O céu alaranjado misturado com rosa, o Sol indo embora... Um fim de tarde lindo, que de nada combinava com meu estado de espírito. Suspirei pela milionésima vez naquela tarde fechando as cortinas da sala, definitivamente iniciações deixavam meus nervos à flor da pele.

— Bells? -  As duas batinhas leves na porta era característica de uma única pessoa,Jasper.Me virei em direção a voz levemente rouca e sorri. Jasper era o único que adorava iniciações,  sempre em busca de uma nova diversão,apesar de que eu não acho que ele precise de mais alguma garota em sua cama.

— Fale Jazz – Os cabelos loiros estavam penteados para trás formando um topete estranho, o smoking perfeitamente alinhado. – Você precisa dar um jeito nesse cabelo, pelo amor. - ele riu,passando a mão no cabelo tentando ajeitá-lo.

— Aro quer falar conosco. – ele riu da provável careta que eu devo ter feito quando ouvi o nome do diretor, geralmente quando ele se dá ao trabalho de querer conversar com um de nós dois as noticias não são boas. A risada cessou assim que seus olhos mel pararam sobre os meus que no momento estão de um vermelho vivo.

— Você não pode ir falar com ele – Ralhou Jazz- Por Deus Isabella, você tinha que fazer isso justo hoje? Mesmo sabendo que beber o sangue de alguém seja humano ou algum dos alunos do colégio é estritamente proibido?

—Jasper, me poupe das lições de moral ok? Como se você não tomasse o sangue de ninguém aqui não é? - minha voz totalmente fria e meu olhar transbordando toda a minha irritação fizeram ele se calar.

— Eu não quero brigar, mas você tem que ter mais cuidado Bells... - ele me olhou carinhosamente, e por um segundo eu quase fiquei arrependida, balancei minha cabeça para afastar esse tipo de pensamento.

—Tudo bem, agora vá se encontrar com Aro, diga que eu estou atrasada para me arrumar e que depois da cerimônia você me passa o recado. – ele não moveu um músculo para sair do lugar – Pare com esse olhar de preocupação e vá logo, Aro detesta esperar. – Antes que eu piscasse os olhos ele já havia ido.

Após a saída do Jazz fui rapidamente ao meu quarto, apenas três horas para o começo da iniciação.

~~*~~

A música calma preenchia todo o ambiente, fazendo o clima do baile de iniciação ficar suportável, pelo menos a meu ver. De cima do palco, construído no meio do salão, estávamos eu e Jazz esperando os benditos novatos chegarem para iniciar a celebração. Sempre a mesma babaquice de sempre, “Ei, você é um humano em transição, a partir de agora  você pode morrer a qualquer momento, feliz?Não? Então foda-se” Mas claro que as coisas não podiam ser tão simples, tinha que existir esse baile dos infernos, eu tinha que fingir que ser alguém em transição era a coisa mais perfeita do mundo e que nada de errado pode acontecer se você estiver dentro do colégio. Claro que tudo não passa de uma peça de teatro mal feita, todos ali sabiam que de fácil não tinha nada, de perfeito então nem se fale, desde as aulas sobre história vampiresca até você ver algum colega seu morrendo e não poder fazer nada, afinal somente os mais fortes sobreviveriam às transições.

Jazz estava nervoso com algo e se eu não o conhecesse bem pensaria que ele só estava ansioso para conhecer uma nova garota, mas não era isso. Seus olhos variam todo o salão em busca de algo que eu não fazia idéia do que era e ficar olhando ele impaciente desse jeito estava me deixando transtornada.

— Pare de mexer essa perna Jazz, está me deixando irritada. – O movimento da perna parou, porém ele começou a estralar os dedos, bufei irritada. — Você vai me falar ou não o que está acontecendo?- O suspiro que ele deu foi tão profundo que eu realmente comecei a ficar preocupada.

—Agora não, os novatos chegaram. – ele em nenhum momento desviou os olhos da porta, o que estranhei. Jasper não era de fazer isso, há não ser que ele estivesse me evitando. Rolei os olhos, essa noite ele não escapava.

As portas de madeira maciça se abriram, a música parou e a multidão se separou deixando um espaço de frente pro palco exclusivamente para os novatos. Seis garotos e seis garotas na qual passei os olhos rapidamente por eles não me importando em gravar feição nenhuma, afinal nem metade deles passariam da primeira semana, todos ficaram parados no batente da porta como se estivessem paralisados.

— Ninguém merece além de novatos são lerdos ou retardados, só pode. – Sussurrei para Jazz que deu uma risadinha baixa e me entregou o microfone.

— Só não os traumatize no primeiro dia de aula Bells.  – peguei o microfone da sua mão e o liguei.

— Vocês são lerdos por acaso? Vamos aproximem-se! – eles balançaram a cabeça como se estivessem saindo de um transe, suas faces ficando vermelhas como um pimentão quando perceberam que todos olhavam para eles. Que dó, eles só faltaram correr para minha frente.

— Enfim, sejam bem-vindos para essa nova fase da vida de vocês. Nós da Bloodline estamos muito felizes que encontramos vocês antes de estarem mortos – Jazz me deu uma cotovelada que não me fez nem cócegas e arrancou o microfone da minha mão.

— O que a sacerdotisa Isabella quer dizer é que estamos felizes por vocês escolheram a Bloodline para o novo começo de suas vidas. Esperamos que vocês passem essa fase de transição sem maiores problemas. Que a sorte esteja com vocês! – Ele sorriu e todos os alunos começaram a bater palmas.

— Antes que eu diga que podem se divertir vale lembrar a principal regra para os novatos: É estritamente proibido ingerir sangue seja de pessoas totalmente humanas, seja de transições como vocês alunos. Não tentem quebrar as regras porque nós saberemos pela tonalidade dos seus olhos. – falei quase me engasgando com tamanha hipocrisia. Todos ali bebiam sangue, inclusive eu. A cor dos olhos era facilmente camuflada com lentes de contado ou tomar um pouco de sangue de animal.

 – Então agora aprovei... – Antes que eu terminasse de falar as portas de madeira foram abertas  e de lá saíram três jovens.Um garoto alto, forte,com cabelos negros cortados bem curtos e um sorriso sacana nos lábios. Outro com não tão alto como o outro, mas ainda sim bem mais alto que eu – não que eu fosse comparação de altura, já que era baixíssima- cabelos ruivos/acobreados que caiam na testa e ele passava a mão para jogar para trás a cada 1 minuto. Os dois garotos eram lindos de morrer e vestiam calça jeans e uma camisa simples. E por fim uma garota que conseguia ser menor que eu, cabelos pretos e repicados, um sorriso sapeca nos lábios e vinha empurrando os dois homens, que com certeza conseguiriam levantar ela com o dedinho. Olhei pra Jasper que me encarava com os olhos esbugalhados, balançando a cabeça negativamente provavelmente vendo que eu seria muito grosseira com os alunos.

—Por favor, Bells eles são os filhos do Cullen. – Oh, então era por isso que Jazz estava com tanto medo, achando que eu maltrataria os filhos amados do Sr. Carlisle? Ele que não espere para ver, eu seria um amor de pessoa. Sorri o tranqüilizando e ele soltou a respiração que até então estava presa.

— Ora, Ora. Se não são os filhos do Sr Cullen... Há que devemos a honra da ilustríssima presença de vocês no nosso humilde colégio?  - falei ironicamente, ao que parece a garota- que se minha memória não falhava se chamava Alice- não entendeu minha ironia, pois sorriu genuinamente.

— Nós – ela disse apontando para ela e seus irmãos, Emmett que era o mais forte sorriu mandando um beijo para as garotas que suspiraram e Edward que era o ruivo bufou – vamos estudar aqui agora.

— Oh sim – sorri- e vocês acham que só por que são filhos do amigo do diretor podem chegar atrasados e acham que vão ter um tratamento diferenciado? – Vi o sorriso de Alice ir se desfazendo e ela abrir e fechar a boca ser conseguir falar nada.

— Olha aqui... – Começou Edward empurrando Alice pra trás dele e ir começando a discutir comigo, então ele é protetor uh? Que doce de garoto, ri internamente.

Ele não conseguiu terminar, a porta de madeira foi aberta novamente e com ela duas das pessoas mais importantes da minha vida entraram, logo já tinha esquecido sobre os irmãos Cullen e todo o resto do colégio. Rosalie,minha melhor amiga era uma garota linda, de pele clara,cabelos loiros,olhos verdes e dona de um corpo cheio de curvas. Trazia Luke pendurado em seus ombros, ele estava desacordado, pois ele estava praticamente sendo arrastado pela Rose que chorava copiosamente. A felicidade que antes tinha se instalado no meu corpo, se foi dando lugar a angustia e desespero, se pudesse provavelmente estaria chorando. Corri para seu lado num piscar de olhos, Jazz logo atrás de mim tentando me segurar.

— Por deus! O que está acontecendo? – eu gritei, Rose colocou o corpo de Luke no chão que parecia estar morto e correu para o braço de Jazz, ela balbuciou alguma coisa que eu não consegui entender algo como: “Eu não consegui, eram tantos... tantos”

No momento tudo que eu estava fazendo antes deles aparecerem, foi como não ter existido, parecia que eu estava numa bolha apenas Luke e eu. Passei a mão nos cabelos loiros cheios de sangue fazendo carinho. Foi quando virei seu pescoço e vi a coisa mais horrível do mundo, alguém ou alguma coisa tinha dado uma mordida no pescoço do meu Luke e arrancado um bom pedaço, o sangue já não jorrava. Minha respiração estava pesada, e sem que eu percebesse estava chorando – na forma de vampiro claro, apenas os soluços saiam, chacoalhando meu corpo violentamente - foi quando tive a idéia de dar meu sangue para ele, algo que era estritamente proibido, mas não podia o deixar morrer assim na minha frente. Luke era um grande pedaço da minha vida. Respirei fundo e levei meu pulso à boca.

— Bells! Você não pode fazer isso! Por favor, eu sei que é difícil... Ele também é meu amigo. – Jasper sussurrou, ainda com Rose nos seus braços que não parava de chorar.

— Não posso o deixar morrer Jazz, simplesmente não posso! – Com o pulso na boca, cravei meus dentes nele, logo sentindo o gosto doce... Antes que eu pudesse levar meu pulso a boca de Luke uma sombra passou por mim me jogando no chão e me prendendo nele.

Eu só conseguia ver seus cabelos e logo reconheci sendo Edward e eu por um momento fiquei paralisada vendo-o levar meu pulso a boca. Porém toda ira que estava guardada foi transferida para o ser na minha frente, dei um soco no seu nariz que com certeza foi quebrado com o impacto, mas ele não parou com esse simples golpe e pegou meu pulso o levando a boca antes que ele tomasse do meu sangue, girei nossos corpos ficando por cima dele, enforcando-o. No momento seguinte Jazz o levantou pelo pescoço e ficou segurando.

— E-U. Q-U-E-R-O. V-O-C-Ê. L-O-N-G-E. D-A-Q-U-I. A-G-O-R-A. – gritei olhando em seus olhos que agora estavam tão pretos quanto carvões,ele rosnou e se eu não tivesse algo mais importante para resolver provavelmente teria quebrado seu pescoço ali mesmo. – Leve todos daqui Jazz, agora!