Matemática Do Amor escrita por Lady Salvatore


Capítulo 51
- Pratos Limpos.


Notas iniciais do capítulo

Mais uma semana girls... dedico esse capítulo a minha xará yasmin e a mariana alves, adorei as recomendações de vocês e adorei ainda mais porque tbm foi a primeira que fizeram. Mto contente.
Bom capítulo.



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O despertar veio até a consciência de Damon tirando-o do breu que se encontrava. Arrastou a mão direita ao redor de onde estava sentindo a textura gélida de um lençol embaixo de seu corpo. Mesmo assim não abriu os olhos, tinha medo de ver aonde estava.

O sol provavelmente vindo da fresta de alguma janela era incômodo, ainda mais em junção com as pontadas em sua cabeça pela consequência do espetáculo da noite anterior, que nem ao menos as incontáveis garrafas de Uísque o faziam esquecer. O que era irônico levando em consideração o fato de que não tinha ideia de onde estava.

Com a curiosidade desse pensamento, abriu os olhos se surpreendendo-se ainda mais por não reconhecer o local. Estava realmente em uma cama; Era grande e ideal para um casal, o resto do quarto era simples. Um guarda-roupa marrom, uma mesa de computador e uma estante já com alguns livros em cima. Havia muitas caixas de papelão pelo solo, etiquetadas, indicando que quem quer que fosse o dono do local, era um morador recém chegado de uma mudança.

Amaldiçoou-se pelas sequências de fortes pontadas que ganhavam cada vez mais força, havia tanto tempo que não acordava de ressaca que sentia como se ontem fosse seu primeiro porre. Tomou coragem o bastante para levantar-se da cama, apesar da leve tontura que já ia se instalando. Estava com a mesma roupa de ontem, só que sem os sapatos e sem sua jaqueta. Avistou as duas peças ainda no quarto e as vestiu lentamente, soltando pequenos gemidos de dor ao se movimentar.

Era possível, mesmo para um ouvido que martelava pela dor, escutar um nítido barulho vindo de alguns cômodos mais ao longe. Não quis ir de imediato, temendo encontrar seu salvador , que provavelmente para chegar ao ponto de levá-lo até sua própria casa, deveria ser um amigo.

E a última coisa que desejava era ter que decepcionar alguém. Fora equivocado, ontem tinha a total certeza de que não se arrependeria de nada no dia anterior e agora provava o gosto amargo de suas atitudes, sentia-se um lixo. Tinha obtido a gota d'água necessária para ter mais certeza de que não valia nada, a ideia de acabar ou esquecer a dor causada por Elena e suas mentiras tornou-se mais inútil, porque ela ainda estava lá. E que para completar, vinha com a dor física e a queda ainda maior de qualquer auto-estima.

Não que tivesse alguma antes. Não merecia uma auto-estima, era podre demais para algo de tal nome e significado.

Uma das portas do quarto levava para um pequeno banheiro semi-decorado e sem muitos detalhes. Lavou o rosto e novamente surpreendeu-se por encontrar uma escova de dentes na pia, ainda em sua embalagem. Como se a pessoa tivesse a posto ali, exclusivamente para que a usasse. Ou era isso ou continuava com a horrível mistura entre hálito matinal e álcool. Preferiu a primeira hipótese.

Escovou-os, lavando o rosto por mais de três vezes na tentativa de levar toda aquela culpa e angústia embora. Talvez levar também aquela vontade incessante por mais. Por uma repetição de ontem a noite. Precisava e sentia cada célula de sua anatomia gritando por uma dose que fosse. Já tinha caído outra vez e sabia o quanto poderia ser impossível parar. Nenhuma certeza do quanto aquilo era errado conseguia ser capaz de superar tamanho desejo.

Estava vivo. E estava também pronto para mais uma morte.

Transbordando por tal ânsia, voltou em direção ao quarto em rumo a outra porta, que dessa vez iria para o corredor. Mesmo não sabendo aonde estava, ainda sim era Mystic Falls e poderia conseguiria ir a pé sem que se cansasse ou demorasse muito, já que seu carro provavelmente estaria no Grill talvez. Meu deus, meu carro. Pensou em desespero. Tateou o bolso procurando suas chaves, inutilmente. Lembrando-se em seguida que sem dinheiro não havia bebida. E estava sem a carteira também.

Rapidamente e sem muita delicadeza, correu até uma das mesas do quarto procurando dentro das poucas gavetas do local. Nenhum nem outro. De longe, conseguia claramente enxergar que não havia nada além de alguns livros na instante grudada à parede, mas o descontrole era tamanho que foi mesmo assim, tão veloz quanto antes.

Parou a caça por alguns segundos para identificar os curiosos livros em cima do móvel. Fechou os olhos socando a madeira da estante com força, em um misto de vergonha e raiva. A riqueza das nações e Atlas shrugged eram um dos exemplares espalhados ali em cima. Ninguém além de uma pessoa em toda aquela cidade possuiria tamanhas obras, tão peculiares, em sua biblioteca particular.

Merda. Pensou em frustração, se havia alguém na qual menos queria enfrentar naquele momento era justamente quem o esperava. Não quis prolongar o ato a ponto de demorar demais para acabar com aquela tortura, pensou seriamente em pular pela janela mais próxima tudo para que não fosse obrigado a enfrentar tamanha situação tão humilhante.

Mas não fez, seria descer baixo demais até mesmo para ele próprio.

A voz de algum apresentador matutino era ouvida com facilidade por ele enquanto atravessava o corredor. Ao completar o trajeto, encontrou-se com uma casa comum, sem muito luxo e ainda repleta por caixas de mudança. A sala era pequena, composta por uma divisória entre ela e a cozinha, posta por um balcão de azulejo e tudo muito simples. O sofá revirado evidenciava as provas de que ela havia dormido ali.

Rose remexia algo no fogão, sem perceber a presença dele atrás de si. Damon relembrou-se do dia em que ela regressou e de toda sua reação agitada e em choque, que foi capaz de paralisar seu corpo inteiro. E agora, em comparação, tudo que sentia era vergonha por mais uma vez ela ter que arrastá-lo de um bar.

Pigarreou alto o bastante para tirá-la da distrações da panela. Rose parou automaticamente de remexer o macarrão, mas ainda sim não virou-se de imediato. Sentiu-se uma imbecil por ter acreditado nas promessas dele de que nunca mais a faria passar pela humilhação de encontrá-lo bêbado e de fazer sua babá.

Inebriando sua decepção voltou-se finalmente para Damon exibindo seus sentimentos em uma única expressão, que foi capaz de quebrá-lo por dentro.

Silêncio. Aonde nessa ausência de som, ela expunha, em seu olhar, todo aquele desapontamento e ele, as suas desculpas e desonra.

– Suas chaves e sua carteira estão no balcão. – Disse seca apontando para os objetos. – Tem um vidrinho de aspirina ali do lado, caso queira também.

Não era a primeira vez que ouvia falando daquela maneira tão magoada e ao mesmo tempo tão desprovida de sentimentos, na verdade foram muitas as vezes. Fez o que fazia em todas as vezes, como no passado, voltou os olhos para o chão sem a coragem de olhá-la.

– Obrigado. – Sussurrou quase mudo, ainda envergonhado. – E... Eu queria muito me desculpar pelo transtor...

– Não peça. – O interrompeu, num grito de raiva. – Na verdade, nem ouse. Porque eu não aguento mais as mesmas desculpas. De você, do meu pai que é um alcoólico igualzinho, ou até pior. E sem falar da minha mãe que é uma vagabunda que já foi pra cama com metade dos homens dessa cidade. Eu não preciso mais disso. Chega, já deu pra mim. – Estava farta de canalizar os problemas das pessoas que amava e tornarem seus próprios.

Para Damon, não havia como contestar. Ele mesmo estava cansado de causar dores de cabeça para todos a sua volta, e sabia que Rose era a quem mais sofreu com isso.

– Como me encontrou? – Parecia que a vergonha não passava. Ainda mirava os pés.

Ela demorou para responder, revirou timidamente os olhos.

– Acreditou ou não. – Começou irônica. – Do mesmo jeito que eu encontrei o meu pai, há dez dias. Fui no Grill encomendar um almoço e... A porcaria de um garçom, me olhando com aquele olhar de pena. – Seu tom assumiu raiva. – Disse '' Rose, pode dar uma olhada no banheiro masculino? É um urgente''. Estranhando eu fui e a imagem que eu encontro é a mesma desde que eu tinha 10 anos, não sei como ainda me surpreendo. Um homem, desmaiado de bêbado com um monte de garrafas em volta. – Terminou a fala com um leve desconforto na garganta pelo desgaste de sua voz, mas ainda sim valeu a pena. Precisava botar isso para fora há muito tempo.

Não aguentando mais o encarar, enquanto Damon nem ao menos se mexia. Encerrou sua explosão voltando a se concentrar no preparo da comida, descontando toda sua ira nas panelas. Onde nem mesmo um desabafo como aquele fosse capaz de diminuí-la.

Novamente sem que ela o visse, Damon aproximou-se sorrateiramente com o intacto pensamento de realmente não valia nada, ainda mais forte do que antes. Percebendo a presença dele ao seu lado, seu corpo estremeceu. Agora era Rose quem não conseguia olhar, enquanto Damon tinha os olhos voltados exclusivamente para ela.

Sem esperar pela coragem de Rose, apanhou seu rosto com as duas mãos. Ela hesitou em seguir o toque daquelas mãos que tanto conhecia, desviou-se para as panelas o máximo pôde ser capaz de conseguir. Até ter finalmente toda sua vista direcionada para o profundo azul de Damon.

– Não. – Gemeu relutante, logo quando encontrou aquele olhar.

– Me escuta. – Ele pediu em desespero, ainda com as mãos em volta de seu rosto. Ela o segurou, delicadamente pelo pulso. Ainda implorando, reiniciou a fala ao ver que Rose estava atenta. – Eu disse a verdade quando te falei que não tava bebendo mais.

Ela bufou alto, já prevendo seu discurso.

– Já sei, vai me dizer que foi um momento de fraqueza. Eu não acredito mais nisso, Damon.

– Pois acredite. – Ele rebateu, alto e firme. – Eu tô sendo honesto quando digo que foi e vou ser mais honesto ainda pra falar que minhas desculpas são sinceras a ponto de não mentir de novo pra você. – Rose ia argumentar, mas ele a impediu. – Não precisa mais ir atrás de mim e nem ter a solidariedade de me ajudar porque vai ser perda de tempo. – Dessa vez não mentiria em dizer que aquilo não voltaria a se repetir. – Eu cai de novo, Rose. E é bem provável que eu não vá conseguir parar.

Negando-se em acreditar no que ouvia, Rose tentou articular as melhores palavras para dizer. Fechou e abriu os lábios várias vezes.

– Mas como assim? – Mostrou-se indignada.

– Como assim que tá na hora dos meus problemas serem só meus. Não seus, não do Ric e nem de ninguém.

Ela bateu os pés, ainda sem compreender.

– E vai desistir? Uma coisa é você querer que eu não te ajude, mas outra totalmente diferente é você parar de se ajudar. – Retirou as mãos dele de seu rosto, demonstrando sua discordância por aquela decisão. – Isso é justificativa pra ser fraco.

– E quando foi que eu disse que era forte? – Respondeu gritando. Silêncio, acompanhado de uma curta pausa. Rose ainda continuava agitada recusando qualquer explicação que ele pudesse oferecer. Já Damon, aos poucos acalmava-se, apesar de parecer mais decidido do que nunca. – É a decisão errada, mas é a minha e eu espero que você respeite.

Respeitar uma decisão de morte... Nunca. Pensou ela, mas nada disse.

Não quis ficar para ouvir mais sermões, apanhou a chave e carteira junto ao frasco de aspira, indicando que iria embora. Rose, duramente fria, voltou a se concentrar em suas panelas tentando disfarças algumas lágrimas.

Ela não se moveu, deixando claro que nem abriria ao menos a porta a ele.

– Fica bem. – Ele sussurrou, indo em direção ao corredor

Logo em seguida, ele saiu. Aonde de imediato o medo de aquela ser a última vez que via Damon com vida atingiu Rose.

–-x--

Como ela havia dito, o carro estava estacionado logo em frente ao prédio. Aquela havia sido uma conversa dura de dizer e provavelmente viria a ser pior quando dissesse a Alaric.

Ele não desistiria tão fácil.

Tinha consciência de que estava se entregando a morte, tinha peito para admitir e saber o suficiente que cairia ainda mais no futuro. Mas do que adiantaria tentar? Sempre, haveria um momento não importa quantos anos se passem, que voltaria a se entregar ainda mais intensamente.

Se fosse para morrer, que morresse logo.

Ligou o alarme do automóvel, pronto para entrar e voltar para o lugar de onde Rose o retirou.

Sendo interrompido em seguida pelo celular.

Mensagem de Texto - E. Avisava o visor.

Cansado e sem a mínima paciência para mais brigas, o primeiro pensamento fora jogar o aparelho o mais longe possível. O que ela quer? Pensou ele pronto para deixar-se invadir por alguma raiva. Mas não. Era impossível ter raiva de quem se ama.

Ficamos chateados, decepcionados, magoados. Mas nunca com raiva. Raiva ficamos de nós mesmos, mas nunca deles.

Apesar de hesitante em ler o que ela queria, cedeu ao sentimento. Como na bebida, o desejo sempre vencia.

Estou no campo de futebol. É fim de semana e não tem ninguém na escola. Preciso te entregar uma coisa, venha.

Caso não queira que eu vá atrás de você, por favor, venha.

Agora.

Rolou os olhos pela mensagem por mais duas vezes. A petulância dela era realmente algo para ser estudada. Só que novamente, não adiantava lutar contra o desejo; Em poucos segundos se viu partindo em direção ao colégio, repleto pelos pensamentos confusos e suposições do porquê daquilo tudo.

Com Elena era assim, sempre que achava que haviam posto um ponto final, um ou outro vinha com uma vírgula. Ficando naquele jogo interminável, onde ele não sabia mais o que ela realmente sentia.

Pela velocidade na qual jogou o pé no acelerador, em pouco tempo já se viu em frente ao local combinado. O estacionamento do campo estava deserto e o clima mais amênico e ensolarado, embora não o suficiente para ser chamado de calor. A dúvida do que ela estava armando dessa vez intensificou-se quando se viu prestes a atravessar o portão de ferro e entrar no campo. Elena provavelmente estaria em uma das arquibancadas.

Tinha medo. Estavam os dois sozinhos outra vez e era impossível não ponderar se aquela vontade regressaria ao seu sangue. Mas tinha que ter dignidade dessa vez e a própria Elena, com seu ego enorme, também.

Ela estava em um dos últimos lugares, no topo da arquibancada em uma das laterais. Por ser a única ali, não fora nenhum pouco difícil avistá-la. Embora Elena, concentrada em alguma coisa em suas mãos, não percebeu que ele estava no campo.

Sem esperar direcionou-se as escadas subindo degrau por degrau. O barulho dos sapatos contra o metal logo atentaram os ouvidos dela, que rapidamente olhou para todos os lados em busca do dono daqueles passos. Também não foi difícil vê-lo.

Com os olhares já postos um no outro, ambos manterão a postura séria e sem deixar-se abalar, bem diferente de suas condições por dentro.

Quando Damon finalmente sentou-se ao seu lado o silêncio prevaleceu. Elena sentia-se confusa, ao mesmo tempo que queria acabar logo com aquela cama de gato também queria demorar em falar. Tudo para que ficasse o mais tempo possível perto dele.

Não se olhavam, direcionavam-se os dois para o horizonte a frente.

– Você sabe porque eu sofri aquele acidente de carro? – Ela perguntou, de maneira serena. Controlando o nervosismo. Ele já imaginava que teriam uma conversa. – Eu achava que seria só mais uma... Reunião de garotas e fui. Precisava, tava triste pelo que tinha acontecido entre a gente. Só que pro meu engano, aquela noite não era uma noite qualquer. – Houve uma curta pausa, aonde Elena tentava-se ao máximo lembrar-se de pequenos detalhes, afinal com o susto que havia tomado muitas coisas tinha esquecido. – Era pretexto. Um pretexto pra me dizer que... Eles tinham contado tudo pra você

Então por isso ela saiu de lá tão nervosa. Pensou Damon, que apesar de não falar, estava mais atento do que nunca.

– Lá, depois de uma tentativa ridícula de me deixar contente pra que eu ficasse mais calma quando soubesse. – Olhou para ele. Damon apesar de sentir seu olhar, continuou parado. – Bonnie me disse que ela o Matt e o Tyler foram até sua sala e... Contaram que te disseram que tínhamos um plano, onde cada um tinha a sua parte e que o objetivo era te tirar da minha casa ou fazer você se reconciliar com a sua família, descobrir porque você foi expulso e tudo isso. – Aos poucos a memória daquela dor também voltava a Damon. – Também, bem provável que tenham dito que resolveram cancelar o plano depois de saberem sobre o Stefan e que eu... Não gostei, mas depois concordei e em seguida disse que queria te destruir mas que tinha desistido de tudo. – A ideia de que era impossível se enojar mais por tamanha história caiu por terra para Elena. Se culparia até o último dia de sua vida. – Foi isso que você ouviu naquele dia? – Perguntou já sabendo a resposta.

Ele assentiu positivamente e Elena voltou a se direcionar para o horizonte.

– Tudo isso é verdade Damon. Pelo menos uma boa metade. – Disse surpreendendo-o ao rapaz que a encarou um tanto com perplexidade. Esperava que ela negasse tudo piamente que viesse com desculpas e mais desculpas, deduziu que voltaria atrás em suas palavras, mas não o fez. – Eu tava desesperada pra te tirar de lá. – Dessa vez falava mais agitada, aumentando a respiração. – Foi então que eles me contaram que você tinha sido expulso por um motivo que a gente não sabia qual e o plano era esse: Descobrir o que tinha sido, fazer você se reconciliar com seus pais e te tirar de lá... Só que, você me deixava louca, eu não suportava o jeito como você falava comigo e então eu... – Pausa. Precisava acalmar-se ou então morreria de enfarto antes de lhe dizer tudo. – Eu escondi deles, porque sabia que a intensão que eles tinham não era te fazer mal. Fingi que seguiria o plano, quando na verdade, eu não queria apenas te tirar da minha casa. – Queria me fazer beber de novo. Pensou ele, comparando que não fora preciso que Elena planejasse para que caísse. – Depois eu fiquei sabendo dos seus problemas com o álcool e vi nisso a oportunidade perfeita. – Era diferente ouvir dela. Da boca dela. Elena parecia colocar tanto arrependimento, tantos sentimentos de culpa e de asco. Enquanto agora, lembrando-se de quando soube pelos outros três ficava claro tamanho paralelo. Nunca podia comparar Elena aquele teatro mal feito. Sem que percebesse, afinal não se olhavam, algumas lágrimas já atravessavam o rosto dela. – Eu quero que você saiba que eu vou me arrepender todo dia disso. – Confessou, fraca. – O que eu não me arrependo foi de ter cumprido a minha parte no plano e ter ficado sua amiga. – Sorriu. – Foi a melhor coisa que eu podia fazer. Porque foi ai que eu te conheci e foi aí que eu quis desistir de te fazer mal e foi ai que eu me apaixonei e me esqueci completamente de qualquer plano. – Por mais masoquista que fosse, Damon também agradecia aquela parte. Ela voltou a ficar séria.– Claro que depois que eu me apaixonei, chegou a Jenna mostrando interesse. Eu voltei com o Tyler tentando te esquecer, e apesar de deixar de lado a ideia de te fazer beber, eu achei melhor que você saísse da minha casa. Seria impossível pra mim dividir o teto com alguém que eu amava e que nem sabia o que eu sentia.

Damon compreendeu. Era engraçado, pois havia feito a mesma coisa em ir para a casa de Alaric a alguns meses. Torcia para que não precisassem inverter mais nenhum papel, já tinha sido dolorido demais.

Pensou em dizer algo, mas ainda não era hora. Elena não parecia se incomodar com o silêncio dele.

– Depois, aconteceu... Eu e você. – Interrompeu a si mesma, havia se esquecido de um detalhe. – E eu tinha dito pra eles pra desistirmos desse plano, que tudo voltasse a ser como era antes e que o destino se encarregar das coisas. – Ficou nervosa, eles não haviam contado sobre isso para ele. – Só que antes disso, eu tive medo. Por conta do plano B. – Plano b? Pensou Damon, mas ela adiantou-se em responder. Falava pausadamente, temendo pela reação dele – Tínhamos planejado que se... Não desse certo te reconciliar com seus pai... Tentaríamos trazer a Rose de volta.

Preferiu continuar com os olhos a frente, não queria ver a reação dele a julgando por ter descido tão baixo.

Mas ao contrário de sua imaginação, Damon não estava não surpreso. Na verdade, agora que juntava todos os pontos tudo fazia mais sentido.

– Eu tentei impedir, porque já estávamos juntos e eu não queria isso. Mas eles não me ouviram. – Deu um leve tapa em sua perna esquerda, descontando um pouco de seu desgosto. – Foram eles que mandaram aquela carta. – Completou timidamente. Outra vez, Damon não se sobressaltou. Já era de imaginar. – Não contaram isso pra você porque ficaram com medo. Bando de covardes. Ao invés disso preferiram inventar que eu tinha contado toda a verdade pra você, te manipulando a acreditar que eu iria te denunciar. Que estava contigo só por isso... São uns covardes.

Concordava. Concordava com cada palavra. Não tinha garantia nenhuma se Elena estaria ou não lhe dizendo a verdade ou se maquiou algo ali ou algo lá. Era simplesmente uma intuição interna que obrigava cada parte sua a crer de maneira irrefutável em cada minuscula letra saída daquela boca.

Tinha medo que fosse mais uma ilusão do amor que induzia sua mente a ficar cega por Elena. Não seria estranho se fosse isso e se tivesse sendo mais uma vez enganado por ela.

Elena, prevendo esse tipo de dúvida e dando razão a Damon, veio preparada. Em silêncio, retirou o pequeno caderno de sua bolsa, sentindo-se prestes a entregar, toda sua vida, literalmente para alguém.

Mas valeria a pena, por ele sim.

– Aqui. – Esticou o livro na direção dele, que a olhou. Sem entender, uma pequena ruga se formou na testa de Damon. – É o meu diário. Todos os acontecimentos estão escritos ai, com data e tudo. É só confirmar.

Agora sim, foi o momento de surpreender-se sem conseguir ao menos disfarçar. Por mais que acreditasse nela, precisava da prova real e aceitar esse diário seria um recado de que não confiava totalmente no que Elena dizia, mas o receio era mais forte. Não podia dormir essa noite com mais dúvidas na cabeça. Pegou o caderno e o deixou em cima de suas pernas

Havia chegado a hora de falar.

– Porque tá fazendo tudo isso?

Elena entristeceu-se ao lembrar a razão.

– Na festa, quando você disse que eu era incapaz de dizer alguma coisa, qualquer coisa, sem que mentisse... Lembra? – Ele assentiu, também em tristeza. – Aquilo doeu, Damon. – Choramingou exibindo seu padecimento, fazendo a culpa vir até ele. – Nesse mundo em que eu vivo, ou que eu vivia sei lá, a gente escuta muita crítica, muita. Já fui chamada de vazia, de superficial, de tudo quanto é nome. Mas ontem, doeu demais. Foi pior do que qualquer xingamento.

E o pior era ter que saber que era verdade. Pensou ela.

– Eu sou um idiota. Me desculpa, me desculpa.

Ela riu irônica.

– Não se pede desculpas depois de falar a verdade, Damon.

Damon queria acabar com aquele assunto. Se arrependia do que tinha dito e agora, se arrependia do que havia feito depois. Ainda mais.

– Tem mais alguma coisa? – Inquiriu, educadamente.

Antes que Elena pudesse acusá-lo de estar desviando o assunto, lembrou-se de que sim. Havia. Não queria dizer agora, queria ir com calma. Mas Damon leria o seu diário e logo logo saberia todo relatório por completo, e mesmo que não tivesse o entregado nada, entre a opção de mentir e a opção de falar a verdade. Preferiu a segunda, já estava farta de mentiras entre os dois.

Esperou um pouco antes de reiniciar a fala.

– Eu tava acordada naquele dia quando você foi pro hospital. – Disse o pegando de supetão.

– Você me ouviu? – Esforçou-se para não gritar. Não de ódio nem nada disso, e sim por choque.

Elena segurou suas lágrimas, para ela aquele era de longe a pior parte.

– Infelizmente não só eu. – Disse, o deixando confuso.

Apesar do nó que se formou em sua mente, Damon rapidamente conseguiu desvendar o que ela queria dizer com aquilo. Elevou as mãos ao rosto, jogando todo seu peso nelas enquanto por dentro gritava em desespero pelo que viria acontecer.

– Quem mais ouviu Elena? – Inquiriu, exigente.

Sem que nem a própria ao menos percebesse, uma lágrima solitária saltou de seus olhos.

– Mason.

– O QUE? – Dessa vez ele gritou. Não só isso, como levantou-se do acento sentindo todo seu mundo cair. – Elena como você não me conta uma coisa dessas?

– Ele me chantageou. – Explodiu em fúria. – Disse que ia contar tudo se eu não fizesse o que ele queria.

Isso não pode tá acontecendo. Pensava Damon, batendo um dos pés contra o chão.

– E o que ele queria?

– O que você acha? – Perguntou obvia, respirando de maneira sôfrega. –Queria que eu te humilhasse. Me deu a porcaria de um gravador e me obrigou a registar tudo. Aquele dia no Grill, que eu beijei o Tyler. Você tava muito desconfiado, foi a primeira coisa que me passou pela cabeça.

– E ele ainda tá com essa gravação? – Elena não respondeu. Diante do silêncio dela, deduziu a resposta. – MERDA. – Gritou em direção ao vento, raivoso por não ter nada para que socasse. Não era bebida nenhuma que marcaria o fim de sua vida, era Mason.

Elena encarava seus pés, apesar de já esperar por tamanha reação era tudo mais difícil na realidade.

– Já tem mais de dois meses que ele tá com essa fita, Damon. Se não fez nada antes não vai fazer depois. – Tentou, inutilmente, acalmá-lo.

– Elena parece que você não entende. Ele só tá esperando o momento certo pra usar isso contra mim. Demorou três anos pra ele me pedir o apartamento de volta depois que descobriu sobre mim e a Rose. Três anos, e ele esperou pra fazer no pior momento da minha vida. Ele tá fazendo a mesma coisa agora. Só que isso é ainda pior.

Tentaria outra vez.

– Damon se for assim, ele vai esperar mais tempo... Mais três anos, eu já vou tá mais do que de maior de idade. E é bem capaz de qualquer crime já ter sido prescrito, se é que tem algum crime aqui. – Damon ia argumentar, mas ela o impediu. – E outra... Quanto tempo mais você pretende ficar nessa cidade?

– Eu tenho que recuperar essa fita. – Pensou em alto enquanto andava de um lado para o outro, ignorando as palavras de consolo dela.

Elena o encarou, piedosa.

– Damon não tem como. É impossível, a gente nem sabe aonde isso tá ou se ele já fez alguma cópia. – Não, conhecia Mason o bastante para saber que ele era descuidado e burro.

Negando-se a crer no que Elena falava, direcionou-se rapidamente até ela, seguindo mais uma vez outro impulso. Mas estava desesperado. Apanhou o diário em uma mão e o braço dela, com força, na outra.

– Espera. O que tá fazendo? – Elena se remexeu, tentando fazê-lo largá-la.

– Vem comigo. – Pediu, soando mais como uma ordem.

Em meio a tentativas em vãos de que ele parasse, acabou sedendo ao toque. Confiava em Damon, mas o temia quando estava de cabeça quente.

– Pra onde vamos? – Perguntou, enquanto ele a puxava.

– Não pergunta.

–--x---

Rose não acreditava no que estava prestes a fazer. Há poucas horas Damon havia praticamente a expulsado de sua vida e agora, batia em sua porta com Elena agarrada pelo cotovelo perguntando se podiam conversar.

Sua primeira reação foi típica, tentou expulsá-lo e dizer que não queria fazer parte de sua morte. Percebeu que Elena estranhou o que disse, então deduziu que ela não soubesse de sua decisão e não falou mais no assunto. Era ele quem devia contar. Mas era uma fraca e foi apenas Damon lhe lançar um de seus olhares piedosos de cachorrinho que caiu da mudança que cedeu e ele adentrou. Quis bancar a dura, só que como sempre despencou ao ouvi-lo falar sobre o que tinha acontecido.

Mesmo que Damon não quisesse que o salvasse da bebida, ainda sim implorava para que o salvasse de suas outras confusões. O que era outra coisa na qual já se acostumava. Elena ficou incômoda com aquilo, com a maneira na qual ele sempre recorria à Rose para tudo.

Quando ele pediu que fizesse, não teve como se recusar.

Não sentiu medo. Sempre foi valente e nunca temeu a nada que viesse da família Lockwood, por mais que eles tentasse a intimidar. Ao contrário de Damon nunca nem, se quer, abateu-se. Mãe ex prostituta, pai alcoólatra, tudo isso fez com que fosse forte o bastante para que jamais abaixasse a cabeça para ninguém

E não seria para um bando de cães que apenas ladram que faria isso.

Tocou a companhia duas vezes, pelo horário já deviam todos estarem acordados almoçando talvez.

Demorou um pouco até que ouvisse o barulho de chaves sendo rodado pela fechadura.

Do outro lado da porta, a outra mulher levou o queixo ao chão por vê-la ali.

– Você? – Carol, disse, enjoada. – Quem você pensa que é pra vir aqui?

Rose sorriu em escárnio.

– Olha, eu to sem paciência pra esse tipo de clichê. Pode chamar o seu filho pra mim?

– Ele não está. – Exclamou enfurecida.

– Ah não. – Sabia que ela estava mentindo. – Então vamos ver. Mason! Mason! – Aproximou o corpo para mais próximo da soleira, o chamando.

– Cala a boca menina. – Ordenou entredentes, tentando fechar a porta.

Mas Rose a estancou com o corpo.

Pela maneira calma com que ele veio caminhando, não pareceu ter reconhecido de quem era aquela voz, afinal se havia algo que era improvável de imaginar era que um dia bateria na porta dele novamente.

Ao colocar-se do lado da mãe, Mason precisou olhar duas vezes até que seu cérebro acreditasse que a imagem que via era real. Tapou os lábios com a mão direita, escondendo seu sorriso. Mesmo assim, foi impossível camuflar tamanho brilho em seus olhos.

Rose sorriu vitoriosa.

– Meu deus. – Ele gaguejou, atônito. Mas inegavelmente feliz. – O que você tá fazendo aqui?

– Ela já tava de saída. – Interviu a mãe.

– Mentira. – Fez o mesmo. Carol a mirou mortalmente, sabia que em seus pensamentos era provável que agora a amaldiçoava. – Eu vim falar com você, Mase.

Sem acreditar, não hesitou em responder.

– Mas claro. Entra. – Sorriu, dando espaço necessário para que ela adentrasse.

Carol olhou o filho com desgosto.

– Eu não acredito nisso. Você vai mesmo receber essa azinha depois de tudo que ela te fez?

Mas os dois a ignoraram.

– Mason podemos ir pro seu quarto? É obvio que se falarmos aqui não vamos ter privacidade.

– É tão urgente assim? – Ele apanhou sua mão direita.

Era melhor desviar o assunto.

– Prefiro que a gente converse lá.

Ele sorriu cortês.

– Então vamos.

Outra vez não se atentaram aos protestos de Carol, que logo após ver não adiantaria desistiu.

A guiou até as escadas como se fosse uma princesa feita de diamantes. Parecia o mesmo homem de antes, sempre a colocando em primeiro lugar a cima de qualquer coisa. Assim como Damon também fazia. A diferença era que Mason chegava ao tal limite de não deixá-la respirar por tamanha possessão, enquanto Damon apesar das inúmeras brigas também se entendiam como ninguém. Por suas histórias parecidas, por seus problemas familiares, medos, personalidade.

Irônico era ver como os sentimentos de Damon mudaram, como os delas haviam se enchidos de temores pelo futuro e como Mason continuava igual.

Chegaram ao quarto, parecia que a cada segundo a alegria de Mason ultrapassava um novo limite além do possível. Inegavelmente sentia falta de ser amada, mas ainda sim preferia passar o resto da vida sem amor do que voltar atrás em seus erros.

Caso conseguisse não se arrependeria, o que Mason fez também fora tão baixo quanto o que ela e Damon fizeram. A diferença é que tentaram se desculpar por diversas vezes e ele se mantinha fixo em seus planos de pagar o troco certo, como um lunático obsessivo.

– Então... – Ele começou, com um riso um pouco abobalhado. Indicando que ela começasse a falar.

Rose forçou um sorriso.

– Então que eu vim apé, e to com um pouquinho de sede.

– Você quer uma água?

Ela assentiu.

– Só um copo mesmo. Aí a gente conversa depois.

– Tudo bem. Senta, a casa é sua. – Disse em concordância, saindo depois.

Não esperou muito tempo que fosse até correr para aonde lembrava ser o antigo cofre prateado escondido atrás de um horrível quadro de algum time de futebol americano. Tinha total certeza de que estava lá, Mason conseguia ser tão previsível como choro de criança. Até mesmo a senha continuava a mesma, a data do aniversário dela. (40190 - 4 de abril de 1990).

Não tinha muitos pertences, apenas alguns bolos de dinheiro e um ou dois relógios de ouro. Era um típico gravador preto comum como outros, abriu a bolsa pronta para receber o aparelho dentro.

Podia deixar como estava e encerrar logo com aquilo, mas uma pequena curiosidade acabou vencendo. Demoraria para Mason regressar, além da casa ser enorme sabia que ele voltaria não só com sua água, mas com biscoitos, sucos e bolos tudo posto em uma bela bandeja.

Apertou o botão avermelhado, com os dedos um pouco trêmulos.

O que tá acontecendo, Elena? Fala o que tá acontecendo. Dizia Damon em tom exigente.

Não tem nada acontecendo. Que droga. Eu só não quero mais, que saco. Elena respondeu.

– Não acredito. – Mason exclamou em escárnio. Misturando ironia com fúria– O gato sai por um minuto e os ratos começam a brigar. Incrível.

Agora sim assustou-se. Antes que pudesse pensar em alguma explicação, Mason fora mais rápido correndo em sua direção e fincando as unhas em seus cabelos.

Só deu tempo de gritar.

– Para com isso. – Pediu em vão. – Mason, para me solta.

– Mas eu devo ser muito burro mesmo. Quem te mandou aqui? Foi ele? Foi ele não foi? – Sem aviso prévio ele a jogou contra cama, imobilizando-a com todo seu corpo. Apesar do susto inicial, Rose sabia que ele não faria nada mais do que aquilo. – Nem precisa me responder que eu já sei.

Novamente não se deixou temer por ele, gargalhando em seguida as palavras de Mason.

– Acha mesmo que eu viria aqui, atrás de você? Depois de tudo que você me fez?

– Que eu te fiz? Eu te fiz? Eu te tratava como uma rainha sua idiota, e você sabe disso e mesmo assim teve coragem de me trair com outro.

– Com outro? – Fingiu-se por desentendida. – Você quis dizer com outros, certo?

Saturado, retirou as mãos dos braços dela partindo para o pescoço.

– Você não presta, tá me ouvindo? – Gritava entredentes. – Vai embora daqui, e diz pro seu ex que agora resolveu pagar de pedófilo que espere a minha denuncia contra ele o quanto antes.

Aos poucos Rose sentiu aquele peso saindo de cima de seu corpo. Continuou deitada na cama, olhando para cima e assimilando as palavras dele. Mason abaixou-se em direção ao gravador e o colocou de volta em seu antigo lugar.

Agradeceu por ter voltado para perguntar se ela queria água com ou sem gás, poderia ter perdido seu grande trunfo.

Cansada, Rose levantou o tronco de modo que ficasse sentada naquela confortável king size. Agora chorava, sem fingimentos dessa vez, verdadeiras lágrimas.

– Você nunca desiste, não é? Você nunca se dá por vencido mesmo sabendo que perdeu. – Mason a escutava, de costas, fingindo não prestar atenção. – Só que é tão burro e tão egoísta que não percebe que não foi o único que saiu perdendo. Todos nós saímos. A sua vida tá uma bosta, a minha, a do Damon. A diferença é que os motivos dele e os meus mudaram, enquanto você continua afundado no mesmo problema de antes e não segue em frente nunca.

– Seguir em frente? – Virou-se, ainda na mesma aversão. – É fácil pra você dizer, já que não perdeu a coisa que mais amava.

Rose continuou com o mesmo asco, dessa vez indo até ele. Queria dizer frente a frente.

– Há poucos minutos atrás você mesmo jogou na minha cara que o homem que eu te troquei ama outra. – Rebateu sem poupar sua voz. – E agora vem com isso de que foi só você que perdeu. E o Damon? Que por culpa sua também ficou sem quem ele estava apaixonado. – Suas sobrancelhas elevaram-se, não havia percebido algo muito importante naquilo tudo. – O que é estranho devido o fato de que se você me amasse tanto ficaria feliz com isso, já que eu e ele não ficaríamos juntos e o Damon seguiria em frente.

Mason respirou fundo. Havia pensado nisso depois de ter feito o que fez, mas havia sido tão bom ouvir a voz sofredora dele do outro lado que não se arrependeu.

– Eu fiz por vingança. – Confessou friamente.

Rose olhou para os lados, estava mais calma. Raciocinando perante tão previsível revelação.

– Exatamente. Você fez por vingança. – Repetiu as palavras dele. – E a sua vingança significa muito mais do que seus '' sentimentos'' por mim. Você não me ama de verdade, é tudo ego.

A vista de Mason embaçou-se, mas nenhuma lágrima saiu.

– Você não tem ideia da besteira que tá dizendo. – Parou de gritar, dessa vez Rose poderia jurar que tinha um pouco de doçura naquele tom. – Porque você não faz ideia do quanto eu te amo.

Infelizmente sabia, era o tanto (ou até mais) que amava Damon e que ele um dia já a amou.

– Eu faço. – Sorriu também, usufruindo da mesma doçura dele. Voltou-se para a cama e bateu a mão indicando que ele se sentasse ao seu lado. – Vem. – O chamou, sem malícia alguma.

Ele riu sem humor.

– Olha aqui se acha que eu vou cair nessa teia de novo, saiba que tá muito enganada...

– Prometo que não é nada disso. – Disse simplesmente, apesar da sinceridade dela Mason sabia que não resistiria muito tempo. – Deita aqui do meu lado.

Houve uma curta pausa. Onde ele com os braços cruzados olhava para os lados sem querer demonstrar sua vontade. Caminhou lentamente retirando os tênis em seu caminho. Não entendia aonde ela queria chegar com aquilo, mas sabia que não seria ao ponto de realizar o sonho de ficarem juntos novamente. A conhecia o bastante, para reconhecer aquela expressão compreensiva e de alento, parecendo uma terapeuta.

– Aonde quer chegar com isso? – Perguntou calmo enquanto aconchegava-se nos lençóis. Virou-se de costas para Rose, que o abraçou carinhosamente.

– Quero que escute uma história. – Não precisava olhar para ele para saber que deveria estar confuso. – Uma história de um menina de 17 anos que... Era uma perdida na vida e que encontrou a estabilidade em alguém. – Mesmo que inconscientemente, Mason sorriu mentalmente. Lembrava-se de tudo, de cada detalhe. – Você me salvou, Mason. Eu provavelmente seria uma drogada qualquer filha de dois irresponsáveis, sem futuro. Você pagou minha faculdade, me fez encontrar um caminho na vida e eu não soube agradecer. – Depositou um leve beijo no topo da cabeça dele, sentia-o bem mais tranquilo. – Eu adorava quando você me abraçava, me sentia tão segura. Adorava a maneira como você me defendia dos olhares das pessoas, você foi a primeira pessoa que me viu como mais do que a futura problemática que eu provavelmente seria.

Mason deixou-se levar por mais choro, junto ao confortante carinho que ela fazia em seus cabelos.

– Mas como eu não faria? – Perguntou obvio, sem alterar o ambiente pacífico. – Eu te amava, quer dizer, eu ainda te amo.

– E eu te amei. – Sussurrou com os olhos fechados. Não estava mentindo, havia sim, em um passado muito distante amado Mason. Não os abriu de imediato. – Eu me encantava com a maneira tão carinhosa como você me tratava, com o respeito. Me perdia no seu corpo, me perdia na sua sensualidade. Você sabe... Eu sou uma mulher difícil, complicada no campo familiar no campo emocional. Mason você foi o primeiro homem que foi até o fim comigo, que não desistiu, que aturou todos os meus ataques e foi compreensível em todos os momentos. – Ela também já chorava, enquanto as lágrimas de Mason se intensificavam. – Você foi a primeira pessoa que me disse eu te amo. E foi a primeira pessoa que eu correspondi.

Nunca havia dito essas coisas para ele, nem mesmo no auge da paixão.

– Então o que aconteceu? – Perguntou em desespero. Virou-se rapidamente, mostrando a ela seus olhos avermelhados.

Rose escolheu bem as palavras certas para falar, não queria magoá-lo. E agora, nessa parte da história, a verdade era dolorida.

– Eu. Você. – Suspirou pesadamente. – O seu ciúme incontrolável, a sua mania de querer me proteger a ponto de me fazer acreditar que eu não podia fazer nada por conta própria. A minha inconstância, meu medo de compromisso, minha infidelidade. Sua teimosia, meu egoísmo. – Mason a encarava sem querer acreditar.

– Mas eu só queria te proteger.

– E eu só queria ser livre. – Rebateu, sem ser grossa. Apanhou o rosto dele em suas mãos igual a Damon fez consigo mais cedo. – Não foi culpa do Damon. Você não tem que culpá-lo pelo que eu fiz.

Mason revirou os olhos, em estresse.

– E porque não? Para de tentar aliviar ele dá culpa que ele também tem.

– A culpa dele é muito pouca, Mase. – Tentou se manter calma, se começasse outra nova discussão acabariam sem chegar a lugar nenhum. E aquilo precisava acabar. – Porque muito antes de acontecer o que aconteceu entre eu e ele, eu já não te amava do mesmo jeito. Damon não tomou o seu lugar em momento nenhum.

A respiração de Mason falhou por alguns segundos. Levou a mão até o peito numa tentativa nula de acalmar as batidas em seu coração. Nem ao menos quando flagrou a cena dos dois juntos naquela cama, doera tanto como naquele momento. Sentiu todo seu corpo cair em um imenso abismo sem nenhum fim próximo. Trincou os dentes querendo impedir que chorasse mais. Novamente fracassou.

– Tem brincado comigo todos esses anos? – Perguntou após enxugar seu rosto.

– Eu sempre disse que a maior culpada de tudo isso era eu. – Expôs toda sua vergonha. – Não viu o que eu fiz com o Damon? Abandonei ele, sem notícias e sem nada, há poucos meses de subir num altar.

Por mais que Mason não quisesse admitir, sabia que ela não estava tentando aliviar o peso de Damon naquele história toda e sim revelando o que realmente sentia. Estranhava o fato de que no fundo, bem no fundo, sentiu-se feliz com isso; Rose sempre foi tão misteriosa sobre seus sentimentos, tão complicada que eram raros os momentos na qual confessava algo de tamanho coração.

Ela parecia bem mais com Damon do que imaginava.

Percebendo que ele não sabia o que se dizer, achou melhor que prosseguisse.

– Mas sabe o que é pior? Os mais errados disso tudo? – Perguntou retoricamente, Mason a olhou de canto de olho. Ela riu sem humor. – Nós três. Agora mesmo, não tem nem duas horas direito eu e o Damon brigamos como dois idiotas. Igualzinho a eu e você há alguns minutos. Nós não paramos de brigar, Mason. Nós três, que eramos mais do que amigos. Como é possível que três pessoas que se amaram tanto? Que eram tão próximos? Virar isso que a gente virou. – Profanava com indignação, Mason condenava a si mesmo, mentalmente, por concordar com ela. Rose não conteve um riso frouxo com a memória que relembrou. – Lembra quando a gente se embebedou no escritório do seu pai? Vomitamos em cima da mesa dele, você levou uma surra na nossa frente. – Mason partilhou da gargalhada, junto com ela. Aquela havia sido a pior surra de sua vida. Rose voltou a seriedade. – E quando eu falo de amor não me refiro só há eu e você ou há eu e ele... Falo dos dois também.

Mason bufou alto.

– Olha, se vai começar com isso já vou avisando que...

– Mason para. – O interrompeu educadamente. – Você sabe que eu to dizendo a verdade, admite. Você sofreu muito mais pelo motivo de eu ter te traído com ele, do que com o fato de ter sido traído por mim. Você o amava e o amava muito e ele também

Mesmo tentando convencer a si mesmo de que a afirmação dela era falsa, fora impossível não refletir sobre. Pensou. Mas dessa vez não em Rose, e sim em Damon. Lembrou-se de quando eram crianças e se escondiam na floresta para brincar, da mania que tinham de assustar as outras crianças, recordou-se também de quando ficaram mais velhos e pegavam escondidos o carro de seus pais e viajavam para algum lugar qualquer da região, sem destino. Demoravam dias para voltar e nem mesmo a surra tomada quando regressavam era capaz de fazê-los se arrepender de tamanha aventura, e ainda de fazer de novo. Tanto que após descobrir sobre o que acontecia entre ele e Rose, nunca mais teve um amigo de verdade no qual pudesse confidenciar todas as suas coisas, afinal apesar dele ter feito o que fez, tinha consciência de que o Damon anteriormente aquele dia fatídico era insubstituível em sua vida.

Olhou Rose. Ela estava quieta, com os olhos baixos. Sabia que ele ponderava sobre suas palavras e não queria interromper. Mais do que nunca teve a certeza de que ela era a coisa que mais amava no mundo, pela primeira vez em toda sua vida entendeu Damon. Caso fosse ele também faria a mesma coisa, era impossível não se deixar levar pelo enorme magnetismo que Rose tinha.

Respirou fundo. Não sabia se aquela seria uma boa decisão e muito menos se iria se arrepender futuramente, preferiu não pensar.

Mason levantou-se da cama de forma ávida, para o total estranhamento de Rose. Antes que ela pudesse perguntar há ele, Mason já tinha chego a outra extremidade do quarto.

Ele não vai... Pensava ela em completo choque. Completando o pensamento dela, Mason abriu o cofre, deixando-a pasma em voltar com o gravador em mãos.

Ele não sentou de volta na cama, ficou em pé. Esperou até que suas lágrimas cessassem para que pudesse falar.

– Rose se você, por um acaso, espera que eu volte a ser amigo dele, eu vou ter que te decepcionar. – Avisou gentilmente. Rose não pôde deixar de sentir uma ponta de frustração. – Eu ainda não tenho maturidade o suficiente pra isso e é bem provável que eu não vá ter tão cedo. – Houve uma pausa. O corpo de Mason tomou-se pelo medo, a partir do momento que dissesse a ela daquela decisão, sua vida com toda certeza mudaria para sempre. Tentou acalmar-se. – Eu recebi uma proposta de ensinar surf pra crianças deficientes lá na Califórnia. Eu teria que responder dentro de um mês, mas já tinha decidido que não ia.

Rose indignou-se.

– Mas porque? Parece um ótimo projeto. Porque não iria?

Envergonhado, Mason olhou para os lados.

– Não queria ficar longe de você.

– Mason... – Ela suspirou em alento.

– Não. – Preferiu interrompê-la – Não quero que sinta pena, pra mim tá muito obvio que você e eu... Não vamos mais ficar juntos.

Rose preferiu desviar aquele assunto, não queria que ele se entristecesse por algo que deveria estar resolvido.

– E você vai aceitar? – Perguntou seriamente.

Devagar, ele assentiu. Fazendo um sorriso nascer no rosto dela, estava contente por ele. Estava na hora de se libertar daquelas algemas.

Mason sabia que ficaria bem se fosse, já tinha tudo resolvido. Klaus já tinha oferecido até sua casa para que se instalasse.

– Vou tentar ir essa semana ainda. Tenho que falar com meus pais. Eles provavelmente não vão concordar, mas... É minha vida, fazer o quê. – Sem que Rose percebesse, ele depositou o gravador em um ponto qualquer da cama, aonde ela estava sentada. – Pede desculpas pra Elena por mim.

As sobrancelhas de Rose franziram-se em confusão.

– Como assim?

Sem precisar responder, Mason direcionou os olhos para o lugar em que havia posto o objeto. Percebendo a expressão dele, Rose seguiu o rosto até onde ele encarava. Sua boca abriu-se em um ''o''. A sua intensão com aquela conversa realmente não era induzi-lo para que tomasse aquela atitude, na verdade aceitou que havia falhado no momento em que ele a flagrou. O que queria depois era um ponto final, algo que nunca nesses três anos foi feito.

Novamente sem precisar de palavras e com lágrimas nos olhos, correu até ele o abraçando com toda força de seu corpo. Mason a recebeu de bom grado, afundando o rosto na curvatura do pescoço de Rose. Não souberam identificar por quantos minutos ficaram daquele jeito, apenas sentindo toda a magoa de antes se esvair de cada um.

– E fala pro Damon ser feliz. – Disse abafado pelo pescoço da mulher.

Afastaram-se, sentindo todo aquele alivio invadi-los. Rose sorriu em resposta.

– Eu tenho certeza que ele te deseja o mesmo.

Ela regressou a cama, dessa vez para reabrir a bolsa e guardá-lo. Sorriu para Mason que a retribuiu. Estava contente por ele, dos três ele era o que mais tinha chances de ser feliz e pelo menos um deles tinha que conseguir, mesmo Mason não acreditando.

Após aquele turbilhão de emoções, despediram-se de maneira calorosa um do outro, onde tiveram a confirmação de que tudo estava realmente bem. Rose pensou como seria se Damon estivesse ali, apesar de Mason ter dito que não estava pronto para voltarem a ter uma amizade alguma coisa em seu interior dizia ele seria sim capaz de perdoar realmente. Mason iria embora e ficaria muito tempo sem regressar a cidade, seria verdadeiramente perfeito se Damon tivesse participado dessa conversa.

Mas não se pode ter tudo. Pensou ela.

Ele se ofereceu para levá-la de volta em seu carro, mas recusou. Preferiu que as coisas continuassem como estavam. Tudo tinha uma hora de se encerrar e aquela foi a dos dois, não queria o risco de um adiantamento arruinar tudo.

–--X---

O tempo realmente passava muito rápido quando se está feliz. Aquela frase agora fazia todo sentido para Rose, a longa caminhada que fez de seu novo apartamento para a mansão dos Lockwood pareceu uma eternidade. Bem diferente da volta, que fora vivida num flash.

Damon não esperou a chave dar a segunda volta para que a porta se abrisse, correu de imediato até a soleira, assustando Rose por sua presença. Tinham combinado de que ele e Elena a esperassem em seu apartamento até que voltasse, então sabia que eles estariam ali. Só não imaginou que fosse literalmente em sua porta.

Botou a mão no peito, acalmando a respiração.

– Ai, Damon. Quer me matar do coração? – O repreendeu.

Ele não pareceu se importar, ao invés disso a olhou de cima a baixo.

– Seu olho tá vermelho. – Se aproximou a tocando, a impedindo sequer de entrar. – Você chorou. O que ele fez? O que esse desgraçado fez? – O tom aumentou na última sentença.

Ignorou a pergunta, adentrando finalmente em sua sala. Elena continuava da mesma maneira que estava quando saiu, sentada em seu sofá e com a atenção presa em alguma coisa no celular.

– Eu estou bem Damon. – Respondeu calmamente, retirando sua bolsa.

Elena se dirigiu até Damon, ficando os dois de frente para ela esperando que contasse.

– O que aconteceu lá? Você parece... Estranha. – Elena percebeu, pela postura um pouco aérea de Rose.

– Deu tudo certo. Eu consegui. – Os tranquilizou. De imediato, Damon e Elena sorriram após soltaram um alto suspiro de alívio. – Tá aqui. – Abriu a bolsa e os entregou.

Efusivo, Damon apanhou o objeto fechando os olhos em seguida, aonde pôde agradecer aos céus por aquilo. Era mais do que uma simples gravação, era uma garantia de menos um problema para si.

– Foi fácil? – Elena voltou a perguntar.

Rose pensou antes de responder.

– Não, não foi fácil. Foi surpreendente também.

– Surpreendente? – Damon a estranhou. – Em que sentido?

Rose preferiu não responder. A conversa com Mason havia sido longa e mais do que o suficiente para gastar todas suas emoções. Iria contar a Damon cada detalhe do que se sucedeu, mas não naquele dia, precisava reabastecer-se o bastante lhe explicar detalhadamente tudo. Ainda mais com a presença de Elena junto, que parecia claramente desconfortável com a situação.

– Porque vocês dois não destroem isso primeiro e depois, amanhã, se quiserem podem vir aqui e eu conto. Mas não agora, to muito cansada. – Explicou-se com a verdade e foi até seu sofá, aonde relaxou o corpo pela primeira vez naquele turbulento dia.

Não satisfeito, Damon estava pronto para exigir suas explicações. Elena percebeu a inquietude dele, mas também estava obvio para ela que Rose parecia cansada e não queria falar no momento.

Achou melhor intervir.

– A Rose tá certa Damon. – O segurou pelo braço. – Ela parece cansada, e como ela disse, não foi fácil. Deixa ela descansar e amanhã você volta.

Dando-se por vencido, Damon rolou os olhos em discordância. Se não fosse obvio a expressão de exaustão em Rose teria insistido mais. Só que mesmo assim, faria questão de voltar amanhã mesmo para que tivesse suas respostas.

– Tudo bem. – Sussurrou desconfiado. – Eu e a Elena estamos indo Rose. Muito Obrigado pelo que você fez, ainda mais depois do que eu fiz hoje.

Elena focou a atenção na última frase dele. Quando chegaram Rose tinha dito alguma coisa sobre ele estar lá de novo depois do que aconteceu. Começava a se perguntar o que ocorreu entre eles. Na verdade já estava preocupada com isso desde que soube que ela voltaria a lecionar na escola e agora mais do que nunca teria que se manter atenta.

Inevitavelmente sentiu medo que eles tivessem tido algum tipo de revival.

Não Deus, por favor não. Pensou em desespero.

– Não precisa agradecer. – Rose os confortou. – Só fiz o que era certo.

Elena balançou a cabeça tentando fazer aqueles pensamentos irem embora.

– Então vamos Damon?

Devagar ele assentiu.

– Sim, vamos. Temos que destruir essa fita o quanto antes.

Convencionalmente, despediram-se mais um vez de Rose e saíram. Duvidaram muito enquanto estavam lá sozinhos se ela iria ou não conseguir, tanto que nem sequer conversaram sobre o que aconteceu com eles no campo de futebol há algumas horas. A maioria do tempo ficaram em silêncio por tamanha aflição do que iria acontecer.

Felizmente deu certo. O dia havia sido complicado para Elena também, primeiro teve que se despedir de seus amigos e de seus primos logo pela manhã, contou o que houve para Tripp, Nádia, Vicki e Hayley e eles lamentaram profundamente, dando um último conselho: Dizer a verdade.

E foi o que fez, e apesar de confortante no fim, os meios foram difíceis.

A viagem de carro não havia sido longa, mas ainda sim quieta e silenciosa. Passaram em casa para o apanho de álcool e um cesto de lixo, aonde em seguida Damon dirigiu até a floresta. Queriam fazer isso lá, aonde só os pássaros pudessem presenciar o fim de um pesadelo.

Observavam o fogo hipnotizados pelas cores. Ainda sem nada para ser dito. Lá dentro o gravador se transformava em cinzas, assim como todos os humanos um dia virariam.

Sem que ela percebesse de imediato, Damon chorava silenciosamente, apesar de estar atento ao show das luzes da pequena fogueira. Quando ela finalmente percebeu suas lágrimas, o coração de Elena apertou-se. Pois pela primeira vez não sabia o motivo pelo qual ele se debulhava.

Passou o braço pelo pescoço de Damon o abraçando, ambos se encararam.

– Eu sou um fraco. – Ele disse em confissão, após um soluço. Elena manteve-se quieta, sentia que ele precisava desabafar sobre algo. – Não dormi em casa hoje. Dormir na Rose.

Elena conteve um grito. O que tinha concluído estava certo, não houve nem chance de sentir suas lágrimas, quando viu já afundava-se nelas. Sua vontade era estapeá-lo até que suas mãos caíssem de seu corpo, mas nem força para isso sentia que possuía mais. Do que adiantava recuperar aquela gravação, se outro pesadelo já estava acontecendo bem diante de si? Não importava se Damon me ama ou não, Rose de qualquer forma sempre seria a mulher da vida dele. Pensou, desejando que a morte viesse.

Foi então que Damon continuou a falar.

– Quer dizer. – Riu sem humor. – Dormir no sentido figurado porque. Ela que teve que me levar, sem que eu nem ao menos me lembrasse.

Confusa, as sobrancelhas de Elena, franziram-se.

– Como assim? – Não pôde evitar uma pequena gota de esperança.

Envergonhado, Damon abaixou a cabeça. Dessa vez o choro não era baixo, Elena esperou até que ele tivesse coragem de lhe dizer. Deveria ser algo muito sério, se fosse uma simples reconciliação com Rose ele não choraria daquele modo.

– Depois que eu sair da festa. – Começou, entre soluços. –... Elena eu bebi ontem de noite. Na verdade eu bebi a noite inteira e eu não sei se eu vou poder parar. Na verdade eu nem sei se eu quero mais parar.

Elena demorou um pouco para assimilar o que ouviu. Mais lágrimas, dessa vez dos dois.

O sentimento de culpa veio até ela. Caso não tivesse feito o que fez isso não teria acontecido. Com esse pensamento, Elena levantou-se rapidamente do tronco da árvore caída no chão, em que eles estavam sentados.

Chutou o vento.

– Argh. – Um grito de fúria, daqueles bem do fundo da garganta lhe saiu. Foi então que se atentou ao que ele disse. – O que quis dizer com '' nem sei se quero parar?''.

Não havia saída, teria que repetir a mesma conversa que teve com Rose, não era possível deduzir se a reação de Elena seria pior do que a que recebeu pela manhã. Na verdade, nem tinha mais certeza de sua antiga escolha.

– Quando eu acordei, Rose e eu brigamos. Eu disse pra ela que... Não era preciso que ela me ajudasse mais, porque seria difícil eu conseguir parar. Que eu provavelmente voltaria e que...

– Chega. – Elena gritou exigente, autoritária. – Não quero mais te ouvir, e não quero, muito menos, ouvir tamanha bobagem. – Rapidamente se dirigiu até ele, sua vontade era literalmente de lhe dar um tapa na cara. – É obvio que não funcionamos como namorados. – Disse tristemente. Damon, de maneira infeliz, tinha que concordar. – Mas funcionávamos como amigos.

Aquilo não era o que Elena mais queria, mas era o que ele precisava. E o colocaria em primeiro lugar quantas vezes fosse necessário.

– Como assim?

Abaixou-na direção de Damon apanhando sua mãos. Os dois já estavam mais calmos.

– Quero dizer que... Quero que sejamos amigos de novo. – Exclamou decidida, olhando fundo nos olhos dele. Damon sobressaltou-se. – E, acima de tudo, não quero ouvir você falar que vai voltar a beber outra vez. Não vai ser preciso.

Damon sorriu pela inocência dela.

– As coisas não funcionam assim, Elena. Você não sabe como esse vício é.

– Não vou ficar muito tempo sem saber, Damon. – Antes que ele perguntasse o que queria dizer, adiantou-se. – Porque agora quem vai te ajudar sou eu. – Poucas vezes esteve tão certa de algo em sua vida, e sem medos do que viria em seguida. – Eu, Elena Gilbert, vou te ajudar a parar de beber, Damon Salvatore.


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Notas finais do capítulo

Agradeço a deus pela existência do deus-mor Fernando Gaítan, um grande autor de novelas colombianas que me inspirou a fazer o diálogo entre Rose e Mason, tirando de uma de suas grandes obras.
Pessoal, outra leitora minha está com fic, deem uma passada se acaso as interessar. http://fanfiction.com.br/historia/603503/Unknown_Time/

Não era pra mim ter postado esse capítulo hoje, afinal estou mto doente. Acho até que é dengue, mas fiz um esforço e aqui estou.
Sei que muitos estão impacientes pelo fato de delena não estar juntos, mas peço calma. Não vai demorar muito pra que eles voltem, aguardem só mais uns capítulos.
E garanto que a volta será linda.

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