A Elfa Escarlate escrita por Koda Kill


Capítulo 19
Amor ou ódio? Ou os dois?


Notas iniciais do capítulo

Parece que o nosso mago resolveu encher saco da Luna só pra variar kkkkk no que será que isso vai dar? Em mais detenção?



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— Acho que você já bebeu o suficiente...

— Você não manda em mim – Will fez um sinal e uma cara feia para o garçom, que parou no meio do caminho e desistiu de me servir. Nossa que cara irritante. – Será que você não pode me deixar em paz pelo menos no fim de semana? – Agarrei minha mochila com raiva e desci do banco quase caindo no processo. Sim, eu estava levemente alterada.

— Pra onde você vai?

— Pra longe de você! – Falei venenosa e cambaleando em direção à saída. 

— É perigoso você andar por aí nessa hora desse jeito! – Disse ele já ao longe. Desprezei seu comentário com a mão e sai. Não queria que ele estragasse mais ainda meu humor. O ar gelado da noite estava tão gostoso e o silêncio me fez sorrir. Cambaleei despreocupada e dando alguns suspiros. Pelo menos tudo parecia normal, até mesmo Will enchendo minha paciência já era o normal pra mim. Era estranho como mesmo odiando ele eu havia me acostumado rápido à sua presença. Deve ser por causa da detenção e da quantidade de tempo que passamos juntos, mesmo que obrigados. Odiá-lo parecia quase divertido de uma certa forma. E era um pouco legal poder colocar minha raiva pra fora.. Estava quase saltitando, devo dizer que se isso tudo era mesmo amor por Yuri eu ficava ridícula nesse estado.

— “O preto e o branco na luz do luar, guardar, guardar, guardar... A magia da alma que faz dançar, amar, amar amaaar” – Cantarolei levantando a garrafa que eu tinha na mochila. – “Lua sagrada me ajude a salvar o meu amor no luar, está escrito nas estrelas que juntos devemos ficaaar...” – Dei mais um gole grande da bebida. Will surgiu de repente na minha frente me dando um baita susto e me fazendo cuspir tudo de uma vez bem em cima dele. – Cacete! – Me agachei tentando acalmar as batidas do meu coração. O que ele estava esperando me assustando assim, sinceramente. – Tá me seguindo agora? – Will levantou a camisa e limpou a bebida do seu rosto. Tive que desviar o olhar do seu corpo constrangida pela nudez repentina.

— Só estou tentando evitar que você se mate. – Disse ele irritado com a voz meio abafada.

— E porque você se importa com isso? – Ele apenas revirou os olhos.

— Prefere que eu te deixe morrer?

— Sim por favor - Falei passando por ele e continuando meu passeio.

— Nós ainda não terminamos a investigação sobre o Troll, pode ter mais deles por aqui então vai ter que me aturar. – Bufei frustrada e só continuei a cambalear tentando ignorar sua presença, mas era bem difícil visto que ele ficava me tocando para evitar que eu caísse. – Pensei que estaria curtindo o final de semana com os garotos que estavam te cortejando. – Soltei uma gargalhada.

— Cortejando? Hahahaha As vezes eu esqueço que você é muito velho

— Eu não sou velho! – Disse ele, verdadeiramente irritado, o que só me fez sorrir ainda mais. Quantos anos será que ELE tinha?

— Aqueles caras são todos idiotas nojentos. – Tentei dar mais um gole da bebida, mas ele tomou a garrafa das minhas mãos. – Ei! Devolve! – Will sorriu e levantou a garrafa bem alto.

— Você já bebeu muito Luna, vou confiscar isso. – Tentei pular para alcançar, mas meu equilíbrio não estava dos melhores. Tentei dobrar seu braço e até mesmo fazer cócegas. Ele começou a se contorcer e a rir, mas a garrafa simplesmente sumiu com mágica e ele agarrou meus punhos puxando-os para trás do seu corpo e me fazendo colar nele. – Para com isso! – Tentei me afastar dele, mas ele me segurou no lugar. – Não vai fazer cócegas de novo né? - Senti minhas bochechas esquentarem ao sentir seus músculos sob a camisa.

— Não vou, você já sumiu com a garrafa. Pode me soltar? - Eu não conseguia nem encará-lo, mas estava tão próxima que sua respiração bagunçava meu cabelo. Que droga Will.

— Qual a palavra mágica? – Seus cabelos longos faziam cócegas na minha pele quando o vento batia. Seu rosto estava próximo demais pro meu gosto, parecia que eu ia cair dentro dos seus olhos.

— Babaca? – Falei com deboche. Ele apenas riu mais ainda e me soltou. – E você? Não quis socializar? – Ele ficou em silêncio por alguns momentos.

— Passei muitos anos em isolamento, não estou acostumado com muitas pessoas. 

— Ah, isso explica porque você é tão chato. – É eu estava completamente sem filtro e nem ligava se ele era meu professor. Pelo menos fora do instituto ele não podia me dar mais detenção certo? 

— Tá, tá, já sei que você me odeia – Disse ele passando seu braço pelos meus ombros e jogando seu perfume forte em mim. Eu mereço. – Sabe, vou falar algo já que sei que você provavelmente não vai lembrar nada disso amanhã

— Lá vem. – Disse emburrada. Quase tropeço em um galho da trilha, mas seu braço me ajudou a continuar de pé.

— Eu acho que você tem muito potencial de combate. Se realmente focar nisso pode até mesmo entrar para a guarda imperial um dia. – Parei e lhe encarei com os olhos arregalados.

— Você acha mesmo isso? Sério mesmo? – Perguntei agarrando suas roupas. Ele afastou o olhar virando a cabeça para o lado.

— Sim, posso te ajudar nisso. – Minha boca se abriu, nunca imaginei que meu sonho pudesse se realizar, sempre pareceu tão distante. Também nunca me senti verdadeiramente capaz.

— Mas... Porque você faria isso por mim? – Ele me encarou por alguns segundos e então desviou o olhar novamente, eu podia até mesmo jurar que ele tinha ficado corado.

— Porque você tem potencial... – Eu o encarei esperançosa. -  E também, gosto de ter você por perto mesmo que me odeie. – Ele falou a segunda parte tão baixo que se eu não fosse uma elfa talvez nem tivesse entendido, mas eu tinha. Certo, por isso eu não esperava. Apenas pisquei enquanto o encarava. Pensei que ele me odiasse também. Eu estava bêbada demais para lidar com aquilo. Ele continuou a andar me deixando pra trás e eu demorei alguns segundos para lembrar como mexer as pernas. Talvez eu tenha entendido errado. Ele falou mesmo muito baixo. Corri até ele quase caindo no meio do caminho.

— Você acabou de dizer que gosta de mim por perto? – Ele continuou andando sem olhar pra mim.

— Claro, te torturar é a melhor parte do meu dia. – Ah! Agora sim fazia sentido. Revirei os olhos e o empurrei de leve. Will gargalhou. – Ei, já está batendo no seu professor de novo?

— Cala a boca. – Passei da entrada do instituto em direção à floresta

— Pra onde você está indo? – Quase cai novamente, mas ele me segurou no último segundo.

— Não tenho como entrar no instituto a essa hora, tenho que esperar amanhecer. Os guardas não vão me deixar passar. – Ele segurou meu braço.

— Relaxa, posso te levar de volta sem ninguém ver.

— Uau, sério?  Isso não é tipo, inapropriado?

— Não acho, só vou nos tele transportar. – Ele deu de ombros. É necessário ser um mago muito poderoso para fazer algo do tipo. Consumia muita mana e se feito errado poderia até mesmo matar da forma mais dolorosa possível. Hesitei um pouco, mas acabei cedendo. Afinal ele era o mago da família imperial, certo?

— Tudo bem então. – Will me abraçou do nada. – O que diabos você está fazendo?

— É mais seguro assim. – Ah, faz sentido. – Feche os olhos. 

É difícil descrever como era a sensação, mas se eu fosse colocar em palavras eu diria que é como ser sugada por uma mangueira gigante à 3000 km por hora e depois cuspida. Estando bêbada também pareceu que a mangueira estava descontrolada e girando. Assim que nossos pés tocaram o chão novamente cai no chão e engatinhei para longe antes de colocar tudo pra fora. Minha cabeça girava. Eu nem conseguia distinguir onde eu estava, porque tudo girava sem parar. Mesmo quando eu já não tinha mais nada para vomitar, não conseguia parar. Me faltava até o ar de tanta ânsia. Eu bateria nele de novo se eu conseguisse pelo menos ficar em pé. Will não disse nada, só segurou o meu cabelo e depois me ajudou a levantar. Me sentia fraca.

— Mas que merda. – Falei ainda sem ar. Ele apenas deu umas batidinhas nas minhas costas.

— Já vai passar, apenas um pequeno efeito colateral. – Tentei olhar feio na sua direção, mas tudo ainda estava girando um pouco, então não sei dizer o quanto foi efetivo. Pelo menos estava diminuindo e eu já conseguia entender que eu estava no centro de treinamento. Isso explica porque o chão estava tão macio. Olhei envergonhada para toda a sujeira e senti vontade de sumir. – Não se preocupe com isso. Sente aqui um pouco. – Will me ajudou a sentar em sua mesa. Sentar era bom, minhas pernas estavam sem forças. Ainda estava meio bêbada, porém agora não de um jeito bom. – Quer água? 

— Sim, por favor. – Ele saiu por um momento e voltou com um copo de água. Eu estava com um gosto horrível na boca. Senti a água cair no oco do meu estômago desconfortavelmente e gemi baixinho. Nossa eu nunca mais queria fazer isso de novo. – Você não fica enjoado quando faz isso?

— Já me acostumei. – Will deu de ombros, ele tinha pegado um pano e se abaixou.

— O que você está fazendo? - Perguntei em pavor.

— Limpando o tatame. – Disse dando de ombros. Nossa que vergonha.

— Não tem nojo? – Ele riu.

— De você? Não. – Desviei o olhar, odeio dar esse tipo de trabalho. – Já vi coisas muito piores no campo de batalha, em comparação isso não é nada demais.  – Acho que aquilo fazia sentido. Mesmo assim ainda me incomodava. Um dia, caso eu sobreviva, talvez sentirei o mesmo quando entrar no exército. Fiquei em silêncio imaginando que tipo de coisas ele já havia visto. Ele parecia tão calmo, era difícil imaginá-lo em meio ao caos. Sua pele era perfeita, não tinha nenhum arranhão. Será que ele de fato entrou no campo de batalha ou só ficou atacando à distância? Ele levantou uma sobrancelha quando me viu encarando. Desviei o olhar e fingi que não estava olhando. Ele terminou de limpar e foi ao banheiro lavar as mãos. Fiquei sozinha com meus pensamentos. Quando ele voltou me mexi desconfortável. Porque será que ele estava me ajudando e qual seria o preço disso?

— Bom, é melhor eu ir para o meu quarto. – Levantei da cadeira aliviada por sentir minhas pernas um pouco mais firmes. Ele se aproximou mais ainda de mim e deu um beijo na minha bochecha. Quase cai novamente de choque.

— Até amanhã Luna – Ele se virou e desapareceu mal olhando para mim. Mesmo assim senti um leve arrepio de imaginar como seria a detenção. Com certeza ele iria descontar tudo isso. E ainda por cima eu provavelmente vou estar de ressaca. E que bosta foi essa? Ele me beijou? Quase dormi ali mesmo paralisada sem entender nada. Meu cérebro já não conseguia processar isso. Melhor voltar para o meu quarto e dormir.

Era estranho ver o instituto deserto, mas ao mesmo tempo reconfortante não ter que lidar com ninguém. O silêncio, o escuro, os sons da noite. Fechei os olhos e respirei fundo. Aquilo era o mais próximo que eu tinha de um lar. O instituto abrigava jovens de todas as espécies. A maioria não tinha dinheiro ou título. As famílias mais ricas geralmente contratavam tutores para seus filhos, então todos que estavam ali estavam mais ou menos no mesmo barco. 

Eu estava inclusa nisso. Minha mãe, uma grande comandante do exército imperial, havia morrido quando eu tinha apenas 6 anos. Tudo o que eu sei sobre ela é o que outras pessoas me contaram. Quase não tenho lembranças da minha infância. Eu só lembro que sentia muito medo dela e seu olhar congelante. Mesmo quando ela ainda estava viva, nunca tivemos memórias calorosas ou que envolvam sentimentos frívolos como o amor. Era difícil não se sentir sozinha e desamparada quando você sabe que no fundo não tem ninguém com quem contar.


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Notas finais do capítulo

Ownnn que fofinho ele cuidando dela ne não?



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