POV Violeta 

Ir a escola não era algo novo para mim, afinal, ainda frequentava o Ensino Médio antes de ser “recrutada” para a turma de guardiões. Mas aquela escola era mesmo linda.

Esquisita, mas linda.

Corredores compridos, com várias portas e alunos completamente estranhos andando de um lado para o outro. Estranhos como? Não sei, talvez uma menina andando enquanto pegava fogo em seus cabelos. Ou quem sabe um garoto com escamas por todo o rosto usando uns óculos de sol.

 Rapunzel me puxou para a janela mais próxima, apontando para baixo.

- Violeta, olha que lugar lindo! – Ela disse enquanto nós olhávamos através da janela para o gramado verde, com arvores e flores espalhadas em alguns lugares – Quando vamos poder descer lá? – A loira me perguntava, sacudindo meu braço. – Quando?

- Punzie, para de me sacudir! – Pedi pra ela que me soltou se desculpando. – Acho que vamos para lá no recreio. – Vi o sorriso gigantesco de Rapunzel aparecer, fazendo-a comemorar batendo palmas. – Você parece uma criança, meu Deus! - Acho que Punzie ficava animada perto da natureza já que ela era a guardiã da primavera.

Ficamos encostadas no parapeito da janela, olhando o movimento fora da escola. Soluço se aproximou de nós, se apoiando na janela ao lado da nossa e ficamos assim; olhando o lado de fora, algumas vezes sentindo o vento contra o rosto e comentando coisas sem importância.

 Algum tempo depois conhecemos a diretora, que saiu de uma porta por perto e assustou Rapunzel.  Ela se chamava Claire e, sem delongas, nos convidou para irmos para sua sala conversarmos sobre as regras da escola.

Como sempre as regras eram básicas; Sem brigas, uniforme sempre, boletim entregue no final do bimestre e outro monte de coisas que prestei pouca atenção. Após um longo discurso, conhecemos nossos quartos e partimos para nossas salas, depois de se despedir da diretora.

 Descobrimos que Ian e Astrid eram da mesma sala, igual a Soluço e Rapunzel que ficaram na sala mais avançada, o que não deixou ninguém surpreso. Encontrei meu nome na sala 1-C junto com o nome de Wilbur; aquilo não iria prestar.

  Saímos andando na direção em que Jack e Merida correram para checar se estavam juntos na mesma sala. Eu apostava que estavam, mas preferi ficar calada para não causar conflitos idiotas.

Não sei exatamente como aconteceu, mas acabei sendo derrubada por outro aluno desconhecido. O infeliz não perdeu a oportunidade de me cantar quando me ajudou a levantar, o que não me deixou nada contente. O mais estranho de tudo foi que Wilbur também não ficou a vontade com ele, falando uma coisa estranha para “me ajudar”.

Ok, eu fiquei com vergonha quando ele disse que era meu namorado. Senti meu rosto esquentar e meu coração bateu rápido por algum tempo. Olhei para ele e vi que estava sério enquanto encarava o desconhecido, como se o chamasse para uma briga.

  Um sorriso minúsculo surgiu em meu rosto, mas logo disfarcei a repentina felicidade.

  Mas, por que eu gostei? Não sei, senti que o que ele falou foi verdadeiro. Quando o chamei para conversar e ele perguntou “não gostou?”, pensei em responder;

“Sim, Wilbur. Eu gostei de como você me defendeu e ajudou, mas não estou pronta. Achei que gostava de um garoto da minha escola. Ele me pediu em namoro, mas descobri que não era quem eu pensava. Por isso, pense bem antes se sair por ai dizendo ser meu namorado!”

   É, acho que seria essa a resposta que daria!

Jack e Merida estavam nos observando, fiquei de explicar tudo aquilo para Merida depois, mas não para Jack.  Após o sinal tocar, eu e Wilbur entramos em nossa nova sala e logo o professor apareceu, se apresentando e nos chamando para nos apresentarmos:

- Caros alunos novatos, por favor, apresentem-se - Acho que o nome do professor era Albert. Eu e Wilbur nos levantamos e fomos para frente da turma.

Sério, eu estava com muita vergonha de estar ali, os únicos que eu conhecia eram Wilbur e Peri, e esta parecia já conhecer todos daquela sala enorme! Olhei para Wilbur e o vi sorrir de lado ao se apresentar;

- Sou Wilbur Robinson - Ele começou e olhou para mim me incentivando a falar.

- Violeta Pêra - Me apresentei e tenho certeza que fiquei vermelha ao fazê-lo. Principalmente quando um dos meninos falou:

- Ei Violeta, tem namorado? - Gelei nessa hora. Tenho certeza de que vi os olhos do Wilbur faiscarem, mas o motivo eu não sei, afinal, não tem como ele gostar de mim em tão pouco tempo. Nós somos amigos; 

  

    “Tudo bem. Ele é legal, gentil - quando não resolve fazer da sua vida um inferno -, simpático, bonitinho.”

“Chega! Você não pode pensar nisso novamente, lembre-se de como foi ruim você ser traída pelo menino mais popular do colégio!”

Cheguei a abrir a boca para responder, só que mais uma vez fui interrompida, argh, será que nunca vou poder responder nada?!

- Isso não é hora para esse tipo de pergunta! Podem se sentar, irei explicar a matéria que irei dar no ano. - O professor apontou para nossos lugares, e foi pegar o material de escrever no quadro.

- Sim, ela tem namorado. É esse menino ai de cabelo em pé. Hoje de manhã esbarrei nela e ele falou que são. - Ouvi um menino falando e me virei para ver quem era, e tive a surpresa;

   Epa, o menino que me fez cair é da minha sala?!

 Que vergonha! Quero que uma cratera se abra e eu possa ser engolida por ela! Eu e o Wilbur não temos nada, e agora eles vão achar que temos um relacionamento romântico!

“Que ótimo! Muito bom Violeta, agora você vai ter que arrumar uma explicação. “

- Nossa Flynn, a garota é nova e você já sabe até que ela tem namorado. - Falou o outro, e teve a atenção chamada pelo professor. Se viraram e pararam de falar. 

   O primeiro trabalho em grupo do ano, no primeiro dia de aula. Ou seja, trabalho em grupo numa sala onde todos parecem se conhecer e sou novata.

Resolvi chamar Wilbur para ir comigo, seria menos constrangedor.  Mas será que seria muito estranho? Não, afinal somos amigos, e amigos fazem trabalhos juntos. Se as meninas fossem da minha sala, com certeza eu iria com uma dela, mas só tem o Wilbur.

Reuni todas as minhas forças e perguntei me virando para trás:

- Wilbur? Wilbur! - O que deu nesse garoto?! Ele parecia distante - Terra para Wilbur. - Enfim ele respondeu, me chamando pelo nome inteiro.

- O professor falou que durante essa semana irá passar um trabalho em dupla, quer ir comigo? - Perguntei rápido e sorrindo. – Vamos fazer o trabalho juntos?

- S-Sim Vi, vamos. - Ele gaguejou e abaixou a cabeça, me deixando confusa. Queria saber o motivo, mas decidi não perguntar e me virei para frente.

-

As quatro primeiras aulas passaram rápidas e em todas elas fizemos basicamente o mesmo: dizer o nome para o professor(a), e escutar os dos outros alunos. 

  Quando o sinal tocou para o intervalo, eu e o Wilbur iriamos para o pátio. Tinha sido lá que marcamos de nos encontrar com os outros e onde Rapunzel queria tanto ir.

 Mas na hora de sair da sala todos pareciam querer passar pela porta ao mesmo tempo, variando entre especiais e humanos. Aquilo parecia que iria demorar, então ficaríamos por ultimo.

 Antes de sairmos Wilbur foi falar com a Peri. Não ouvi, só notei ele me chamando para sairmos da sala vazia. Só que o corredor era ainda pior: todos passando ao mesmo tempo, com os armários no caminho e muito mais alunos!

Uma zona de guerra! Fiquei com medo de me perder da única pessoa que conhecida ali; Wilbur. Até sentir alguém segurando minha mão:

- Vem Vivi, não quero que a gente se perca. - Ele segurou minha mão com força, entrelaçando nossos dedos, e só com o toque dele fiz minha cabeça ficar invisível.

Pois é, vergonha da nisso! Mas logo notei que era besteira e reapareci. 

- Olha que lindinho, o mais novo casalzinho de mãos dadas. - Ouvi uma voz cínica ao nosso lado; Jack! Wilbur parou de repente, mas antes que ele ou eu falássemos algo Merida continuou por Jack, e este saiu correndo atrás de sei lá quem.

- Olhem, por mim nada de mais vocês serem um casal, só assim o cabelo em pé para de encher o meu saco! 

- Quem? Eu? Mas eu sou um anjo. - Wilbur fez cara de santo. Esses dois não percebem quem estamos quase sendo esmagados no meio dessa multidão?! Querem o que? Uma mesa com chá e biscoito para se sentarem e falarem de namoro?!

- Gente, melhor irmos para um lugar mais calmo. -  Quase implorei para sairmos andando - eu e Wilbur ainda de mãos dadas, e Merida com um sorriso irônico no rosto, Andamos  um pouco e chegamos finalmente ao pátio.

Me sentei em baixo de uma árvore, uma cerejeira para ser mais especifica. 

- Achei que essas Sakura's só dessem no Japão. - Comentou Wilbur se sentando ao meu lado no banco, e Merida do meu lado esquerdo.

- Sakura? - Ela perguntou confusa, tirando uma pétala rosa do cabelo vermelho.

- É, sig.... - Wilbur não pôde continuar, Punzie e Soluço estavam chegando.

- Pessoal! – A loira corria em nossa direção com os olhos brilhando com Soluço logo atrás, só que andava normalmente. Quando finalmente chegaram perto de nós, Punzie se agachou, olhando o chão cheio de flores. - Que flor linda! Tem nome? - Rapunzel pegou uma do chão, animada, e olhou esperançosa para nós.

- Não é a toa que é a Guardiã da Primavera. - Soluço falou abrindo um pacote de biscoitos.

- Sim, tem nome; Sakura. Significa Flor de Cerejeira. E até o momento achávamos que só podia ter no Japão. - Falei rápido e Rapunzel sorriu.

Ficamos um pouco em silêncio, então Astrid e Ian chegaram, e também ficaram calados. Acho que Wilbur não consegue ficar muito tempo assim, porque logo perguntou:

- Ei Merida, para onde o Jack foi naquela hora? 

- Sei lá, só sei que ele estava bem inquieto na sala. - Ela respondeu e voltou a comer seu sanduíche. Eu estava perto o suficiente de Ian para ouvi-los murmurar só para ele:

- Então ela anda reparando no que ele faz. – Nossa! Senti frieza em sua voz. 

Wilbur deve ter notado algo e falou - O clima vai pesar qualquer dia desses! O céu começou a ficar escuro.

- Só espero estar com meu guarda-chuva caso isso aconteça! – A loira comentou, deixando Wilbur confuso. - Molhar meu cabelo e depois seca-lo é um enorme trabalho! - Pobre Rapunzel, tão ingênua! Merida, Astrid e Soluço pareciam nem ter ouvido, preferiam falar sobre Dragões.

  Jack veio correndo para perto de nós, Merida não viu por que estava de costas e foi falar alguma coisa com Ian que tinha se levantado, e nesse momento algo aconteceu: Jack já não corria mais, voava com o cajado, Merida não o tinha visto, parece que só eu tinha visto. Por isso eu mal falo, prefiro observar, vai que essa cena da Merida acontece comigo?! Eu morreria de vergonha! 

   

Astrid chamou Merida, que estava em pé, e esta se virou, Jack não conseguiu parar a tempo e os dois acabaram rolando abraçados no chão. Juro que achei que teria beijo, igual aquelas cenas de filmes.

Merida se levantou muito, muito brava:

- Olha por onde voa Iceberg! - Ela estava vermelha de raiva.

- E você por para quem está voando Tochinha! - Os dois se encaravam. Ian pegou o braço de Merida e a afastou, o mesmo fez Astrid com Jack. Se os opostos se atraem eu não sei, mas que esses dois são parecidos, são sim!  

- Que eu saiba não tenho que ficar olhando para quem voa Picolé! - Ela estava brava e tentava se soltar, quase consegue.

Fiquei com medo de Jack perder a cabeça caso ela se soltasse. Já que com uma flecha ele quase morre, imagina com as mãos dela?! 

- Isso vai ser interessante - Wilbur falou sorrindo malicioso, mas depois de Punzie cutucar ele e ele ver que tinham alguns olhando tomou uma atitude - CHEGA! - Wilbur gritou entre eles. Ops, todos olhavam para nós, hora de ficar invisível. - Está tudo bem pessoal! Nada de mais aqui... - Como estava invisível, por perto teve alguns comentários do tipo:

- Briga de casal é assim mesmo - disse uma menina branca, com olhos extremamente rosa, e cabelo azul. Muito estranha!

- É mesmo, se não forem um casal, parecem. - Fui obrigada a concordar com aquela espécie de fada. Me concentrei na conversa deles novamente. Soluço avisou que Astrid foi tentar acalmar Merida, e David levou Jack para falar com Peri.

- Parece que o acidente foi causado pela pressa do Jack. Ele tinha visto a Peri e quis chegar rápido nela. - falou Wilbur me vendo reaparecer.

- Então eles não se acertaram? - Perguntou Ian parecendo frustrado. Impressão minha ou isso é tudo ciúmes? O motivo de talvez ele estar com ciúmes deve ser as brigas de Jack e Merida, junto com o fato de estarem na mesma sala.

- Acho que não. Mas querem saber uma coisa? Com aqueles dois juntos, na mesma sala, acho bom os outros alunos terem armamentos contra a guerra, porque é impossível saber o que pode acontecer. - Wilbur falou, e todos rimos, Ian disse que ia no armário pegar uns livros e saiu. 

  Logo em seguida o sinal tocou, e fomos para as salas novamente. Continuou a mesma coisa: apresentar, e blábláblá. Desisti de ficar com vergonha! Mas me irritei na última aula, perguntaram se eu e Wilbur somos namorados. Ele fechou a cara, e eu respondi secamente - já que até a professora parecia interessada em saber.

- Não, nós dois NÃO temos nada, não somos absolutamente nada além de amigos! - Então fomos nos sentar, e a aula passou rápido. 

  Quando penso que poderia tirar o uniforme, descubro que isso só é possível a partir das 16:40, e ainda eram 12:20. Em dias normais, mas hoje não. Motivo? Simples: teríamos aulas a tarde.

Só que hoje, como é o primeiro dia, teremos um baile de boas vindas à noite. De fato aquilo era muito estranho, mas relevei, afinal, estava em uma escola com seres encantados e, pelo pouco que sei, tudo o que envolve mágia também envolve música e dança.

Enquanto ia para meu dormitório, depois de me despedir de Wilbur, pensei.

“Se o primeiro dia de aula foi assim, imagino como ficará no último do ano! Espero que a escola esteja preparada para "nossa turma", pois dois deles já chegaram com força total nas emoções.”