Basicamente todos – menos Petúnia – correram para a sala para saber o que estava acontecendo. Embora eu achasse que poderia muito bem dizer que Margareth era uma assassina disfarçada de governanta que queria matar todos naquela casa eu resolvi simplesmente dar um tapa naquela cara branquela.

Parecia que estávamos em uma novela Mexicana. Todos levaram as mãos a boca, horrorizados, e Margareth ficou com a palma da mão prensada contra a bochecha, fazendo um draminha. 

Tudo bem que, mesmo estando sempre ameaçando Margareth, eu nunca havia feito nada contra ela realmente. Afinal, ela era a governanta da casa e eu nutria um pouquinho de respeito por ela por me aguentar e alimentar todos os dias - quando não estava ocupada roubando minhas coisas, é claro. 

— Espero que esteja claro que você não pode pegar nenhuma coisa que me pertença, nem mesmo se for uma ponta de lápis, mesmo que eu não vá usar essa ponta de lápis, o que eu obviamente não vou já que por que eu precisaria de uma ponta de lápis? — VI—A—JEI — Anyway... se você se aproximar do meu quarto novamente para roubar minhas coisas eu vou te matar com um facão de cozinha e depois enterrar no quintal com a ajuda do James. Ficou claro, certo? 

Depois disso, dei dois tapinhas em suas bochechas e recolhi meus posteres, DVDs e camisetas que estavam em cima do sofá e subi as escadas fazendo barulho com meus all star e tomando cuidado para não tropeçar no ar e rolar escada a baixo. 

♡ ♡ ♡

Após o jantar – muito silencioso, o que não era normal para a família Evans Potter – todos fomos deitar cedo. O clima estava tão tenso que eu sentia que podia corta-lo com uma faca de passar manteiga. Mas não era porque eu havia dado um tapa – bem merecido, por sinal – no rosto de Margareth. Era porque Morgana continuava com sua cara de bunda depois de deixar todos com cara de bunda. Ela reclamou para meu pai que eu não deixei Petúnia pegar carona com James, e meu pai reclamou com mamãe, mamãe bateu em papai depois quase defenestrou Morgana e por fim mandou todos que tentassem discordar dela irem pro inferno.

Eu não discordei.

E não foi somente porque eu tinha medo que ela me jogasse um chinelo na cara, mas também porque eu concordava com ela. Morgana estava passando dos limites, e apesar de Petúnia ser um ser bastante irritante – e burro – ela não me deixava tão irritada quanto Morgana.

Senti uma coceirinha em meu nariz e comecei a rir sozinha. Inconscientemente eu dei um tapa em meu próprio nariz para afastar o objeto que me deixava com cocegas. Eu detesto cocegas, é algo que faz você rir tanto que não consegue respirar e você não consegue dizer para o diabo que esta fazendo cocegas em você que ODEIA cocegas e se ele não parar vai enfiar o abajur dentro da sua garganta e defenestra-lo pela janela.

Senti algo grudento no meu nariz e na minha mão. Choraminguei baixinho pela minha burrice. E então acordei para a vida lembrando que eu deveria matar o ser que havia feito aquilo.

Quando abri os olhos, dei de cara com um par de olhos castanhos arregalados. Gritei. E gritei mais uma vez percebendo que era Margareth e ela estava com as minhas coisas de TWD em mãos.

— Lily querida, que fique claro que eu ODEIO receber ordens e por isso estou roubando as coisas de volta. Vou assistir tudo e assistir de novo até você encontrar uma nova serie para eu roubar também – ela tinha um sorriso lunático nos lábios. – Ah, seus pés estão amarrados pra você não fugir. Ah, e você é uma ruiva muito muito má.

Sentei na cama e desamarrei meus pés. Ela olhou idiotamente para mim percebendo a burrice e murmurou um 'droga' antes de sair correndo.

Levantei e sai correndo atrás dela, obviamente. Corremos por vários corredores enquanto ela, de vez em quando, derrubava coisas pelo caminho para tentar me atrapalhar, mas eu desviava de todas com facilidade. 

Ela desceu as escadas correndo e eu a segui. Correu até a cozinha e acabou por ficar encurralada lá, encolhida em um canto. Eu estava prestes a socar a cara de metida dela quando o telefone tocou e todas as luzes se apagaram. 

Soltei um gritinho fino e agudo. 

— Droga – choraminguei – Como é que eu vou achar a porcaria do telefone?

Tateei até a gaveta que continha sacos de velas e acabei batendo com o joelho no balcão. Margareth riu e eu lancei um objeto não identificado na direção em que sua risada parecia ter vindo. Peguei uma vela e um isqueiro – que estava na mesma gaveta – e acendi a vela. Margareth ainda ria sem fazer barulho em um canto da cozinha.

Segui até a sala onde o telefone ainda tocava e o tirei do gancho.

— Alô? – falei entediada.

Só pude ouvir uma respiração do outro lado da linha.

— Qual seu filme de terror favorito?

— Hãm? Eu tenho cara de que tem algum tipo de filme de terror favorito? Não, não tenho. Eu tenho cara de quem se borra assistindo O Chamado. Mentira! Minha cara é bastante assustadora.

— Ah... então... Sete dias! – a voz falou outra vez.

— Sete dias? Sete dias uma ova! Sua vadia desgraçada! Por que você faz isso? Eu nem assisti droga de fita nenhuma. E estou esperando Sábado chegar porque minha mãe vai fazer uma lasanha deliciosa. Aposto que você ficou com inveja já que só come água e cocô ai dentro desse seu poço cagado e resolveu me ligar pra encher o saco. 

— Kirida, se não gostou reclama com meu chefe.

— Quem é seu chefe?

— Obvio que é  Lúcifer né, querida. 

— Garota, vai em um salão de beleza ao invés de ficar matando os outros. Hidrata esse seu cabelo cagado, da um jeito nessas olheiras, usa maquiagem, faz bronzeamento artificial pra tirar essa cor morta e faz as unhas do pé e da mão. Também vai no shopping e compra umas roupas novas porque esse vestidinho branco ridículo todo cagado que você usou quando seus pais te atiraram dentro do poço ta fora de moda, viu? Você pensa que vai arrumar um namorado assim? Não vai! Porque um gato assiste a fita e ao invés de você marcar um encontro vai lá e fala sete dias pro cara, isso é broxante. E ai você aparece e ele morre de susto com essa sua cara de bunda cagada. Ah, e muda seu nome pra Samantha porque Samara é mais feio que a sua cara.

Samara começou a chorar.

— Por que você ta chorando? – revirei os olhos. – A pessoa tenta te ajudar e você vem querer chorar? Ninguém mandou ser feia. Aposto que seus pais te mataram porque você era mais feia que o exu desgraça!

— É mentira! – ela choramingou com aquela voz encatarrada. – Eu não gostava de tomar banho e estava fedendo de mais então eles me entregaram um shampoo e um condicionador da Seda liso perfeito e me jogaram dentro do poço, só que eu bati a cabeça e acabei morrendo.

— Você pelo menos podia comprar um iPhone e mandar SMS pros outros ao invés de assustar eles com essa sua voz de taquara rachada.

— Cala a boca sua ruiva de merda! Eu ia ser cantora se ainda estivesse viva.

— Com essa voz? Você no máximo seria vendedora de pamonha.

Ela deu um berro e desligou o telefone na minha cara.

— Alô? Alô!? Vadia, ta pensando que é quem pra desligar na minha cara? – bati o telefone e bufei. – Ela que apareça na minha casa que eu dou um soco naquela cara de cocô dela.

Alguém pigarreou às minhas costas e eu me virei rapidamente, dando de cara com praticamente a casa inteira. Todos me olhavam assustados. 

— O que foi? – perguntei.

— Bom, alguns médicos ligaram e disseram que a Samara tentou se suicidar por sua causa. Só que... ela já esta morta então não deu muito certo – mamãe disse.

— Samara? Vocês estão malucos? A Samara não existe. – Morgana olhou idiotamente para nós.

— Bem vinda a nossa vida – falei sorrindo ironicamente.