Acordei com alguém sacudindo meu ombro. Abri os olhos levemente e vi os cabelos ruivos de minha querida prima.

–- Acorda, Bela Adormecida – ela disse, fazendo com que eu me levantasse. – Vá vestir uma roupa depressa, temos coisas a fazer. Anda logo! – ela me empurrou para o banheiro e me deixo ser conduzida por ela.

Espera! Coisas a fazer? Como assim? Eu não tinha combinado nada com ela.

Entrei no banheiro tomei um banho rápido e procurei minha roupa. Onde estava minha roupa? Era pra ela estar ali não?

–- Onde está Rose? – gritei do banheiro enquanto escovava os dentes enrolada na toalha.

–- Está preparando o café – ela diz do outro lado. – Ah! Aqui está sua roupa!

Ela abriu uma frecha da porta e me entregou as roupas dobradas. Olhei para elas. Aquelas não eram minhas roupas!

–- Lilly, querida, essas não são as minhas roupas! – reclamei ainda olhando para elas.

–- Essas são suas novas roupas! Vista logo! – ela disse como se fosse algo simples.

Bufei irritada. Vesti a calça preta de couro, logo depois o colete, quase da mesma cor só que um pouco mais claro. Aquele colete era muito decotado, eu me sentia entranho nele, mas apenas dei de ombros. Usaria até achar minhas roupas normais. Coloquei as luvas, que iam acima do meu cotovelo, e as botas que iam acima do meu joelho Essas botas tinham salto o que me deixava um pouco mais alta. Coloquei um cinto que era muito parecido com o meu, mas era um pouco diferente. De um lado tinha a minha adaga, o pacotinho com as pontas de flechas e do outro lado tinha dois suportes. Saí do banheiro e a encontrei mexendo no guarda-roupa onde estavam minhas coisas. Olhei para a cama e ela não parecia ter mexido ali, para minha sorte.

–- Onde estão minhas roupas antigas? E por que você está mexendo nas minhas coisas? – perguntei me sentando na cama.

–- Joguei-as fora – ela disse olhando pra mim por sobre o ombro.

Eu a olhei arregalando os olhos. Ela riu.

– Brincadeira! Na verdade só em parte. O colete, as luvas e o casaco ainda estão aqui -- ela disse apontando para um banquinho encostado na parede, onde estavam os itens citados por ela.

–- Por que fez isso?

–- Porque eu achei que você precisava de algo mais você. Quando te deixei no Brasil pelo menos essa era você. Não aquela garota certinha que encontrei na floresta. Onde está o seu lado rebelde Lianah? Essa Liah mansinha que acata as ordens de todos não é você! – Ela diz ainda mexendo no guarda-roupa procurando algo.

O pior é que ela estava certa! Eu mudei só pra me adequar aqui, para me adequar a Nárnia! Eu não gostava de vestidos longos e cheios antes e mal em três semanas aqui eu já estava usando um. Não era de suspirar o tempo todo. Não queria me envolver com garoto algum e lá estava eu todos esses dias encantada por um rei.

– ACHEI! – ela gritou me tirando dos meus pensamentos. Ela vem à mim com minhas mechas coloridas postiças e mais um saco de veludo vermelho que eu não me lembrava e me entregou. – Ande, coloque isso logo! – ela disse voltando para o guarda-roupa procurando outra coisa.

Fui até o espelho e me sentei em um banquinho que tinha ali. Coloquei as mechas e amarrei o cabelo em um rabo-de-cavalo, deixando apenas alguns fios soltos. Abri o saquinho de veludo e vi meus anéis e pulseiras que eu não usava mais. Coloquei duas pulseiras por cima da luva e uma por baixo. Coloquei o colar que Lucia me dera com um pouco de seu elixir dado por Aslam. Ele se escondia em meu decote, outro colar que ia bem mais embaixo como um medalhão, ele parecia um relógio de bolso e o colar de minha mãe, era um coração com asas na parte de cima, que ficava acima do que Lucia me dera. Logo depois, coloquei o brinco que não deveria ter tirado, o dragão que ia em volta de toda minha orelha como se me protegesse. E, por último, os anéis; o que tinha formato de uma cobra coloquei no dedo indicador, outro que tinha quadro pedrinhas na cor turquesa no dedo anelar da mão direita. O que tinha um arco e flecha no dedo do meio e um de outro com algumas coisas escritas nele no mindinho da mão esquerda. Me olhei no espelho. Com certeza tinha coisa demais, então tirei as pulseiras e as coloquei de volta no saquinho, deixando apenas os colares e anéis. Cada um tinha uma necessidade de estar ali. Levantei e fui até Lilly e entreguei o saquinho a ela, que agora estava quase vazio.

–- Bem melhor assim! – ela sorriu e colocou o saquinho lá dentro de novo.

Ela tirou uma capa e minha mochila de lá. Lilly me olhou por um tempo se fixando em meu pescoço.

– Espere! Tire o colete!

Levantei a sobrancelha.

– Ande logo! Além do mais, somos primas, quase irmãs, não tem do que se envergonhar! – tirei o colete. – Vire de costas. – ela disse e eu o fiz. – Desde quando tem uma tatuagem? – ela perguntou com um sorriso.

Eu não tinha tatuagem! Ela só poderia estar brincando comigo.

–- Não tenho tatuagem nenhuma, Lilly!

–- Tem sim! Eu não sou louca!

Ela foi até minha mochila e pegou meu celular o ligando. Sim, eu tinha deixado desligado, não teria nenhuma utilidade ligado mesmo. Ela esperou ligar e tirou uma foto das minhas costas. Em seguida, me mostrou. Havia mesmo uma tatuagem ali! Não sei como, mas tinha! Eram varias flores de lótus com uma palavra em japonês, que geralmente são apresentadas parecendo uma letra só. Eu arregalei os olhos e a olhei.

–- Lilly, eu não tinha isso até a noite passada! – falei.

Ela me olhou e, em seguida, voltou sua atenção para a foto.

–- Tem alguma coisa acontecendo! Mais um motivo para fazermos o que temos que fazer.

–- O que vamos fazer, Lillian? – perguntei desconfiada.

–- Você verá, relaxe. Agora se vista de novo. Estou com fome! – ela sorriu sapeca e eu revirei os olhos, colocando o colete.

Logo, alguém bate na porta e entra. Era Rose.

–- O café está sendo servido – ela disse.

Me fitou e seus olhos pareciam não entender muito.

–- Obrigada Rose, já vamos indo – eu comecei, mas a ruiva me interrompeu.

–- Vamos agora! Estou morrendo de fome. Quem chegar por último fica sem café. – ela sorri sapeca e começa a correr.

Sorri revirando os olhos e disparei atrás dela. Logo, eu estava ao seu lado. Chegamos ofegantes na sala de jantar. Vemos todos nos encarando e começamos a rir como duas retardadas.

– Estamos empatadas! Era pra você ficar sem café, Liah! – ela exclamou ainda rindo e meio emburrada.

Sentei-me ao lado de August e de frente para Pedro. Corei levemente quando vi o seu olhar intrigado em cima de mim. Me lembrou da noite passada. Então decido olhar para Lucia, que sorria pra mim, sempre gentil. Comemos em silêncio e percebi que Caspian não estava ali.

–- Onde está Caspian? – perguntei.

–- Está lá fora fazendo alguma coisa – disse Edmundo dando de ombros.

–- Liah! – Lilly exclamou ao meu lado. – Esquecemos as coisas no seu quarto! – ela reclamou com um pedaço de maçã na boca.

–- Culpa sua! Esfomeada! – disse.

Voltamos a comer e logo ela me arrastou de novo, sem deixar que eu converse com Lucia ou Pedro. Pegamos a mochila. Ela enfiou a capa lá dentro, junto com várias coisas. Lilly voltou a me arrastar pelos corredores até chegarmos ao lado de fora onde muitos treinava, inclusive August, que lutava contra Caspian. As espadas rangiam uma contra a outra. Só se ouvia o barulho delas e nada mais.

–- Aposto que o August ganha. – sussurrou Lilly do meu lado.

Sorri. Ela adorava apostas.

–- Aposta o que?

–- O seu celular.

–- Não! Não vale o celular. É meu, não seu pra ser apostado!

–- Okay, okay! Aposto minha adaga da sorte. – ela disse mostrando a adaga que pendurava em seu cinto. – E você?

–- Aposto uma adaga também. A minha adaga – disse sarcástica.

Analisei a cena mais um pouco.

– Acho que Caspian ganha.

No final eu acabei por perder minha adaga. Caspian perdeu para August, vieram até nós quando viram a gente. August com um sorriso vitorioso e Caspian com uma carranca. Eu acabei por rir da cara dele. Apesar de Caspian ser mais velho, August é mais alto e musculoso.

–- Não seja mal perdedor Caspian! – Eu disse.

–- Não estou sendo um mal perdedor! Só que August é muito convencido!

–- Não sou convencido, só falo verdades – Eustáquio e Pedro param ao meu lado bem na hora e eu coro. August parece notar e sorri malicioso, oque quer que fosse que estivesse passando na cabeça dele, não era coisa boa. – Assim como revelo uma verdade de sua irmãzinha aqui Caspian – Oh não! Não, não e não! Ele só pode estar brincando comigo! Ele não pode contar isso de jeito nenhum!

–- Não se atreva August Silvestre! – Digo entre dentes

–- Porque não L? – Ele sorri mais ainda e Lilly estava vermelha de tanto segurar o riso

–- Conte logo August! – Diz Caspian curioso, olho de canto para Pedro ele parecia intrigado com o meu nervosismo.

–- A sua irmãzinha ai Cas – Eu pulo em cima dele, tapando sua boca, caímos no chão. Ele tenta tirar minha mão de sua boca, mas não consegue. Até que ele inverte nossas posições e prende minhas mãos em cima da minha cabeça. – Como eu estava dizendo, a nossa querida Liah já foi apaixonada por mim – Droga, ele tinha que abrir essa maldita boca, pra contar a minha desgraça. – Além disso, eu fui o primeiro namoradinho dela, não é minha querida L? –Ele da um beijo no meu nariz, mas não me solta.

–- Pra que contar hein August? Não tinha a menor necessidade! – Eu reclamo.

–- Ora L, só terminamos porque eu tive que me mudar e vim parar aqui, porque se não ainda estaríamos juntos – Ele diz como se não tivesse ninguém aqui para nos ver, não tivesse ninguém para expor minha vergonha.

–- E dai?

–- E dai que eu não vou desistir de você tão facilmente L, você ainda é minha – Ele sorri, pisca um olho e me dá um selinho. Eu fico extremamente confusa. Oque ele estava fazendo?

–- Chega do seu showzinho não é AuAu? – Ouço a voz de Lilly.

–- Já pedi pra você não em chamar assim Lilly!

–- E desde quando eu te obedeço? Eu preciso da Liah! Agora e inteira! – Ela começa a chuta-lo de leve. Ele faz uma careta, se levanta e me leva junto. Ele me dá um beijo atrás da orelha e me empurra em direção a Lilly. Ela me puxa em direção a floresta, olho por sobre o ombro e vejo August risonho, Caspian falando algo com ele, Eustáquio sorria divertido olhando os dois e um Pedro muito, muito nervoso. Caspian olha para mim e vem até nós.

–- Aonde vocês vão?

–- Vamos fazer algumas coisas – Lilly diz, dando de ombros, ele a olha desconfiado. -- Relaxe, eu vou trazê-la de volta sã e salva até o anoitecer.

–- Levem alguém com vocês então.

–- Nem pensar! Isso é coisa minha e da Liah, ninguém vem com a gente! – Ela diz convicta e volta a me arrastar. Não olho para trás de novo, não me atrevo a isso. Não queria ver o olhar furioso dele sobre mim. Quando já estávamos mais ou menos longe decido conversar com Lilly.

–- Oque o sue irmão tem na cabeça afinal? – Ela ri alto.

–- A disso eu não sei, mas ou ele queria provocar Caspian ou estava dizendo a verdade ou os dois – Ela dá de ombros. – Eu particularmente acho que é os dois, ele ainda parece gostar de você e ficava me perguntando “Como será que a L está?” e essa coisas melosas. Apesar de ser um mulherengo quando não esta com você, ele é fiel a você, pelo menos de coração.

Suspiro. Porque isso justo agora?