Dias Imprevisíveis escrita por Gil Haruno


Capítulo 22
Capítulo 22 -Lágrimas do acaso


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!Vou dedicar esse capítulo à Capitu Cullen que recomendou a fic!Linda, obrigada por acompanhar a história! Adorei a recomendação.Beijos a todos!



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Lágrimas são derramadas e forças nascem. Novos desafios se salientam e a coragem não falha... Um novo dia... Novas e velhas alegrias... E um possível recomeço.’

Meus lábios se dissimulavam para a lente da câmera e os flashes me tiravam daquela realidade forçada –, onde todos queriam conhecer meu potencial e cobravam isso a cada olhar.
Eu estava ridiculamente desconcertada, mas nem em sonhos as fotos poderiam ser manchadas por minha aparência distraída. A Claire sensível e de crise emocional nunca poderia existir ali, por isso eu tinha que engolir, de uma só vez, os sentimentos que me afligiam, e deixar que outra personalidade fluísse; para o agrado de poucos.

–Troca de roupa!

Beth gritou fazendo Ryan encerrar as fotos, por um curto tempo.

–Você está ótima, Claire!

–Obrigada.

Agradeci sem muito ânimo, por que o cansaço estava começando a ser mais forte que eu.

–Só um conselho. – delicadamente ele segurou meu braço, mantendo os olhos nos meus. –Eu sinto que você está muito tímida e essas fotos precisam de expressões mais desinibidas.

–Claire não tem perfil para ser uma mulher provocante, mesmo com toda essa maquiagem. – disse Daisy. –Ela tem um corpo bonito, mas não tem uma boa altura, e não nega ser uma garota extremamente tímida.

–Você é? – perguntou Ryan.

–Daisy Harris. – ela estendeu a mão e fora cumprimentada por Ryan. –Não estou sendo antipática, acho que ela tem potencial, mas profissionalmente observando-a, todos deveriam concordar comigo. Foi um prazer conhecê-lo, Ryan.

Encarei o chão sem saber o que dizer, pois Daisy – mesmo destilando seu veneno –, não tinha dito nenhuma mentira.

–Como eu havia dito antes: você só precisa ser mais desinibida.

–Estou nesse estúdio há quase duas horas e minha expressão não muda. – apesar da minha camisola não ser transparente, tratei logo de vesti um roupão por cima desta. –Isso não é pra mim. – afastei-me dele.

–Dois minutinhos, Beth! – gritou antes que a mesma fosse procurá-lo. –Você é linda e tem um ótimo contrato em mãos. Não pode deixar essa chance escapar assim. – segurou-me pelo braço, fazendo-me virar para ele. –Claire...

–Não estou confortável. – o interrompi decidida a não continuar com as fotos. –As peças são lindas, o estúdio é legal, e você é muito paciente, mas eu não me encaixo nisso.

–Ok! – um tanto desesperado, ele passeou os dedos entre os fios de cabelo. –Eu anulo seu contrato, te dou todos os negativos desse ensaio, mas você terá que me prometer que vai assinar outro contrato com essa mesma revista.

–Mas... O que você tem haver com essa revista? Desculpe a pergunta, é que suas fotos são bem diferentes disso.

–Ah! – ele coçou a nuca, desajeitado. –Minha mãe é dona da revista que faz setenta por cento das americanas refletirem sobre moda e sensualidade. – fiquei envergonhada, tamanha falta de atenção. –É uma edição muito especial, por isso não tive como escapar da persistência da minha mãe e, sinceramente, vou agradecer a ela por ter me empurrado para cá.

Percebendo que eu queria mesmo saí dali, ele quebrou o silêncio que, olhando-me fixamente, tinha dado início a ele.

–Posso contar com você?

Suspirei, sem saber como rejeitar um pedido de alguém que estava sendo muito legal comigo.

–Eu vou pensar na sua proposta e você pode me ligar quando quiser, caso não tenha se esquecido de que você perdeu seu precioso tempo comigo.

Ele sorriu. –Não vou me esquecer.

–Três minutos e um segundo. Acabou o tempo, Ryan.

–Desculpe, Beth.

Antes de sair, ele sorriu para mim, e acenou rapidamente.

–É isso mesmo que ouvi?

Dei atenção à Beth, que estressada, acendeu um cigarro.

–Sou uma piada aqui.

–Todo fracassado é, garota. – corrigiu-me tragando o cigarro com gosto. –Você não tem nada a perder. Se suas fotos ficarem péssimas, todas elas irão para o lixo, caso contrário, novas oportunidades surgirão.

Não pude evitar o olhar sobre Daisy e as outras garotas, sorrindo sobre a sensação de conforto e familiaridade com estúdio.

–Três fotos de lingerie e quatro de camisola, considerando que são fotos sensuais, mas não vulgar, e tudo terá acabado. Quer mesmo pular fora?

Enquanto ela me observava com interesse, inspirando e expirando fumaça, sua pergunta pairou na minha cabeça, ponderando outras tantas que me deixavam mais indecisa.

–Nosso tempo acabou, Claire.

Beth se afastou, deixando-me para trás. Livrando-se do cigarro, ela agitou as garotas que, prontas, sorriram animadas se posicionando em seus devidos lugares. Eu preferia não ter visto os olhares que elas me lançavam e os cochichos entre si, todos em torno da minha desistência. E foi como se eu tivesse sido atingida em um ponto certeiro, pois logo me senti encorajada a voltar ao estúdio, e terminar as fotos.

–Beth! – apressei-me a chegar até ela, chamando a atenção de todos. –Vamos continuar.

De repente, me vi motivada novamente, agindo sob o domínio de olhares que me chamavam de perdedora. Com toda a certeza, não me reconheci desde o momento que tomei aquela decisão – por que eu não queria ser fraca diante de tantas pessoas que me julgavam –, e eu me negava a desistir.

&&&&*&&&&

–Eram peças minúsculas e decotadas?

–Não. – olhei-a ligeiramente enquanto virava as panquecas de um lado a outro. –Eram todas lindas, sensuais, e de preço bem salgado. Na verdade, tudo foi perfeito, o único problema foi Claire Lewis. – levei as panquecas para a mesa e Megan providenciou o suco e a calda de morango. –Se não fosse o Ryan e a Beth... O Ryan é muito legal, você ia gostar de conhecê-lo.

–Você já falou dele umas dez vezes. – encarou-me ela, com um sorriso bisbilhoteiro. –Pelo jeito ele deve ser um cara muito especial, não é?

–Ele é gentil e divertido. Só isso. – sentei-me de frente para Megan, fingindo não vê seu olhar duvidoso. –Não fique me olhando como se eu tivesse escondendo algo de você.

–Eu não penso nisso, mas estou tentando sondar seus pensamentos em relação ao moço da gentileza.

–Não há nada demais. Além disso, sou a última pessoa na face da terra a querer um paquera ou namorado agora. Para ser sincera, prefiro me manter afastada dos homens sentimentalmente.

–Ethan ainda mexe muito com você, não é?

–Argh! – murmurei dando-me por vencida. –Eu deveria esquecê-lo agora que ele está longe, mas parece que...

–Você o ama cada vez mais. – completou Megan, em tom pensativo. –É a mesma sensação que sinto com o Jason longe daqui.

Sem que nos déssemos conta, deixamos os pensamentos falar mais alto, e o silêncio era quebrado vez ou outra, pelos toques sutis dos garfos.

–Falei com Ethan ontem, pela manhã. – surpresa a observei. –Achei que você não ia se importar se eu não te contasse. – voltei a atenção para o prato, fingindo que o assunto não era do meu interesse. –Ele está bem, mas não me disse onde está. – Megan me olhava. –Contei para ele sobre a decisão da nossa mãe e... que você exerceu forte influência sobre isso. – ela sorriu. –Ele ficou mudo por cinco segundos, eu me empolguei e falei sobre nós. – seu olhar era desajeitado sobre mim. –E... eu contei que você vai está na próxima edição da revista...

–Megan!

–Eu não pude me segurar! E quer saber? Meu irmãozinho desmiolado precisa ter consciência de que você não está chorando pelos cantos da casa. Assim como ele, você também deu um pontapé inicial na sua vida!

–O que faço ou deixe de fazer, não interessa para ele! – suspirei emburrada. –Suas informações sobre minha pessoa deixou um clima bem forçado.

–Como assim?

–No mínimo, ele vai pensar que eu estou pedindo para você falar muito sobre mim; tipo, ‘sem querer’.

Atônito com a discussão, Nicholas adentrou a cozinha, muito sonolento.

–Bela maneira de iniciar o dia.

–Por que estou tão pirada com isso? Ethan nunca irá vê essas fotos mesmo. – falei dando pouca importância ao comentário de Nicholas.

–Vai comer...?

–Pode ficar com elas. – o interrompi empurrando meu prato para ele, que já se empanturrava com as panquecas.

–Aposto trezentos dólares que ele vai vê suas fotos.

Brincou Megan, sorridente.

–Do que vocês estão falando?

–As fotos do ensaio que a Claire fez de lingerie. – respondeu Megan fazendo Nicholas ficar boquiaberto. Envergonhada com a reação dele, levei a mão à testa, de modo que meus olhos ficassem encobridos.

–Quando vão publicar essas fotos? – perguntou ele.

–Mês que vem. – respondeu Megan.

–Quando exatamente e qual é o nome dessa revista?

Furiosa, com a súbita animação dele, olhei-o duramente, fazendo-o se concentrar nas benditas panquecas.

&&&&*&&&&

Um mês depois a revista – tão temida por mim –, estava nas bancas, e, consequentemente, minhas primeiras fotos profissionais estavam nela. Extremamente ansiosa Megan adiantou-se a ir à banca mais próxima e, animada, folheava a revista como se ela fosse seu jornal rotineiro.

–Minha nossa! – disse atenta a página em questão. –Você está outra pessoa!

Eu, que andava de um lado a outro, parei para observá-la.

–Está mais madura fisicamente. A maquiagem, o cabelo, a lingerie, o salto, as poses... – seus olhos me encontraram. –Está linda!

Nervosa, sentei-me na cama, alisando as têmporas.

–Ainda bem que esse tal de Ryan te convenceu a fazer as fotos. – comentou voltando a folhear a revista. –Não tem nada de vulgar nelas, muito pelo contrário. É uma pena que sejam poucas fotos sua.

–Passei três horas naquele estúdio e só escolheram cinco fotos.

–As melhores das melhores. – Megan se sentou a meu lado, escancarando a revista. –Não está orgulhosa de si?

Duvidosa, tive como foco minha imagem impressa, e suspirei calmamente, finalmente aceitando minha desenvoltura nas imagens.

–Não ficou tão ruim, não é?

–São perfeitas! – empolgada, Megan abraçou-me. –Estou orgulhosa da minha amiga.

–Obrigada.

–E agora? Você vai aguardar novos contatos ou o Ryan vai te ligar em breve?

–Eu não sei, mas... Tenho que pensar bem se quero isso pra mim. Não me reconheço dentro de um estúdio. Tudo o que eu faço é forçado e fingido.

–Isso só você pode decidir, mas em quanto isso não acontece... Você acha que essa camisola ficaria boa em mim?

&&&&*&&&&

Alguns dias depois...

Depois que vi minhas fotos naquela revista, fiquei por dia folheando as mesmas páginas, sem saber o que fazer quando meu telefone tocasse.
Quando eu estava realmente convencida de que Ryan tinha milhões de coisas para fazer e não perderia seu requisitado tempo comigo, meu celular tocou, e conversamos por um breve tempo. Devido à viagem que estava prestes a fazer, encerramos a ligação com a promessa dele de alavancar meu sucesso – uma vez me dizendo que ele poderia fazer isso em um piscar de olhos, bastava eu querer.

–Era seu amigo?

Perguntou Megan.

–Era. – respondi virando-me para vê-la. –Ligou para falar sobre as fotos e insiste no meu potencial como modelo.

–Contou a ele que você está indecisa quanto a isso?

–Sim, mas ele está fazendo de tudo para me animar. Ele disse que, se eu quiser mesmo sucesso, ele pode alavancar esse grande sonho.

Megan parou de pentear o cabelo e dedicou cem por cento da sua atenção a mim.

–Eu acho que ele gosta de você.

–Não misture as coisas.

–E digo mais. Fique de olhos bem abertos com esse tal de Ryan. Ele não lidera uma agência de moda e tão pouco cuida da revista da mãe. Ele é um fotógrafo bem sucedido, talvez por causa da fama da mãe como uma mulher de negócios, e é óbvio que nunca se interessou por fotos de lingerie. E, de repente, ele te conhece e gruda no seu calcanhar como um chiclete, agora ele quer expandir seu sucesso, mesmo percebendo que você não tem a mínima intenção disso. – depois de dizer tudo o que pensava, ela respirou fundo, fazendo uma pausa rápida. –Ele pode ser um desses caras que pensam que todas as mulheres se submetem a acordos gananciosos por causa de fama e dinheiro.

Ryan não parecia ser o que Megan descrevia, mas, assim como ela, eu não podia ignorar toda aquela atenção.

–De qualquer forma, não pretendo encarar isso como uma profissão segura. Precisamos de dinheiro para dá assistência à Melissa e isso é o que mais importa.

–Claire... Você não precisa se sacrificar por causa da minha mãe. Estou à procura de emprego e parece que Ethan está se dando bem nas corridas.

–Melissa passou a ser como... uma mãe para mim. – Megan sorriu. –Ela é o avesso do que minha mãe era e isso me fascina. Claro, eu sofro quando a vejo mal, mas fico admirada pela força que há nela.

–Você já disse isso à senhora Scott?

–Não.

–Pois deveria, ela gosta muito de você. Só tem uma coisinha nessa história linda.

–E o que é?

–Eu sou a filha mais velha.

–Melissa deveria saber que você morre de ciúmes dela. – acertei-a com uma almofada.

–Não tenho ciúmes dela com você. – jogou a almofada de volta, acertando-me bem na testa. –Na verdade, eu sempre quis ter uma irmã.

–Mesmo depois de ser atacada? – joguei a almofada de volta, batendo em cheio na testa de Megan, que caiu gargalhando na cama.

&&&&*&&&&

Claire!

Senti alguém sacudir meu ombro de leve.

–Acorda!

Era Megan e ela sussurrava enquanto me sacudia de leve, tentando me acordar de qualquer jeito.

–Claire!

–Uh? – despertei abrindo os olhos de leve e, confusa, observei Megan. –O que houve?

–Eu tenho uma notícia que vai te fazer sorrir por horas seguidas!

–Como você está sorrindo agora? – perguntei sem entender o motivo do seu sorriso. –O que é? – indaguei bocejando.

–Ethan está aqui!

Minha única reação foi de tê-la como foco.

–Ele chegou agora a pouco! – continuou ela. –Conversamos por algum tempo e ele disse que vai ficar por alguns dias! Isso não é legal?

–Claro. – dei de ombros, ainda tentando digerir cada palavra.

–É perfeito! – ela estava eufórica. –Jason vai chegar amanhã e só vai embora no domingo à noite! Podemos sair todos juntos! – empolgada, ela foi ao guarda-roupa, e vasculhou as roupas nos cabides. –Vamos ao shopping?

–Você comprou roupa há dois dias, Megan.

–Mas a ocasião exige um vestido novo.

Eu não estava a fim de fazer compras – não naquele dia nublado –, mas Megan enlouqueceria se eu não fosse com ela e, claro, faria um drama terrível.

Com a recente novidade de que Ethan estava de volta, entrei e saí do banheiro temendo me deparar com ele, mas como era de costume, o mesmo não sairia do quarto por um bom tempo. Pensando dessa forma, aproveitei que Megan estava no computador, e fui à cozinha.
A chuva começara a cair, fracamente, e eu não resistir à vontade de vê o espetáculo natural da janela. Os pingos foram aumentando rapidamente e a chuva que começara fraca, estava se intensificando. Distraída, e vez ou outra bebericando o suco, inclinei-me na pia, esticando-me toda na tentativa frustrante de vê boa parte da cidade.

–Perdi a graça de vê a chuva caindo quando eu tinha sete anos.

Virei-me bruscamente – assustada mesmo –, ao ouvir a voz sarcástica de Ethan atrás de mim. Graças a meu desespero, o copo desviou da minha boca, e minha blusa ficou suja de suco.

–Isso é jeito de se pronunciar?

Perguntei passando a mão na mancha da roupa.

–Eu não entendo como uma pessoa de vinte anos pode se comportar como uma criança, às vezes.

Ele providenciou uma tigela, leite, e cereal. Sentou-se calmamente, ignorando-me, e não mais cruzou o olhar comigo.

–Oi, Ethan. – falei chamando a atenção dele. –Caso não saiba, as pessoas costumam se cumprimentar quando ‘enxergam’ outra que há muito tempo não vê.

–Uh.

Meu discurso o fez desviar o olhar e mais uma vez me senti ignorada.

–Parece que esse tempo longe mexeu muito com você, não é?

–Parece que não sou o único. – disse indiferente. –Eu tenho certeza que ainda sou o mesmo diante, mas a Claire que está na minha frente... é uma garota quase desconhecida para mim.

Respirei fundo, sem saber o porquê de ele está sendo tão arrogante.

–Não está entendendo minha atitude, não é? – olhava-me com certo deboche. –Eu explico.

Sob meu olhar confuso, Ethan deixou a cozinha, e em alguns segundos voltou para ela, trazendo consigo a mesma revista que olhei durante dias.

–É isso que você é? – perguntou mostrando-me uma das fotos.

–Não é da sua conta! – tentei tirar a revista dele, mas Ethan foi mais rápido. –Você, Megan, Jason, e Melissa tomaram decisões em suas vidas! Eu fiz o mesmo que vocês!

–Uma decisão idiota!

–Que seja! É minha vida e eu faço o que eu quiser com ela! Você mesmo me incentivou!

–Não dessa forma!

–Qual é o problema? Eu não posso tirar foto de calcinha e sutiã?

–A Claire que eu conheço não é assim!

–As pessoas mudam! Você mudou! Todos mudaram, até as paredes desse apartamento! – gritei fazendo um tremendo esforço para conter as lágrimas.

–Tudo bem. Se você quer mesmo ser outra pessoa, siga em frente!

Ele jogou a revista contra a mesa e me deu as costas em seguida.


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