Olha, poderia ser pior. Sim, estou tentando ser positiva enquanto vou furtivamente para a cozinha. Eu deixei o presente de Ryu em cima de sua cama e agora estou indo preparar os tais cupcakes que Sawako ensinou. Se vai dar certo? Só Deus sabe.

Mas acho que finalmente as coisas estão indo bem para meu lado, depois de quase 1 hora de preparo, o cupcake finalmente ficou pronto e pela aparência parece estar muito bom, que Deus abençoe aquela cabecinha linda da Sawako!

Minha alegria inicial é substituída por fúria ao me lembrar da camisola que ‘alguém’ deve ter colocado em minha bolsa. Vou ter que chamar o CSI para resolver isso, mas eu vou encontrar o culpado, vulgo, ter provas para incriminar a Ayane-chin. E depois? Bem ... Vou gritar, espernear e falar ate os fins dos tempos e depois certamente vou esquecer isso me afundar na cama do desespero.

Enquanto arrumo rapidamente a cozinha com esses ‘maravilhosos’ pensamentos, penso em como irei ir embora mais furtivamente ainda ao entrar nessa cozinha. Hoje o Oji-Chan não vai abrir a loja, então ele não vai precisar de mim.

Dou uma ultima olhada nos bolinhos que deixei em sua da mesa e vou saindo de fininho, ou melhor, tento. Na hora em que me viro lá está o Oji-Chan com seu sorriso paternal direcionado para mim.

–Chizu! Dormiu bem? – É, acho que as coisas ainda não estão dando certo para mim, mas cadê a novidade nisso?

–Oji-Chan! É que ... Ah, sim. Dormi muito bem, obrigado! Mas minha mãe já deve estar com saudades de mim e se o senhor não precisar de mais nada eu posso ir para minha ...

–Ora, mas que beleza! – Ele caminha diretamente para a mesa em direção aos bolinhos, acho que ele nem ouviu o que eu tinha dito – Posso comer um? – Ele me olha com desconfiança e eu não vejo malicia nisso e faço um sim com a cabeça, desde ele não coma tudo ... – Ah, mas pode deixar que eu vou deixar os outros para a pessoa que você especialmente fez eles.

Abro a boca mas não sai som algum dela. Ele sabe! Será que o Ryu falou sobre horas atrás para o Oji-Chan? Não, Ryu não é desses, nunca foi. Ele prefere sempre guardar as coisas para ele.

–N-não é isso Oji-Chan o senhor pode comer quantos quiser ...

–Chizu – Oji-Chan termina seu cupcake e me encara – Eu sei muito bem o que está acontecendo, e mantenho a minha palavra. Adoraria ter você na minha família, não só por consideração, mas fazendo parte dela também, junto com Ryu.

Olho em seus olhos e vejo o que tudo o que ele disse em seu olhar paterno. Sei que ele gostaria que isso acontecesse, mas é mais complicado do que ele imagina.

–Ok, se tiver alguma coisa á mais para eu fazer eu posso fazê-lo e depois posso ir para casa? – Mudo de assunto ainda sem jeito

–Mas é claro que sim, você não é nossa prisioneira Chizu. Mas se você quiser ficar um pouco mais ... – Percebo que na verdade ele quer que eu fique – Adoraria ter você aqui no dia dos namorados, não por mim é claro! Mas Ryu seria o que mais gostaria.

AH! Sempre mencionam o Ryu só para me deixar sem jeito, se não é a minha mãe é o Oji-Chan. Assim não dá!

–Pois é, mas o problema é que ...

–Estou em casa – A voz de Ryu ecoa por todo o local. Ah cara meu plano era sair antes que ele chegasse do seu treino matinal.

ESTOU. FERRADA!

–Estamos na cozinha Ryu, venha cá – Oji-Chan o chama. E me parece mais uma chamada para ir direto para o inferno.

Eu ate já estava com a bolsa em mãos prontinha para ir me esconder na minha casa, embora ela não seja muito distante daqui, mas depois do que aconteceu ontem e hoje ... ouço os passos pesados de Ryu se aproximarem cada vez mais.

Vamos Chizu, pense!

Acho que vou enfartar!

De repente meu telefone celular toca e eu rapidamente o atendo sem ao menos ver quem é.

–Alô?

–Ah, Chizu-Chan ... Estou atrapalhando alguma coisa? – Ouço a voz de anjo da Sawako. Ela é uma santa, uma benção na minha vida, embora eu ache que seja mais ainda para o Kazehaya.

–O que? Imagina, pode falar o tempo que você quiser, estou to-tal-men-te disponível – Reviro os olhos, embora ela não possa ver, mas agora estão o Oji-chan e Ryu na cozinha me olhando. Quer dizer, estava, porque a atenção de Ryu rapidamente se volta para os cupcakes em cima da mesa.

–Liguei para saber se os cupcakes ficaram bons – Pelo visto terei que improvisar para sair daqui.

–Sim, muito obrigado Sawako – Sorrio e logo percebo que ainda estão prestando atenção em mim – Olha, vou ai para buscar agora mesmo não se preocupe!

–Hã, Chizu-Chan?

–Isso mesmo, já estou indo ai! – O desespero é um ótimo professor.

–M-mas eu não estou em casa!

–Não tem problema! Eu irei ai – Embora eu nem mesmo saiba onde ela esteja, mas não importa, eu só quero ir para casa resolver uns assuntos pendentes com duas pessoas, minha mãe e Ayane-Chin que me aguardem! – Ok, calma. Daqui uns 10 minutos eu chego, tchau.

–M-mas, Chizu-Chan ...! – Desligo rapidamente. Anoto mentalmente um pedido de desculpas para Sawako, quando chegar em casa eu falo com ela, e depois sim, a carnificina vai rolar.

–Pois é – Viro-me para as duas estatuas paradas na cozinha – Tenho que ir, mas qualquer coisa é só me ligarem – Coloco minha bolsa no ombro e vou indo a passos largos, mas antes ... – Espero que goste Ryu!

Atravesso a porta rapidamente e inspiro o ar gelado. Esfriou bastante nesse dia dos namorados.

Vou andando em direção á minha casa lentamente agora. É como dizem, a vida não está fácil para ninguém.