Foi um almoço estranho.

A comida estava ótima, como sempre, Kushina-san era muito boa em tudo que fazia. Minato-san parecia completamente alheio ao clima na mesa. Ele tinha acolhido Hinata com um suspiro aliviado por eu tê-la encontrado e me agradeceu uma vez. Não fez perguntas, nem me olhou com desconfiança, mas eu podia ver em seus olhos que ele já sabia de tudo. Minato-san era uma daquelas pessoas perceptivas que detectam uma mentira seja ela de quem for. O tipo de pessoa que sabe o que deve revelar e o que é melhor omitir, ele era tão como eu que às vezes eu me esquecia do fato de que não éramos parentes.

– E como está Itachi-kun? – ele perguntou cortando seu bife.

– Está daquele mesmo jeito da última vez que o viu; largado no sofá jogando videogame.

Minato sorriu enquanto mastigava.

– Ele sabe aproveitar a vida. – disse engolindo.

– E os outros rapazes? – Kushina-san quis saber – Como eles estão?

– Shikamaru ainda está com Temari... Estão morando juntos num apartamento no centro... A coisa parece ser séria dessa vez...

– Continua o mesmo preguiçoso de sempre. – Naruto acrescentou.

Assenti.

– Kiba e Gaara estão dividindo o aluguel de uma casa com uma garagem espaçosa... Ótima para os ensaios... Gaara ainda é o mesmo psicopata agressivo e obsessivo de sempre... – dei de ombros – Nada mudou.

Minato ergueu o garfo no ar como se lembrasse de algo repentino, engoliu a comida e sorriu.

– Vocês estão na abertura de um anime, não é? – perguntou.

– Bleach! – Hinata e eu dissemos juntos.

Eu sorri e ela corou.

Minato-san olhou de mim para ela adivinhando alguma coisa, então sorriu para si mesmo balançando a cabeça e voltou a se concentrar na comida.

– Um com um shinigami morango... – Kushina se esforçou para lembrar – Como era mesmo o nome daquele personagem...?

– Kurosaki Ichigo. – Naruto ajudou.

– Isso! E tem aquela garota... Orihime... Tão linda... Se chegarmos a ter uma menina ela se chamará Orihime.

– Um nome lindo. – Hinata concordou.

Terminei de comer com um suspiro.

– Estava ótimo, como sempre, Kushina-san. – agradeci.

Ela fez um gesto que dizia ‘disponha’, mas estava orgulhosa de si mesma.

Meu celular tocou, aquele solo violento de guitarra que eu mesmo gravara com Gaara num ensaio.

Minato-san ergueu os olhos.

– É você tocando?

– Gaara e eu. – disse olhando para o visor.

‘Gaara; psicopata agressivo obsessivo’ chamando. Suspirei.

– Tenho que ir, nosso psicopata preferido está ficando impaciente.

– Gaara? – Kushina-san sorriu se levantando e recolhendo os pratos.

– O baixo dele está no meu porta-malas... – olhei para Naruto – Vocês vêm?

Naruto se levantou.

– Vou escovar os dentes.

Hinata o seguiu também, parecia quieta demais, meus olhos a acompanharam até que sumisse da minha vista.

– Ela é sempre quieta assim? – perguntei.

– Na verdade não - Kushina-san uniu as sobrancelhas –, deve estar tímida com a sua presença.

– O que na verdade não é grande coisa. – argumentei.

Kushina-san recolheu o prato do marido por ultimo e os levou para a cozinha.

– Passaram a noite juntos? – Minato-san perguntou casualmente limpando os lábios com o guardanapo.

– Não no mal sentido. – confessei e sorri – No bom sentido, digo. – corrigi.

Ele sorriu.

– Naruto gosta dela. – comentou – Mas encontrou uma conhecida no show e acabou se afastando por alguns momentos...

– Eu deduzi que fosse algo do tipo... E deduzi também que ele gosta muito da Hinata.

– Mas não o suficiente. – Minato sorriu – Não se prenda por causa do meu filho, Sasuke-kun, ele... Não sabe o que quer ainda. – aconselhou.

– Não tenho segundas intenções, Minato-san.

Ele deu de ombros.

– É claro.

Naruto voltou seguido logo depois por Hinata, eu me levantei, agradeci a comida, me despedi e nós três saímos para o meu carro.

Naruto ligou o radio assim que entrou e Led Zeppelin explodiu em nossos ouvidos. ‘Darlene’

– ‘uuh, uuh Darlene’ – cantarolei baixinho quando entrei.

Naruto baixou o volume e mudou de estação.

Entrei no carro e voltei para a estação anterior, para a voz maravilhosa de Robert Plant.

– Qual é, Sasuke! – Naruto reclamou.

– Meu carro, minhas regras, meu gosto musical.

Hinata abafou um risinho.

– Aposto que Hinata curte. – disse eu.

Ela revirou os olhos, mais descontraída.

– Sou japonesa, Sasuke-kun, não sofri muito as influencias da musica britânica.

– Não sabe o que é viver, então. – disse dando partida no carro – Está confortável aí atrás?

– Ah... Sim.

– Certo.

Foi uma viagem curta até o bairro de classe média onde os caras moravam. O portão da garagem estava aberto, Kiba estava esparramado num sofá velho afinando um violão, Shikamaru estava deitado no mesmo sofá com os pés cruzados num banquinho brincando com as baquetas e Gaara estava de pé andando de um lado para o outro. Suspirei e entrei de ré com o carro, estacionando-o na entrada da garagem, então desci e Gaara veio imediatamente na minha direção.

– Onde ele está? – exigiu agressivo.

– O bebê, querida? – revirei os olhos ajudando Hinata a descer do carro enquanto ele forçava entrada procurando pela caixa vermelha onde jazia seu precioso.

Tirou a mala do carro e me olhou com ódio por um momento.

– Sério, Gaara, você precisa se tratar. – aconselhei.

Ele bufou, revirou os olhos e sorriu torto.

– Se tiver um risco se quer vou matá-lo. – disse apertando minha mão.

– Certo, Smeagol. – disse eu.

Tirei a mala de Kiba e a minha, tranquei o carro e fui para a garagem.

– Naruto! Cara! O que faz aqui? – Kiba se levantou para cumprimentar o outro.

Shikamaru fitou Hinata, desconfiado.

– Hei pessoal... - chamei a atenção deles – Esta é Hinata. – apresentei de modo a deixar claro que eles deviam tratá-la como se tivessem acabado de conhecê-la.

Todos entenderam e assentiram sutilmente, apenas Gaara pareceu nos ignorar por completo.

– E aí, Hinata? – Kiba saudou.

Shikamaru ergueu o dedo indicador e o mindinho e assentiu para ela e Gaara apenas ergueu os olhos e assentiu solenemente.

– Bem - disse eu -, se esteve prestando atenção no show já sabe os nomes. – pisquei para ela enquanto deixava as malas no chão.

– Kiba, Shikamaru e Gaara. – ela sorriu para cada um deles.

– E então? Vão ensaiar? – Naruto perguntou se sentando atrás da bateria.

– Hmmm... – Shikamaru resmungou fazendo uma careta.

– Estou pronto. – Gaara avisou.

– Devíamos estar chorando, esperando noticias do Billie... – Kiba comentou num tom solene.

– Ele está na cirurgia ainda? – perguntei.

Kiba assentiu.

– Aquele idiota... – murmurei.

Ficamos em silencio por um minuto, numa espécie de pêsame mútuo então Shikamaru se levantou.

– Vamos tocar. – decidiu, recolhendo suas baquetas.

Todos nós assentimos. Era a melhor decisão, não podíamos largar nossos instrumentos e ficarmos em silencio, nervosos, esperando que tudo desse certo. Não, nenhum de nós servia para isso. Seria melhor manter as cabeças ocupadas.

Foi uma tarde divertida. Afastamos o sofá, arrumamos as caixas de som e ensaiamos nossas letras novas. Naruto, como de costume, sempre criticando minhas composições, mas Hinata parecia gostar, sentada no sofá, ainda vestindo as roupas do show, batendo o pé ao ritmo da musica movendo o corpo sutilmente com o olhar fixo em mim, um olhar que retribui o mais sutilmente possível.

– GAROTOS! – alguém nos interrompeu do portão.

Olhei sem parar de cantar e revirei os olhos. Sakura Haruno. Cabelos curtos rosa-chiclete e olhos verdes brilhantes, costumava usar uma saia vermelha de pregas, botas e uma blusinha branca com o nome da nossa banda escrito em preto com um coraçãozinho. Ela era nossa fã numero um, a mais irritante também, seu sonho era namorar, se não um de nós, um outro roqueiro famoso, mas, infelizmente, éramos o mais próximo disso que ela podia ter.

Fiz sinal para interromper o treino e desliguei o microfone. Gaara fez um ultimo solo e parou a contragosto.

– O que foi Sakura? - perguntei entediado.

Ela correu até a garagem e me abraçou com força contra a minha vontade.

– Sasuke! Continua o chato de sempre! – disse sorrindo e me largando.

Depois ela correu para os braços de Kiba que a recebeu com um sorriso.

– Séculos que você não nos interrompia, amor. – ele brincou.

Ela lhe deu um beijo da ponta do nariz e foi até Shikamaru que se posicionou de maneira a tornar um abraço impossível, então ela lhe beijou e rosto, tentou beijar Gaara também, mas ele se esquivou, então, decepcionada, ela olhou em volta, notando Naruto e Hinata, respectivamente.

– Naruto? – sorriu estranhamente.

Naruto sorriu enquanto ela se aproximava dele perigosamente.

– Como está, Sakura?

Ela sorriu. Eles tinham tido um relacionamento desastroso terminado há um ano ou dois, eu não sabia ao certo, mas parecia que ambos tinham se recuperado da tragédia a julgar pelo brilho em seus olhos. Ela beijou-lhe o rosto.

– Senti saudades. – disse ela se virando para Hinata.

– Esta é Hinata... – Naruto apresentou, mas parou antes do sobrenome.

– Hinata...? – Sakura o incentivou.

– Yagami. – Hinata completou com um sorriso.

Arqueei uma sobrancelha.

– Não é o nome de um personagem de manga?

– É? Quem? Coincidência, com certeza...

Uma péssima mentirosa. Quase sorri, mas os outros pareceram engolir a historia sem pedir por mais detalhes, então deixei pra lá. Afinal, se ela fosse metida com a máfia, não era da minha conta nem dos outros. Eu mesmo não era um bom exemplo.

– Yagami... – Sakura meditou com o indicador sobre os lábios fitando a garota – Hmm... Você me parece familiar...

– Hei, Sakura, se não se importa estamos querendo continuar o ensaio que você atrapalhou... – Gaara disse rispidamente.

Eu compartilhava daquele sentimento que ele tinha por Sakura, ambos a achávamos um estorvo, uma irritação, uma cruz para a banda toda.

– Já está irritado, Gaara-kun? – reclamou.

– Compartilho da opinião dele. – Ergui as sobrancelhas.

Ela suspirou.

– Querem que eu vá embora?

– Jura que nos faria esse favor? – Gaara perguntou rispidamente, cheio de sarcasmo.

Ela hesitou.

– Hei, cara, não fale assim com a Sakura... – Kiba a defendeu.

Gaara bufou irritado.

Eu religuei o microfone.

– Sakura, comporte-se. – avisei – Vamos continuar do começo daquela, certo? – confirmei com eles.

A garota se sentou ao lado de Naruto no sofá e Hinata lançou um olhar estranho a ela, pareceu incomodada com a presença da garota, ou talvez, tivesse notado algo entre ela e Naruto, talvez estivesse com ciúmes... Balancei a cabeça me livrando daquele pensamento ridículo e voltei a me concentrar no som.

Acabei errando o tom de um verso, um erro gravíssimo que todos perceberam e que me fez parar de cantar, irritado comigo mesmo. Gaara fez um solo à parte como se quisesse dizer: ‘E lá vamos nós...’.

– Por que pararam? – Sakura perguntou.

Levei a mão à têmpora direita, esfregando-a impaciente.

– Não faça perguntas obvias.

– Não seja tão rude, Sasuke... – ela fez uma careta.

– Hei, Sakura, porque não vai nos comprar uma coca-cola? – Shikamaru sugeriu casualmente.

– Seria realmente bom... – Kiba apoiou massageando o pescoço – Nos faria o favor, amor?

Ela sorriu para o tom amável dele e se levantou.

– Claro.

– Aqui. – Shikamaru a chamou e esparramou uma porção de euros na mão dela.

Ela contou os euros e foi até Naruto.

– Me acompanha? – pediu.

Ele se levantou prontamente.

– Claro. – olhou para trás – Você vem também Hina-chan?

– Ahn... – ela olhou para Sakura – Não... Eu... Quero ver como essa musica vai ficar.

Ele pareceu indeciso em deixá-la, mas Sakura o arrastou garagem a fora.

Quando eles saíram dos limites da casa nos todos suspiramos deixando Hinata confusa.

– O que houve? – perguntou enquanto deixávamos os instrumentos de lado.

– Eles são meio irritantes... – Expliquei me jogando ao seu lado no sofá.

– Então era só um plano para expulsá-los? – ela arqueou uma sobrancelha.

– É claro... – Shikamaru sorriu para ela – Eles conversam entre eles e nos desconcentram com seus risinhos e idiotices... – ele entrou na cozinha da casa.

– Culpa sua, Sasuke! – Gaara reclamou estralando os dedos.

– O que? – exclamei indignado.

Kiba bocejou e entrou na casa.

– Ahh... Acha que posso tirar uma soneca até eles chegarem?

– Dois quilômetros até o primeiro ponto de venda. – Gaara riu maliciosamente indo para a cozinha também – Está com sede, Hinata? – perguntou antes de desaparecer.

– Ahn... Não, obrigada...

– Temos coca-cola. – ele arqueou uma sobrancelha com um sorriso peverso.

Ela não conseguiu reprimir um sorriso.

– Não, obrigada, Gaara-kun.

Ele deu de ombros e entrou também.

Não consegui reprimir um bocejo.

– Estou exausto... – reclamei tirando as lagrimas de sono dos olhos.

Ela sorriu gentilmente.

– Devia dormir um pouco...

– Eu devia... Não é? Mas temos que ensaiar...

Ela mordeu o lábio, e tocou as olheiras abaixo dos meus olhos.

– Faz quanto tempo que não dorme direito?

– Faz 15 dias que não durmo mais de cinco horas seguidas. – confessei sem pensar.

Ela sorriu e me fez deitar a cabeça em seu colo, me deixando surpreso.

– Vou acordar você quando os garotos voltarem. – prometeu mexendo nos meus cabelos.

Sorri para mim mesmo.

– O que Naruto pensaria...?

– Você se importa?

– Ele gosta de você, Hinata... – disse sério.

Ela ficou em silencio por um momento.

– Ele é só um amigo importante, não é meu namorado.

– Você gosta dele... – murmurei sentindo as pálpebras pesarem.

– Eu achava que gostava dele. – ela me corrigiu.

Beijei seu joelho coberto pela meia-calça.

– Ele não merece nem um décimo de você.

– Durma. – ela sussurrou tocando meu rosto.

Podia sentir um sorriso em seu tom de voz, mas não me importei, estava realmente exausto.