rowena voltaram a sua mente, dificultando ainda mais em sua decisão.

Ele ficou lá, sentado nas raízes de uma árvore que nem sabia de que espécie era, decidindo que a partir de agora, seria frio com Rose, ou perderia o amor de todos aqueles que mais prezava. Levantou-se e foi para o castelo, encontrando Rose na sala comunal, preocupada e foi completamente frio com ela. Assim que a deixou sozinha e subiu para o dormitório, a sensação de ter milhões de facas pressionando seu coração o acertou em cheio. Por mais que tivesse decidido ser frio com ela, por mais que decidisse ter o amor de sua família ao invés do dela, tudo ia por água abaixo quando a via. Com um peso enorme no estômago, ele adormeceu.

No dia seguinte, enquanto ele tomava café, Rowena o viu na mesa da Grifinória e começou a conversar com ele. Scorpius desabafou tudo com ela e ela pareceu compreender, o que foi estranho para ele. Começou então, a alisar seu rosto dizendo que tudo ficaria bem e que essa era a melhor escolha. Nesse mesmo instante, Rose passou com o nariz empinado e nem ao menos dirigiu o olhar a ele, o que lhe deu raiva e o estimulou a prosseguir com seu plano.

Ao fim da aula de Herbologia, Scorpius correu para a cabana de Hagrid. O gigante era bom em conselhos. Ele viu isso no Natal, enquanto o Sr. Weasley chorava que o Ministério estava exigindo demais dele, e sendo consolado por Hagrid. Scorpius começou a conversar com Hagrid sobre Rose, quando ela e Alvo chegaram e os dois acabaram brigando. Durante a briga, um pensamento deixou Scorpius pensativo: Rose era filha de Rony, que segundo ela, não deixava ninguém falar mal de sua família. Scorpius falou mal de sua família. Por que então, Rose não sacou a varinha para ele ou meteu-lhe um soco na cara? A mãe dela, Hermione, havia feito isso com meu pai.

Ainda confuso, ele observava Hagrid juntando os cacos das canecas-garrafas quebradas durante a briga.

— Você não devia ter dito isso, Scorpius - murmurava ele.

Alvo estava atolado em uma poltrona, com Canino em seu colo, lambendo todo o seu rosto.

— Não... devia... ter... dito... mesmo... Hermione... é... minha... tia... - dizia ele, se esforçando para tirar o grande cão de caçar javalis de cima de seu colo.

Hagrid se levantou, pegou seu guarda chuva cor de rosa, murmurou alguma coisa e os cacos de vidro sumiram. Ele guardou o objeto á um canto e se sentou em uma poltrona, de frente a Scorpius.

— Me diga, Scorpius, o que te aborreceu tanto a ponto de falar mal de Hermione?

Scorpius relatou tudo a Hagrid, que era um bom ouvinte. Os únicos barulhos que havia na cabana eram a voz de Scorpius e o barulho da língua de Canino no rosto de Alvo, além das exclamações de protesto dele. Ao fim da narração, Hagrid suspirou.

— Ah Scorpius... Vou lhe dizer uma coisa e quero que me escute, me escute bem. Ora, saía de cima de Alvo, Canino seu cachorro bobo. Pois bem, sua família, os Malfoy's, são uns bobocas com cheiro de bosta de dragão. Desculpe por dizer isso, mas é o que eu acho. Não deve deixar que nenhum deles, nenhum mesmo, se imponha entre você e Rose. Vocês são felizes juntos e é isso que importa. Aconteceu a mesma coisa com, bem, mamãe e papai, porém não quero falar sobre isso.

— É Scorpius - disse Alvo, secando a baba de Canino nas vestes, - já sabe que é bem vindo N'Toca.

— Mas mesmo assim Alvo - argumentou Scorpius tristonho. - Nunca me imaginei sendo expulso de casa simplesmente por namorar uma garota.

— Nenhum de nós nunca imagina isso, porém estou apenas lhe lembrando.

— Além do mais, Rose é uma menina doce Scorpius, e apenas olhando você eu consigo perceber que gosta dela. Dá para ver em seus olhos.

Canino se deitou e apoiou a cabeça nos enormes pés de Hagrid. Scorpius olhou para ele e pensou como sua vida seria mais fácil se ele fosse um cachorro.

— Tem que pedir desculpas a ela Scorpius - finalizou Hagrid.

Scorpius olhou, perplexo para ele.

— Eu?

— Sim, você. Você agiu como um idiota com ela. Não viu que ela se preocupa com você? Não viu os desabafos dela?

— Eu sei Hagrid, mas...

— Nada de mais - disse Hagrid, aumentando a voz. - Não estou mais pedindo como um amigo para você se desculpar com ela, estou mandando como um Professor. Olha a hora. Está tarde. Irão perder o jantar. Para o castelo, os dois.

Alvo e Scorpius subiram os degraus de pedra e atravessaram os Jardins em direção ao Castelo. Scorpius pensou então que, já que não teria jeito, teria que pedir desculpas a Rose. Não gostaria de ter Hagrid como inimigo. Ele se despediu de Alvo e foi rumo a Torre da Grifinória. Atravessou o buraco do retrato e foi para seu dormitório. Ele colocou seu pijama e deitou em sua cama. Não estava com fome, comeu uns dois biscoitos na cabana de Hagrid, que valia como uma refeição completa de café da manhã, almoço e jantar.

Scorpius adormeceu e quis muito acordar para perguntar a McGonagall se havia algum tipo de feitiço para a pessoa não sonhar. Sonhou com Rose. Sonhou com seu rosto. Sonhou com seu beijo. Sonhou que estava deitado em uma rede pendurada em dois coqueiros na beira da praia. O clima estava agradável. O vento balançava as redes de um lado para o outro. Ele fitou o mar. Ás suas costas, ele ouviu uma voz. Era Rose. Ele olhou e a viu. Ela vestia uma canga rosa, um biquíni roxo com flores bordadas e um lírio preso no cabelo. Estava linda.

Ele se levantou e viu-a caminhar até ele e parando em sua frente. Estendeu o braço e tocou sua bochecha. Seus lábios se moveram e falaram alguma coisa que Scorpius não pôde entender. E então, mãos o agitavam. Scorpius abriu os olhos. Brian estava tentando acorda-lo. Ele e Frank estavam o balançando e dando tapas em seu rosto.

— SCORPIUS, EI CARA. - gritava Brian.

— Já acordei - resmungou Scorpius. - O que foi?

— É a Rose.

Scorpius olhou para ele e um peso cresceu em seu estômago.

— O que tem ela?

— Está brigando com Rowena, tipo, brigando MESMO. Saíram nos tapas no Salão Principal e acho melhor você ir ver isso.