Festa. Maquiagem. Maquiagem e festa. Essas garotas não conseguem falar de outro assunto? 

Ah, sim. Hoje elas conseguem.

Edward Cullen.

- Ele é TÃO lindo - cochicha uma garota para Annabel, que passa a informação para mim. De acordo com a própria, ela "olhou bem profundamente naqueles olhos verdes perfeitos", porque os dois tiveram a primeira aula juntos. Eu terei a segunda, e todas estão arrumando o meu cabelo e me emprestando seus brilhos. Elas realmente acham que é necessário? Se eu quisesse aquele garoto, eu o teria em segundos. A questão é: só mais um humano frágil e normal. A escola está infestada deles, todos se arrastando nos meus pés. Não vai demorar muito para a carne nova apodrecer na fila também.

- Ai meu Deus, ele chegou. - diz alguém, e o refeitório inteiro se silencia. Todos fitando o garoto com o cabelo cor de bronze, que, vendo desse ângulo, parece nem ter notado a entrada triunfal que tinha acabado de fazer, calando a boca de todo mundo. Menos a minha, e peço para Annabel me passar uma maçã, quase gritando. Eu não pretendo comer realmente, foi só para atrair a atenção de todas aquelas bocas abertas para que percebessem o quão ridículo era a sua situação. 

Annabel saiu da sua hipnose particular, me encarando. Ela tinha aquele sorriso de paixão no rosto, aquele que deixa todo mundo com cara de demente.

Todo mundo começou a falar de repente.

- Annabel? - pergunto, procurando por atenção em seus olhinhos perdidos no ar. Ela sorri para mim. - A maçã.

- O quê? Oh, sim, é... desculpe, hãn, aqui.

Eu ri.

- Caramba, acho que ele é mesmo bem bonito.

- O quê?! Você não o viu?!

- Hum... não. Ele está de costas. 

- Você vai ficar... meu Deus. Meu Deus! - ela suspirou, depois se virou pro resto das garotas que estavam na mesa - Meninas, a gente não tem ne-nhu-ma chance com ele. O cara é perfeito! A única aqui que serve pra ele é a Isa. - lamenta ela, mas rindo. 

"Eu não sirvo para ninguém. As pessoas é que servem para mim", pensei, ofendida. 

- Pode até ser verdade, mas duvido que ela tenha coragem de ir até lá. - desafia Mary, a cachorrinha de Annabel.

Isso foi demais. 

Então a ruiva magricela acha que eu não poderia ir até um saco de sangue ambulante e flertar com ele?! 

Aceitei o desafio e andei até Edward enquanto planejava a morte da ruiva cachorra na minha cabeça. Ele não estava muito longe, mas havia muitas pessoas no caminho. Eu podia sentir os olhares fuzilando minhas costas.

- Oi, meu nome é... - paro subitamente. O garoto olha para mim, surpreso pela minha presença. Eu não tinha ar para continuar e meu organismo se recusava a pegar mais. 

Seus olhos verdes olhavam para mim, timidamente. Suas bochechas queimando de constrangimento.

Impossível.

Tobias. Tobias Cullen. Era ele ali, sentado na minha frente, vestido de estudante do século 21. Com o cabelo penteado para trás num topete meio sem jeito e os olhos cheios de confusão.

"Impossível! Impossível! Impossível!", eu continuava gritando por dentro, com toda a voz que me restava.

E seu sangue. O cheiro do seu sangue, se destacando de todos os outros aromas. Insuportavelmente desejável.

Eu só queria levá-lo para um lugar qualquer, longe de todos, aonde pudéssemos ficar sozinhos e eu pudesse pôr em prática tudo o que tinha em mente. Para que eu pudesse sugar cada gota de sangue, arrancar seu coração.

Seu coração.

Batendo acelerado, o sangue pulsando nas veias. Sua respiração, incrivelmente lenta e macia. 

Novamente, seus olhos. Os olhos de Tobias. Tobias Cullen, os olhos de Edward Cullen.

Edward Cullen.

Seu cheiro, penetrando minhas narinas, arranhando minha garganta e rasgando meus órgãos várias e várias vezes.

Eu tinha que sair dali.

- Merda. - sussurrei, correndo para o banheiro.