Amor Além Da Vida escrita por Isabelle Masen


Capítulo 9
Parte IX


Notas iniciais do capítulo

Cap meio à La Lua nova, mas ta aí, mais cedo hehehehe :)

Agradecendo à Diulha, Rosa, LaianeCullen, Camila Almeida, Gabriela Oliveira e Jennifer Freire pelos maravilhosos reviews. Lindas, esse capítulo só saiu mais cedo por causa de vocês, ele iria sair só no fim de semana. Viu como sou uma pessoa boa? #sqn


Nos vemos lá em baixo



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Possibility – Lykke Li



Inútil.

Vazia.

Oca.


É como eu me sinto sem ele. Meu físico em geral empalidecera, perdi todo o brilho da face. Meu interior não estava tão diferente; sinto-me desamparada, aprisionada pela dor da solidão.


E também estou só. Meu pai, sempre que busco o seu consolo, tenta me convencer a ir até uma consulta psicológica; Carlisle passa 24h no hospital cuidando do tratamento de Edward, e Esme anda trabalhando muito, e só vai no hospital para passar a noite ao lado do filho, na ala familiar; lugar que eu devo evitar para que não atrapalhe a recuperação de Edward.


Edward está há exatamente sessenta dias em estado vegetativo, se alimentando por incontáveis tubos em seus braços, peito, barriga e nariz. Eu preferia estar no lugar dele. Ele estava parado, e, consequentemente, meu mundo também parou. Não vejo mais graça em comer, respirar, pensar, andar. Era como se eu morresse todos os dias em minha própria batalha mental. Eu desejo cada centímetro de Edward pra mim. Mas, por hora, eu só posso vê-lo em meus sonhos.


Tudo que faço agora é escrever, ir para a escola e dormir. Talvez saio com Charlie para almoçar ou algo assim. Vivo por viver; e fico muda como se tivesse feito um voto sagrado de silêncio. Diariamente vou para a casa de Edward, fico em seu quarto ou apenas me tranco em seu armário e choro por várias horas seguidas, como se ele estivesse lá para enxugar minhas lágrimas.



Era como se um enorme buraco tivesse sido aberto em meu peito. E o único que poderia tapá-lo era ele.


Seu estado piora a cada dia, não houveram melhoras, mas há uma possibilidade. E é com essa pequena possibilidade que eu acordo todas as manhãs.


É nessas horas que você percebe o sentido da vida: nós nascemos, fazemos planos e morremos antecipadamente. Ele vivia me falando de seus planos, de como seria o nosso futuro, como se soubéssemos o que ia acontecer. E então a vida nos dá um impasse, cancelando planos e mais planos feitos durante uma vida toda.


A vida é uma droga, depois você morre. É só isso: você mal nasce e ela passa diante de seus olhos, de carona com a morte. Nada é o que parece ser, nada dura para sempre, não dá pra parar o tempo. Eu finalmente acordei pra vida, mas francamente, prefiro voltar a dormir.


A morte é tranquila; fácil. A vida é mais difícil.


–-- Bella? – ouvi a voz de Charlie e me despertei dos pensamentos. Só aí percebi que chorava.


Desviei o olhar da janela e limitei-me a olhá-lo, encostado à soleira da porta. Ele segurava uma caixa de cereal, a expressão verduga. Sua postura marrenta me lembrava Edward no início do namoro, mas era assim agora.


Tudo que eu via gritava o nome dele. Como se até o vento que entra pela janela sussurrasse baixinho seu nome em meu ouvido.


–--... você está me escutando? – ouvi ele dizer e me dei conta que fitava o vazio. Hesitei em responder quando encarei sua fisionomia confusa, carrancuda e tristonha.


–-- Desculpe – disse fitando o chão, virando lentamente para a janela. Ele franziu o cenho, esperando por uma resposta mais concreta. –-- Eu me distraí – falei colocando os pés na cadeira e abraçando os joelhos, tirando uma mecha de cabelo do rosto.


–-- Você anda muito distraída ultimamente – murmurou.


–-- O que quer dizer com isso?


–-- Agendei... – ele fez uma pausa olhando pro chão – uma semana para você em Jacksonville em um spa, com tudo pago – disse sorrindo minimamente. Ofeguei.



–-- Não vou sair de Forks – sibilei baixo, mas ele ouviu.



–-- Querida, eu estou seriamente preocupado com a maneira que você está se comportando.



–-- Comportando? Mas eu não fiz nada!



–-- Exatamente! – disse sério e eu me virei para encará-lo – não sai mais de casa, não conversa... Mal come!



–-- Eu deveria sair? – ergui uma sobrancelha.



–-- Não... – ficou confuso – você entendeu o que eu quis dizer.



–-- Pai...



–-- Você vai pra Jacksonville – me interrompeu falando um pouco mais alto.



–-- Pai, pelo amor de Deus! – falei um pouco mais alto, me colocando abruptamente de pé – você não entende? Ainda finge que não sabe que Edward está internado e que talvez não acorde mais? Eu estou sofrendo, e você deveria estar me apoiando! – eu já gritava e as lágrimas já varriam minha bochecha.



Ele recuou um passo e fitou o vazio, pensando nas próprias palavras.



Sem me conter, peguei as chaves da picape na cômoda e marchei até ela. Dirigi sem rumo, chorando enlouquecidamente. Uma música lenta dos anos 60 começou a tocar na rádio, o que piorou a situação.



Parei o carro já nos limites de Forks; em minha frente tinha apenas alguns pinheiros cobrindo o crepúsculo.



Saí do carro e andei na trilha de terra por entre as árvores, chegando à um campo de grama largo e vazio. Aquele era como um templo para mim e para Edward.



Escutei um trovão vindo do céu e caminhei até o meio do campo, passando os dedos delicadamente pelo gramado com poucas flores em lilás.



Fechei os olhos e sentei no local. Olhei para a esquerda e as lembranças me atingiram como um soco no estômago.



Porque me trouxe pra cá? – perguntei pela milésima vez, mas ele ficou calado o caminho todo. Soltou a mochila no chão enquanto íamos pro meio da relva, onde o sol brilhava mais intensamente.



Paramos e ele virou pra mim com seu típico sorriso torto. Precisei prender a respiração pra não soltar um alto suspiro.



–-- Edward... – recuei um passo cautelosamente – só tem uma coisa que poderia fazer você me trazer para o matagal sozinha.



–-- E o que é? – disse e tirou do bolso uma caixa, com um nome esquisito. Ele ia me dopar?



–-- Você vai... me estuprar? – engoli em seco e ele explodiu em uma gargalhada alta.



–-- Não, de onde tirou isso?



–-- Filmes – dei de ombros.



–-- Não, está longe disso – dito isso ele virou melhor a caixa e pude ver que se tratava de uma pequena caixinha de veludo preto, com dobradiças em ouro reluzente.



Ofeguei e dei mais um passo pra trás.



–-- Eu escolhi esse lugar porque ele é calmo o bastante pra você pensar, e porque você é tímida e me mataria se eu fizesse isso em público – disse e abriu a caixinha lentamente, colocando um joelho no chão. Meu coração falhou em algumas batidas.



Reprimi uma lágrima quando eu vi um anel dourado sustentando um diamante lapidado em forma de coração. Edward tocou minha mão delicadamente e eu senti choques abrasivos por toda mínima extensão de meu corpo.



–-- Bella, aceita ser minha namorada?



Ofeguei, sem saber o que dizer. Edward me pegou durante minha TPM, por isso estou frágil com qualquer coisa.



–-- Não precisa responder agora – ele me deu um sorriso que fez meus músculos destravarem aos poucos do choque que suas palavras me impregnaram – só quero que saiba que... – o calei com um beijo, mas como ele estava ajoelhado, acabamos rolando na relva”.




*




“--- Edward, tenho que me concentrar... – falei tentando absorver o conteúdo de meu paradidático, mas o fato de Edward estar beijando meu pescoço e acariciando meus cabelos não ajuda meu raciocínio a funcionar.



–-- Aham – murmurou ainda de olhos fechados, beijando meu queixo.



Estremeci.



–-- Você... – comecei e fechei os olhos quando ele mordeu o lóbulo de minha orelha - ... você estudou?



–-- Claro – disse com a voz rouca beijando meu pescoço – Emmett e Jasper precisam colar de alguém – sorriu ainda de olhos fechados e eu ri.



–-- Podia ser mais convencido? – zombei e ele riu, beijando a ponta de meu nariz.



–-- Na verdade sim: tenho a namorada mais linda e inteligente do mundo – disse e beijou minha testa, me fazendo sorrir e corar.



Edward tinha o poder de me deixar corada com qualquer elogio ou ação, o que me deixava estranhamente inofensiva e acanhada.



–-- Bobo.



–-- Agora mesmo a garota mais incrível do mundo capaz de me mandar fazer qualquer coisa para vê-la sorrir me chamou de bobo – disse e beijou minha maçã do rosto. Sua respiração quente bateu contra meus lábios entreabertos, os fazendo umedecerem desejando os seus.



Ele se aproximou do canto de minha boca e eu fui mais rápida, moldando meus lábios nos seus.”




*



“--- Feliz aniversário! – Edward disse entrando na relva com seu fiel sorriso torto, segurando uma caixa com o forro de corações. Corei violentamente e sorri, me levantando e abrindo os braços para recebe-lo.



–-- O combinado era sem presentes – disse me abraçando com o braço livre.



–-- Por quê? Seu nascimento merece uma comemoração – falou e grudei as mãos em suas costas.



–-- Eu sei, mas eu não tenho nada para te dar em troca – admiti um pouco envergonhada. Ele riu.



–-- No manual do aniversariante não tem nada sobre os convidados receberem presentes – disse – por favor, pegue! – inclinou a caixa em minha direção. Suspirei.



Pensei nos prós e contras por alguns segundos, mas já que não haviam contras ei peguei a caixa e Edward deu um sorriso vitorioso.



Rasguei a fita vermelha que a envolvia e a abri, constatando que tinha uma folha similar à um pergaminho, com algumas instruções, como um mapa do tesouro.



“Vá essa noite para minha casa,

Procure por mim,

E leve essa chave com você.

                                         E.C”



Vi a pequena chave dourada quase escondida no canto da caixa. Olhei pra ele e quase o bati.



–-- Que foi? – disse divertido – eu não sou fácil não, sabia? – ergueu as mãos, como se estivesse se rendendo.



–-- É sim – falei e desamarrei seu sapato num estalar de dedos, começando a correr e rir ao mesmo tempo.



–-- Ei, volte aqui, sua bandida! – disse vindo atrás de mim. Ri mais ainda.”




*




“Joguei a mochila com violência no chão e andei pela parte vazia da relva.



–-- Bella, isso é ridículo! Volte aqui! – Edward me chamou de longe, e eu me virei pra ele.



–-- Porque ainda está aqui? Vá atrás da Victoria, ela é muito mais bonita e rica do que eu! – esbravejei. Ele aumentou seus passos em minha direção.



–-- Eu estava apenas perguntando as horas, ela que começou a dar em cima de mim! Eu sou seu namorado, Bella, confie em mim!



–-- Não é mais – falei e me virei abruptamente, arrancando a aliança do meu dedo anelar quase levando-o junto por causa da brutalidade que o fiz. Joguei a joia em seu peito e ele congelou. Olhando pro chão onde ela havia caído.



Dei as costas e voltei a marchar entrando na floresta. Fora difícil olhar o caminho e atravessar as árvores, pois meus pés pareciam pesar toneladas a cada passo.



Edward não merecia isto. Embora seja difícil de acreditar, ele gosta de mim, mesmo eu sendo uma garota complexa aos extremos. E o mínimo que eu devo fazer é apoiar ele, e no dia que ele cansar de mim, eu libertá-lo. Se ele me aguentou por tanto tempo, correu atrás de mim quando eu só o rejeitava, quando eu nem fazia ideia de sua existência é porque gosta de mim de verdade, com todos os meus defeitos, com todo o meu ser. Edward Cullen gostava de mim, e eu...



Eu amo Edward Cullen.



Decidida, voltei o caminho e senti a atmosfera ficar mais leve.



Quase tropecei em meus próprios pés algumas vezes até chegar aos últimos pinheiros. Saí e o vi fitando o céu nublado, deitado na grama. Sua expressão era vazia. Ver aquilo era cortante.



Me aproximei lentamente e me deitei ao seu lado, devagar. Ele imediatamente olhou pra mim, como se tentasse ler através de meus olhos insignificantes. Já os seus diziam tudo que queria ser dito, as palavras não ouvidas ocultas em um olhar vazio. Mas os “vazios” de E dward eram maiores e até infinitos, com tantos significados ao mesmo tempo que despertavam em mim uma curiosidade avassaladora em desvendá-los.



Ficamos ali, deitados no gramado, analisando um ao outro sem dizer nada. Não havia nada a ser dito naquele momento, pois tudo era expressado na linguagem dos olhos. Era um tipo só nosso de reconhecer o que o outro quer dizer, apenas com a conexão de nossas íris.”




Quando voltei a ter consciência, percebi que chorava, e estava completamente encharcada pela chuva, que caía sem dó por meu corpo.



Fechei os olhos e chorei alto. Chorei por nossas brigas, nossos silêncios, nossos segredos, nossos planos. Chorei por tudo, e em um lamento silencioso, desabafei para a chuva que ele era a minha vida.



Não sei se foi uma ilusão de ótica ou miragem, mas Edward estava na minha frente quando abri os olhos, vestido elegantemente com uma blusa preta de botões e uma calça jeans surrada, bem no estilo Edward de ser, sustentando uma expressão solidária no rosto, achei que fosse um anjo. Ele não estava se molhando apesar da forte chuva que rasgava o céu, e isso me deixava ainda mais perturbada.



Entreabri os lábios tentando sustentar meus olhos nos seus, mas a chuva caía sem pudor em meus olhos, cegando-me.



Não me incomodei em ser uma miragem, de ser uma ilusão de ótica ou um simples fruto de minha imaginação. Ele estava ali, e era aquilo que importava.



Sentei-me lentamente e ele colocou um joelho no chão, me olhando profundamente. Seu rosto bem próximo ao meu.



Ele tocou minha bochecha mas eu não senti. Até fechei meus olhos tentando me concentrar no toque, mas era uma tentativa vã. Ele fechou os olhos como se fosse me beijar e eu fechei os meus novamente, cintilando com o pensamento de beijá-lo mais uma vez. Abri novamente os olhos e ele já não estava mais ali.



Abracei meus joelhos e dei início à um choro alto e desesperado.



Talvez eu esteja louca agora.



Em meio à pensamentos e lembranças, acabei adormecendo na relva fria e escorregadia.



(...) Algumas horas depois...



Acordei um pouco tonta e fechei os olhos novamente. Abri os olhos de relance e apenas vi borrões de sirenes de polícia e um rosto, com o mesmo semblante de meu pai. Sua voz desesperada chamando por meu nome era apenas um eco, vago em minha mente oca.



Senti meu corpo ser repassado pra outros braços, mas não tive motivação suficiente pra saber de quem se tratava.



Flashes de Edward e de sua voz invadiram-me, me deixando com o coração apertado. Senti meu peito ser apunhalado, aumentando ainda mais o buraco que já se instalara no local.



Estava desejando tanto tê-lo comigo que já não sabia dissertar a realidade de minha imaginação. E tudo que eu achava ser verdadeiro, na verdade, era fruto de minha cabeça. Ele me tocou, foi tão real...



Senti meu corpo ser colocado na cama e só abri os olhos quando ouvi a porta ser fechada.



Meu quarto. Tão bom e tão ruim ao mesmo tempo; bom para me afastar do mundo, e ruim para me lembrar que meu mundo era ele. Era, é, não é, foi... Não sei mais como terminar essa frase. Não cabia a mim completa-la. A vida em si tinha-o nas mãos, e eu não poderia salvá-lo.



Pensar nisso fez uma lágrima brotar no canto de meu olho. E ela serviu como uma chave para que as outras viessem, molhando todo o meu rosto.



O dia não demorou a amanhecer. Embora minha cama fosse de solteiro, eu conseguia me sentir confortável dividindo-a com Edward. Olhei pro canto da janela e mordi o lábio.









““--- Ainda não sei porque te deixei dormir aqui - murmurei sentando na cama enquanto o idiota ria, ainda deitado, com os braços atrás da cabeça, totalmente relaxado. Uma expressão divertida até demais pro meu gosto.



–-- Porque chovia muito lá fora e você não iria me negar abrigo no seu quarto - respondeu fazendo um biquinho e eu ri.


 


--- Então, esse fim de semana meus pais vão viajar pra Los Angeles nesse fim de semana pra visitar minha prima. Gostaria de vir comigo? - me pediu formalmente e eu senti uma alegria imensa por não ter que passar o final de semana sozinha. Mas essa alegria se dissipou quando lembrei de meu pai. 



–-- Desculpa, mas eu não posso ir - falei com um suspiro pesado - meu pai ainda não sabe que eu tenho um… amigo tão íntimo - falei e ele retorceu os lábios.


 

–-- Droga. Mas quando eu te pedir em namoro, nós não vamos mais ter esse problema - deu um sorriso malicioso e eu corei violentamente.


 

–-- Edward! - o sacana riu. Atirei um travesseiro nele, mas intimamente estava vibrando.


Olhei pro relógio na cabeceira e arregalei os olhos quando vi que marcavam 6h45min.


 

–-- Droga, vamos chegar atrasados! - falei correndo até a cômoda e jogando algumas roupas na cara de Edward, à procura do meu jeans.


 

–-- Ei, não precisa me violentar - falou com a voz zombeteira, sentando na cama. Me virei e tirei o short do pijama, para logo, a blusa - tudo bem, eu me rendo - disse quando me fitou, olhando maliciosamente pra minha lingerie. Corei.


 

–-- Sai daqui - murmurei envergonhada puxando-o pelo braço até a porta. Ele riu, mas não me questionou. E quando ele já está perto da porta, ouvimos passos. Meu coração gelou e prendi a respiração. Charlie ainda estava em casa!


 

–-- Oh-oh… - Edward disse.


 

–-- Bella? - meu pai disse e meu instinto foi empurrar Edward quase violentamente pra baixo da cama.


 

–-- Ai! - Edward gemeu alto e eu fiz um gesto pra que ele calasse a boca. Ele me olhou com uma expressão de dor e eu fiz uma careta tipo “desculpa”.


 

Charlie abriu a porta e eu me joguei na cama, cobrindo-me com as cobertas.


 

–-- Filha, eu ia te oferecer uma carona. Não está se sentindo bem?


 

–-- Sim, eu acordei agora, já estou indo tomar banho - dei um sorriso nervoso.


 

–-- Porque está pálida? - perguntou-me desconfiado. Maldita carreira na polícia!


 

–-- Por nada, estou com um pouco de… - ouvi o riso baixo de Edward pelo canto da cama - dor de barriga - falei entre dentes, sentando abruptamente na cama fazendo a mola descer e subir, batendo na cabeça do cabeção. Ouvi o baque e mordi os lábios pra não rir.


 

–-- Tudo bem… - meu pai disse devagar - ah, querida, nesse final de semana eu irei passar fora, pescarei com Aro Volturi em Port Angeles - disse fechando a porta.


 

–-- Yes! - ouvi o gritinho abafado de Edward e ri, ajudando-o a sair de baixo da cama.


 

–-- Você não consegue ficar quieto, né? - reclamei e ele, ao conseguir ficar de pé, me abraçou e saiu me girando pelo quarto.


–-- Me coloca no chão! AAH! - gritei e ele apenas ria e esfregava o rosto de minha barriga. Desconfiei que estivesse apertando meu quadril mais que o necessário, mas não liguei. Estava feliz demais pra me importar com as taradices de Edward.


 

Acabamos por cair na minha cama por falta de equilíbrio. Nem deu tempo de eu reagir ou falar algo, pois Edward se colocou em cima de mim se apoiando em cada cotovelo. O rosto há centímetros do meu fez todo o sangue sumir de minhas bochechas. Essa proximidade era um perigo para minha consciência…


 

–-- E agora, tem mais alguma desculpa? - disse com uma sobrancelha erguida e um meio sorriso. Balancei a cabeça e suspirei alto, e ele riu, vibrando e se sentindo vitorioso. Levantou como se nada tivesse acontecido e caminhou até o banheiro, me fazendo sentir uma covarde.


Se eu fosse um pouco mais corajosa, teria agarrado aquela boquinha convidativa e apertado aquela… Pare com isso, Isabella! - sacudi a cabeça.


 

Coloquei uma blusa e tentei me enfiar em um jeans stretch. Mas a porcaria da calça era muitíssimo apertada. Coloquei as costas no canto da cama e arqueei as costas, tentando fazer a droga subir.


–-- Você é muito convencido - consegui murmurar enquanto levantava, aos poucos o juízo voltava para minha mente vulnerável - vamos chegar atrasados. Não demore.


 

–-- Pode tomar banho comigo, assim será mais rápido - gritou do banheiro e eu arregalei os olhos, caindo no chão.


 

–-- Au… - gemi de dor e pude escutar sua gargalhada sonora do banheiro. Confesso que fiquei tentada com a proposta, mas Edward era tão… Abusado!


 

–-- Não vai dar tempo - tentei falar com naturalidade enquanto caçava minha mochila - vou preparar o café.



–-- Faça bem gostoso - Edward zombou e eu chutei a porta antes de sair do quarto.”



Quando já estava na picape, liguei o som e escutei chorando a música que cantarolávamos rindo.



Lembrei de quando ele aparecia de surpresa na porta de minha casa só pra me oferecer uma carona. Edward, com seus gestos mais simples, conseguiu me conquistar num estalar de dedos.



Quando voltei da escola, fui para a casa dos Cullen. Chovia mais que o normal, então corri pra dentro, pegando a chave que fica escondida de baixo do tapete. Adentrei o cômodo requintado e logo pude sentir aquele cheiro no ar. Aquele cheiro “Cullen”. Um cheiro que era como uma droga pra mim.



Subi as escadas e passei pelo corredor, mas algo me deixava intrigada. Como se algo de extrema importância estivesse passando despercebido por mim. Havia algo de errado naquela casa.



Sobressaltei quando vi um vaso quebrado no chão do quarto de Carlisle e Esme. Uma interrogação se formou em meu rosto e, tomada pela curiosidade, segui até lá. Teriam eles brigado?



Otherside – Red Hot Chilli Peppers




Em cima da cama impecavelmente arrumada estava um papel amassado. De relance apenas consegui enxergar o nome de Edward e o símbolo do hospital de Carlisle.



Caminhei quase sem forças até a cama. Carlisle e Esme eram um exemplo de pais que eu queria que os meus fossem um dia. Além disso, eles eram um tipo de segunda família em minha vida. Não estava claro que eles brigariam... Não era de o feitio deles esse tipo de coisa. Apesar do casamento sólido de vários anos, não brigavam como gato e rato. Algo deveria estar errado.



Desamassei o papel e ao ver as primeiras palavras minha boca secou.





O Paciente Edward Anthony Masen Cullen foi diagnosticado com leucemia, no dia 15/02/2010”




As lágrimas desceram por meu rosto em uma velocidade incrível. Levantei e cambaleei pra trás, minha visão estava turva pelas lágrimas. Me bati contra a parede do corredor e senti uma imensa vontade de quebrar algo.



–-- Não! – gritei com meus pulmões empurrando a parede com os pés, como se fosse cair deitada. Ele mentiu pra mim? Porque nunca me falou? Edward estava doente! E eu não sabia disso. E de repente o mundo perfeito que eu achava que vivia se desmorona, com a mesma velocidade das batidas de meu coração.




O ódio, misturado com a raiva e com a tristeza me atingiram como um tapa. Os sinais estavam claros o tempo todo: febres repentinas, cansaço constante, o sangue em seu nariz quando estávamos voltando antes do acidente...



Só de falar no acidente meu coração se apertou ainda mais. Na verdade ele estava sendo esmagado com o decorrer das revelações. Minha mente está sobrecarregada com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo.




Meio tonta, voltei ao quarto à procura de algo que melhor esclarecesse aquela maldita carta. Foi então que, dentro da gaveta de documentos de Carlisle, encontrei um outro papel.



Esme Cullen, você está convidada a participar do programa E!News para falar sobre a cura milagrosa de seu marido, visto que ele não pode comparecer.”




Engoli em seco e, então, tudo se encaixou: o por que de Esme quase nunca ir pro hospital, por que Carlisle vive se escondendo naquele hospital... Tudo para não gerar imprensa! A droga da mídia! Me sinto traída pelos meus próprios segundos pais! Me sinto traída por Edward!




Enfurecida, peguei os dois papéis e andei rumo à picape. Eu preciso de alguma explicação.




Quando saí da casa me surpreendi ao ver um porsche amarelo e um anão branco de óculos escuros dentro. Uni as sobrancelhas e reconheci Alice.



–-- Alice? – paralisei.



–-- Surpresa! – disse tentando parecer animada – entra aqui, você pode ficar resfriada!



–-- O que faz aqui? – falei ignorando o que ela dissera. Tamanha era minha perplexidade.



–-- Entra no carro – ela disse estendendo o braço pequenino para abrir a porta. Fui até ele sem correr, não havia necessidade pra isso. Bati a porta e a encarei.




–-- Bella...




–-- O que você está fazendo aqui? Como descobriu o endereço dos Cullen? – só de falar o nome deles uma nova lágrima brotou no canto de meu olho.




–-- Eu fui na sua escola e um garoto – vi um pequeno sorriso surgir em seus lábios – me disse que você estaria aqui.



Baixei o olhar pros joelhos.





–-- Eu soube do Edward... – ela começou e eu a olhei com as lágrimas já molhando meu rosto. Ela me abraçou, mesmo eu estando encharcada.



–-- Você tinha razão, ele estava doente – falei com a voz trêmula me referindo à conversa que tivemos antes de eu partir do Havaí.




–-- Eu te disse. Já visitei um hospital e convivi com pessoas assim por uns sete meses – ela disse afagando meus cabelos – mas vai ficar tudo bem agora. Eu soube que os pais dele descobriram a cura e... – ela foi interrompida pelo choro alto que rompeu de minha boca. Me sentia horrivelmente quebrada.



Alice me levou pra uma casa que de início não reparei, mas ela estava acabada. Era um casebre mal iluminado, quase vazio e com dois quartos. Ela me aconchegou no sofá verde-musgo e ligou uma TV antiga, em um canal qualquer. Me cobriu e penteou meus cabelos, como se eu fosse uma frágil boneca de porcelana.




Interiormente eu estava assim; frágil, imóvel, inútil e quase decorativa. Me sentia tão insignificante quanto aqueles personagens que ficam no fundo de um filme, onde só os protagonistas são focalizados. Esses protagonistas são pessoas fortes, capazes de levantarem as cabeças pra qualquer coisa, e não pessoas inúteis que não conseguem fazer nada corretamente. Mas isso é o meu normal. Estranho seria se na minha vida tudo desse certo.




Por anos eu vivi ao lado de pessoas que eu julgava serem as mais honestas do mundo em relação à segredos. Eu nunca escondi nada de Edward Cullen.




Alice se aproximou de mim e chutou um puff xadrez de cores mortas pra sentar de frente pra minha pessoa. Me entregou um chocolate quente, mas eu apenas fitei a fumaça que saía pela temperatura do líquido. Como eu queria que meus problemas, juntos à essa fumarada, se dissipassem no vento.



–-- Vamos ver se eu estou a par dos acontecimentos. Edward esteve doente e... Não contou a você – ela começou e tomou um gole do seu chocolate quente.



–-- Isso.




–-- E, bem, você deve estar...





–-- Me sinto traída. Como se eu tivesse vivido uma mentira por todos esses anos que estivemos juntos... – falei fitando as gotas de chuva que batiam contra o vidro da janela.



–-- Bella, troque de lugar com o Edward por um segundo. Talvez ele não tenha te contado para que esse “pequeno” contratempo não atrapalhasse a relação de vocês – ela disse e eu a encarei.




–-- Como?




–- Pense bem: se você soubesse que ele tinha leucemia, você deixaria ele pular da cachoeira com você? – ela perguntou me olhando por alguns segundos e eu me coloquei em dúvida: como ela sabia da cachoeira? Como ela tinha razão? – se você soubesse, você iria rir como riu, fazer besteiras como fez, olhá-lo sem pena ou ter dito que amava ele sem exagerar?




Minha prima estava absolutamente certa. Se agora que ele está entubado no hospital meu mundo parou, não consigo nem imaginar se ele estivesse doente e eu estivesse ao seu lado, vendo tudo que ele estava passando, todas as aflições, todos os seus problemas sem passar por tudo também.




–-- Eu sei que você cuidaria dele, mas ninguém gosta de ser olhado apenas como “coitado” – falou suspirando e desviando o olhar, como se aquela frase se aplicasse à outra situação – Edward sofreria mais ainda. Ele preferiu secretar de você para que a relação fluísse naturalmente, ele queria uma vida normal. Não queria abaixar a cabeça e deixar que a solidão de saber que iria morrer se apossar dele. Apesar de conhece-lo pouco, ele é um cara bem forte, que não se deixa abater fácil por coisas insignificantes. A doença, se revelada, seria um impasse contra vocês. Bella, você e Edward são como espelhos interiores; tudo que um passa, o outro passa também. Tudo que o outro vê, o outro também vê. Tudo que o outro sente, o outro também sente. Não entende isso? A relação de vocês é... – ela balançou a cabeça – é tão intensa que... Que me faz acreditar que o amor ainda não foi completamente extinto do mundo – falou e fungou, talvez se referindo à sua relação calamitosa com Nic. Me ergui e a abracei, sendo correspondida. Agora ambas chorávamos.






Me senti tola por julgar Edward um mentiroso, já que de certa forma ele não mentiu. Ele apenas me ocultou a verdade. Porém, quando a verdade é revelada em sua plenitude, todo o resto se torna frágil. Me senti verdadeiramente ignorante, por julgar seus atos apenas de meu ponto de vista. Tinha que ter toda uma visão de mundo antecipadamente. Quem vê cara não vê coração, quem vê a palavra não reconhece a realidade.




–-- A culpa não é minha – funguei – eu já estou tão cheia de estar aqui sem ele... Eu o quero tanto, Alice... – minha voz saiu trêmula, quase como um eco.





–-- Eu sei, eu sei... A culpa também não é minha. Ele só não era o cara certo – ela disse sobre si e eu ri fraco. Só mesmo ela pra me fazer rir nesses momentos mais difíceis. Na verdade ela é a primeira pessoa que me fez sorrir desde o acidente.




Otherside – Red Hot Chilli Peppers (Tradução)





Por quanto tempo, por quanto tempo vou deslizar?

Eu saio de mim, eu não

Eu não acredito que seja ruim

Cortar minha garganta

É tudo o que eu sempre...


Ouvi sua voz através de uma fotografia

Eu pensei nela, e ela trouxe o passado de volta

Uma vez que você sabe que nunca pode voltar

Preciso levar para o outro lado


Os séculos são o que me é destinado

Um cemitério onde me casei com o mar

Coisas mais estranhas nunca puderam mudar minha mente

Preciso levar para o outro lado

Levar para o outro lado

Levar

Levar


Despejo minha vida em um copo de papel

O cinzeiro está cheio e estou contando tudo

Ela quer saber se ainda sou um vagabundo

Preciso levar para o outro lado


Uma estrela escarlate está em minha cama

Uma candidata para minha alma-gêmea sangrou

Puxe o gatilho e puxe a corda

Preciso levar para o outro lado

Levar para o outro lado

Levar

Levar


Me excite, me leve para um passeio da pesada

Me queime e me deixe do outro lado

Eu grito e digo que

Ele não é meu amigo

Eu o destruo, eu o destruo

E então nasce de novo


Por quanto tempo vou deslizar?

Cortar minha garganta

É tudo o que eu sempre tive.





Uma semana se passou. Alice deu um jeito de convencer Charlie a me deixar dividir aquele casebre com ela, e agradeci imensamente por isso. Meu pai ainda ficava fingindo que nada tinha acontecido, me tratando como se fosse uma criança birrenta o tempo todo. Minha prima se enturmou bastante, e arrisco que em breve ela terá um relacionamento com Jasper.



“--- Devíamos apresentar ela pra algum amigo seu – Edward sugeriu.



–-- Pro Emmett, ele é engraçado.



–-- O Emmett não, seria estranho – ele fez uma careta e ri.



–-- Deixa eu pensar... – raciocinei rápido – o Jasper – ele riu.



–-- Por quê o Jasper? Ele é muito conciso.



–-- A Alice gosta de conversar, o Jasper daria um bom ouvinte – dei de ombros.



–-- É verdade – ele concluiu e continuamos a caminhar.”




Heart Of Stone - IKO





Sorri com a lembrança e sentei no chão, pegando minha bolsa com as fotos ainda quentes da revelação. Espalhei-as em um leque pelo piso de taco envernizado, observando cada detalhe das fotografias.



Edward tinha a péssima mania de me fotografar do nada. Grande parte das fotos foram tiradas sem o meu consentimento. Preciso admitir que o cara tem o dom da coisa, pois fotografou-me nos momentos certos, fazendo eu parecer uma atriz de cinema e não aquela careta estranha que sai quando eu movimento os lábios quando converso.



Balancei a cabeça negativamente quando vi algumas fotos minhas beijando Edward, interrompendo o momento. Seu estresse por causa do flash era quase palpável. Ok, eu também tinha a mania de fotografar em momentos abstratos.



Suas manias, minhas manias. Ri e quando toquei a foto, meus olhos encontraram a si mesmos no brilho do anel que Edward me dera.



“ --- Isabella Marie Swan, eu amo você, e prometo amá-la por cada segundo de toda a minha vida. Não consigo me ver sem você me acordando todos os dias, sem o seu sorriso, sem pegar em sua mão – acariciou-a enquanto falava – e sem ver seu rosto. Meu mundo não é o mesmo sem você, e não vejo razão para não permanecer ao seu lado pela eternidade, desfrutando de seu amor. Minha vida era apenas escuridão até você aparecer, com seu raio luminoso que iluminou meu coração, me deu forças pra lutar – notei que sua voz tremulou levemente nessa parte - e superar barreiras. Nosso amor não conhece regras, não conhece limites, não conhece o “não”. Isabella Swan, eu prometo amá-la cada dia da eternidade. Me daria a extraordinária honra de se casar comigo? – perguntou e eu pude soltar a respiração pela boca. Minha visão estava turva pelas lágrimas contidas, tamanha era minha emoção. Edward me pedindo em casamento era algo meio surreal, uma coisa não planejada. Ele pegou-me de surpresa dessa vez. Abri um sorriso feliz em meio às lágrimas, sem poder conter a surpresa e a felicidade que estavam marcadas em mim como ferro quente.



–-- “Eternidade” é muito tempo, mas – comecei mas fiz uma pausa pra limpar meus olhos, não queria perder o foco no rosto de Edward– eu não me importaria de passar ao seu lado.



Ele sorriu e deixou uma lágrima cair de seu olho esquerdo. O nervosismo que ele sentia era tão evidente que, se não estivesse emocionada, riria. Balancei a cabeça tentando organizar meus pensamentos e minhas ações, e o sim que disse em seguida foi tão baixo que eu mal pude ouvi-lo. Mas por sorte e poupando um constrangimento de minha parte, Edward escutou e isso foi como um sinal verde para que ele colocasse o anel em meu dedo anelar. Senti um formigamento quando senti o metal gélido tocar meu dedo. O anel coube perfeitamente, e era incrível como aquela pequena joia se encaixava tão bem em mim. Como se pertencesse somente a mim. Edward sorriu, aliviado por algo.”



A lágrima que brotou no canto de meu olho, sozinha, conseguiu me deixar molenga. Levei a testa aos joelhos e desabafei silenciosamente.



Aquele momento, concerteza, fora um dos melhores de minha vida, e certamente seria inesquecível.



Porém, a dúvida permanecia: nós nos casaríamos? A eternidade ainda estava concretizada? Só Edward poderia responder a tais perguntas. Perguntas essas que me torturam invariavelmente.



Levantei, estava frio. Peguei uma sobrecasaca que estava no sofá e caminhei até a janela, encostando minha cabeça no vidro. Chovia muito em Forks nesses últimos tempos. Como se o cara lá de cima estivesse assistindo a tudo isso, e sofrendo junto comigo.



Suspirei e voltei ao chão, pegando todas as fotos e coloquei-as pregadas com taxas na parede verde aspargo pelas ordens dos acontecimentos. Sorri olhando a primeira foto.



“---Adivinha o que eu trouxe – falei animada tirando minha câmera que meu pai me dera de aniversário do bolso.



–-- Ah, Bella! – Edward disse com uma careta. Ignorei e a posicionei perto do seu rosto.



–-- Ah, nada! Eu quero gravar isso – falei apertando o botão para gravá-lo.



–-- Tá gravando? – perguntou com os braços apoiados no corrimão. Me afastei, procurando um close melhor para filmá-lo.


–-- Sim, diga oi pro Charlie e pro Havaí! – falei empolgadíssima.



–-- Oi Charlie, oi Havaí – levantou um braço à contra gosto, fingindo estar animado.



–-- Se anima! Você está no Havaí, está em um barco e não vomitou! – comentei, transbordando bom humor. Rimos alto e eu me posicionei ao seu lado, virando a câmera para nos focar. Ele passou o braço em minha barriga e quando ficamos colados senti um frio na espinha.



–-- Hoje é o nosso primeiro dia, e vamos fazer uma trilha e nos hospedar na pousada...”



Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraça-la. Edward, eu queria tanto que você estivesse aqui, nesse instante em que tudo é um vazio imenso... Quero fugir desse tormento, mas não consigo. Estou em um precipício, só você pode me salvar agora. Segure minha mão, me puxe só pra você, me abrace, me diga que está tudo bem, me toque, enfim, faça tudo que quiser, só não me deixe denovo.



Eu olho para suas fotos e escuto sua voz, eu fecho os olhos e praticamente sinto sua respiração, eu toco meus lábios e sinto o gosto do seu, eu sorrio por causa de seu sorriso. Eu vivo você, eu respiro você, eu amo você. A distância impede o toque, mas não impede o sentimento. Eu ainda te amo, não interessa pra onde você vá ou onde eu estiver.



E é em minha primeira lágrima que Alice rompe porta adentro.



–-- Bella, minha gata! Você não vai acreditar no que aconteceu! – ela tagarelou empolgadíssima, me puxando pelo braço e me empurrando no sofá. Limpei a lágrima discretamente enquanto ela tirava um lenço florido do pescoço – sabe aquele boy magia que estuda com você? O Jasper? Ele me chamou pra sair! – ela quicava no mesmo lugar sem parar. Suspirei e sorri.



–-- Eu sabia que isso ia acontecer – passei uma mecha de cabelo pra trás da orelha, sorrindo internamente.



–-- Eu preciso me arrumar! Que horas são? Será que dá tempo de comprar algo na Chanel? – tagarelou correndo pro quarto dela, me deixando sozinha novamente.



Sozinha com meus pensamentos.



–-- Bella! Será que você pode comprar algumas coisinhas pra fazer um bolo? É que não dá tempo de eu fazer! E você sabe que dá fome depois da tr...



--- Alice! - berrei censurando o palavreado. Ela riu e eu olhei para a janela, ofegando.






“--- O que a mestre cuca vai fazer? – Edward se apoiou no balcão da cozinha.



–-- Minha especialidade: bolo de chocolate – falei lutando contra os fios do avental de cozinha.



–-- Como sabe que é o meu favorito? – perguntou com a voz surpresa, mas não pude me dar ao luxo de ver sua expressão. A porcaria do avental prendera em meu nariz e pescoço, me deixando cega.



–-- Porque é o meu favorito – sorri e puxei três vezes com força, mas a droga não queria descer de jeito nenhum. Então senti as mãos de Edward descendo delicadamente o avental de minha cabeça, ajustando-o em meu corpo e ajudando a amarrar atrás. Engoli em seco com o contato.



–-- Vai precisar de minha ajuda. Não ficará bom sem os meus dotes culinários – falou voltando a se sentar e eu peguei uma toalha de prato pra bater em seu braço.



–-- Falou o Bob Esponja – falei fazendo uma careta e ele riu.



–-- Estou brincando. Eu nem sei fazer uma pipoca de micro-ondas sem queimar alguma coisa – deu de ombros e eu ri.



–-- Então eu te ensino.



–-- O quê?



–-- É, venha – falei puxando sua mão com uma intimidade que saiu de não sei aonde – não quero que no nosso primeiro jantar romântico você prepare uma lasanha queimada.



Ele revirou os olhos e riu, assim como eu.”




Ri com a lembrança enquanto calçava um tênis, colocava um jeans e um cardigã, me preparando pra enfrentar a chuva que latejava no céu nublado de Forks. Eram umas seis horas da tarde, e a porcaria do guarda-chuva teimava em proteger completamente o meu corpo.



Consegui chegar ao mercado com água até os joelhos no jeans. Segui para a sessão de bolos e comecei a derramar pelo carrinho todos os ingredientes necessários para o mesmo bolo que fizera há alguns anos para Edward. Enquanto passava as compras no caixa, a luz vermelha do laser da maquineta me hipnotizaram. A cada piscada, um flash vinha em minha mente, me relembrando a noite do acidente. Sacudi a cabeça tentando afastar tais pensamentos.


–-- Com licensa, senhora? – a caixa chamou minha atenção e eu apenas entreguei o dinheiro e peguei as sacolas.



Andando na chuva, passei por uma praça onde um casal se agarrava de baixo de um toldo de loja. Suspirei e passei a diminuir o passo, pensando em todas as vezes que chovia e Edward marcava de vir me encontrar escondido, a vez em que ele escalou e caiu da árvore de meu quarto – ri – e quando nos espremíamos em minha cama de solteiro? Um dia, eu até tentei convencer Charlie a comprar uma de casal, mas o mesmo me enrolou por um mês até eu esquecer o assunto. Quando eu dormia fora de casa era um inferno; um dia quase fui pega na casa dos Cullen. Seria constrangedor ser encontrada pelo próprio pai dormindo na cama de um garoto desconhecido. Quando apresentei Edward formalmente a meu pai, temi pela vida de meu namorado. Charlie estava limpando sua espingarda, e juro que senti Edward tremer enquanto segurava minha mão. A expressão de Charlie era tão assustadoramente ciumenta que mal o reconheci. Ainda hoje é assim quando ele me vê com Edward.



Quando voltei à realidade, notei que o casal parou de se atacar para me olhar com constrangimento. Então percebi que estava olhando pra eles sem ser nem um pouquinho discreta, parada no meio da chuva. Eles saíram de baixo do toldo correndo pela chuva. Ruborizei de imediato e me sentei no degrau da loja, que agora estava vazio. Olhei para os carros que passavam enquanto os sacos relaxavam em meus pés.



Sempre preferi mais a chuva que o sol. Pode-se dizer que Edward tem grande influência em minha opção, visto que ele me esquentava diante do frio. Mas no calor, as coisas ficavam relativamente mais “quentes” entre nós, mas de um jeito mais...



Meu pensamento fora interrompido por uma mulher. Inicialmente vi apenas um anel e uma blusa vinho realmente comprometedores. Juro já ter visto essa figura em algum lugar...



Visualizei seu rosto e estranhei o sorriso enigmático e empolgado em seu rosto, como se estivesse diante de uma celebridade. Mas na realidade estava apenas perto de mim, que estava com alguns fios de cabelo molhados por causa do guarda chuva cavado e a calça parcialmente encharcada com uma cara de piedade. Será que ela está achando que sou uma mendiga?



–-- Ah... Olá? – falei timidamente e a mulher riu, fechando seu guarda chuva preto duplo e me estendendo com delicadeza. Seus cabelos com poucas ondas nas pontas voaram com o vento, e pude ver melhor sua fisionomia de admiração para comigo. Estranhei e ela riu baixinho, largando o guarda chuva ao meu lado e tirando um papel de sua bolsa. Estendeu-o para mim e quando eu o toquei pude ver que era um envelope muito bem ostentado, em uma tonalidade de amêndoa com um pequeno adesivo escarlate na vértice que encobria o que estava no interior.



Levantei os olhos novamente pronta para perguntar o que era aquilo mas a mulher já estava longe, virando a esquina. Uni as sobrancelhas, estranhando tudo aquilo. Levantei-me do degrau e enfiei a carta dentro de uma das sacolas, assim, voltando a caminhar pela chuva, mas dessa vez estava protegida pelo guarda chuva da mulher do anel.



Foi realmente uma cena bastante estranha, mas talvez fosse uma mensagem. Será que poderia ser um convite para um novo acontecimento bom? Um aviso corriqueiro de que estava na hora de seguir em frente? A curiosidade me bateu na porta mas ela fora escancarada quando eu virei a esquina chegando na rua da casa de Alice e vi o inacreditável.


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Notas finais do capítulo

Hahahaha, curiosas? O que pode ser aquilo? No próximo vocês descobrirão!!!
Bom, a maioria me pediu epílogo e um bônus no final da fic, e assim será, como vocês quiserem. Eu confesso que também não consigo me despedir de uma fic sem chorar muitoooo, mas eu vou superar, visto que já tenho uma nova história sendo bolada.

Se me mandarem bastante reviews como os do capítulo anterior, quem sabe eu não posto ainda essa semana?

Beijos, suas lindas!



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