Cap 11

Peeta PDV:

Katniss era incrível e surpreendente.

Passar o dia na cadeira de rodas estava sendo quase impossível para mim. Minhas mãos doíam, meus pés se incomodavam de ficar parados, assim como minhas pernas, eu estava suado e cansado, e nem ao menos havia anoitecido.

Eu sempre imaginei que, quando você perdia o movimento das pernas, ficava impossibilitado de praticar a maioria dos esportes, como natação, mas Katniss estava se saindo como uma nadadora infinitamente melhor que eu, e olha que tenho as duas pernas e havia feito natação quando criança.

Quando ela emergiu depois de duas ou três voltas, seu cabelo havia se soltado e cobria seus ombros e parte de seu rosto, mas ela manifesta o sorriso mais bonito e sincero que eu já havia visto em toda a minha vida.

– Então... – Comentei distraidamente. – Está tudo bem aí?

– Parece surpreso. – Ela impulsionou o corpo até a borda e se sentou confortavelmente. Pela primeira vez, pude ver suas pernas enquanto ela parecia traçar padrões na pele.

Não era estranhas ou deformadas. Eram suaves, lisas e da mesma cor de sua pele corada.

– Só digerindo o fato de você nadar melhor que eu. – Dei de ombros.

– Eu tinha tempo em casa, já tinha lido todos os livros, as encomendas demorariam de chegar... Meu pai tem uma academia e a casa tinha uma piscina relativamente grande... Era legal.

Ri enquanto ela colocava a touca, entrava na água novamente, e começava a nadar novamente.

Por todo o dia, pude admirar Katniss Everdeen, sua determinação, seu amor, sua força de vontade e, que os céus me perdoem se for uma afronta ou perversão, sua beleza angelical e, ao mesmo tempo, sensual.

Quando formos embora, Katniss me levou a um restaurante oriental e me ensinou a comer com os tais dos palitos. Quando chegou a hora de ir para casa, expliquei que estava num hotel e ela me ofereceu o quarto de hóspedes de apartamento que dividia com Gale, já que seria antiético simular uma deficiência num dia e, no outro, aparecer simplesmente andando por aí.

Ninguém prestou muita atenção em nós quando atravessamos a primeira garagem e pegamos o elevador. Katniss vivia em um dos andares superiores, e, quando entrei, percebi a maior diferença daquele elevador. Os números eram dispostos na horizontal, com os andares mais altos à direita e os mais baixos à esquerda.

– Isso é incrível. – Comentei.

Ela deu de ombros enquanto o elevador subia e olhei em volta. Nós estávamos ocupando todo o espaço da cabine.

– Nós dois estamos ocupando o elevador inteiro. – Comentei e ela riu. – Quantas pessoas cabem aqui?

– 14 pessoas. – Ela apontou o infógrafo. – Dois cadeirantes num elevador ocupar praticamente todo o espaço. O máximo que entre aqui além de nós é uma pessoa só, é meio difícil.

– E se estivesse cheio até a metade?

– Eu não entrava. Alguém teria de sair ou eu teria de esperar.

Confirmei levemente.

– isso deve ser horrível.

– Eu posso superar.

O elevador parou e ela segurou a porta. Tentei passar, mas a cadeira travou no meio do caminho.

– São as rodas da frente. – Ela explicou. – Vem para trás.

Obedeci, então pude passar e ela veio atrás de mim.

– Gale. – Ela abriu a porta. – Não vai mais passar fome, eu estou aqui.

– Finalmente em, ô. – Ouvi a voz de Finnick. – Eu estou morrendo de fome.

Katniss, ao meu lado, arqueou a sobrancelha.

– Finnick, você não é cego, pode cozinhar à vontade.

– É a Annie que cozinha pra mim. – Ele se deitou de frente, balançando as pernas e fazendo uma expressão sonhadora, como uma adolescente. – Ah, Katniss, ela cozinha tão bem.

– Depois você ainda me pede para te defender. – Ela revirou os olhos e olhou para mim. – Quando éramos crianças, Finnick era muito... Aberto. Todos me perguntavam se ele era Gay.

– Achei que fossem de distritos diferentes.

– Eu ia passar as férias com ela na maioria dos anos. – Ele deu de ombros. – Achei que você andasse.

– Desafio da cadeira. – Katniss explicou. – Cadê o Gale?

– Lendo no quarto.

Ela saiu e o professor assistente me olhou.

– Então... Você está caidinho por ela.

Arregalei os olhos.

– Quem? Eu? Não. Claro que não. – Desmenti rapidamente.

Ele me olhou cético e bufei.

– Finnick, vai cuidar da sua vida e deixa que eu cuido da minha?

– Olha, eu tenho uma novidade para você. – Ele empurrou “minha cadeira” até ficar em frente ao sofá. – Ela nunca namorou, e mesmo que pareça toda durona, é muito romântica. Compre flores exóticas, uma caixa de bombons com recheio de frutas sem rum, entregue a ela, chame pra sair. Katniss adora comida italiana, então fique à vontade para levá-la a um almoço. Eu poderia sugerir um passei na orla da praia, mas não tem nem um rio aqui, então leve ela no parque, vocês poderiam andar de pedalinho, mas...

– Finnick. – Interrompi. – Cara, cala a boca.

Ele riu e Katniss voltou.

– Peeta, Gale emprestou uma roupa pra você tomar um banho e ficar mais confortável para dormir. Na verdade, ele foi numa loja com o Finnick e comprou alguns pares. Ele separou algo novo pra você, já que roupas são pessoais e tal...

– Ela está tentando dizer que Gale te deu uma das cuecas novas que ele comprou. – Finnick interrompeu de novo, virando a cabeça em sua direção, e o rosto de Katniss ficou vermelho.

– Obrigado. – Sorri constrangido, dando uma pancada no joelho do loiro à minha frente.

Ela deixou as peças e a toalha no sofá.

– Você não precisa ficar na cadeira pra tomar banho. Na verdade, é preferível, porque dá mofo.

Confirmei novamente e ela se foi.

– Você precisa ser tão idiota o tempo todo? – Olhei Finnick.

– Você está apaixonado, amigo. Eu sou só uma simples alma bondosa tentando ajudar.

Bufei impaciente.

– Poderia ajudar ficando calado. Você vive tentando mexer na vida amorosa dos outros, mas ainda não pediu a Annie em casamento. Vocês estão juntos há sete anos.

Ele arregalou os olhos e Gale gargalhou, sinalizando que ouvia nossa conversa.

Cegos têm uma ótima audição.

– Eu... Er... Não estamos falando de mim.

Revirei os olhos novamente e segui para onde imaginava ser o banheiro.

Continua...