Dias Imprevisíveis escrita por Gil Haruno


Capítulo 12
Capítulo 12 -Armadura


Notas iniciais do capítulo

Capítulo postado!
Beijocas!



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Mais uma manhã entediante depois da última noite badalada da sua vida. Você queria que ela durasse eternamente, pois aqueles momentos foram os melhores já vividos em anos. Mas são contadas as coisas que duram para sempre e nossa felicidade não está inclusa nessa medíocre lista.

Os dias continuaram passando e eu decidi, amargamente, que pararia de conta-los. De repente, me vi várias vezes, ao dia, debruçada sobre a janela, olhando a rua até a extensão do seu fim. Eu acreditava que, a qualquer momento, Ethan apareceria nela e abriria a porta, mas depois de um tempo comecei a acreditar que ele nunca mais voltaria se eu ainda estivesse presente. Era uma hipótese sem cabimentos, mas cheia de razões. Não fazia o menor sentido, mas deixava-me duvidosa e tensa.

–Estão prontas, garotas?

–Sim. E você está ridículo!

Megan gargalhou ao vê Nicholas de pé na porta, fazendo pose para enfatizar sua jaqueta anos noventa, e óculos de sol exageradamente grande.

–O que significa isso? Uma aposta que você perdeu? – perguntei. –Aposto que as garotas irão rir de você, além de nós duas. – me levantei guardando o caderno e a caneta na bolsa.

–Vocês estão mal antenadas! Jeremy disse que esse visual faz muito estilo ao carro.

–E quem é Jeremy? O dono do ferro velho onde você comprou aquele carro? – indagou Megan divertindo-se.

–Jeremy é dono da concessionária que meu carro foi comprado e fique sabendo que ele é muito bom com as mulheres.

–Provavelmente as cinquentonas que fizeram o ensino médio com ele.

–Ou as loucas de pedra.

–Boa, Claire! – concordou Megan, deixando Nicholas injuriado. –Será que seu possante aguenta ir ao hospital?

–Até Manhattan se vocês quiserem. – se gabou Nicholas.

Paramos de frente ao carro tão falado por Nicholas e ele não passava de um ferro velho que ainda andava.

–Mil e quinhentos dólares nessa porcaria? – Megan enfiou a cara dentro do veículo e não se agradou com o que viu. –Três mil dólares e você compraria uma coisa melhor, pelo menos que não tivesse baratas dentro.

–Argh! – Nicholas lançou um olhar feio para nós duas e abriu a porta do carro, que rangeu alto. –Jason não está aqui e o Ethan só Deus sabe onde se meteu. É isso ou a tia Melissa virá para casa de táxi.

–Não vamos entrar aí! – Megan cruzou os braços e o encarou feio. –Vamos de táxi, Claire.

–Por mim tudo bem.

–Ótimo! Claire e eu iremos de táxi e você, Nicholas, vá trocar esse carro ridículo ou minha mãe vai ligar para os seus pais assim que o vê correndo perigo.

Nicholas suspirou alto, admitindo que a compra do carro foi um erro.

–Táxi! – gritou Megan enquanto acenava para o táxi.

–Boa sorte com o carro, Nicholas!

–Valeu. – mesmo desanimado, ele sorriu para mim.


&&&&*&&&&


A demora na sala de visitas estava começando a angustiar Megan. Uma enfermeira, que Megan mal conhecia, fora encarregada de pedir para que nós aguardássemos alguns minutos, pois o médico responsável por Melissa viria nos atender. Talvez ele só estivesse alertando Melissa sobre seu estado físico e emocional; e era dessa forma que deveríamos pensar.

–Carmen nem apareceu. – Megan andava de um lado a outro, impaciente. –É tudo muito estranho.

–Ela está bem. Você só precisa pensar dessa forma.

–Sim, Claire. – um sorriso tímido, porém otimista, tentava brotar dos seus lábios. –Mas é que...

–Oi, Megan.

Olhamos para trás ao mesmo tempo e quase boquiabertas encaramos a dona daquela voz.

–O que você está fazendo aqui?

–Ela está comigo.

Ethan surgiu respondendo a pergunta de Megan e, pelo olhar indignado lançado ao irmão, seria melhor ele ter se calado.

–Eu não acredito que você trouxe essa garota aqui, justamente hoje!

–É por ser justamente hoje que Sarah está aqui. – ao terminar a frase, Ethan segurou a mão de Sarah, como um casal unido. –Eu não quero brigar com você Megan, só vim buscar minha mãe e apresentar minha namorada a ela. Não estou pedindo demais, não é?

Megan não queria discutir, pois estava tensa e histericamente irritada. Eu, no entanto, decidi me manter afastada deles.
Sentindo-me sufocada com a presença do casal feliz, fiquei na janela, respirando o ar com toda a força que tinha nos meus pulmões. Era um momento tragicamente constrangedor e mal interpretado, de ambas as partes. Eu só conseguia me perguntar: o que estou fazendo aqui com eles? O que devo fazer? Nada. Absolutamente nada, por que eu não tinha respostas para questões iguais aquelas.
E foi deixando de lado aquele tormento emocional, que pensei mais ainda em Sarah. Ela era tudo o que Megan descreveu fisicamente. Sarah era o retrato perfeito de uma garota rica, mimada, feliz e egocêntrica. Embora ela tivesse antipatia e se sentisse superior aos outros, eu não podia ignorar o fato dela ser muito bonita, sofisticada, e segura de si. Ao lado de Ethan, eles formavam um casal perfeito. Ele era o Bad Boy que boa parte das garotas gostaria de namorar e Sarah era a garota cobiçada por onde passava.

–O que os médicos disseram?

–Não sei. Pediram para esperarmos aqui. – esquecendo as desavenças de lado, Megan respondeu a pergunta do irmão. –Onde você estava?

Fiquei atenta ao diálogo, mas não me virei para vê-los.

–Eu tenho que ganhar a vida por aí.

Respondeu Ethan, cheio de desdém.

–Só que você ainda tem uma família, que se preocupa com sua vida, então deixe de ser egoísta e me ligue de vez em quando.

–Para quê se você anda muito ocupada ultimamente? E, aliás, eu já sou bem grandinho para ficar ligando pra irmãzinha.

–Tudo bem. Eu não vou mais me preocupar com nada a seu respeito, nem se alguém apontar uma arma na sua cabeça oca!

Todas as pessoas na sala olharam Megan, irritados e outros perplexos com a discussão.

–Ethan sabe se cuidar muito bem, Megan. Você deveria conhecer seu irmão melhor.

–Escuta aqui sua vadia...

Antes que Megan avançasse sobre Sarah, Ethan ficou entre elas, impedindo o avanço que daria muita confusão.

–Controle-se, Megan!

–É tão fácil para você dizer isso! É de admirar que você esteja namorando a garota que sua irmã mais odeia! Que tipo de consideração... Melhor, que tipo de pessoa é você Ethan Scott?

Sem conseguir ignorar a discussão, me virei para eles, especialmente para o rosto inexpressível de Ethan.

–Ora! Não me envolvam mais nisso! É ridículo!

Aquele foi o veredito final de Ethan naquela discussão e, antes que nós nos olhássemos acidentalmente, virei-me para Megan.

–Vamos tomar um chá, Megan.

A ideia atraiu Megan que não hesitou a me acompanhar.

–Megan? Ethan?

Paramos ao ouvir os passos firmes se aproximando de nós.

–Doutor Caleb?

Antes do médico chegar à Megan, ela correu até ele.

–Como está minha mãe? – perguntou nervosa e apreensiva.

–Ela estava bem, mas... – passou drasticamente. –, não sabemos como uma garrafa de Vodka foi parar no quarto dela.

–Como é? – Ethan estava tão surpreso quanto Megan. –Uma garrafa de Vodka não ia entrar pela janela ou cair do teto!

–Claro que não, mas a senhora Scott estava com uma garrafa em seu poder.

–As visitas... Quem visitou minha mãe esses dias? – perguntou Ethan.

–Eu acompanhei todas as visitas da Melissa, especialmente as visitas frequentes do David. – explicou Carmen, se posicionando ao lado do médico. –É óbvio que aquela garrafa não foi parar no quarto de Melissa por acaso. Alguém a deixou lá.

–Se não foi o David... Quem foi? – indagou Megan.

–Claro que foi ele! – furioso Ethan apertou os punhos com toda força.

–Doutor Caleb, eu sou Sarah Williams, namorada do Ethan. Eu tenho acompanhado o caso da senhora Scott por meio das conversas com Ethan e não sei muita coisa a respeito. Mas, não será melhor transferir a senhora Scott para uma clínica de reabilitação?

–Certamente Sarah, mas a Melissa se recusa a fazer um tratamento em uma clínica especializada. Embora seu problema de saúde seja o efeito do álcool e outras substâncias químicas, ela precisava passar por uma bateria de exames e iniciar alguns tratamentos.

–Eu só quero ajudar, por isso dou todo o apoio necessário para interna-la em uma clínica de reabilitação.

Olhei o sorriso estampado no rosto de Sarah, aparentemente ela não tinha dito nada demais, mas não sei bem o porquê de suas palavras ter me chamado tanta atenção.

–Cadê Melissa?

Um homem de semblante pensativo chamou todas as atenções para si. Ele devia ter uns quarenta e cinco anos. Não era tão alto, o cabelo grisalho era ralo, e os olhos eram negros como a noite. Se não fosse pela barriga saliente, ele teria as medidas exatas do meu pai.

–Foi você! – Ethan o segurou pela gola da camisa.

–O que você está falando seu piloto de corridas baratas? – sua voz era de embriaguez e seu sorriso de puro sarcasmo. –Eu soube que o Crash perdeu uma grana alta apostando em você.

–Solta ele, Ethan!

Megan tentou arrastou Ethan, mas sem sucesso.

–Escute sua irmã, Ethan! – o doutor Caleb, com a ajuda de Carmen, conseguiram livrar o homem das mãos de Ethan. –Aqui não é lugar para brigas!

–Eu soube também que você deve muito dinheiro por aí. – sem se importar com o olhar assassino de Ethan, seu padrasto continuou o deboche. –Onde você vai arrumar dinheiro para salvar a sua vida inútil?

Ethan o acertou com um soco brutal, deixando-o inconsciente devido à embriaguez. Os seguranças logo apareceram, mas o doutor Caleb explicou que o homem inconsciente estava bêbado e tudo não passou de um mal entendido.

–Você deve dinheiro? – perguntou Sarah. –De quanto você precisa?

–Para com isso! – disse Ethan, visivelmente irritado.

–Eu quero ajudar você. – insistiu Sarah. –Ei! Volte aqui!

Ethan deixou o hospital cheio de angústia e raiva. Enquanto Sarah tentava resolver seus problemas com dinheiro, eu via a solidão que havia nos olhos dele, tão cansados e vulneráveis. Então percebi o quanto Ethan se camuflava dentro daquela postura rígida e distante. Por mais sobrecarregado que estivesse, ele nunca admitiria suas fraquezas a alguém, apenas esperava ou não mais acreditava que alguém iria percebê-las.











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