O Mistério de Winter escrita por Marykelly


Capítulo 3
Corra antes que seja Tarde


Notas iniciais do capítulo

Voltei o/ depois de muito tempo eu voltei... E acreditem, passei duas semanas escrevendo esse capitulo. Estava muito ansiosa pra postar logo.

Espero que gostem da leitura.



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O mapa em suas mãos estava desgastado pelo tempo. Era feito de um material tão delicado que ela tinha medo de toca-lo sem que o rasgasse.

Já o utilizava há algumas horas, seguindo sua trajetória com o dedo pelas linhas amarelas. Era complicado, mas aos poucos ia pegando o jeito. Tate a explicou como usá-lo. Passou a noite inteira explicando para ela como usar a maioria das coisas que encontravam. Quando ela perguntou como havia aprendido tudo aquilo, ele simplesmente não respondeu.

Ela quase teve um ataque quando notou a marca que o denunciava. Marcas que geralmente ficavam no pulso. São feitas por agentes de segurança para expor quem tinha alta probabilidade de se envolver em atos violentos.

Não parecia ser o caso de Tate.

Mas não ficaria para ter certeza.

No meio da noite, quando percebeu que a tensão ainda não a tinha deixado, ele começou a falar sobre os temas mais banais possíveis, com o objetivo de descontrai-la. E em alguma hora da madruga ela quase se sentiu assim.

Sendo ele quem fosse, o sentimento de culpa não a abandonava agora. Pegara as coisas e saíra sem ao menos agradecer.

Sua informações a ajudaram. Muito.

Ele caiu no sono quando os primeiros rios de sol apareciam e então aproveitou a oportunidade para pegar as coisas que precisava e ir embora. Se certificou de que tudo que pegou tinha um outro igual. Não seria justo levar algo que seria dele se não fosse por ela. Em troca, o deixou com algumas outras coisas que trazia desde que saíra de casa. Esperava que ele visse aquilo como uma forma de agradecimento.

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Seus passos pelas ruas desertas ficavam cada vez mais lentos e desordenados. O latejar em sua cabeça era quase insuportável.

Ela se obrigava a manter os olhos abertos a qualquer custo.

Ficava cada vez mais difícil.

Mesmo sabendo que não havia ninguém nas casas, ela não se sentia confortável em invadi-las o tempo inteiro. Não queria que as pessoas chegassem em casa e vissem que alguém andou fuçando em suas coisas.

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Um vento forte soprou contra seu corpo, a fazendo estremecer. O tempo estava nublado e com uma terrível propensão à tempestades. O que, junto com a falta de movimentação pelas ruas, deixava tudo com um ar sombrio.

Um estalar de galhos próximo a sua esquerda chamou sua atenção. Ela recurou, por instinto. Seu organismo estava trabalhando em modo de defesa, esperando pelo pior. Mas quando se virou deu de cara com o vazio.

Não havia nada.

Por um segundo seus ombros relaxaram.

Quando fez menção de continuar a andar, ouviu novamente o ruído. Dessa vez teve certeza que não tinha apenas imaginado.

Se forçou a se aproximar de onde viera o ruído. Dando passadas lentas e cautelosas.

A primeira coisa que ela viu foram patas saindo das sombras. As garras negras eram tão afiadas quanto laminas, arranhando o asfalto.

Um rosnar longo e abafado lhe causou arrepios. Sua mente gritava para que ela saísse dali o mais rápido possível, mas tudo que fez foi ficar estática.

Quando uma face emergiu da escuridão ela arregalou os olhos e sufocou um grito de pavor.

Era coisa mais grotesca e asquerosa que já vira.

Um lobo gigantesco estava bem na sua frente. Ele tinha feridas abertas e infeccionadas espalhadas por todo o corpo que disputavam lugar com o pouco de pelo negro que ainda restava. O odor pútrido e nauseante que emanava lhe dizia que aquilo já devia estar morto há muito tempo.

Seus olhos − sem íris − a encaravam com uma raiva crua. Os caninos rosnavam próximo o suficiente para notar os líquidos estranhos que eram expelidos tanto por sua boca quanto por suas feridas.

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− Ah. Meu. Deus. − Ela ofegou.

Estou sonhando. Foi a primeira coisa que pensou.

Tenho que estar sonhando.

O que mais poderia ser?

Como que em respondendo seus pensamentos, o lobo uivou tão alto que seus tímpanos latejaram. Despertando repentinamente do transe, Samantha fez a última coisa que queria fazer.

Correr.

Suas pernas reclamavam pelo esforço exigido, mas ela não as deu ouvidos. Tinha coisas mais importantes para resolver.

Só parou depois de longos metros.

Olhava para trás o tempo inteiro à procura de algum sinal de que ele a perseguia.

Ela estava suada e ofegante, se passando por ruas e mais ruas, sempre ouvindo suas passadas lentas e predatórias logo atrás, a cercando por todos os lados. Ela corria de uma esquina para a outra, mas ele sempre estava sua frente quando ela chegava. Parecia se divertir com seu desespero.

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Depois de perceber que fugir não adiantaria de nada, ela decidiu tentar outra tática. Enquanto se apoiava na parede, tomando fôlego, usou movimentos lentos e pegou uma pedra que estava na calçada. Respirou fundo e atirou com toda força de conseguiu, acertando bem no seu focinho.

A princípio ela imaginou que isso a faria ganhar tempo. Só depois percebeu a besteira que tinha feito.

Ele se contorceu, esquecendo da brincadeira e se preparou para ataca-la com toda fúria.

Sam tentou correr novamente mas seu corpo estava esgotado, a única coisa que conseguiu fazer foi gritar o mais alto que possível quando sentiu dentes afiados sendo cravados no seu tornozelo.

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Agindo pele desespero, ela o chutava com o a outra perna enquanto buscava algo que a ajudasse a se se arrastar para longe.

Suas tentativas de se libertar pareciam inúteis. Seu sangue era jorrado pela rua enquanto ele atacava sua perna, a arrastando de um lado para o outro. Ela gritara o máximo que podia, mais pelo medo do que por qualquer outra coisa. Sua voz foi ficando cada vez mais falha e a sua visão começava a escurecer.

Não podia morrer ali.

Não iria morrer ali.

Agindo no impulso com o último resquício de força que obtinha, enfiou o pé ainda mais. Garganta a baixo. Tentou a todo custo prender o grito mas foi inevitável. Sentiu as lágrimas correrem pelo rosto.

Estava quase apagando quando ouviu som alto e ecoante. Seguido de mais outros dois. E mais um.

Agradeceu aos céus, pois seja lá o que tenha sido aquilo, fez o lobo parar de ataca-la.

Quando abriu os olhos, com a visão embaçada, viu apenas as nuvens carregadas.

Um rosto surgiu mais próximo, a olhando de cima.

Ela tentou lhe dizer algo, mas tudo que saiu foi um arquejo. Ele a segurou no colo e a levantou devagar. Dizendo algo ininteligível. Em resposta ela tombou a cabeça para trás e apagou.

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***

.

Acordou sentindo dores por todo o corpo.

Sentia como se tivesse acordado depois de ter feito um longo esforço físico.

Viu-se em um quarto minúsculo, escuro e bagunçado, quando sua visão entrou em foco. Ela estava sobre uma cama pequena.

Demorou algum tempo até que o quarto parasse de girar e ela controlasse a ânsia de vômito.

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Suas camisa estava amarrotada e a parte de baixo estava sob um cobertor. Quando tentou se movimentar sentiu uma dor escruciante se espalhar pela perna.

− Você devia voltar a dormir. − Olhou na direção da voz e viu Tate na base da porta. Ele a analisava de uma forma estranha. Como se estivesse fazendo um grande esforço. − Pelo menos não sentirá tanta dor. Eu ainda não tenho como lhe curar. E você também não possui nada que vá ajudar.

Ele se arrastou, com movimentos tensos, até uma cadeira ao lado da cama.

− Você mexeu nas minhas coisas? − Ela murmurou. Sua voz saiu forçada, estava tentando a todo custo não demonstrar fraqueza. Uma coisa bastante idiota visto que havia tantas coisas mais importantes naquele momento.

− Eu não sabia mais o que fazer. Você ficava... grunhindo. Parecia que estava tendo pesadelos.

Abriu a boca para falar algo, mas acabou desistindo.

Ele agiu sem pensar, para ajuda-la.

Mais uma vez.

.

Suas roupas eram as mesmas de quando o vira da primeira vez, só que agora estavam cobertas de fuligem e tão amarrotadas quanto as dela.

Depois de alguns minutos, decidiu quebrar o silêncio.

− Foi muita sorte você ter aparecido. Como sabia onde eu estava? − O questionou. Ele pareceu incomodado com a pergunta.

− Hm... Bem... Eu não sabia. Apenas andei pelas ruas por alguns minutos e depois eu te ouvi.− Disse, simplesmente.

− Como é? − Ela se sobressaltou repentinamente, e logo se arrependeu. Encolheu os ombros quando sentiu uma pontada de dor. Tate se mexeu na cadeira, inquieto. − Eu pensei que tinha andado por quilômetros.

− Fique parada. − murmurou. Ele franzia o cenho com tanta força que suas sobrancelhas quase se uniam. − Você não deve ter entendido direito como se localizar, porque, ao que parece, você ficou andando em círculos.

− Não. − ofegou, sem acreditar. − Eu não... − Aquilo era impossível. Não haveria nenhuma chance dela ter andando sem rumo. Tinha certeza que fez exatamente o que ele dissera. Seu sangue começou a ferver. O fuzilava com os olhos. − Você me enganou. Me ensinou da forma errada.

− Não. − Ele balançou a cabeça. − Você foi embora antes que eu terminasse de explicar. − Ele falou aquilo casualmente, como se fosse a coisa mais sem importância.

− Ora, seu...

Ele soltou um riso seco, sem deixar sua expressão séria.

− Você está bem? − A interrompeu.

− Bem? Eu me arrastei por horas, fui atacada por uma... abominação que é impossível de acreditar, eu mal posso descrever o que era. Pensei que eu fosse morrer... e agora descubro que eu não tinha nem atravessado a rua. − Ela respirou profundamente. Estremecendo pela lembrança ruim. − Afinal de contas... o que era aquilo?

Aguardava ansiosamente pela sua resposta. Agora que a adrenalina não dominava mais o seu corpo, ela podia processar a situação. Estava temerosa pelo que ouviria.

− Não se mova. − Sussurrou depois de tensos segundos de silêncio. Ela fez uma careta. Ele estava agindo como se não tivesse ouvido a pergunta, ou não quisesse responder. − Se não se mexer não vai sentir tanta dor.

.

***

.

− Será que você pode repetir? P-O-R Q-U-E, exatamente, TIROU A MINHA ROUPA? − Ela liberou toda frustração. Queria soca-lo até que ele desmaiasse. Ela espiou por debaixo do lençol e viu que estava apenas com a roupa de baixo. Ela viu que sua perna estava enfaixada, mas ele podia ter dado um jeito de ter feito aquilo sem a necessidade de despi-la.

Ele começou a rir e ela teve vontade de esgana-lo.

− Eu tirei só a calça. Não precisa ficar nervosa. Do que está com medo? − Ele se recostou na cadeira e começou a assobiar.

Aquilo foi o estopim.

− Escute, só escute seu filho da mãe. Se antes eu não tinha motivos para confiar em você, agora que não o farei mesmo. Fique. Longe. De. Mim. − Ela deu ênfase em cada palavra.

− Essa é uma ótima forma de agradecimento, Sam. Confesso que prefiro suas fugas no meio da noite. Olhe para mim. − Ele esperou até que ela desistisse de ignora-lo e o olhasse nos olhos. − Acha que eu lhe faria algo? Realmente acha que eu lhe causaria algum mal? − Ele a encarava intensamente, sem hesitar ou desviar o olhar. Estava tentando passar confiança e espera que Sam, lá no fundo, visse isso.

Aquilo pareceu tê-la relaxado e amenizado parte do seu temperamento hostil.

− Você não me contou para onde está indo. − Ele começou, tentando distrai-la.

Ela deu de ombros.

Aí é que estava. Não sabia para onde estava indo. Só sabia que não podia ficar parada.

− Preciso saber se minha família está bem. Especialmente meus irmãos. − Ela falou, com a voz distante e o pensamento viajando para perto deles.

− Irmãos mais novos? − ela assentiu. − Como eles são?

Ela esboçou um sorrido ao se lembrar deles. Eram as duas criaturas mais irritantes que já conhecera. Ela enlouquecia enquanto tinha que correr atrás deles para evitar que pusessem fogo na casa.

− Eles são... Como todos os irmãos mais novos. Sabem que têm privilégios e abusam disso.

Aubrey e Chloe eram muito pequenos, com poucos anos de diferença entre eles. Eles se pareciam mais com sua mãe. Com cabelos loiros e olhos acinzentados, fator de peso que os dava carta branca, sempre colocavam suas melhores carinhas de anjo em ação... E seu pai caia de amores.

Ela estava envolvida demais para notar que seus olhos enxiam de água.

− Sente a falta deles? − Tate sussurrou.

Sam só balançou a cabeça, confirmando.

− Eles estão bem. Não se preocupe.

− Eu espero que sim. − Ela murmurou. Tate estava tentando tranquiliza-la, ela percebeu.

Desviou os olhos dele para a seu tornozelo enfaixado. Tate suspirou. Só agora ela notara as marcas de cansaço e falta de sono nele.

Por quando tempo ele ficara acordado?

− Tate. Obrigada... por ter me salvado, e por ter me ajudado. Não só dessa vez. − Disse, esperando que ele entendesse a que estava se referindo também. Seu semblante se suavizou um pouco. E ele abriu um pequeno sorriso.

− Eu poderia ter só rasgado a parte que tinha sangue. − Ele disse. − Eu não pensei nisso na hora. Estava mais preocupado em ver se você estava bem.

Ela não sabia o que pensar. Teria feito da mesma forma se estivesse no seu lugar? Nunca esteve uma situação parecida para comparar. Não sabia como era ter a vida de alguém nas mãos.

−Tente voltar a dormir. Ainda é noite. − Ela estranhou o que ele disse, mas quando olhou pela pequena janela que havia no alto do quarto, viu que ele falava a verdade.

− Quanto tempo eu dormi?

− 2 dias. − Ela arregalou os olhos. Esperou qualquer sinal de que ele estaria brincando, mas ele permaneceu sério.

Mordeu o lábio, pensando se deveria perguntar, mas acabou deixando os ponderamentos de lado.

− Por que está fazendo isso? Por mim, quero dizer. − Ela se sentara novamente. Só agora percebeu o quanto estava exausta, mesmo tendo acordado há pouco tempo.

− Vou te mostrar que nem todos são como você pensa. Principalmente os Marcados... Samantha.

− Eu... − Iria perguntar o que ele queria dizer com aquilo, mas sua mente deu preferência para outra questão que a estava matando. − Tate... o que era aquilo? Que me atacou. Eu realmente preciso saber. Não conseguirei dormir pensando nisso.

Ele fechou os olhos e ficou cabisbaixo.

− Eu queria poder lhe responder isso. − Ele disse. − Mas eu realmente não...

Ficou sem terminar a frase. Parecia perdido em pensamentos.

Por que esperei que ele soubesse de algo? Pensou

− Tudo bem. − Ela concluiu. Não queria alongar aquilo por muito mais tempo.

Teria que pensar em algo. Sozinha.

− Durma. Eu também irei dormir. − Ele lhe assegurou. − Espero que ainda esteja aqui quando eu acordar.

Tentou lhe dizer algo, mas seus olhos já estavam pesados demais para que lutasse contra.


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Notas finais do capítulo

mistérios... muitos mistérios... E... não quero demorar tanto assim pra escrever novamente. Se tem algo que eu gosto de fazer é escrever essa história. Vai ficar muito legal. Estou na semana de prova. Mas eu quero fazer assim... vou postar a cada 14 dias. Não que seráaa sempre assim. POis quando chegar nos momentos de tensão lógico que vou adiantar, postar na mesma semana e talz. Coloquei só pra não ficar chato... Ah ninguém nunca sabe quando ela posta e talz... Espero que tenham gostado da leitura. :D Até o próximo.

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**REVISADO**