Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 52
- Uma mão lava a outra.


Notas iniciais do capítulo

Oi girls... não esperava postar esse capítulo hoje. Mas acabei tão rápido, espero que gostem.



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05/05

Querido diário.

Damon ligou hoje. Estava na sala quando o telefone tocou e minha mãe atendeu. A partir do momento em que dona Isobel, animada, proferiu as palavras '' Ah, oi Damon '', logo após cessar o zumbido do aparelho, meu cérebro já disparou todo estoque acumulado de ocitocina que tinha em mim.

Me auto-policio o tempo inteiro para que não pense nele, embora minhas tentativas não cansem de falhar. Não choro mais, ainda sofro um tanto quanto, só que em geral já aceitei as coisas como estão, pelo menos até que possa haver algum modo de reverter a situação.

Perco as esperanças ao mesmo tempo que tento planejar alguma coisa, mas tenho medo. As coisas, quando se tratam de nós dois, sempre dão um jeito de dar errado. Como se o destino não quisesse que acontecesse, me arrepia pensar que tentando concertar algo tudo piore.

O problema é que esse sentimento não passa. Estamos em aula, olho para ele e não paro de pensar sobre o que tivemos no passado e imaginar o que eu queria que tivéssemos no futuro. Ele não corresponde meu olhar, nenhum. Uma aluna a mais como se nada houvesse sucedido, mas sei profundamente que esse é apenas o jeito dele de se portar, era assim até mesmo quando estávamos juntos. Ele sempre fora muito profissional e gosto disso pois nos mantém longe de encrencas, mas ao mesmo tempo queria profundamente que ele me amasse tanto, mais tanto, a ponto que nenhuma ética pudesse ser o suficiente para manter esse amor preso em seu corpo.

Mas isso seria querer demais.

Enquanto eu. Eu... Quebro cada vez que sinto o perfume dele perto há meros metros de mim. Pereço por dentro com sua voz, com seu rosto, com sua presença. Quando ele voltar, não estarei aqui. Irei com meus irmãos passar o dia na casa de Anna; A família dela há um tempo já mencionou o quanto queriam me conhecer mais a fundo e essa será a oportunidade perfeita.

Voltar a tê-lo aqui será como antes, então é bem provável que não seja estranho e nem fique aquele silencio constrangedor. A sala de aula ajuda com que isso não aconteça, afinal lá nos vemos todos dias mesmo no amanhecer de nossos momentos mais embaraçosos. O ruim e o bom, ao mesmo tempo, de tudo isso é que serão mais tempo juntos de convivência. Aonde ao mesmo tempo que me alegra estar com ele, me entristece não estarmos juntos da maneira no qual tão ávida, eu desejo.

Damon terminou a leitura, com um pequeno sentimento de culpa impregnado. Alegrava-se por saber que aquele sentimento na qual Elena orgulhosamente dizia sentir, continuava o mesmo. Ou até mais intenso. Só que para amargura da felicidade, era um amor acompanhado de muita dor e de muitos problemas.

Já havia perdido a conta de tamanhas vezes que releu aquele trecho. Ainda mais agora após ouvir tudo o Rose lhe disse sobre Mason. Um vazio estranho percorria seu corpo enquanto se atentava a cada uma de suas palavras, esperava por gritos da parte dele, e dela também, muitos insultos e uma briga acompanhada de quem sabe um ou dois tapas. Aquela reação já tinha pronta, já que era o que esperava. Tanto que negava-se em acreditar que era realmente aquelas as palavras em que ouvia, se não conhecesse Rose tão bem, não seria capaz de acreditar nela.

Ele iria embora até o fim da semana, duvidava se poderia vir a ser uma boa ideia tentar, pelo menos, uma conversa de cinco minutos que fosse. Embora a existência da dúvida predominasse mais, estava pisando muito em falso ultimamente. Já era o bastante, não havia porque ocorrer mais mudanças e adaptações em sua vida.

Cada coisa de cada vez.

Manejou o carro para fora da vaga que estava, a mesma de ontem. Em frente ao prédio de Rose. Primeiro essa surpreendente revelação e dentro de alguns minutos mais um desafio para se encarar. Era peso demais para um domingo na qual, segundo a convenção social, deveria ser tedioso.

Apesar de tudo, de mais essa sensação de vazio pelo que iria acontecer, estava animado pelo que Elena tanto planejava de modo tão cautelar. Pela manhã, após acordar, Isobel parecia preocupada com o esquivo de Elena naquele último dia. Quando ela lhe comunicou, irrevogavelmente, de sua decisão de ajudá-lo, foram para a casa mas a mesma em seguida voltou a sair, regressando com mil sacolas dentro do porta malas. O que ascendeu a ponderação da mãe que lhe perguntou, junto a Jeremy e April, se sabiam de algo.

O caminho até o local em que marcaram, foi doloroso. Tanto para seu emocional, quanto para seu carro, devido a dificuldades das estradas sem a presença do progresso do asfalto. Para ele, latejavam as lembranças do passado tão distante. Ainda mais com a atual situação de reparo vindo de Mason. Desde os pinheiros enormes no qual eram os esconderijos prediletos para o esconde-esconde até os diversos poços de água que mantinham, até os dias de hoje, as moedas que jogavam desejando que seus sonhos se realizassem no futuro.

O que vendo hoje, foram totalmente inúteis. Ainda sim, a aversão a mais mudanças era demasiadamente forte para se deixar levar pelas emoções nostálgicas. Adentrou finalmente a floresta encontrando o mais novo carro de Elena em poucos metros, ela estava em cima do capô, com suas roupas de ginásticas enquanto mirava o chão com uma expressão de nojo. Provavelmente com medo de algum bichinho rastejante de meio centímetro.

O motor automaticamente levou a atenção de Elena até ele. Mesmo que a distância, Damon conseguiu enxergar facilmente o respirar fundo que ela soltou ao vê-lo. Tinha dúvidas se ele iria ou não, mesmo com seu incentivo e insistência Damon não estava tão confiante em sua ideia.

– O que tá fazendo? – Ele desceu do automóvel, indo em sua direção.

Elena sorriu ao ver que Damon usava roupas de exercício, como pediu que ele fosse. Apesar de sua negação, estava levando a sério.

Devagar, ela desceu do capô.

– Nada. Só esperando você mesmo.

Sentia que Elena não parecia tão certa de si. Ao mesmo tempo, tentava passar para ele a confiança necessária.

– Tá aí há muito tempo?

– Não muito. – Ela negou com a cabeça.

Houve uma curta pausa. Aonde Elena sentia que Damon lhe queria dizer algo, aos poucos ele retirou de trás de si o caderno que com toda sua fé o entregou.

Ela surpreendeu-se.

– Mas já? Te entreguei ontem... Deu tempo pra ler tudo?

Fiquei a noite inteira acordado lendo. Pensou ele.

– Leio rápido. – Disse simplesmente, ficando tímido em seguida. – E também não foi preciso ler até o final pra que acreditasse em você.

Sem reação, Elena sorriu em resposta. Mas também enxergou o quão desconfortável ele havia ficado após o que disse. Apanhou o diário que Damon lhe oferecia e foi até seu carro.

Queria esperar até o fim do dia, mas talvez aquele fosse o momento certo.

– Quero te entregar uma coisa. – Exclamou, receosa.

Damon franziu as sobrancelhas ao vê-la com quase o mesmo objeto que lhe entregara. Elena havia posto o caderno no porta-luvas, para segundos depois ter outro caderno, dessa vez verde, em uma das palmas.

– Outro diário? – Deduziu, embora soasse mais como uma pergunta.

– Sim, mas esse não é meu. – Afirmou com um leve tom de hesitação. Damon outra vez pareceu não entender. – Eu sempre achei essa coisa de diário uma besteira, nunca tive problemas eu falar as coisas na cara das pessoas, nunca precisei escrever. – Atento, ele preferiu não interrompê-la. – Mas depois... Com o blog e todo o sucesso, do dia pra noite. Eu senti que eu tinha muita coisa acumulada e também porque eu tava vivendo um momento tão bom da minha vida, que queria registrar tudo. – Apesar de não saber aonde ela queria chegar com aquilo, Damon estava gostando de ouvi-lá. Sem avisos, ela, com toda sua força, o tomou por uma das mãos. – Só que isso. Um simples caderno. Também serviu muito nos momentos ruins e é por isso que eu comprei esse pra você. Quero que todas as vezes que se sentir feliz, alegre, triste ou com... Uma vontade absurda de se afogar em uma garrafa, eu quero que você escreva.

Diante da perplexidade dele, Elena não largou sua mão. A tamanha confiança e verdade naquelas palavras que o deixaram daquela maneira, muito mais do que o fato dela ter lhe dado tal, surpreendente, presente. Via o quão sério ela estava empenhada em cessar por de vez todas as mentiras de antes, poucas vezes antes em toda sua vida ouviu alguém lhe revelar tamanhas intimidades com tanto sentimento.

– Mas Elena... – Gaguejou, tentando encontrar palavras. – Eu não sou escritor, eu não tenho o seu talento, eu...

– Não se trata disso. – Interviu docemente. – Você sabe muito bem que esse não é o propósito. Sei que você consegue.

Sem a necessidade de palavras, sorriram. Não com o rosto, com o olhar. Aproximaram-se um do outro, aonde os braços sem muita certeza (mas com muito desejo) se encontraram lentamente. O abraço durou tanto tempo quanto levou para se encontrarem, Elena inspirou o cheiro daqueles ombros abastecendo sua energia para que fosse forte.

Todas as vezes que se sentisse ridícula com o que fazia, ou todas as vezes em que qualquer medo ou qualquer dificuldade, por mínima, viesse. Tinha que imaginar a perda e não a perda de um relacionamento. Perda de morte, porque era isso que aconteceria com ele caso cruzasse seus braços. Não podia perdê-lo, não podia. Sob circunstancia alguma

Só aquela hipótese já era o suficiente para também matá-la.

Afastaram-se e Damon pôde guardar o mais novo e especial presente que já ganhara. Por mais que quisesse enrolar-se em volta dele e ali ficar para sempre, não podia ter mais delongas para que aquilo começasse. Queria mostrar a ele que era sério.

Enquanto Damon deixava o diário no carro, forrou o chão com os tapetes azuis próprios para yôga, que comprara ontem.

Pôs um ao lado do outro e sentou-se em seguida.

Damon não pôde evitar a conclusão do quanto aquilo deveria estar sendo sacrificante para ela. Apenas o fato de que debaixo daquele fino pano embaixo do corpo de Elena, era o lar de milhões de formigas que brincavam pela terra e ela estar sentada, com uma expressão tão tranquila como a de um pássaro sobrevoando o céu azul, era o bastante para ele saber que aquilo não era um passatempo de psicóloga.

– Quero que sente aqui. – Disse ela, calmamente, referindo-se ao outro tapete. De bom grado, Damon fez. Tinha que se dar uma última chance. – Agora eu quero que você cruze as pernas e deixe e coluna ereta, como eu estou. Está vendo? – Demoradamente ele assentiu, imitando a posição meditativa dela em seguida. A confiança e tranquilidade na voz e postura de Elena, o acalmavam. – Agora eu quero que você respire, e se concentre na sua respiração. Feche os olhos. – Damon o fez e ela o acompanhou. – Respira com a boca fechada, bem pausadamente. – Silêncio, ele novamente lhe fez o que fora mandado.

Após alguns minutos, Elena lhe pediu que expirasse, dessa vez com os lábios entreabertos.

– Relaxa o corpo... Presta atenção, no ar fluindo através do seus pulmões. Esqueça tudo, todos os problemas. – Sussurrou de maneira carinhosa. Reabriu os olhos para conseguir olhá-lo e sorriu mentalmente com a tamanha concentração que Damon colocava, deixando claro que para ele não era algo inútil. – Continua a respirar. Quero também que se concentre no barulho da cachoeira, há alguns quilômetros. Consegue ouvir o barulho dela? Da água nas pedras? – Com um murmuro, Damon respondeu positivamente. – Quero que se imagine lá. Ou melhor, quero que se teletransporte para lá.

De imediato, ele duvidou do tamanho poder de sua consciência. Mas assim que conseguiu se ver naquelas águas, com o corpo nu da mulher que estava no outro tapete, unificado ao seu do modo mais doce e cinematográfico, ignorou que era apenas uma ilusão e viveu intensamente, sem pensar.

Abraçavam-se fortemente em meio a ávidos beijos e caricias delicadas. Ela era sua novamente, e a maneira terna na qual a mirava confirmava isso de tal maneira que se sentia no mundo real, mesmo sabendo que não era.

Passeou a ponta dos dedos pela base das costas de Elena, sentindo a pele molhada pelas gotículas d'água em toda sua extensão. Era o mesmo toque, o mesmo cheiro. O mesmo gosto de boca.

A encaixou com volúpia no meio de suas pernas, em meio a um leve movimento naquela enorme piscina em volta deles. Olhando-o profundamente, acompanhado-os por sorrisos apaixonados, a intensidade dos movimentos aumentou, junto a vozes histéricas de ambos. Damon tocou os lábios dela entre dois de seus dedos e os puxou para os seus próprios, não queria ficar uma distância sequer longe um do outro. Aonde assim, até seus gemidos podiam se tocar.

Sem ele saber, que Elena - como uma espécie de sinergia cósmica de seus pensamentos - tinha o mesmo sonho.

– Agora eu quero que você veja uma luz... Um cilindro em forma de luz. Com cores leves, gostosas, fluídas. Quero que esse cilindro entre, no mais alto de sua cabeça. Esquece a dor porque ela não existe, aos poucos quero essa luz no seu cérebro e espalhada pelo seu corpo inteiro. E saia. Mas quero que ela leve junto todos os seus pensamentos negativos, suas preocupações, todos os seus prejuízos. Quero que essa mesma luz, limpe todas as suas veias, suas artérias e tudo que for necessário até que fique purificado ao certo ponto em que você vire essa própria luz. Cheia de poder curativo, num ponto que consiga renovar até mesmo as suas células.

A voz dela, decidida, veio até si. Por mais que o interrompesse de seu sonho, não fez em má vontade, pelo contrário. Pois sabia que poderia regressar aquela cachoeira a hora que quisesse, mas naquele momento precisava atender aquele pedido. Ou melhor, aquele chamado.

Mesmo com toda a dificuldade em exercer tamanha atividade, o alívio veio até si. Acompanhado, logicamente de um cansaço exaustivo. Aonde já em total transe, sem conseguir ver ou ouvir nada ao seu redor no mundo exógeno, sentiu-se flutuar através daquela mata.

Com a renovação da energia, continuou com a mente presa naquele lugar, e sem tardar regressou ao sonho da cachoeira até que a satisfação de seu prazer viesse.

–--x---

– Ah, cansei. – Fadigou Elena, interrompendo a corrida. Pôs as mãos no joelho e abaixou o tronco, por alguns segundos.

Damon gargalhou junto a ela. Parou também.

– Acho que exageramos. Sabe se lá quanto a gente já correu nessa floresta.

Ao observa-lo melhor viu que Damon também parecia cansado. Provavelmente não quis parar para que não a magoasse, ou algo do tipo.

– Mas vamos ter que nos acostumar. Porque todos os dias vamos fazer isso.

Damon sobressaltou-se.

– Como assim?

– Isso mesmo. – Afirmou, sem parecer perceber o temor dele. – Todo dia depois da aula. 15 minutos de meditação e 15 minutos de algum exercício, todo dia da semana um diferente. Como hoje é domingo, todo domingo iremos correr. – Interrompeu seu sorriso ao ver que Damon não parecia muito contente com a ideia. – O quê? Você não gostou da ideia?

– Não é isso. – Disse ele em desânimo. – É que... – Nós dois todo dia sozinho na floresta não me parece algo muito racional. Pensou, mas não disse. – Tenho medo que você acabe se decepcionando comigo, caso eu não conseguir. – Mentiu. Mas só depois viu que não totalmente, já que tinha uma boa dose de verdade naquilo.

Elena lhe abriu um riso tranquilizador.

– Me decepcionaria com você caso não tentasse, mas eu sei que pode conseguir. E vai. – Disse com convicção, apanhando o rosto dele entre suas mãos. Sorriu mentalmente por Damon não fugir ao seu toque.

Não desejando que o ambiente bom de antes se depreciasse, Damon também sorriu.

– E depois dessa maratona de exercícios diários? O que eu tenho que fazer?

Elena pensou um pouco antes de responder. Não havia pensado naquela hipótese.

– Escreva. – Foi a primeira coisa que lhe veio a cabeça. – Escrava sobre o que quiser.

Entre risos e conversas aéreas, regressaram a trilha de volta até seus carros. Dessa vez os pés não doeram e nem a respiração saltou veemente. Puderam olhar a paisagem, se atentar aos detalhes ao redor e, nos momentos de silêncio, relembrar o sonho meditado, na qual ao abrir os olhos, ao mesmo tempo que entristeceu por ter que abandonar, alegrou-se segundos em seguida por também encontrá-la ao voltar.

Em carros distintos, dirigiram para o mesmo endereço: Em casa. A julgar pela pressa de Elena em subir suas escadarias era provável que iria para o banho, ainda não queria livrar-se do cheiro dela e por isso apenas almoçou rapidamente.

Sentia-se estranho. Nenhum pensamento grosseiro, depressivo ou tedioso. Nada. Parecia cheio, repleto por uma normalidade cotidiana que o assustava. Esperou deitado na cama até que o desejo pelo álcool viesse e com ela qualquer tristeza pudesse ser traga de acompanhante, só que nem o desejo chegou. Muito menos a tristeza.

A dúvida tornou-se tanta, que teve que escrever sobre ela detalhando-a com detalhes longos. Apesar de ser o professor, tinha a sensação de que Elena houvera acabado de lhe ensinar algo, e muito valioso.

–-x--

10 DIAS DEPOIS.

A sensação do engulo parecia bem melhor agora. Na verdade, cada dia melhor. Sem azedos e sem cara de nojo, Damon começava aos poucos a desfrutar daqueles alimentos e vitaminas duvidosos na qual Elena o obrigava a comer, dizendo que melhoraria seu metabolismo, daria mais energia para os exercícios e diminuía seu continuo estresse.

Arrependeu-se de ter duvidado. Quando ficou três aulas seguidas sem gritar com nenhum aluno e um zum zum zum se formou pelos corredores, foi quando confirmou para si mesmo que ela estava novamente certa.

Alaric mesmo percebeu sua paciência para os últimos dias. Usou da desculpa de que era por conta da saída de Mason da cidade e o amigo acreditou, ele não sabia da conversa entre ele e Rose, nem de sua recaída há dias atrás e muito menos de que agora era Elena quem o ajudava. Os problemas pareciam cada vez mais afastados de si, e pretendia manter daquela maneira. Para Alaric contou apenas sobre Grace, na qual este, uma vez por semana cedia o apartamento para que conversassem. Era hilário pensar que normalmente amigos emprestam apartamento para outros, durante adolescência, para que escondidos dos pais, pudessem ter relações com alguma garota. Mas no seu caso, lhe concediam para que conseguisse ver sua própria mãe.

Chegava a rir da maneira na qual sua vida costumava ter a mania de ser tão anti-convencional.

So I won't hesitate no more, no more. It cannot wait, I'm sure. There's no need to complicate, our time is short. This is our fate, I'm yours

O toque do celular, o despertou de sua mente. Sorriu com o nome vislumbrado no vidro. Achou melhor ir para seu quarto, a cozinha não era o melhor lugar para se falar intimamente com alguém. Não que não confiasse em quem dividia seu teto, pelo contrário, mas ainda restava a grande desconfiança aguda do Damon estressado e nervoso de antigamente.

– Que bom que você ligou, Stef. – Suspirou felizmente.

Pelo bom humor do irmão, deduziu que Damon quisesse lhe contar algo. Já que normalmente quando ele dizia aquelas palavras, viam sempre acompanhadas de um respiro de tédio e irritação.

– Alguém parece feliz. – Disse zombeteiro. – O que houve?

Damon sentiu um leve queimar em suas bochechas. Era melhor mudar o assunto, Stefan era o principal nome de sua lista de '' não quero que saiba de meus problemas''.

– Só feliz que você ligou mesmo. – Desconversou, ficando sério em seguida. – Já faz um tempo que você não liga, acho que quase duas semanas.

Stefan suspirou pesadamente.

– O estágio tá me matando. Você não tem ideia de como é cansativo, das coisas horríveis que a gente vê diariamente, o que tem que lidar. Choro, morte, vida, gente desesperada. Não é fácil.

– Mas você disse que pelo menos nessas férias eles vão te liberar. Isso é bom, não é?

Silêncio. Stefan, mesmo na linha, não respondeu a tão simples pergunta do irmão; Não demorou muitos segundos até que Damon se preocupasse, afinal conseguia ouvir a respiração dele do outro lado um tanto quanto nervosa, mas tinha medo de perguntar o que era. Estava tão longe, sem poder fazer nada que o sentimento de impotência que sentiria caso algo acontecesse seria letal para sua alma.

– O que foi Stefan? – Não conseguiu conter o medo na fala.

– Damon, dentro de alguns dias... – Começou hesitante. – Acho que amanhã na verdade, você vai receber um envelope. Pelo correio.

Damon coçou a testa, sem saber o que poder falar.

– Mas como assim um envelope? É algum documento seu? Você tá com algum problema por ai?

– Não. Não, tá tudo bem por aqui. – Negou rapidamente. Tinha uma boa notícia para dar e tudo que estava fazendo era preocupar seu irmão, mas a verdade era que estava tão nervoso que a fala travava em sua garganta. – São passagens de avião. – Achou melhor ser direto. – As férias de verão estão chegando, é em algumas semanas e... Eu to com dinheiro agora. – Aos poucos sentia-se lacrimejar. – Quero que você venha até Nova York, passe algumas semanas aqui comigo. O que acha?

Cinco anos. Cinco longos e torturantes anos sem se vêem pessoalmente, sem poder dar um abraço sequer. Cinco pesados anos que Damon sentiu-os desmoronando finalmente em cima de suas costas. Agora sim a felicidade veio, e veio com uma força demolidora, incapacitando a entrada de qualquer tristeza pelos próximos... Não sabia, mas muito tempo.

As lágrimas de Stefan se intensificaram ao ouvir as dele.

– Tá falando sério? – Gritou, sorrindo.

– Mas é claro. Acha que eu brincaria com algo assim? A passagem é pra daqui há nove dias, tenta organizar as coisas aí. Resolver o que tiver que resolver e me manda uma resposta. O que acha?

– Acho que você tá louco! – Exclamou sem acreditar no que escutava, Stefan preocupou-se por alguns segundos mas o bom humor e a emoção de Damon, não deixou a inquietude vingar. – Mesmo que eu tivesse no pior momento da minha vida, eu iria sem piscar. Não tem nada que resolver, não tem nada que organizar ou responder depois. – Dizia afoito. – Eu aceito, eu vou. Eu vou te ver, eu vou.

– Não acredito. – A voz de Stefan falhou. Seu riso crescia mais e mais. – Agora eu que pergunto se você tá falando sério.

– Eu também não brincaria com alguma coisa assim. Nunca nessa vida. Eu quero demais te ver.

Mesmo sem conseguir ver um ao outro, conseguiriam descrever na absoluta perfeição a alegria no rosto de cada um.

– Você vai adorar tudo aqui. Vai vê, não vejo a hora de te mostrar tudo.

Damon respirou fundo, enxugando o choro em seguida.

– Então prepara a sua casa o quanto antes, que pode ter certeza que eu vou.

–--x---

– EU NÃO VOU! – Elena gritou, batendo o pé com força no chão.

Isobel suspirou pesadamente.

– Então fala isso você pro seu pai. Porque eu to cansada de ser a sua garota de recados e só receber os gritos e as reclamações dele sobre você.

– Isso não é problema meu. Não fui eu quem casei com ele. – Deu os ombros, irredutível. Nada no mundo me faz mudar de ideia. Pensou ela.

– Elena, ele deixou bem claro. Se você não ir, ele te busca a força.

– E os outros filhos dele? Parece que você precisa lembrar que tem mais dois caixas pra encher, sabia? Não só uma.

Isobel tentava ao máximo não se aborrecer, já tinha dito as mesmas palavras para Elena repetitivamente mas era preciso falar mais até que ela aceitasse. O que duvidava se sua teimosia permitira.

– O que acontece é que quando ele vem, seus irmãos dão atenção. Quando ele liga, seus irmãos respondem, conversam e tudo isso. Ao contrário de você que nunca liga, que nunca fala com ele. Por isso de todos, seu pai quer que só você vá nessa viagem. Entendeu agora? Ou vou ter que repetir pela milésima vez.

– Não precisa repetir. Só precisa ligar pra ele e dizer que EU NÃO VOU. – Não queria se acalmar, se aquele era o modo de deixar bem claro que não iria, seria capaz de acabar com sua garganta se fosse preciso.

Nunca imaginou que chegaria ao ponto de não querer, de maneira tão raivosa, voltar para Nova York por algumas semanas durante as férias. Por sorte sua mãe convenceu-se com a desculpa de que não iria se fosse para ficar com John, mas não havia outro jeito. Além de realmente não querer estar com ele, não queria deixá-lo. Era horrível admitir, mas não conseguiria ir embora Mystic Falls nunca mais caso ele também continuasse lá, mesmo se não estivessem mais juntos e mesmo que sentisse para sempre a falta de sua terra natal. E sentia, sentia com todo coração. Só que a falta de Damon seria maior do que a de qualquer cidade ou vida antiga.

– Elena, por favor. – A mãe acalmou-se, olhando piedosamente. – Vão ser só algumas semanas.

Mas ela não se comoveu, nem ao menos diminuiu o volume

– Algumas semanas com ele. Algumas semanas com as novas filhas dele. Algumas semanas com aquela mulher horrorosa dele; Eu os detesto, mãe. A senhora sabe disso e vai me desculpar, mas vai ter que ouvir as reclamações dele sim. Porque eu não vou, já disse.

Isobel levantou-se bruscamente de sua poltrona, agarrando a menina pelo braço.

– Você quer acabar com a minha vida garota? – Ela gritou e a filha gemeu em dor.

– Vocês pelo jeito que querem acabar com a minha. Me solta, anda. – Rebateu no mesmo tom.

– Elena, se esse homem vir aqui e te buscar pelos cabelos pra te fazer ir com ele, eu não vou impedir. Já to cansada de ouvir bronca por causa de você.

Em tom irônico, Elena soltou seu cotovelo, e bateu palmas.

– Nossa. Que mãe, a mãe do ano. Parabéns. – Disse em sarcasmo. – A leoa sempre defendendo a sua cria, to impressionada. – Houve uma curta pausa, mas o suficiente para os olhos da filha encherem-se por pequenas lágrimas, que não teve coragem de soltar. Agora já séria, olhou profundamente para a decepção de Isobel. – E aonde tava essa mãe tão defensora quando eu precisei? Há anos atrás?

Antes que Isobel pudesse rebater e resolver a dúvida que se formou em sua mente, a chave da porta foi girada e Damon rapidamente adentrou a sala. Constrangidas, ambas automaticamente recompuseram-se e se afastaram uma da outra. Ele mirou o chão e se pôs no meio do cômodo, ainda um tanto quanto envergonhado, igual a elas.

– O que tá acontecendo? – Damon perguntou dócil, após um longo silêncio. – Dava pra ouvir vocês lá da esquina... Tinha até vizinho já falando.

Isobel suspirou derrotada.

– Ai, que vergonha.

– Tudo bem, não se preocupa com isso. – Ele tocou em seus ombros, a confortando. Elena sentou-se no sofá direcionando-se para um ponto qualquer da sala, não suportaria nem ao menos vê-la, já que sabia que aquele assunto não morrera ali. – Gente, eu entendo que as duas tenham os problemas de vocês mas... Eu também moro aqui. O que tá acontecendo?

Demorou um pouco até que uma delas tivesse coragem de dizer, Isobel preferiu falar. Afinal era a mãe, a responsável por ela, gostando Elena ou não.

– O pai quer que ela vá, sem os irmãos, pra Nova York passar um tempo lá nessas férias; E... É basicamente isso.

Mentalmente, o corpo de Damon estremeceu pela tamanha coincidência, mas não podia se abater. Isobel estava bem ao seu lado.

– Bom se o problema for quem vá levá-la sobre isso não tem que se preocupar. Eu posso ir com ela. – Sugeriu ingenuamente, ponderando que aquele provavelmente seria o motivo para a discussão. Afinal, nunca poderia imaginar que Elena não quisesse ir pra Nova York.

As sobrancelhas de ambas franziram. Elena levantou-se rapidamente.

– Como assim você me leva? – Inquiriu sem compreender.

Damon deu os ombros.

– Eu vou, nessas férias. Visitar meu irmão lá, ficar algumas semanas com ele... Então não sei, se quiser pode ir comigo.

Elena elevou a mão a boca, sem acreditar no que ouvia. Pediria para que ele repetisse se não fosse a presença da mãe.

– Bom, meus parabéns. – Desejou Isobel, sem perceber a reação da filha. – E quando você vai?

– Daqui há um pouco mais de uma semana. Vou ficar 15 dias lá. E você, Elena quando vai?

Isobel bufou baixo.

– Era isso que estávamos discutindo. Bom, primeiro eu tenho que resolver as coisas com a mocinha e te respondo mais tarde sobre seu convite, caso o que a gente decida. – A vontade de Elena era literalmente interver e gritar que mudava de ideia e iria, mas poderia ser arriscado demais.

Manteria-se irredutível por mais algumas horas até fingir-se dar por vencida. Seria capaz de aguentar seu pai por infinitas horas ao longo de sua estádia só por um instante que tivesse com ele, aonde o plano de fundo fosse o lugar mais amava no planeta.

Faria valer a pena pois iria, sob qualquer circunstância, para a big apple com Damon Salvatore, o homem de sua vida.


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Notas finais do capítulo

Mereço cometários? Recomendações?