Cap 4

Katniss PDV:

Quando chegamos, Cinna já havia organizado tudo. A despensa estava cheia, os quartos arrumados, as roupas devidamente passadas e guardadas e os despertadores programados.

– Katniss, eu tomei a liberdade de trazer uma cadeira especial para banho. – O estilista avisou.

– Obrigada. – Sorri.

– Bom, é isso. Se instalem, conheçam a casa e aproveitem. Amanhã, às oito, vocês se reunirão com Ceasar e os outros professores.

Confirmamos e ele se foi.

(...)

– Katniss Everdeen. – Falei na recepção. – E Gale Hawthorne.

– Os novos professores. – A ruiva sorriu. – Sou Lavinia.

– É um prazer. – Sorri de volta e ela se levantou pra me olhar, ficando um pouco se graça.

– Hum... Katniss, nós temos um problema...

Mordi o lábio inferior e lhe olhei preocupada.

– A sua cadeira. Os nossos elevadores não têm capacidade.

– E o elevador de Serviço? – Apontei.

– Manutenção. – Suspirou. – Preciso ligar para o Ceasar.

– Katniss. – Gale chamou e virei para ele. – Algum problema?

– A cadeira não passa pelos elevadores.

Ele franziu as sobrancelhas.

– Você não pode entrar sem a cadeira?

– Ah claro. – Sorri. – Eu posso ir flutuando. Ou quem sabe na garupa do Aaron, não é mesmo?

Ele segurou o riso.

– Desculpe. – Murmurou.

– Eu vou buscar o Ceasar, Katniss, espere um pouco, por favor. – Lavinia se levantou.

– Leve Gale, por favor. – Pedi.

– Katniss.

– Não vai se atrasar por minha causa. – Avisei. – Vá logo.

Eles entraram no elevador e suspirei, vendo que estava sozinha.

Saí da passagem e minha atenção se dirigiu a uma prateleira mais baixa, onde havia revistas em quadrinhos. Pela altura, era direcionada a crianças. Sorri e peguei uma, distraindo-me. Eu até mesmo pude rir antes que uma voz me trouxesse de volta à realidade.

– Não parece alguém que gosta de revistinhas infantis.

Levantei o rosto para encarar o dono. Ceasar Filckerman.

– Katniss Everdeen. – Constatou. – É um prazer vê-la novamente! Quando tempo faz? 8 anos?

– 9. – Corrigi. – Seus cabelos eram azuis.

O homem riu. Ele havia ido a um dos desfiles de Cinna, logo no meu começo. Devo confessar que – além de seu cabelo – sua imagem não estava nada diferente do que eu me recordava.

– Nós estamos com problemas, não é? – Deu um sorriso sem graça.

– Minha cadeira é larga demais para seus elevadores.

Ele coçou a cabeça.

– Estamos fazendo um elevador especial. Os nossos têm medidas de cadeiras mais estreitas, mas você adora ocupar um espaço. – Brincou.

Minha cadeira era um tanto larga. No distrito doze, cadeiras de rodas eram praticamente impossíveis de se encontrar. Era caro, o material era de baixa qualidade, não fechava bem, as rodas me davam coceira... Bom, resumindo: Eu preciso de uma cadeira nova.

– Tudo bem. – Soltei um suspiro.

– Venha.

Segui atrás de Ceasar e Lavínia – que havia descido – segurou o elevador. Me apoiei nos braços da cadeira de rodas e passei para o banco do ascensorista, que segurou meus ombros enquanto o diretor fechava – com um pouco de dificuldade – minha cadeira, então subimos e fizemos o processo inverso.

– Desculpe o transtorno, Katniss. – O diretor pediu envergonhado. – Yudi vai te ajudar enquanto damos um jeito.

Confirmei e o rapaz sorriu, antes da porta se fechar, então segui para a sala de reuniões, onde todos me esperavam.

– Agora que todos estão aqui: Benvindos, professores. – Ceasar sorriu. – Espero que este novo ano seja maravilhoso para todos nós. Agora, como temos novos colegas, vamos às apresentações.

– Está é Glimmer. – Se posicionou atrás de uma loira. – Professora de dança. Gloss, contrabaixo e violoncelo. Cashmere, flauta e derivados. Thresh, trombone, sax e parentes. – Andou mais. – Peeta, nosso novo maestro de orquestra.

Encarei o rapaz e ele sorriu, expondo os dentes brilhantes de modelo de comercial de pasta de dentes. Seus cabelos eram loiros, os olhos quadrados e o maxilar e ombros largos.

Ele era um gato.

Sorri de volta e Ceasar pousou sua mão em meus ombros, fazendo-me olhá-lo.

– E Katniss Everdeen, professora de canto. – Terminou.

Ceasar se afastou e nos entregou pastas com nomes.

– Seus horários e alunos. Divididos por turmas.

Encarei o papel. Sala 37.

– A última. – Alguém explicou;

Confirmei levemente e puxei a cadeira para trás antes de me direcionar para a porta.

– Quer que eu te leve? – Se ofereceu.

– Não, obrigada. – Tentei não parecer rude. – Eu vou conhecer o caminho.

Pus a pasta no colo e segui o caminho, parando na porta 37. Todas as portas tinham portas duplas, provavelmente para os alunos. Vista de fora a sala era muito bonita. Chequei os papéis da primeira turma. 3 paraplégicos, 4 cegos, 3 amputados e 4 ilimitados. Parecia bom.

Abri a porta e entrei silenciosamente e, quase todos levantaram a cabeça. 2 rapaz, sem limitação, pareciam entretidos com o que parecia ser uma revista de moda.

– Olha só essa cintura.

– Olha as pernas. – O outro falou. – O que será que houve com ela?

Encarei o conteúdo. Era eu. Meu último editorial, se bem me lembro.

Pigarreei e eles me encararam.

– Pessoal. – Me afastei. – Olá, primeiramente. Eu sou Katniss Everdeen, sua nova professora.

Eles arregalaram os olhos.

– Katniss Everdeen?

– O que? Até parece que eu morri.

Alguns deles riram e respirei fundo.

– Então, nós temos uma turma bem variada. – Notei. – Que tal vocês me contarem suas histórias hoje?

Eles murmuraram em confirmação e os encarei.

– Eu começo, então. Por ordem. – Sugeri. – Vocês já sabem o meu nome, mas também podem me chamar de Catnip. Um amigo meu adora esse apelido.

Eles riram.

– Eu tenho 21 anos, quase 22, e vim do distrito 12. Eu trabalhava como modelo e cantora até os 18 anos, quando sofri um acidente de carro. Um amigo meu estava dirigindo e um motorista bêbado bateu no nosso carro. Meu amigo teve uma lesão cerebral e entrou em cama por 6 meses. Quando ele acordou, estava cego. Eu acabei vindo parar na cadeira de rodas. – Narrei e, ao fim, dei um leve sorriso.

– Eu sou Clove. Clove Fuhrman. 19 anos. – A moça se apresentou. – Eu tinha 16 anos quando sofri um acidente de carro. Minhas pernas foram esmagas e eu precisei amputá-las.

Todos continuaram em silêncio.

– Eu me chamo Marvel. Marvel Jackson. Eu nasci cego.

– Quantos anos tem, Marvel?

– 20 anos.

Sorri e encarei a garota ao seu lado.

– E você é...

– Becky. 16.

Esperei mais, mas ela continuou em silêncio, então passei para o rapaz do lado. Ele se parecia muito com ela. Vestido de roupas escuras, gorro preto e botas coturno, olhos azuis e cabelos pretos escorridos. A diferença é que ele sorria.

– Richard Wichan, eu tenho 17 anos. E essa aqui. – Empurrou a garota. – É a minha irmã Becky.

– Bom conhecê-los, Wichans.

Os outros continuaram falando. Havia crianças, adolescentes e poucos adultos, além de histórias surpreendentes.

– Bom pessoal, nós ainda temos algum tempo. Então eu quero que vocês se dividam. Quem tem menos de 10 anos num grupo, e os outros em homens e mulheres.

Eles obedeceram e contei. 4 crianças, 4 rapazes e 6 moças. Estava equilibrado.

– Ótimo. Eu quero que vocês fiquem sempre assim nas aulas grupais. Eu tenho uma particular semanal com cada um, então vou usar pra conhecer vocês melhor e fazer a subcategorização. Eu quero que, durante esta semana, vocês me esperem no estúdio para as aulas, tudo bem?

O sino tocou e olhei no horário. Quando voltei a olhá-los, apenas Becky e Richard estavam esperando.

– Becky, eu te encontro no estúdio em 10 minutos. Richard, você pode assistir se quiser, ou ir fazer um lanche.

Ele confirmou e os dois se foram silenciosamente, fazendo-me rir.

Adolescência...

Continua...