Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 58
- É preciso confiança.


Notas iniciais do capítulo

Meninas, ainda não respondi os comentários do capítulo anterior. Perdoe-me, mas é que esse capítulo me atarefou mesmo. Prometo que amanhã mesmo faço isso.



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Querido diário.

Não tinha planos para escrever hoje ou agora, mas alguns pensamentos latejam na minha cabeça, que preciso desabá-los mesmo que da forma mais inútil ou infantil de todas. Faz algumas horas que regressamos ao inferno que, mesmo não querendo admitir, tanto nos fazia falta. Fomos recebidos em casa por meus irmãos, já que a viagem acabou sendo mais curta do que planejávamos pela falta de paradas em rodoviárias do redor da Virgínia. Minha mãe, que estava no consultório, logo fez questão de também reunir-se a gente para que recebemos um bom abraço de boas vindas. Fico feliz com isso, saímos com um clima tão tenso entre nós duas por motivos na qual nem lembro mais. Afinal, como lembrar se todo o tempo fora, tudo que minha cabeça pode se fixar foi em ser feliz.

Me decepcionei pelo silêncio dele durante o ônibus e o avião, pensei por um segundo que dessa vez seria diferente. Tenho que aprender que nessa relação definitivamente as ilusões não duram muito tempo. Mas era diferente das outras vezes, conheço muito bem a expressão de culpado que Damon faz cada vez que sente medo por nossa relação ou pelo que vai acontecer e parecia muito distinto agora que nem ao menos houve tempo de me confundir. Não somos nós que o preocupa, ou talvez seja. Mas o motivo é definitivamente outro.

Não sei se me alegro ou não com isso. Por um lado, se a razão for a mesma continuamos na estaca de antes. Mas se não, apesar de significar que a anterior já foi superada e que podemos seguir em frente também me põe a frente de um novo inimigo desconhecido na qual não sei como lutar. E para isso terei que esperar que ele fale comigo, o que complica tudo muito mais pois o conheço o suficiente para saber que será difícil.

Tivemos dias tão lindos. Mesmo que assistir filmes com Tessa e Stefan, no sofá de seu apartamento, fosse o máximo do que sucedeu com o passar dos dias, as lembranças dos primeiros somados ao toque de normalidade, mesmo que monótona, dos outros pra mim faz tudo ser perfeito. Quero mais disso. Quero mais filmes no sofá da casa com a família e ao mesmo tempo quero mais noites como aquela do hotel.

Mas por agora só quero pensar em algum modo de conseguir com que ele me diga o que está acontecendo. É que não consigo pensar em nada que me indique uma pista e não quero pisar em falso a ponto de que encha a mente dele com mais contras sobre nós, mesmo que ache que seja por outra coisa. Só não sei agora se isso é mesmo uma verdade, percebida por mim ou se é uma pegadinha do coração que insiste em enganar o cérebro.

Mais e mais, mais e mais.

–-x--

Com os pés quase que em ponta, Elena checou quarto por quarto do que estava sendo feito por sua família. Passavam-se meia hora desde o fim do jantar que nem ao menos comeu por cansaço. Tanto ela quanto Damon abdicaram e cada um foi para seu quarto descansar; Os quitutes de avião seriam suficiente por aquela noite.

April estudava concentrada enquanto em seu ouvido estava um fone, com uma música tão alta que nem ao menos a viu entrar. Sua mãe, por estar no banho também não. Jeremy lia um livro qualquer de sua lista de livros pra ler durante as férias. Cada um em seu quarto, cada um em seu mundo.

Voltando a ponta de pé, voltou-se para a escadaria descendo degrau por degrau na mesma demora de uma pluma, jogada do céu, até alcançar o chão. Não foi preciso caminhar até o quarto dele em seguida, Damon. O mesmo pensativo Damon, já estava na cozinha. Sentado no balcão com a mente longe e um aparelho de celular na mão direita.

– Meu amor, o que está fazendo? – Sussurrou, se aproximando.

Ele rapidamente saiu de seus devaneios e sorriu.

– Nada demais. Só pensando.

– Esteve só pensando a viagem inteira. – Na imitação de uma típica boa esposa, falou no tom mais doce que tinha em sua voz. Colocou-se atrás do corpo ainda sentado dele e massageou levemente suas costas. – Deve ser em algo sério. Quer me contar?

Damon hesitou em responder.

– Não é uma questão de querer contar, Elena. Eu preciso contar.

Interrompeu a massagem, sentando-se ao lado dele.

– Agora me deixou preocupada. – Exclamou nervosa.

Após isso, ele não respondeu de imediato. Esperou alguns segundos cruciais na esperança de que aquele carregamento de preocupação se fosse dela. Mas como conhecia a ansiedade de sua parceira o suficiente, sabia que aquilo não adiantaria em nada. Então era melhor ser direto.

– Conversei com o Stefan antes de ir embora. Ele estava preocupado com o que ia acontecer. A gente sozinho, tentando esconder as coisas dos outros... É muito difícil você sabe. – O coração de Elena acelerou, junto com toda sua postura corporal. Era evidente seu medo. Ele não pode terminar de novo... E por isso. Pensava ela contendo lágrimas. – E nessa conversa ele sugeriu... Ele sugeriu que... Que...

– Que? Ele sugeriu o quê? – Esforçou-se para não gritar.

– Sugeriu que contássemos pra alguém e que essa pessoa nos ajudasse.

Elena respirou profundamente, só dessa vez pode finalmente se acalmar.

– Contar pra alguém não significa que essa pessoa vai nos ajudar. Pode ser que seja só mais alguém que sabe e o risco fica ainda maior... Você sabe como são as coisas por aqui. Um acaba contando pra outro e assim vai espalhando.

– Mas não seria alguém qualquer. Ele sugeriu um nome. – Respondeu, confiante.

Elena rapidamente observou o paradoxo de que, dessa vez, era ela quem estava sendo racional entre eles.

– Quem? – Perguntou.

– Amanhã você vai saber.

– Mas Damon...

– Confia em mim. – Ele a interrompeu no meio de seu protesto. Olhou-a intensamente, alcançando suas mãos e unindo-as há sua. – Confia em mim. – Repetiu suplicando.

– Confio. – Ela suspirou encantada enquanto fitava aqueles olhos.

– Ric está viajando com a Meredith. Foram visitar uns parentes distantes em alguma cidadezinha por aí. Vamos amanhã até o apartamento dele e lá, vamos contar pra essa pessoa.

Apesar de já desconfiar de quem fosse, Elena manteve-se em silêncio. Damon queria um voto de confiança e entregaria isso há ele sem hesitação.

Calmamente, aproximou-se do rosto do amado e dessa vez, além das mãos, os lábios também de fundiram. O beijo começou calmo, ganhando ritmo com os segundos que passavam. Ele não parecia temeroso, pelo contrário, estava tão entregue quanto. Logo sentiu as mãos fortes em suas costas subindo, apertando-as.

Em um arrepio súbito, Damon teve a estranha sensação de um par de olhos os observando. Alguém estava ali, segundo sua intuição. Resolveu ignorar, provavelmente mais uma paranoia qualquer entre tantas que já teve.

O beijo se encerrou e ele olhou em volta. Não tinha ninguém além deles. Ainda sim, um sexto sentido insistia em dizer o contrário.

–--x---

– Já deve estar chegando. – Disse ele nervoso, enquanto secava o suor das mãos.

Em resposta a sua afirmação a campainha foi tocada. No mesmo instante, se olharam em procura de uma resposta do que fazer em seguida.

– Eu vou pro quarto. É melhor. Assim, me vendo de cara, ela não assusta. Introduz aos poucos.

Sem tempo para discordar, Damon assentiu. Deixando-lhe um beijo casto, Elena seguiu para o quarto e ele foi em direção a porta na velocidade de um furacão.

Ainda com a adrenalina intacta, abriu a porta. Recebendo um sorriso efusivo do outro lado.

– Ai que saudade. – Ela gritou o abraçando.

Esquecendo-se do objetivo, Damon retribuiu verdadeiramente.

– Eu também. Eu também. – A voz saiu abafada pela voz no peito da mãe.

– Nem acredito que você tá aqui. – Grace o olhou com a felicidade estampada em todos os lados de seu rosto.

– Vem, entra. Entra. Já conhece a casa.

– Fiquei agoniada por não ter notícias suas. – Disse ela, enquanto iam até o sofá. – Mas seu pai também entrou de férias e seria impossível despistar.

Sentaram-se.

– Onde ele acha que você está?

– No mercado. E como eu contei que faria as compras do mês, ele não vai achar estranho que eu demore.

– Ou seja que temos tempo. – Riram os dois.

– Sim, graças. Como foi? Quero saber tudo. E detalhes, por favor. – Perguntou animadamente, na ânsia por respostas da vida do filho que estava longe.

– Foi incrível. Cada segundo que passava naquele lugar mais eu pensava que era um sonho. É bom demais pra ser verdade, bom demais.

– E seu irmão? E o Stefan? – Grace perdeu o fôlego ao pronunciar o nome dele.

Damon sorriu, alcançado uma pequena caixa de embrulho de presente ao lado deles, no sofá.

– Te mandou um presente. Olha. – Esticou os braços, com o objeto na direção da mãe.

De imediato, os olhos azuis de Grace acenderam-se em mais uma dose de alegria. Mas não estava surpresa. Stefan sempre seria Stefan daquele mesmo jeito carinhoso, detalhista e sem mágoas de ninguém. Como se nada houvesse acontecido.

Apanhou o presente, abrindo-o devagar. Não queria estragar nem ao menos o papel. Aquilo já era, por si, um pedaço dele que guardaria.

– Aí, que lindo. – Uma correntinha do ouro, simples com um crucifixo, foi se revelando. Damon ofereceu-se para ajudá-la a colocar. Não foi preciso resposta, elevou o cabelo até o alto e virou-se de costas para ele. Já em seu pescoço, Grace tocou há cruz, beijando-a. – Sinto tanta falta. A internet... É maravilhosa. Mas... Não tem nada como o toque.

Damon sorriu terno.

– Computador algum substituí um abraço, não é? Confirmei isso quando eu cheguei. Abracei ele tão forte, tadinho.

– Sempre tive muito orgulho da relação de vocês. Sempre soube, não importa o seu pai ou as brigas, os vícios e até as vezes que ele tentava jogar um contra o outro. Isso nunca ia acontecer.

Em lembrança a cada palavra da mãe, Damon assentiu.

– Ele pode ser nosso pai, mas... O que eu e o Stefan temos é algo muito além dele. Muito além.

Grace apanhou a mão dele, plantando um rápido beijo.

– E eu amo isso, de verdade. É o único motivo pelo qual eu dormi tranquila todas essas noites desde que vocês foram embora.

Silêncio. Essa era uma parte na qual ele não gostava de recordar. Desviou os olhos para os lados em busca de algo para trocar aquele assunto, dando-se de encontro a segundo caixa de presente.

Sorriu para ela.

– Bom... Mas eu também não sou um filho tão ruim. Também te trouxe um presente.

Diferente da caixa de Stefan, essa era um pouco maior, e quadrada. No mesmo ritmo, desejando guardar até os papéis como lembrança, abriu.

Seus olhos encheram-se por água. Não foi o bastante para soltá-las, mas mesmo assim eles embaçaram-se.

– Essa foi a primeira foto que tiramos juntos, lá... Depois de anos. Cada um tem uma. – Explicou, calmamente. Enquanto ela ainda estava perdida olhando-os naquela imagem. – Tem uma mensagem atrás. – Avisou, e ela virou a foto ao revez.

Reconheceu as duas letras.

Aguardaremos ansiosamente o dia em que participará dessa foto, mas não se preocupe, pois sentimos a sua presença aqui diariamente. Te amo, Stefan.

A segunda estava um pouco mais abaixo.

Olha que óvulos bonitos tinham dentro de você, mamãe. Queremos você aqui e é uma promessa, beijos Damon.

Ps: Viu como seu caçula tá forte? E não se preocupe, já chequei e ele não tá tomando anabolizantes.

Grace gargalhou abraçando fortemente o filho, que estava próximo em seguida. Sorriram entre o enlace.

– Vou guardar bem escondido e vou olhar isso todo dia. Quando acordar e antes de dormir, pode ter certeza.

Separaram-se devagar.

– E tenho. Porque eu prometo que vou fazer a mesma coisa.

Silêncio. O rosto de Grace assumiu uma expressão pensativa, como se tivesse lembrando de algo importante.

– E a Elena? Soube que ela foi junto.

O corpo de Damon arrepiou-se no mesmo instante. Ela percebeu o sobressalto de sua reação e preocupou-se. Damon queria introduzir tudo aos poucos, mas sua mãe havia acabado de lhe dar a brecha que necessária para falar. Temeu. Não estava pronto ainda, nem ao menos tinha pensado em como iniciaria com aquele assunto.

Mas não poderia desperdiçar essa oportunidade. E se dependesse de sua coragem, demoraria para encontrar uma maneira de começar a dizer.

Sem que Damon se atentasse, Grace continuava a falar.

– ... A sua aluna. Te deu problemas? Porque ela é menor e o trajeto de ida e volta, ela foi responsabilidade sua.

Rapidamente tentou disfarçar.

– Sim, mas lembre-se que eu sou responsável por mais de cento e dez adolescentes por dia também.

Mas ela não pareceu ouvir.

– Mas aquela menina... Aquela eu vou ter que agradecer a vida inteira pelo incentivo.

Devagar, Damon levantou-se em uma meditação mental para que se acalmasse. Inútil. Os batimentos não acalmaram-se por segundo algum e o suor também não secou. Grace reconheceu aquela reação e o observou em espera que ele lhe dissesse algo.

Ele respirou profundamente.

– Eu também. – A voz saiu um tanto quebrada. – Eu também mãe. Mas não só pelo incentivo.

Ela, logicamente, não compreendeu.

– Como assim? – Perguntou, deixando-o mais nervoso.

– Como assim que eu também vou ter que agradecer há ela por outras coisas.

Novamente a mesma expressão.

– Que coisas, filho?

Não tem mais como fugir. Pensou ele, em conclusão.

– Como que... Por me ajudar com tudo. Desde você, desde a Rose e até há mim. A mim por me fazer parar de beber e me fazer feliz também.

Grace piscou algumas vezes e balançou a cabeça negativamente, assimilando o que ele dizia. Não tinha tanto choque nela como nas pessoas quando normalmente sabiam deles, mas provavelmente isso se devia ao fato dela ainda não ter captado o que estava insinuando por completo.

– Não entendi, Damon. – Foi tudo o que conseguiu dizer.

Ele tentou manter-se controlado, embora por dentro não estivesse nenhum pouco.

– Que parte?

– Todas. – Ela respondeu, no mesmo instante.

– Bom... De você é obvio o que ela fez. Da Rose... Foi por ela que eu consegui cancelar meu casamento e esquecê-la e ela me ajuda a me manter sóbrio porque tive uma recaída a pouco tempo. E em relação há felicidade... Ela e eu temos uma relação. Estamos juntos.

Preferiu ser direto. Falar sem medos ou rodeios, não poderia passar para Grace a impressão de que estava fazendo algo errado, mesmo com aquilo sendo logicamente errado.

Esperou por algo vindo dela. Mas nada. Apenas choque, o mesmo choque que já viu outras vezes e em outros rostos.

– É que... É tanta coisa pra ouvir, que as vezes nem tudo se escuta. Conta do começo, por favor. – A voz dela estava sem fôlego.

Damon pensou um pouco.

– Ok. De novo, então. Com a Rose ela me ajudou a...

– NÃO ISSO, DAMON. – Gritou em interrupção, assustando-o. – Perdão. – Limpou a garganta numa pigarreada e abaixou o tom. – Quero saber de vocês. Como aconteceu? Do começo. É isso que eu quero.

Damon respirou profundamente, com ar de cansaço.

– Mãe, é uma história longa. Tem certeza que...

– Damon, não faça as coisas pela metade. – Interrompeu-o novamente e pelo tom dela, não ousaria em contrariar. Perguntava-se se Elena escutava ou não aquela conversa no quarto ao lado. – Fala o que tem que falar, já que decidiu. Porque é bem provável que já queria me contar isso, não é? Pela maneira que falou, toda ensaiada.

Ele assentiu em resposta.

– Sim. Eu te chamei aqui pra algo além de um reencontro. Queria falar dela; Não sabia como, mas... Você começou a mencioná-la e eu...

– Ok. Já que eu entreguei a deixa que você queria em bandeja de prata, começa. – Ordenou, mas ainda sim de maneira gentil.

– Mãe, não fala nesse tom. – Ele pediu, também de modo gentil. – Esse tom de dando bronca no filho que aprontou. Você sabe quem eu sou, sabe como eu sou. Não me me arriscaria assim, se fosse só uma aventurinha. Eu gosto dela, eu a amo. Nós temos uma relação séria, uma boa relação. – Disse, explicando. De imediato, Grace se acalmou ao escutar aquelas palavras.

– Assim espero. Mas antes eu preciso saber pra poder julgar se isso é sério ou não. Então começa, fala por favor. – Pediu, quase que suplicando. Precisava saber, não poderia simplesmente ficar no escuro sabendo que seu filho estava tomando o caminho mais arriscado de sua vida. Não poderia descansar com essa preocupação.

Calmamente, ele começou.

– Como você sabe. Eu moro lá. Na casa dela.

Grace assentiu.

– Eu sei. E também sei que é professor dela. – A intenção apesar de não querer ser irônica ou provocativa, acabou soando assim para o filho.

Mas ele não se abalou.

– Exato. E no começo eu não era nada além disso. Na verdade, fui somente isso por um bom tempo e ela e eu, como todos os meus alunos praticamente, nós nos dávamos mal. Isso quando nos conversávamos, o que era raro.

Grace pareceu não entender.

– Então como isso foi acontecer? Ou melhor, há quanto tempo? – O nervosismo inicial regressou.

– Calma. Vou contar, vou chegar aí.

Aquela parte era complicada para ele. Não por ter que dizer a verdade e sim por ter que mentir. Elena tinha muita vergonha do que havia feito. Aquele plano todo com seus amigos, as mentiras. Ela havia sido muito clara quando disse que não queria que Grace soubesse. Afinal, se nem a própria havia se perdoado pelo que fez com Damon, imagina uma mãe consciente do que fez com seu filho.

Ela a odiaria e não queriam isso.

Outra vez, respirou fundo. Odiava mentiras, era péssimo naquilo.

Voltou a falar.

– Ela... Não achava saudável a relação que tínhamos. Isso depois de um tempo, e me propôs que fossemos amigos. – Gaguejou rapidamente, lembrando-se do que tinha que dizer em seguida. – Eu achei a ideia absurda no começo, mas... Acabei aceitando.

– E isso porque? – Desconfiou rapidamente. – Damon, por mais tempo separados que estivéssemos nesses anos, ainda sim moramos na mesma cidade e em uma cidade pequena como essa. Eu sou informada o suficiente pra saber que... Você nunca foi amigável com aluno nenhum. Porque com ela foi diferente?

Ele pensou um pouco. Não haviam planejado aquela parte ou o que se dizer. Houve uma curta pausa, onde em questão de desespero, conseguiu pensar em algo. Se fosse Elena em seu lugar, provavelmente já teria a resposta na ponta da língua em mínimos segundos.

– Porque... Porque a mãe pediu. – Inventou um pouco confuso no que dizia. – A mãe não queria que tivéssemos uma convivência ruim e eu não queria problemas com a Isobel. Já tive demais com o Mason e você sabe.

Grace pareceu convencida.

– Ou seja que a mãe dela sabe disso tudo? Bom, menos mal.

Droga. Pensou ele, nervoso.

– Calma. Já chego aí. – Disfarçou seu sobressalto. – Como eu disse aceitei. O que a Isobel obviamente queria era que nos dessemos bem, nada mais que isso. Só que as coisas foram acontecendo, morávamos juntos e eu me sentia muito sozinho na época. – Sorriu em lembrança, dessa vez com sinceridade. – E acabou que... Ficamos amigos mesmo, em segredo lógico.

Grace suspirou pesadamente.

– Depois disso não é muito difícil imaginar... Aos poucos, se envolveram. – Falou calmamente. Não precisaria de mais detalhes, já era o bastante com o que tinha para supor o restante.

Houve outra pausa. Damon andou mais um pouco pela sala, parando em um canto qualquer.

– Eu tentei fugir, negar. Já tivemos idas e vindas por causa disso, mas agora estamos firmes e melhor do que nunca. Por isso quis contar.

Claro como água de um rio, Grace finalmente respondeu a pergunta que martelava em sua mente. '' Porque Elena fez o que fez pra mim? Porque aquele incentivo em que voltasse a falar com Damon? '' Agora sabia.

– Ninguém sabe, não é? – Adivinhou outra vez.

– Bom, ela estava comigo e com o Stefan em Nova York então...

– Não, Damon. – Novamente o cortou. Confuso, ele a mirou. – Tô falando da cidade. Alguém sabe?

O filho rapidamente conteve a vontade de socar a parede mais próxima. Não poderia mentir mais, a que fez por Elena já havia enchido sua cota do dia. Mas não seria fácil para sua mãe ouvir o nome que ouvia agora.

– Rose. – Disse sem rodeios.

Como previu, a expressão de Grace se contorceu em uma passageira raiva.

– Aquela... Vagabun...

– MÃE! – Foi a vez dele a interromper. Grace nunca gostou de Rose em nenhum momento. Sempre a culpou por todas as desgraças de sua vida, de alguma forma.

– Tá, desculpa. – Pediu, controlando-se. – Você sabe o que eu sinto por ela. Só acho totalmente sem sentido ela saber. Não iam casar? Não era ela o amor da sua vida?

Damon voltou a sentar-se.

– Rose e eu somos amigos e por mais louco que pareça ela e a Elena também são. Se dão muito bem.

Grace preferiu o silêncio. Não queria comentar sobre o envolvimento daquela terceira pessoa nisso. Apanhou delicadamente a mão dele, deixando um aperto forte de solidariedade.

– Damon, a vida é sua. Isso é perigoso. Você, com toda certeza, deve saber dos riscos mais do que eu. – Disse em tom aconselhador. – Claro que eu preferia que você arrumasse alguém da sua idade, com a vida já feita e que não fosse te trazer problemas, mas... São suas escolhas. Não há o que eu possa fazer, você é adulto. – Lamentou, dando os ombros. Apesar de toda sua preocupação, não havia o que ser feito sobre aquilo; Era o que seu filho queria e se nem quando criança conseguia controlá-lo, não seria agora que aprenderia a ler o manual.

– Obrigado, mãe. Obrigado mesmo. – Ele beijou-lhe na mão.

Ela ainda parecia hesitante.

– Mas lembre-se: Você é adulto, ela não. Por isso é você quem tá assumindo a responsabilidade... Se algo acontecer é nas suas costas que o peso vai cair. Essa bigorna é sua. Tem certeza que pode com ela? Tem certeza que essa menina vale tanta a pena assim? Porque se ela te ama mesmo, ela tem que entender isso.

Damon ouviu um rápido barulho ao longe, Grace não pareceu perceber. Provavelmente era Elena tentando abrir a porta o mais devagar possível para conseguir uma brecha para vê-los.

Para não haver suspeitas, voltou a concentrar-se na mãe.

– Sabemos disso. Na verdade já tivemos essa mesma discussão, por conta desse mesmo assunto incontáveis vezes.

Grace tranquilizou-se.

– Que bom. Que bom que os dois, apesar de tudo tem ciência das consequências disso. – Damon sabia que ela tinha razão nisso. Em poucas palavras ela pensava como Rose também, mas não diria isso até porque o clima pacífico daquela conversa explodiria em minutos.

– Eu só queria mesmo era a sua benção. E... – Parou nervoso. – E que nos ajudasse.

Grace franziu as sobrancelhas.

– Mas o que eu poderia fazer? – Ela perguntou, pegando-o de surpresa. Nem ao menos ele sabia.

– Não temos nada planejado pra agora. Seria só no caso de precisarmos de uma mão. – Disse, sem muita certeza.

– Você desamparado, ainda mais nessa situação é que eu não vou deixar. Mesmo que eu não quisesse, não me sobraria muita escolha.

Damon sorriu com aquilo. Apesar de não ser algo fácil de se ouvir ou de fazer, ela estava disposta a driblar o choque para que demonstrasse que não estava sozinho. Era bem mais por ele do que por ele e Elena tecnicamente juntos, mas ainda sim era um começo e esperava que as coisas entre elas não andassem para trás agora que sabia a verdade, mesmo que fosse uma verdade omitida.

– Você é um anjo. – Exclamou Damon, dando-lhe um beijo na testa. – Tem mais uma coisa. – Ela assustou-se. – Calma. Ela... Ela na verdade está aqui. No quarto do lado. – Grace olhou para a porta indicada com os olhos nervosos. – Quer vê-la? Quer... Falar com ela?

A mãe pensou um pouco antes de falar.

– Não sei se sobraria muito tempo pra falar. Tenho que ir pro mercado, mas... Chame-a. Chama, quero falar que vou ajudar se precisarem.

Damon não conteve o sorriso de felicidade no rosto.

– Ok. Fica aí então. Já volto.

E ele em passos largos foi. Ainda tinha muito tempo antes de voltar pra casa, mas era melhor que visse Elena e trocasse algumas palavras para que não fizesse essa desfeita. Mesmo com horas de sobra para conversar com ela, decidiu que iria embora em seguida.

Precisava na verdade.

Damon havia pego-a de surpresa com algo que nunca poderia imaginar. Era necessário que saísse daquele lugar para pensar e digerir aquela situação. Os ajudaria, não tinha saída era seu filho. Mas também não poderia ignorar os riscos daquela situação e isso era o que provavelmente tiraria seu sono.

Foi interrompida de seus pensamentos pela volta do filho, trazendo uma figura tímida, mas contente, do lado.

Estavam de mãos dadas.

– Senhora Salvatore. Como vai? – Disse Elena em cumprimento.

Não queria parecer antipática, sorriu para ela.

– Oi Elena, está linda.

– Obrigada. – Agradeceu, cordialmente. – E... Não queria interromper a conversa. – Lamentou, apertando mais forte a mão do parceiro. Estava nervosa.

– Não, que isso. Eu mesma quis que viesse. – Afirmou convicta. Assumindo uma expressão de seriedade em seguida, queria ser honesta com ela e com Damon também. – Elena você tem muito claro os riscos desse jogo, não é? Isso não é impulso? Nem fantasia adolescente? Isso é mesmo sério pra você? – A menina de imediato, calou-se. Grace preferiu acalmar a voz antes de voltar a falar, não queria ofendê-la. – Desculpa tá falando assim, mas os riscos pro meu filho são muito altos e eu tenho que ter certeza de que ele não tá se arriscando por algo... Algo de verão. Senão, é impossível que eu dê meu apoio.

Apesar da rigidez dita, Elena ficou feliz com aquelas palavras. Demonstrava era compreensiva, mas que também tinha preocupação com seu filho, como toda mãe deveria ser.

– Senhora, se quiser eu posso provar todos os dias que o que eu sinto é de verdade. Faço o que você quiser, sem hesitar. – Exclamou com confiança.

– Pra mim só basta que você esteja lúcida e sã, mesmo que seja no amor. Se conseguir isso, vai ser a única prova que eu vá precisar. – Falou tentando confortá-los. Ambos pareciam incômodos com a situação e aos poucos Grace também. – Na verdade é mais um pedido do que qualquer coisa. Eu não posso proibir meu filho de nada, acreditando ou não em você. Ele já tem quase 30 anos.

Damon iria falar, mas Elena o interrompeu.

– Mas é seu filho. E isso pra mim é mais do que suficiente pra que eu obedeça qualquer desejo seu. – Rebateu em discordância, ainda sim com toda educação.

Grace pareceu satisfeita.

– A minha vontade maior eu já disse. – Exclamou indo até sua bolsa e guardando a fotografia de seus filhos lá dentro, em seu fundo. – Bom... Tenho que ir. A tenda hoje fecha mais cedo e... As frutas logo vão acabar.

Ambos preferiram deixá-la ir. Entendiam que era preciso um tempo pra se assimilar algo daquela magnitude e dariam isso há ela.

Damon a acompanhou até a saída e Elena sentou-se, finalmente, no sofá. Descarregando toda sua preocupação ali. Pôde suspirar aliviada.

– Obrigado, mãe. – Ele agradeceu, abrindo a porta.

– Obrigada, senhora. – Elena disse, de onde estava.

– Disponham. – Se virou para Damon. – Tchau filho. – O abraçou fortemente, deixando a benção, que ele pediu, naquele abraço. Ele sentiu isso e fechou os olhos aproveitando o contato. – Se cuida. – Falou, no ombro dele. – Eu te amo.

– Eu também.

Separaram-se lentamente.

– Como ela disse, mesmo com quase 30 você ainda é meu filho e eu ainda sou sua mãe. – As lágrimas que não vieram no resto da conversa ou quando recebeu os presentes dele e de Stefan, caíram em acumulação. Damon não impediu. Sabia que sua mãe gostava de chorar para descarregar as coisas. – E eu não vou ser carrasca de... De novo pra abandonar outro filho quando ele precisa de mim. – Mais lágrimas caíram, dessa vez junto há leves soluços. – Não senhor. Dessa vez eu vou ser mãe. Eu vou ser sua mãe.

Abalado, ele não soube o que dizer. Ficou em silêncio enquanto ela descarregava as águas, tapando o rosto com uma das mãos.

– Já disse pra esquecer desse assun...

– Não, Damon. – Calou-o decididamente. – Eu não vou cometer o mesmo erro de novo. – Respirou fundo. – Já disse que contem comigo. É só pedir.

É melhor encerrar isso. Pensou ele, com o peito também já cheio pelas emoções do dia.

– Sim, mãe. Sim. – Foi tudo o que conseguiu dizer.

– É melhor eu ir então. – Olhou em volta, procurando por Elena. – Tchau. Elena. – Acenou timidamente.

Com um sorriso fraco e sem mostrar os dentes, ela retribuiu.

– Tchau senhora.

Foi a última coisa dita antes da porta ser fechada.

Em passos lentos e recolhendo todos os acontecimentos daqueles minutos anteriores, Damon seguiu até ela no sofá. Como um casal qualquer, ele deitou a cabeça nos joelhos da menina que se mantinha sentada. Houve uma curta pausa, em que cada um se perdia em seu próprio pensamento.

– Não sei como eu duvidei dela, esse anos todos. – Reclamou frustrado. Elena acariciava seu cabelo. – Sério. Não tem como. Alguma vez você já viu... Já viu na sua vida inteira, olhos mais sinceros do que os dela?

Elena sorriu em concordância.

– Você tem sorte. Tem os mesmos olhos que ela. Com a mesma doçura e a mesma honestidade.

Mirando-a profundamente, Damon saiu da posição inicial sentando-se. Elena rapidamente compreendeu a intenção pidona da face dele e foi a sua vez de sentar-se naquele colo. Como em todas as vezes que fazia, ao meio das pernas do mesmo. Beijou-o sem pressa, em consolo. Transmitindo o recado de que estaria ali também.

– Está comigo, não é? – Perguntou temeroso. – Não é porque ela tá nos ajudando que a gente vai ter que relaxar. Não, vai ser tão difícil quanto.

Mas outra vez ela o calou com os lábios.

– Não duvida nunca disso. – Disse em sussurros, sorrindo para o rosto que acariciava sua bochecha. – Nunca.


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Notas finais do capítulo

Foi muito difícil fazer esse capítulo, principalmente na conversa pois quis fazer uma coisa bem realista e simples, nada muito melodramático, tipo novela mexicana. Assim não faz mto meu estilo, prefiro algo mais real mesmo. Então gostaram? Como disse respondo os comentários do cap anterior amanhã. Comentem, por favor. Andei indo na gerencia de histórias e percebi que perdi leitores, me contem... Não estão gostando mais? Tem alguma crítica? Podem dizer.